A CAIXA DE PANDORA (1929) - FILM REVIEW
Clássico do Expressionismo Alemão, este filme foi lançado pela obras primas do cinema numa fantástica caixa com outros quatro clássicos do gênero e com mais de 2 horas de extras para fã nenhum de expressionismo botar defeito.
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Expressionismo Alemão
O expressionismo foi um movimento alemão que surgiu no período da Primeira Guerra Mundial. É importante frisar que este movimento nasce em uma Alemanha apática, esmaecida, abatida e que precisa expressar seu medo, sua dor e outros sentimentos – e qual o melhor meio para trazer esses sentimentos à tona do que pela Arte? O expressionismo, de modo sucinto, busca dar forma ao ciúme, amor, dor, paixão, medo, malícia, solidão e a miséria humana. A corrente expressionista capturou a música, a pintura, o cinema, a literatura, arquitetura, teatro, dança e a fotografia e vem em resposta aos movimentos do Realismo e Impressionismo, que buscavam retratar a realidade de modo objetivo – excluindo toda e qualquer forma de manifestação das emoções. Em contrapartida a essa visão herdeira do empirismo, a palavra-chave do expressionismo é simplesmente: expresse-se.
O cinema expressionista é a forma mais popular do movimento e é quem apresenta, sem dúvidas, algumas das maiores obras da sétima arte. O chamado expressionismo alemão, de meados de 1920, tinha como marcas características a utilização de uma coreografia (mise-en-scène) exagerada – os olhos arregalados, a interpretação caricata e bastante teatral; os cenários distorcidos, de modo a criar sensações de inquietude; o recorrente uso de temas folclóricos, literários, sombrios e fantasiosos, que garantiram o desenvolvimento do terror; e maquiagem, muita maquiagem. Havia um forte apelo para temas sobre a ambiguidade humana – o fascínio pelo mal e uma busca pelo bom; e é interessante notar que é do expressionismo alemão que nascem marcos do gênero terror como O Gabinete do Dr. Caligari (1912) e Nosferatu (1922). A verdadeira pérola desse estilo cinematográfico é lograr suscitar as reações psíquicas no espectador, sejam elas de medo, terror ou até mesmo a empatia. Lembrando que o movimento expressionista, em geral, se faz por esse estreito contato com o campo psicológico através da expressão das emoções, um princípio puramente catártico. O espectador entra em profunda relação com a obra.
O Filme
O editor-chefe de um importante jornal, Peter Schön (Fritz Kortner), tem uma coquete, Lulu (Louise Brooks), como amante - um caso que está sendo cada vez mais comentado. Ele planeja se casar com a filha do ministro do interior, no entanto Lulu força uma situação que faz com que Peter se case com ela. O casamento dura apenas um dia, pois ele ficou com ciúme de seu filho, Alwa (Francis Lederer), que é bem próximo de Lulu, que o considera seu único amigo.
Este ciúme acaba provocando uma briga entre Lulu e Peter. Ao brigarem pela posse da arma dele o revólver dispara e Peter morre. Ela é condenada a 5 anos de prisão, mas seus amigos dão um falso alarme de incêndio, provocando um tumulto, e assim ajudam Lulu a fugir do tribunal. Tentando deixar o país, ela é chantageada pelos "amigos", que ameaçam dizer para a polícia onde ela está. Lulu pode ser "comprada" por um "negociante" do Cairo e, para evitar isto, ela conta apenas com seu pai dela e Alwa.
O diretor
Um dos mestres do cinema mudo alemão, G.W. Pabst foi também um grande descobridor de atrizes talentosas (inclusive Greta Garbo). Talvez nenhuma de suas estrelas tenha brilhado tanto ao ponto de se imortalizar num personagem, como a belíssima e enigmática Louise Brooks. Pabst foi um diretor de origem humilde, filho de um ferroviário. Ainda jovem, foi para Nova York com o objetivo de tornar-se ator de teatro, depois foi para a França, dai passou um tempo num campo de prisioneiros durante a primeira guerra e por fim, foi para Berlim, onde se tornou roteirista. Ufa..
Realizou alguns dos filmes mais exemplares deste novo ‘realismo social’, pintando sere humanos como criaturas movidas por instintos primários, desde seu primeiro filme, O Tesouro (1923)sobre a cobiça humana pelo ouro”. De certa forma, ele foi precursor do cinema de Douglas Sirk.
Pandora
O filme é baseado em duas obras de Frank Wedekind e estrelada por Louise Brooks (1906-1985), que caracterizou uma interpretação espontânea em contraste com a artificialidade da época, é a obra tida como a sua consagração. Brooks fez do personagem um ícone diante da câmera eternizando a sua imagem erotizada desde o corte de cabelo (incomum na época) ao magnetismo a lá Sean Connery.
A condessa Anna Geschwitz é considerada por muitos historiadores como sendo a 1ª personagem lésbica do cinema. Segundo a biografia de Louise Brooks, "Lulu in Hollywood", a atriz Alice Roberts, intérprete de Anna Geschwitz, não sabia que sua personagem era lésbica até o início das filmagens. Segundo o livro a atriz inicialmente se recusara a interpretar que sua personagem se sentia atraída por Lulu, até que o diretor Georg Wilhelm Pabst a convenceu postando-se atrás das câmeras. Desta forma Roberts contracenava para o diretor, fazendo seus gestos como se fossem para ele ao invés de Lulu.
A Obras primas lançou o filme com o corte de 131 min. O lançado em VHS tinha aprox.110 min.
No filme a ambiguidade no comportamento de Lulu é mantida e a maleabilidade das figuras masculinas, que se colocam como vítimas dos poderes e caprichos da protagonista. Lulu é comparada ao mito grego de Pandora, a "insensata mulher" que abriu a caixa com todos os males do mundo. Revelando a ambiguidade de anjo e demônio. Temas espinhosos para serem tratados em plenos anos 20.
O diretor George Wilhelm Pabst utilizou elementos que proporcionam a sutileza das cenas, como se o diretor quisesse um efeito psicológico da trama sugerindo que o público descubra sozinho os mistérios de seus personagens, como exemplo, a cena com a fumaça da pistola de Schön quando ele é atingido pelo disparo da arma. O efeito psicológico no filme ocorre quando o diretor procura ângulos dramáticos para os seus personagens, mas é a montagem é que constrói a cena, segundo Pabst. O diretor utiliza também a cor negra e suas variações, provocando mistério e dramaticidade, que é uma característica do cinema expressionista. Ele soube construir a personagem Lulu com muita beleza, leveza e erotismo, encarnada pela atriz Louise Brooks, com seu sorriso e a sedução, que simboliza o arquétipo do feminino. O fascínio que Lulu transmite a todos, homens e mulheres.
Um detalhe interessante e revelador: utilização de fumaças (além do erotismo e da figura protagonista feminina), conferindo ideias do que se tornaria o cinema Noir. O expressionismo, definitivamente, influenciou muito do cinema que estaria por vir.