OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM AS MULHERES (2011) -- SOFÁ NIGHT COM CINEMA
Direção: David Fincher
Elenco: Daniel Craig, Rooney Mara, Christopher Plummer
Nome Original: The Girl with the Dragon Tatoo
Ano: 2011
Duração: 152 min
País: EUA
Classificação: 18 anos
SINOPSE
Na trama, Mikael Blomkvist (Daniel Craig, de A Casa dos Sonhos) é um jornalista econômico determinado a restaurar sua honra, depois de ser condenado na justiça por difamação. Ele é contratado por Henrik Vanger (Christopher Plummer, indicado ao Oscar 2012 por Toda Forma de Amor), um dos industriais mais ricos da Suécia, para investigar o desaparecimento de sua sobrinha Harriet (Moa Garpendal), há 36 anos. Para este trabalho, se muda para uma ilha remota na costa gelada da Suécia sem saber o que o aguarda. Ao mesmo tempo, Lisbeth Salander (Rooney Mara, de A Rede Social), hacker da Milton Security, é contratada para levantar a ficha e os antecedentes de Blomkvist, missão que será o ponto de partida para que ela se una a Mikael na investigação de quem matou Harriet. O filme recebeu cinco indicações ao Oscar 2012, entre elas, melhor atriz (Rooney Mara), mas venceu apenas como melhor montagem.
SOFÁ NIGHT COM CINEMA
Tá chato isto. Não posso ver um filme do diretor que me apaixono. Amei o filme, genialmente filmado e interpretado. Um dos melhores que ví nos últimos anos. A maioria tem esta opinião sobre o filme sueco, mas eu assisti ele depois. Por isto discordo totalmente destas refilmagens de filmes novos. Recentemente os filmes de heróis estão passando por isto. Quarteto Fantástico, Homem Aranha, Batman e Superman. Vai entender...
ANÁLISE
David Fincher é um dos diretores norte-americanos mais celebrados do século XXI. Fez aquele que se tornou talvez o filme mais importante da geração Y (“Clube da Luta”, de 1999), e emendou uma seqüência de filmes bons, ou muito bons (“Zodíaco”, “A Rede Social”), que lhe emprestaram a fama de ser um dos mais autorais e criativos cineastas mainstream da atualidade. É nesse ponto que entra aquela que é, para mim, a pergunta mais fascinante de “Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres” (The Girl With the Dragon Tattoo, EUA, 2011): que misteriosa razão levaria David Fincher a assumir o comando da refilmagem norte-americana da adaptação sueca (feita apenas dois anos antes!) de um romance de sucesso?
A semelhança desse caso com a produção de “Os Infiltrados” (2004), de Martin Scorsese, talvez explique – pelo menos em parte – esse mistério. Como se sabe, o longa-metragem que finalmente deu Oscars de melhor filme e direção ao grande cineasta ítalo-americano de Nova York adaptava, em Hollywood, um filme asiático também lançado dois anos antes. Na época em que “Os Infiltrados” entrou em produção, não parecia certo que um artista do calibre de Scorsese se contentasse em fazer refilmagens. Mas, em certo sentido, a estratégia deu certo. Scorsese conseguiu a maior bilheteria da carreira e ganhou seu muito merecido Oscar, criando um ótimo filme. O fato de que o resultado final era bastante parecido com “Conflitos Internos” (2002) não parecia importar muito.
O mesmo ocorre aqui. Não há dúvida de que “Millennium – Os Homens que Não Amavam as Mulheres” é um ótimo filme, com o carimbo de excelência típico de David Fincher espalhado por todas as áreas técnicas: personagens consistentes, trama intrincada mas conduzida com clareza narrativa, subtexto rico em observações sociais afiadas (em particular as críticas contundentes e muito atuais a respeito das violências cotidianas conduzidas contra mulheres), bons desempenhos dos atores, visual apropriadamente “frio” (literal e figurativamente), e por aí adiante. Há um único problema: a versão norte-americana do romance “Os Homens que Não Amavam as Mulheres”, best-seller de Stieg Larsson, é muito semelhante à sua contraparte sueca.
