OSCAR 2016 - POLÊMICAS DAS INDICAÇÕES
Oscar 2016: A Polêmica das Indicações
Sempre que me perguntam sobre o Oscar, faço questão de dizer que ele é honesto, você não pode comprar um prêmio e explico porque. Ele não tem a estrutura de uma órgão político, os votantes moram em diversas partes do mundo e nunca se encontram, votam por correio ou coisa que o valha. Mal se falam ou se conversam. Não conseguem trocar favores como sucede com frequência em júris de festivais de cinema e muito mais ainda em lugares onde se reúnem políticos, que no fundo vivem justamente desse toma lá dá cá. Por outro lado, a Academia é extremamente injusta, tem uma enorme tradição de dar Oscars no ano errado para a pessoa certa, mas que com frequência é consolação por omissões passadas. E deixar passar em branco nomes importantes do cinema, que vão de Greta Garbo e Hitchcock a casos mais recentes, como Spike Lee ou Gena Rowlands. Para isso que existem os Oscars especiais que agora infelizmente são realizados em um cerimônia à parte no fim do ano. É um cala boca muito discutível, mas melhor do que nada.
Não acho que a academia mereça ser crucificada como está sucedendo porque este ano não selecionou nenhum negro, em nenhuma categoria. Na verdade, com muita lógica, porque o problema não é esse. A verdade é que a indústria do cinema americano é branca e masculina (por que até hoje somente uma mulher ganhou o Oscar de diretora? E assim mesmo injusto!). As ditas minorias são justamente isso, apenas uma parte pequena e não tão crescente assim quanto deveriam ser... acho que o choque dos finalistas é mais porque a presidente da Academia atualmente é uma mulher e negra, que estava se esforçando abertamente para trazer mais igualdade a premiação e como já no ano passado tinham feito com o filme Selma (que levou apenas Oscar de Canção, embora fosse a denúncia mais poderosa do racismo que Martin Luther King teve que enfrentar em sua vida). Por isso mesmo tomou providências para que a festa deste ano tivesse um apresentador negro - o ótimo Chris - além de um produtor negro, o diretor Reginald Hudlin.
Mas não pensaram no mais importantes, na verdade os possíveis candidatos não eram assim tão fortes quanto se podia pensar. É só ver a lista: Samuel L Jackson está excelente no filme do Tarantino, mas acontece que o filme ficou pronto em cima da hora e em certas premiações não deu nem tempo para concorrer; Idris Elba, outro grande ator, estrelou um filme divulgado pelo Netflix que não é exatamente a cara da Academia; O Creed pelo jeito a Warner não achou que era filme de Oscar e não fez campanha publicitária e Stallone está concorrendo e ganhando agora justamente por uma dessas injustiças a corrigir. Ou seja, o fato é que ha uma série de circunstancias que não tem nada a ver com racismo, ao contrario, a Academia e o próprio cinema americano já deu sinais disso em toda sua História. Eu acho mesmo mais triste constatar que no Brasil os filmes sobre e para negros as vezes já saem direto em Home Video. DVD ou TV por assinatura. E são enormes fracassos de bilheteria desde sempre... isso sim se poderia chamar de uma forma de racismo.
O que a presidenta fez foi mexer nas regras da Academia, procurando arejar mais o sistema, por exemplo fazendo com que os votantes tenham cargos durante dez anos, dali em diante para renovar teriam que provar que estão em ação na indústria do cinema e não aposentados (não seria isso outro preconceito, agora contra velhos?) e aumentar o números de sócios que são convidados pela Academia e não podem se inscrever, principalmente com mais mulheres, negros, latinos e europeus.
Tudo bem, mas levaria anos para mudar e francamente não garante nada. Não quando se ouve atualmente nos EUA onde estou no momento um candidato imbecil a presidência que está sendo muito cotado, ameaçando expulsar todos os mexicanos para sua terra natal. Vejam que curioso ele faz isso, exatamente quando a academia ameaça premiar justamente um fotógrafo mexicano pela terceira vez consecutiva, um fato inédito no Oscar e um diretor mexicano Inãrritu por O Regresso (The Revenant), que ganhou ano passado.
Ou seja, como tudo na vida o buraco é mais embaixo e não será resolvido de forma simplória e simplista, ouvindo atores veteranos que não entendem do assunto, que precisa mudar sem dúvida é verdade. Agora como mudar é que são elas... que engraçado que não é só lá que isso acontece, né? Tanta coisa por aqui que precisa também mudar...
O apresentador , que é Chris Rock, claro que vai garantir tiradas muito irônicas! Será que não vão reclamar de deixarem de lado o lesbianismo porque não puseram na lista Carol? E por que não mudam logo essa besteira de variar o número de filmes a cada ano, deixa dez e pronto, porque desse jeito dá a impressão de que tem anos bons e anos ruins. Esqueci de mencionar o mais importante, que outro grande problema e a própria votação da Academia, que não é o sistema tradicional, mas um que eles trouxeram da Austrália, que é uma confusão danada e o sócio ao votar em dez na verdade apenas os dois primeiros em que votou tem algum peso. Eles tentam explicar e cada vez fica mais confuso e caótico. Isso que deveria mudar dentre tantas outras coisas.
Rubens Ewald Filho direto de Atlanta, EUA.