BEASTS OF NO NATION (2015) - CRÍTICA DE RUBENS EWALD FILHO
Navegando na Netflix: Beasts of No Nation
EUA,15. 137 min. Direção, produção, roteiro e fotografia de Cary Joji Fukunaga. Com Idris Elba, Abraham Attah, Emmanuel Affadzi, Andrew Adote, Vera Antwi. Baseado em livro de Uzodinma Iweala.
Esta é a mais recente atração do Netflix em escala mundial. Pagaram 12 milhões de dólares pelos direitos para distribuírem junto com as salas de cinema americanas e VOD. Só que isso provocou um reação dos grandes exibidores que recusaram lançar o filme apesar de sua excelente repercussão critica e a participação do recente Festival de Veneza (onde ganhou prêmios da UNESCO e de melhor ator para o garoto Abraham). Depois passou em Telluride, Tóquio e Toronto. Fala-se também nele como certo concorrente ao Oscar (ao menos pela excelente interpretação do menino Abraham, natural de Ghana, onde o filme foi rodado e que teria nascido em 2000 segundo a Wikipedia). Outro destaque é o britânico Idris Elba, a mãe dele é de Ghana, o pai de Sierra Leone, já ganhou um Globo de Ouro pela série de TV Luther. Uma interpretação soberba que só será barrada se a Academia continua a ser preconceituosa (este é um filme inteiramente interpretado por negros, ao que parece quase todos amadores e todos mais que competentes). A única coisa que atrapalha é justamente a Academia cismar de achar que ele poderia ser desclassificado por sua pioneira exibição pela Netflix.
A principal atração do filme, porém é seu versátil diretor, Fukunaga, que é nascido na Califórnia de família japonesa, avó sueca com mistura ainda de inglês e alemão. O pai dele chegou a estar preso em campo de prisioneiros nos EUA depois de Pearl Harbor. Ele ficou famoso e respeitado por ter escrito e dirigido todos os 8 capítulos da serie da HBO, True Detective (com Matthew McConaughey). Nada teve a ver com a segunda temporada que ele rejeita. Dirigiu ainda o drama Sin Nombre, 09, sobre emigrantes mexicanos e Jane Eyre, 11 com Michael Fassbender.
Este seu novo trabalho é um tour de force que raramente se vê no cinema americano. Filmes como este só costumam ser realizados por europeus e com muito menos recursos (o orçamento parece ter sido por volta de 5 milhões de dólares). Uma história dramática, perturbadora e emocionante, sobre um garoto chamado Agu que começa esperto e aventureiro com sua família e amigos. Até quando a vila em que moram é atacada por forças do governo que matam quase todos indiscriminadamente. Perde tudo (a mãe e irmã mais nova conseguem escapar mas somem na confusão que vive o pais). De repente para sobreviver ele acaba se envolvendo no grupo rebelde FDL, que é liderado pelo chamado Comandante (Idris). Assim ele aprende a matar, obedecer ordens, faz um mergulho nos infernos e vai se tornando um adulto em corpo de criança. Rodado inteiramente em locações, muitas vezes em florestas (uma única sequência faz efeito com cor), não é um filme comercial, nem digestivo, nem mesmo bonitinho. Por vezes é cruel, sempre realista, sem alívios cômicos. Procure assistir e que a Netflix continue com essa política de trazer o que há de mais novo e polêmico.