O QUE É O TERRIR ?
ENTÃO...
'Terrir’ só é bom quando feito a sério
Terrir é uma modalidade de filmes de terror cujo absurdo e exagero nas cenas são marcas registradas. Geralmente trata-se de filmes B de baixo orçamento, atores desconhecidos e com roteiros cheio de falhas e clichês, o que vem a acrescer um tom cômico.Muitas vezes também a atenção do espectador é presa por sequências de sexo desnecessário ao enredo, o que destoa da proposta do Terror/Horror propriamente dito.
O termo Terrir é exclusividade da língua portuguesa. O cineasta Ivan Cardoso foi feliz ao cunhar o termo “terrir” para definir alguns dos filmes que dirigiu, como As sete vampiras e O segredo da múmia. Produções assumidamente cômicas podem ser ótimas e, ao mesmo tempo, ter no centro da trama alguns dos personagens mais famosos do gênero terror, bom exemplo disso é O jovem Frankenstein, um dos mais divertidos títulos da obra de Mel Brooks, um mestre da comédia. Já para levar o drama dos personagens de Mary Shelley às telas com seriedade, hoje, recomenda-se que o candidato supere Kenneth Branagh, que em 1994, além da direção, assumiu a pele do cientista Victor Frankenstein e deu a Robert De Niro o papel de sua atormentada criatura.
Pode-se dizer com certas restrições que corresponderia ao trash movie americano. Sua idéia veio justamente da proposta de fazer filmes de terror para rir, daí a definição Terrir. Existe duas maneiras de um filme de terror se enquadrar como Terrir: propositadamente ou não. Exemplos de filmes de terrir propositais: O Segredo da Múmia (Brasil, 1982), As Sete Vampiras (Brasil, 1986), Bad Taste (Nova Zelândia, 1987), Braindead (Nova Zelândia). Exemplos de filmes de terrir que são enquadrados como tal, mesmo a contragosto de seus diretores (que certamente queriam fazer um legítimo clássico do Horror): Plan 9 From The Outter Space (EUA, 1956), e Heavy Metal do Horror (EUA, 1986)
A IDEIA DO TERRIR
É curioso pensar como em muitas situações as pessoas dão risadas de coisas que fogem a lógica ou as regras da normatividade. Segundo Bergson (1984, p. 6), em O riso, “rimos dos desvios que nos apresenta como simples fatos.”. Ou como o mesmo filósofo cita em outro trecho: “(...) é incontestável que certas deformidades têm em certos casos o poder de provocar o riso.” Por este viés, certos estados como a feiura, o ridículo podem virar motivos de riso. Deste modo, o risível aparece assim como resultado produzido pelo efeito de sentido que resulta de uma crítica a um perfil de alguém que não atingiu um ideal socialmente estabelecido, sendo assim, o riso seria como uma crítica de modos e costumes. Com relação a este conceito, podemos inferir o que Michel Foucault diz em a Ordem do discurso. Segundo ele, existem procedimentos de exclusão, se deslocam e são modificáveis no tempo, sendo a história constituída por dispersões discursivas.
Deste modo, o sujeito é multifacetado pelas instâncias constituídas em seu tempo. Assim, essas várias camadas que diz quem somos coexistem através do exercício de saber e poder. Em relação ao discurso cômico, podemos dizer que tal efeito existencial põe em cena a necessidade do homem de se adaptar a vida, exigindo dele certa “elasticidade de espírito” para se adaptar a condição em muitos aspectos anormal de sua existência, o que faz com e estabeleça, dentro de suas regras de formação, diálogos com outros discursos, como o da morte, da pequenez diante do universo e do sofrimento, o enunciado entra em jogo com outros enunciados, criando um jogo discursivo. Daí a engenhosidade humana de rir-se diante do grotesco e do anormal.
A CONSTRUÇÃO DO DISCURSO TERRIR
Acredito que o terror e o riso são discursos que aparentemente são conflitantes entre si. Neste sentido, tentaremos ver que pareceria pode haver ente ambos, usando para isso as teorias sobre o grotesco e o riso.
A escuridão remete às trevas, submundo, onde segundo o ensino bíblico, vivem as pessoas que estão longe da luz divina, sinalizando assim para suas monstruosidades cometidas na terra. A cor branca, na memória coletiva, ao contrário, mostra a pureza, a ausência de infrações. Um estado angelical que consequentemente obedece às leis de correção, como a ideia da pomba branca, símbolo da paz.
O Terrir se dá então na justaposição de enunciados que entre si são conflitantes. O Terrir ela se dá pelo riso, que neste caso é feito pelo telespectador do filme. Para a confecção do grotesco, o corpo no discurso fílmico de As sete Vampiras é fonte de discursivização do horror e do riso. Como foi mostrado no filme, ao mesmo tempo em que ele aparece em Fred em estado de monstruosidade, vestido de preto, de forma sombria, ocorre o oposto com o detetive Pacheco, que com gestos e modos, falas, e caretas, aparece o cômico. Assim, quando os dois estão em cena, o filme em vês de causar medo, provoca o riso.
O Terrir deste modo brinca com aqueles medos mais recônditos do homem, como o temor da morte, abalando assim a seriedade de determinados temas, como o saber científico e o saber jurídico. Se pensarmos na época em que o Filme As sete Vampiras fora produzido, veremos que essa espécie de humor e terror perpassados por discursos como o jurídico e o cientifico, pode de algum modo constituir uma sátira aos problemas da época. Basta vermos, por exemplo, que em 1986, época de produção do filme, o pais era recém-saído de um período de instabilidade política. Havia uma crise econômica profunda. O riso uma espécie de “trote social”.
Atualmente, há um surto de criaturas fantásticas no cinema e na televisão. O problema é acertar a mão e o tom — dificuldade enfrentada também pelas séries que tentam dar leveza e comicidade a temas pesados como câncer, distúrbios psicológicos graves e alcoolismo, para citar apenas três num mar de opções. No caso dos seres sobrenaturais, o primeiro passo seria definir o que se quer: ser levado a sério ou fazer rir.