OS 8 ODIADOS - CRÍTICA POR RUBENS EWALD FILHO
Os Oito Odiados (The Hateful Eight)
EUA, 15. 168 min. Direção e roteiro de Quentin Tarantino. Com Jennifer Jason Leigh, Kurt Russell, Channing Tatum, Samuel L. Jackson, Walton Goggins, Bruce Dern, Tim Roth, Michael Madsen, Demian Bichir.
Não tem sido uma época de sorte para Tarantino. Primeiro o roteiro deste filme foi pirateado e por isso o projeto quase foi cancelado. Depois comprou uma briga com a polícia de Nova York que pode ter consequências imprevisíveis e finalmente uma cópia excelente deste faroeste foi distribuída pela pirataria e com certeza deverá prejudicar a carreira de seu filme. Que além disso tem um complicômetro, ele foi rodado em 70 milímetros (ou seja com negativo desse tamanho, coisa que não acontecia desde o fim dos anos 60, quando caiu em desuso o Cinerama e semelhantes. Sem dúvida, isso dá mais qualidade às imagens, mas no Brasil não restou nenhum projetor deste formato e a cópia será digital).
Produzido pelos fiéis Irmãos Weinstein, o faroeste (um gênero ate agora fora de moda) traz como principal atração a trilha musical do genial Ennio Morricone que afinal das contas foi o mestre dos spaghetti Westerns. Mas porque custou a ficar pronto, o filme só teve indicações para o Globo de Ouro (trilha musical, roteiro e atriz coadjuvante Jennifer). Também por ser muito falado e em grande parte passar-se num único cenário (uma cabana no meio da paisagem gelada), o filme tem sido comparado com seu primeiro trabalho Cães de Aluguel (92). E apesar de não ser um clássico, ainda pode agradar quem gosta do gênero. E do diretor (que não faz ponta mas é ouvido narrando certos fatos na parte final). Um detalhe: o filme é capitulado.
Começa durante tempestade de neve no Wyoming depois da Guerra Civil, repleta de Caçadores de Recompensas que procuram abrigo numa diligência que esta carregando justamente um desses caçadores, o John Ruth (a melhor interpretação em anos de Kurt Russell) que leva sua prisioneira Daisy Domergue (não gosto de Jennifer Jason, uma atriz composta e sem humanidade). Quem surge no caminho deles é outro aventureiro, o Major Marquis Warren (o melhor ator do filme e que tem sido injustamente esquecido pelos prêmios, Samuel L. Jackson está excelente!). Logo um terceiro vem se juntar ao grupo que se diz o novo xerife de uma cidade vizinha Chris Mannix (Tarantino deu grande chance ao ator Walton Goggins, que foi descobrir nas séries de TV Justified e Sons of Anarchy. Já esteve antes em Lincoln e Django Livre).
Finalmente eles chegam a um casebre que seria uma espécie de restaurante a beira da estrada, onde o frio e neve são ainda mais intensos. Lá estão um veterano General de Guerra racista (Bruce Dern), Oswaldo, um inglês que seria o enforcador (Tim Roth), Bob um mexicano (o ator Demian, que mal se identifica), o pistoleiro Joe Gage (o habitual de Tarantino Michael Madsen). Começam então as ameaças, as revelações, conflitos e brigas, realmente muito centradas no diálogo, que são quebrados ocasionalmente por tiroteios e ajuste de contas. Faço reparo a algumas falas nos diálogos quando Tarantino utiliza frases e conceitos que não existiam na época em que se passa a história. Como chamar alguém de paranoico (conceito que só se espalhou com Freud) ou Sales Pitch (truque para vender uma ideia). Desatenção do autor.
Não se pode dizer que o filme seja cansativo apesar de sua longa metragem, até porque há cenas violentas de “gore” e um final surpreendente como seria de se esperar. Talvez Django Livre tenha sido mais criativo e ousado pela própria temática. Este aqui é um divertimento do diretor, com sua habitual verve e métodos. Como admirador dele, achei o resultado interessante e estou mesmo disposto a revê-lo.