BÉLA TARR - 10 FILMES ESSENCIAIS
O húngaro Béla Tarr é mais conhecido em alguns círculos como fonte de inspiração para a trilogia de Gus Van Sant (Gerry, Elefante e Last Days), do que pela sua própria obra. No entanto, ele é dono de um universo pessoal cinematográfico absolutamente marcante. Tarr é um daqueles cineastas com uma aproximação tão particular com o cinema que é impossível não reconhecer o seu mundo ao ver um plano qualquer de seus filmes (embora seja verdade que vários dos seus planos têm mais de seis, sete minutos).
E este mundo de Tarr (um mundo sempre em preto-e-branco, com movimentos de câmera laterais e verticais constantes, atores que trabalham num registro tons acima ou abaixo do natural e com um som todo particular, com cada ruído refeito em pós-produção, inclusive dublagem dos atores, e uma música repetitiva que impõe um tom) é, ao mesmo tempo, a grande força e a armadilha de seus filmes. Força porque, ao contrário de alguns cineastas, este mundo de um formalismo intenso não nos parece imposto pelo diretor aos seus personagens por força de influências cinematográficas externas, mas sim algo que nasce com e a partir de Tarr: um mundo único e todo dele, que preexiste e ultrapassa os personagens, mas onde eles habitam com naturalidade. Anunciado pelo cineasta como seu último filme, O Cavalo de Turin recebeu o prêmio do júri no 61º Festival Internacional de Cinema de Berlim.
Abaixo, seus 10 filmes essenciais:
Turim, 3 de Janeiro de 1889. O filósofo Friedrich Nietzsche sai de casa. Ali perto um camponês luta com a teimosia do seu cavalo, que se recusa a obedecer. O homem perde a paciência e começa a chicotear o animal. Nietzsche aproxima-se e tenta impedir a brutalidade dos golpes com o seu próprio corpo. Naquele momento perde os sentidos e é levado para casa onde permanece em silêncio por dois dias. A partir daquele trágico evento Nietzsche nunca mais recuperará a razão, ficando aos cuidados da sua mãe e irmãs até ao dia da sua morte, a 25 de Agosto de 1900. Partindo deste evento, o filme tenta recriar o percurso do camponês, da sua filha, do velho cavalo doente e a sua existência miserável.
Maloin é um personagem sem perspectivas na vida. Ele testemunha um crime de morte no cenário de um porto decadente e, inesperadamente, deve encarar as consequências da moralidade, crime e castigo. Este é um resumo simplista do filme do cineasta húngaro Béla Tarr THE MAN FROM LONDON, que nos conduz em uma fascinante espiral pelos tortuosos mecanismos das mentes atormentadas por sentimentos de culpa.
János Valuska, um simples carteiro apaixonado por astronomia, vê sua cidade sofrer uma revolta depois da chegada de um circo e suas atrações: uma baleia gigante e um príncipe medonho com seus seguidores, pessoas simples das cidades vizinhas que ficaram seduzidas pelo seu discurso niilista contra a burguesia local.
Sátántangó um filme dirigido pelo cineasta húngaro Béla Tarr. Rodado em branco e preto, concluído em 1994, é um épico de 7:30 horas. É baseado no romance Sátántangó do húngaro László Krasznahorkai, que tem fornecido histórias para Tarr desde 1988. Tarr queria fazer o filme desde 1985, mas foi incapaz de avançar com a produção, devido ao rigoroso ambiente político na Hungria.
O enredo trata do colapso de uma fazenda coletiva na Hungria perto do fim do comunismo. Várias pessoas na fazenda estão ansiosas para sair com o dinheiro que vão receber para o encerramento da comunidade, mas não ouviram falar que o bom e carismático Irimias, que tinha desaparecido há mais de dois anos e quem eles pensavam estar morto, está retornando.
A vida de quatro melancólicos personagens é acompanhada pela filmagem. Uma loira e misteriosa cantora de cabaré (Vali Kerekes) é a paixão de Karrer (Miklós Székely B.), e este tenta aproximar-se da atraente mulher por meio de seu marido. No entanto, ela o usa, e o desespero de Karrer é representado metaforicamente pelo clima gélido, os bares obscuros e os cães anônimos.
Passado inteiramente em um apartamento decadente de uma velha enferma, Almanaque de Outono segue as ações e repercussões de cinco personagens perniciosos motivados por dinheiro e sexo. O filho da doente, sua enfermeira e seus dois amantes, cobiçam seu dinheiro em um clima amargo de disputa, manipulação e traição. Bela Tárr, em um dos seus únicos filmes em cores, faz uso de ângulos inventivos, uma constante movimentação da câmera, e um rígido uso de cores como uma estratégia para comentar sobre os estados de espíritos dos personagens. Geralmente negligenciado pelos admiradores do Bela Tárr, Almanaque de Outono é uma obra singular desse talentoso e único diretor que marca a grande virada entre o realismo social do início de sua carreira e o distinto estilo visual dos seus aclamados filmes mais recentes.
Baseado na clássica história de William Shakespeare , o filme consiste de apenas dois planos sequência, um de 5 minutos e outro de 57. A câmera agitada e os frequentes close-ups refletem as emoções complexas dos personagens, enquanto eles experimentam traição e conspiração.
Panelkapcsolat (The Prefab People), o primeiro trabalho de Béla Tarr com atores profissionais, é um lugar escuro e desprovido de otimismo, onde se assiste ao corroer e à degradação de uma relação familiar por entre as ruínas da sua miserabilidade social. Uma mulher e um homem querem mover-se, mas permanecem enterrados no pântano. O preto-e-branco granulado e a câmara sempre muito próxima aos atores acentuam o caos e a desolação destas vidas cinzentas, em que a crueldade da hipocrisia se faz mais sentir numa longa sequência de um baile, episódio que deveria ser sinônimo de alegria e festividade.
A historia se passa em uma pequena cidade provinciana e segue a vida de Andras Szabo (András Szabó), um jovem violinista alcoólatra que não possui controle algum de sua própria vida. O filme retrata o casamento de Andras no qual sua esposa procura por segurança e uma vida estável, coisas que o marido é incapaz de fornecer.
Mãe e filha, Irén (Laszlone Horvath) e Krisztike (Krisztina Horváth) moram com parentes do marido de Irén, Laci (László Horváth), que foi para o Exército, em um pequeno apartamento no subúrbio da cidade. A convivência entre pessoas é prejudicada pelas constantes e intermináveis brigas entre as mesmas. A realidade e o cotidiano na quitinete são cada vez mais tomados pela desesperança.