REQUIEM PARA UM SONHO (2000) - ANÁLISE
Ela quer emagrecer para este grande dia - e por isto começa a tomar pílulas que tiram a fome. Marion quer abrir sua loja e pede ajuda a Harry. Ele e Tyrone começam a traficar drogas. Em breve os três juntam bastante dinheiro: eles começam a se sentir invencíveis. Sara também está mais magra: ela se sente ótima em seu vestido vermelho.Só que os quatro não estão livres para usufruir de seus sonhos. Eles estão viciados. E quando os hábitos viram vício, todos se sentem ainda mais sós. Ainda que Harry converse com a mãe e perceba que ela agora está elétrica e trincando os dentes… Ainda que Harry e Marion saibam que só tem um ao outro… E que Tyrone se lembre vivamente dos ensinamentos de sua mãe …
"Nenhum deles consegue mais se comunicar. Os sonhos de dinheiro, fama e sucesso sucumbem diante dos pesadelos distorcidos, da dor e da dependência."
FICHA TÉCNICA
Título Original: Requiem for a Dream
Gênero: Drama
Ano de Lançamento (EUA): 2000
Estúdio: Artisan Entertainment / Industry Entertainment
Distribuição: Artisan Entertainment / Summit Entertainment
Direção: Darren Aronofsky
Produção: Eric Watson e Palmer West
Música: Clint Mansell
Direção de Fotografia: Matthew Libatique
Desenho de Produção: James Chinlund
Direção de Arte: Judy Rhee
Figurino: Laura Jean Shannon
Edição: Jay Rabinowitz
Efeitos Especiais: Amoeba Proteus
ANÁLISE
Assisti o filme várias vezes, e para mim ele é o filme mais arrebatador sobre o caminho e as consequências do fundo do poço.
Genial, brilhantemente editado, um filme para poucos.
Um soco no queixo ou uma dose de heroína, você decide. A sensação atordoante que sobra depois de assistir a “Réquiem Para Um Sonho” é mais ou menos essa. O filme, uma produção independente que transformou o cineasta novato Darren Aronofsky numa estrela de Hollywood, ganha fácil o rótulo de um dos mais impactantes libelo anti-drogas já produzido no cinema. E isso, ironicamente, no ano dos entorpecentes em Hollywood — afinal, “Traffic” também chegou às telas em 2000. São dois filmes bem diversos, com a diferença de que a obra de Steven Soderbergh ganhou dois Oscar e foi reconhecida pelo establishment, enquanto “Réquiem”, talvez por causa da força bruta de suas imagens, acabou relegado às salas alternativas.
A solidão de casa, porém, até ajuda a dar o clima necessário para compreender todas as nuanças do trabalho. Para encarar o filme, prepare-se – você pode ir a nocaute. Aronofsky aposta num tom visceral e busca estabelecer uma empatia, sempre carregada de angústia, de uma sensação de estranhamento, com o espectador. Fazer essa ligação a partir da violência das imagens é uma aposta atrevida, mas que funciona muito bem. Quem vê a obra desce ao inferno do vício junto com os quatro protagonistas e termina com a sensação de que tomou uma overdose. “Réquiem Para Um Sonho” não é só um filme, é uma experiência sensorial completa.
Na verdade,é possível estabelecer um paralelo interessante, em termos estilísticos, entre o trabalho de Aronofsky e os filmes de David Fincher, o cineasta de “Clube da Luta”. Os dois fazem críticas à degradação social do homem contemporâneo com base em imagens fortes, sempre buscando atingir o espectador no estômago. Ambos trabalham com carga visual intensa, abusam de truques de metalinguagem (pesadelos, delírios esquizofrênicos) e valorizam muito a montagem – de imagem e sons – no processo de direção. “Réquiem Para Um Sonho” poderia muito bem ser assinado por Tyler Durden, o cruzamento de Mike Tyson com Jean Paul Sartre que protagoniza “Clube da Luta” (isso se Tyler Durden fosse um cineasta, e não um projecionista dedicado a inserir imagens pornográficas em desenhos animados).
A edição de “Réquiem” chama especialmente a atenção. O filme tem mais de duas mil tomadas, quando o normal de um filme de duas horas está na faixa de 600 a 700 cortes. Grande parte deles acontece nos momentos em que os três jovens do filme tomam drogas – a montagem delirante e hiper-acelerada traduz fielmente ao espectador a sensação física da viagem, a falta de chão e o sentido de irrealidade que dominam o drogado. Aronofsky abusa de recursos pouco tradicionais: divide a tela em duas, usa imagens granuladas de transmissões de TV. Tudo isso realça a sensação de incômodo que permeia os 102 minutos. A maravilhosa trilha sonora do Kronos Quartet, executada com violoncelos, enfatiza ainda mais a melancolia. Pura poesia da degradação humana.
A veterana Ellen Burstyn dá um show à parte como a solitária Sara. Aqui cabe outro paralelo com “Clube da Luta”: a crítica radical à solidão, ao egoísmo, ao narcisismo desenfreado da vida moderna. Sem rédeas auto-impostas, o cineasta acompanha com coragem a trajetória errática dos quatro e conduz o filme a um final assustador, mas alegórico e comovente. Para refletir e demorar a esquecer.