A começar pelo bom roteiro de Steve Zaillian. O sempre complicado trabalho de comprimir a ação dramática para caber no tempo de projeção segue bastante de perto dos cortes e fusões realizados no longa sueco.
Há, talvez, um par de cenas no filme de David Fincher que não estão no outro filme. De resto, os eventos mostrados são basicamente os mesmos (Fincher decidiu incluir flashbacks do desaparecimento ocorrido em 1966, evento central da trama, que é investigado por Mikael e Lisbeth, os dois protagonistas), e os personagens têm caracterizações muito parecidas, inclusive fisicamente falando. Uma diferença importante é que o subtexto sobre neonazismo, presente no livro e no filme sueco (até como forma de denúncia para o que ocorre na Europa neste século XXI), foi amenizado em favor de uma abordagem mais forte e concentrada no subtema da violência contra a mulher. Há uma forte seqüência de estupro que foi devidamente mantida, embora tenha sido filmada de maneira mais crua no original sueco.
Há, talvez, um par de cenas no filme de David Fincher que não estão no outro filme. De resto, os eventos mostrados são basicamente os mesmos (Fincher decidiu incluir flashbacks do desaparecimento ocorrido em 1966, evento central da trama, que é investigado por Mikael e Lisbeth, os dois protagonistas), e os personagens têm caracterizações muito parecidas, inclusive fisicamente falando. Uma diferença importante é que o subtexto sobre neonazismo, presente no livro e no filme sueco (até como forma de denúncia para o que ocorre na Europa neste século XXI), foi amenizado em favor de uma abordagem mais forte e concentrada no subtema da violência contra a mulher. Há uma forte seqüência de estupro que foi devidamente mantida, embora tenha sido filmada de maneira mais crua no original sueco.
A maior contribuição de David Fincher parece ter ocorrido na relação mais complexa e sutil que se desenvolve entre Mikael (Daniel Craig) e Lisbeth (Rooney Mara). Em um dos momentos mais esclarecedores e intimistas do filme, os dois aparecem deitados na cama enquanto observam um notebook e discutem a investigação. Mikael tem o braço direito sobre as costas de Lisbeth. Quando o jornalista se movimenta na cama e tira o braço, a hacker reage de imediato, sem interromper o que está fazendo ou desviar o olhar do computador: “por favor, deixe o braço nas minhas costas”. Ele o faz, e a cena segue. Trata-se do momento mais romântico do filme, e um dos raros momentos em que carinhos físicos são trocados por dois personagens de David Fincher (excetuando-se “O Curioso Caso de Benjamin Button”). É uma grande cena. A relação de afeto entre os dois personagens, discreta e bem resolvida, é o maior trunfo do thriller.
Nos quesitos técnicos, o grau de excelência estabelecido por Fincher não chega a ser surpresa ou novidade. A fotografia de Jeff Cronenweth valoriza o branco e o cinza do inverno sueco, mas evita os tradicionais panoramas da paisagem gelada.
O filme investe forte nos interiores e em uma iluminação quase noir que lembra “Seven” (1995), algo que faz sentido, já que essa é a terceira investida de Fincher no subgênero do filme policial que flagra personagens tentando descobrir a identidade de um assassino. A música de Trent Reznor e Atticus Ross é atmosférica e sombria , como deve ser. O trabalho resulta num longa-metragem bem feito e adulto, em que o maior pecado é a semelhança um pouco grande demais com o filme realizado tão pouco tempo antes, a partir do mesmo material. Ou seja, se for um felizardo como eu fui, assistindo esta versão primeiro, a história me surpreendeu em tudo, e achei o filme magnífico.
O filme investe forte nos interiores e em uma iluminação quase noir que lembra “Seven” (1995), algo que faz sentido, já que essa é a terceira investida de Fincher no subgênero do filme policial que flagra personagens tentando descobrir a identidade de um assassino. A música de Trent Reznor e Atticus Ross é atmosférica e sombria , como deve ser. O trabalho resulta num longa-metragem bem feito e adulto, em que o maior pecado é a semelhança um pouco grande demais com o filme realizado tão pouco tempo antes, a partir do mesmo material. Ou seja, se for um felizardo como eu fui, assistindo esta versão primeiro, a história me surpreendeu em tudo, e achei o filme magnífico.