A ÁRVORE DA VIDA (2011) - ANÁLISE DO FILME
A Árvore da Vida acompanha o crescimento do filho mais velho de uma família americana, Jack, da inocência da infância até à desilusão da vida adulta, na tentativa de se conciliar na relação complicada com o seu pai. Jack vê-se como uma alma perdida no mundo moderno, procurando respostas para as origens e sentido da vida, enquanto questiona a existência da fé. Através da imagem de marca deste realizador, vemos o quanto, tanto a natureza em bruto, como a graça espiritual, dão forma, não só às nossas vidas como seres individuais e como famílias, mas a toda a vida.
FICHA TÉCNICA
Realização: Terrence Malick
Com: Brad Pitt, Dalip Singh, Jessica Chastain, Joanna Going, Sean Penn
Roteiro: Terrence Malick
SOFÁ NIGHT COM CINEMA
Como cinéfilo, acabo criando expectativas com determinados projetos, seja pelo ator, seja pelo diretor, seja pelo tema. No meu caso, criei pelos 3. Quando ví o filme, eu tinha acabado de ser pai.
Então, lá pelas tantas, me encontrei filosofando, me emocionando, e compreendendo o que não é para ser compreendido: que a vida não respostas, e conforme você cresce intelectualmente, não só elas não vêm com o tempo, como novas e indecifráveis perguntas surgem.
O filme é uma obra prima para ser sentida e admirada. Um consumidor de Transformers talvez ache o filme chato. Mas é um filme feito para quem está numa determinada fase da vida. Fase esta que me encontro. 20 anos antes talvez eu achasse o filme fraco. Mas assumo que não é uma unanimidade.
O filme é uma obra prima para ser sentida e admirada. Um consumidor de Transformers talvez ache o filme chato. Mas é um filme feito para quem está numa determinada fase da vida. Fase esta que me encontro. 20 anos antes talvez eu achasse o filme fraco. Mas assumo que não é uma unanimidade.
ANÁLISE CRÍTICA
Analisar profundamente o filme “A Árvore da Vida” é como tentar compreender nossa própria existência: não há uma resposta exata para a equação. Claramente a obra é inundada de informações que podem ser facilmente interpretadas de uma maneira por alguns e refutadas de formas diferentes por outros. Metafísica, evolução, filosofia, família, religião, o medo do desconhecido, a necessidade do entender, solidão. No entanto é possível afirmar que, principalmente, a obra expressa de maneira poética a magnitude e beleza da (árvore da) vida a nossa volta, e como somos minúsculos quando vistos próximos a ela.
Terrence Malick é um diretor mítico, por assim dizer. Seguindo a cartilha de mestres como Kubrick, ele sempre dedica sangue, suor e lágrimas a seus projetos, além de muitos anos de sua vida. Nada mais digno de nota. Explorar a natureza humana de forma pouco mundana sempre foi o caminho do diretor. Depois de “Terra de Ninguém” e “Cinzas no Paraíso”, Malick passou por um hiato de duas décadas sem gravar, voltando então com o contundente “Além da Linha Vermelha”, seguido pelo subjugado “Novo Mundo”.
A história de “A Árvore da Vida” tem como centro uma família americana dos anos 50, e aborda de forma filosófica e antropológica o desenvolvimento da mesma. Presenciamos então sua trajetória: o nascimento dos filhos, o florescer dos sentidos, o amor incondicional, a estruturação do pai – e sua frustração mediante os rumos de sua vida -, a glorificação da mãe – de beleza e compaixão sem igual –, a construção da personalidade dos filhos, a separação do preferido, a revolta do esquecido, a preparação para vida, a rigidez do ensinamento paterno, o complexo de Édipo do filho mais velho - caracterizado pelo ódio mortal pelo pai (símbolo de austeridade) e o amor pela mãe (local seguro de afeto e carinho) -, a dor da morte, da perda, a incompreensão e a desilusão com o criador, a falta de respostas.
Ao mesmo tempo em que presenciamos este crescimento da família, somos bombardeados por imagens de incrível beleza. O cosmos visto por uma perspectiva divina, miniaturizada, que exemplifica a insignificância e ressalta nossa impotência. De forma atemporal percebemos o futuro e passado, com o filho mais velho desta família, prejudicado por suas lembranças, se arrastando por meio do concreto da cidade, longe da natureza, tão longe de seu deus. Da mesma forma podemos ver dinossauros em seu habitat, enfatizando o jogo de vida e morte, sem ao menos ter consciência plena de sua existência, onde o fraco não tem vez, ou às vezes tem. A misericórdia nem sempre vem dos céus. A sensação de busca por misericórdia é muito grande na obra, exemplificando como este o sentimento pode se transformar em instituição.
O desamparo vem do pensamento “o que queremos ser” mediante aquilo que realmente somos: egoístas, frágeis, incríveis, únicos, mas fugazes perto da imensidão do infinito. Então porque ficarmos sozinhos no final?
Ao mesmo tempo em que presenciamos este crescimento da família, somos bombardeados por imagens de incrível beleza. O cosmos visto por uma perspectiva divina, miniaturizada, que exemplifica a insignificância e ressalta nossa impotência. De forma atemporal percebemos o futuro e passado, com o filho mais velho desta família, prejudicado por suas lembranças, se arrastando por meio do concreto da cidade, longe da natureza, tão longe de seu deus. Da mesma forma podemos ver dinossauros em seu habitat, enfatizando o jogo de vida e morte, sem ao menos ter consciência plena de sua existência, onde o fraco não tem vez, ou às vezes tem. A misericórdia nem sempre vem dos céus. A sensação de busca por misericórdia é muito grande na obra, exemplificando como este o sentimento pode se transformar em instituição.
O desamparo vem do pensamento “o que queremos ser” mediante aquilo que realmente somos: egoístas, frágeis, incríveis, únicos, mas fugazes perto da imensidão do infinito. Então porque ficarmos sozinhos no final?
De forma extremamente orgânica e bela, Malick filma seus detalhes com a sutileza do olhar. As sombras de um menino que corre pela rua, a inversão de um ângulo enquanto o mesmo se balança, os pés, as mãos, os olhos. A câmera não capta somente a imagem, mas sim a sensação, o calor, sabor, a tristeza e alegria dos personagens. Ele transforma a vida real e um épico de cores e sons, tudo acompanhado pela trilha sensacional de Alexandre Desplat (“O Discurso do Rei”), sempre crescente e marcante, tranquila e profusa.
No final, “A Árvore da Vida” é a ligação de tudo, incompreensão e beleza, divindade e solidão. Nossa existência é uma pequena semente, e os frutos estão a nossa volta, nas palavras, formas, no ar que respiramos e nas pessoas que amamos. Terrence Malick não entrega uma resposta, mas sim oferece diferentes possibilidades de se analisar a mesma verdade. Ele parece buscar com o publico uma definição final, como um Bergman que procura a explicação para a fonte de sua donzela. Sem pretensões de compreender a vida, só nos resta sua beleza e graça. Sou fanático com o filme.
PRÊMIOS