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ROBINSON CRUSOÉ (1954) - CLÁSSICOS QUE (QUASE) NINGUÉM VIU OU SE LEMBRA

FICHA TÉCNICA

Direção: Luis Buñuel
Roteiro: Daniel Defoe (romance), Hugo Butler (roteiro), Luis Buñuel (roteiro)
Gênero: Aventura/Drama
Origem: México
Duração: 90 minutos
Tipo: Longa-metragem
Música Anthony Collins
Direção de fotografia Alex Phillips
Edição Carlos Savage
Alberto Valenzuela
Estúdio Producciones Tepeyac
Elenco Dan O'Herlihy
Jaime Fernández
Felipe de Alba

Distribuição United Artists


SINOPSE

Grande personagem da literatura de aventura, Robinson Crusoé ganha aqui uma de suas inúmeras releituras cinematográficas, com um grande e curioso diferencial. O diretor é ninguém menos que Luis Buñuel, um dos cineastas mais inquietos da história.


CURIOSIDADE

Sempre coadjuvante, Dan O'Herlihy, aqui em foto de 1955, teve seu grande momento ao estrelar Robinson Crusoe. Contudo, apesar de indicado ao Oscar da Academia, ele voltou aos papéis característicos em filmes de ação da Universal e da 20th Century Fox. Em 1964, atuou em outra produção importante, Limite de Segurança, de Sidney Lumet. Ativo até o final do século XX, apareceu com destaque em O último guerreiro das estrelas, Halloween III e RoboCop. Também trabalhou intensivamente na televisão. Faleceu em 2005, aos oitenta e cinco anos de idade.

PRÊMIOS E INDICAÇÕES

Academia de Artes e Ciências Cinematográficas Oscar Melhor Ator (Dan O'Herlihy) Indicado
British Academy of Film and Television Arts BAFTA Award Melhor Filme Indicado
Prêmio Ariel Ariel de Ouro Melhor Filme Vencedor
Prêmio Ariel Ariel de Prata Melhor Diretor
                                Melhor Ator Coadjuvante (Jaime Fernández) Vencedor
                                Melhor Roteiro Adaptado Vencedor
                                Melhor Edição Vencedor
                                Melhor Cenografia Vencedor
                                Melhor Fotografia Vencedor


ANÁLISE CRÍTICA

Todo mundo conhece a história de Robinson Crusoé, não é mesmo? O clássico do jornalista e escritor britânico Daniel Dafoe, publicado em 1719.

Mas muito pouca gente sabe que o improvável Luis Buñuel dirigiu e co-escreveu um filme adaptando o romance. Trata-se de seu primeiro filme integralmente falado em inglês, ainda que ele tenha filmado, na verdade, duas versões simultâneas, sendo a segunda em espanhol. A produção foi extremamente complicada, começando em 1952 e só acabando em 1953, um tempo considerável, já que as obras do diretor em sua fase mexicana eram feitas rapidamente, em questão de semanas. Além disto, o filme estreou primeiro nos Estados Unidos, já que a United Artists adquiriu os direitos de distribuição da fita. 

Até a contratação de Dan Herlihy, que lhe faria concorrer ao Oscar de melhor ator em 1955, foi extremamente complexa, com mais de 300 candidatos ao papel, dentre eles o favorito dos produtores, ninguém menos que Orson Welles! Mas Buñuel insistiu, e acabou tirando dele uma atuação memorável.

Afinal de contas, se o ator não funcionasse, o filme naufragaria como o protagonista. Dois terços da projeção dependem só do ator, sozinho, contracenando com animais e falando algumas poucas linhas aqui e ali, em um processo de solidão cada cez mais aguda e , claro, loucura. Assum como no livro, a narrativa é do próprio Crusoé depois de sair da ilha e tudo que vemos é um grande e detalhado flashback. Fica evidente para o espectador que Crusoé é um filho de nobres ingleses que nunca sequer teve que se aproximar de uma cozinha ou de qualquer tipo de afazer doméstico. Mas Crusoé, para desgosto do pai, sai em viagem pelo mundo e, no caminho do Brasil para a Europa, acaba sendo o único sobrevivente de um naufrágio.

Crusoé, então, apesar da situação desesperadora, começa a tentar recriar os confortos de seu lar original na ilha perdidam no Atlântico. Com muita "tentativa e erro", ele faz roupas, cria ovelhas, planta trigo e, obsessivamente, tentas assar pão. Aos poucos, seus companheiros animais vão morrendo, e em determinado momento ele se encontra só, apenas com sua própria voz.

Esta solidão o transforma em um ermitão barbudo, com aparência de urso, até que um dia ele salva um nativo canibal trazido para ilha para ser morto. Ele é batizado de Sexta-feira (Jamie Fernandez, que assim como o personagem, não falava uma palavra de inglês e foi aprendendo na medida em que o filme era rodado) e se torna servo e amigo, mostrando que o companheirismo pode salvar vidas.
Só que estamos falando de Luis Buñuel... Sendo assim, não esperem a narrativa padrão de uma mera adaptação do romance original. O diretor trabalha muito bem a relação de pai e filho no filme, assim como a fuga para a religião.

Neste quesito, o que vemos é um Crusoé que passa todo filme tentando se provar para um pai que se quer vemos na tela, mas que está presente o tempo todo. Ele está nesta situação porque desafiou o pai e não quer dar o braço a torcer, trabalhando para trazer a civilização para o seu pitoresco local selvagem. E, quando doente, finalmente vemos o  confronto de pai e filho em uma alucinação orgânica dentro da narrativa que acaba fechando o círculo. Este trecho, absolutamente inexistente no romance original, é puro Buñuel e dá um toque todo especial ao filme, já que acrescenta mais camadas ao perturbado subconciente do protagonista.

A fuga para a religião é outro aspecto bem trabalhado pelo diretor. Crusoé  só tem a Bíblia para ler, e como cristão fervoroso, lê suas passagens para si mesmo e reza alto para ouvir o eco rezando para ele. Será que é o jeito de Buñuel dizer que rezar é um alto vazio, uma conversa do homem com o homem e queuma força maior não existe?

Esta dúvida fica sem elucidação, mas Buñuel vai além na provocação, quando Sexta-feira entra na película.


Como todo bom cristão, Crusoé parte para catequizar o selvagem, depois que ele o ensina a falar inglês. E no processo, pegando-o completamente de supresa, Sexta-feira faz indagações interessantes sobre Deus e o Diabo. Porque Deus, que é tão poderoso, permite que o Diabo exista? Se o Diabo existe para que o homem possa escolher entre o certo e o errado, então isso não quer dizer que Deus é responsável por todo mal que existe? Maus perguntas sem respostas adequadas e mais uma forte alfinetada de Buñuel na questão religiosa, e de quebra, entre amo e servo (burguesia e proletariado).

Filmado em Pathécolor, as cores da fita são fortes demais, passando uma impressão de desolação total mesmo quando imagenns paradisíacas são mostradas. Essa saturação não funciona o tempo todo e as flutuações de cores são uma constante, especialmente nas cenas noturnas, mas essas falhas podem ser perdoadas diante do que o diretor consegue fazer com a história que hoje é batida.

O conhecimento geral da história de Crusoé pode até diminuir a curiosidade de muitos por esse filme, mas é algo injusto. Trata-se de um dos trabalhos mais interessantes do diretor, na fase mexicana. É um autêntico clássico esquecido.

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