TRILOGIA DR. MABUSE (1922/33/60) - FILM REVIEW
A obras primas do cinema mais uma vez nos brinda com o cinema alemão clássico, normalmente em torno de dois nomes: Expressionismo e Fritz Lang. Desta vez, um box lindo (imagem abaixo) com a trilogia antológica do personagem "Dr. Mabuse". Leiam um pouco sobre Lang e os filmes abaixo:
Friedrich Christian Anton Lang cursou a faculdade de arquitetura, na Universidade de Viena. Depois de viajar e trabalhar em diversos países da Europa, Ásia e norte da África, entre 1919 e 1914, Lang estabeleceu-se em Paris e começou a trabalhar como pintor. Com o início da Primeira Guerra Mundial, Lang tornou-se oficial do exército austro-húngaro. Ferido em combate, em 1916, passou a criar roteiros para cinema, principalmente de filmes de terror e de suspense. Com o fim da guerra, mudou-se para Berlim para trabalhar com o produtor Erich Pommer. Em 1919, foi lançado o filme "O Gabinete do Dr. Caligari", de Robert Wiene, cujo roteiro foi parcialmente escrito por Lang.
Entre 1919 e 1920, Lang lançou os filmes chamados "Die Spinnen" (As Aranhas), que o tornaram conhecido. O cineasta deu início ao expressionismo alemão, uma estética que dá vazão às reações subjetivas, criadas por objetos e cenários de grande intensidade visual, explorando as distorções e o uso do preto-e-branco. Em 1922 foi a vez de "Dr. Marbuse", um estudo sobre uma mente criminosa. Nesse mesmo ano casou-se coma atriz e escritora Thea von Harbou, autora de "Metropolis" - livro que deu origem a um dos filmes mais famosos de Lang. Dois anos depois, realizou "Os Nibelungos", baseado num romance medieval.
Em 1926, o filme "Metrópolis", que se passa em 2026, estreou como o primeiro filme de ficção científica da história do cinema. Fritz Lang realizou seu primeiro filme sonoro em 1931, "M, o Vampiro de Dusserldorf", a história de um serial killer de crianças.
Pouco antes de os nazistas dominar a Alemanha, Lang estreou o filme "O Testamento do Dr. Marbuse", no qual descreve a filosofia nazista. O filme foi proibido, mas apesar disto, Lang foi convidado pelos nazistas para dirigir documentários de propaganda política. Em vez disso, ele abandonou Berlim e passou a morar em Paris, apesar de sua mulher ter permanecido na Alemanha e aderido ao nazismo. Em 1935, Lang mudou-se para os Estados Unidos, conseguindo cidadania norte-americana. No ano seguinte realizou "Fúria", considerado por muitos seu melhor filme americano. Realizou ainda alguns outros filmes, como "Só a Mulher Peca ", "O Tesouro de Barba Rubra " e "Gardênia Azul ".
Em 1956 deixou Hollywood para voltar a viver na Alemanha, onde dirigiu, em 1960, "Os Mil Olhos do Dr. Marbuse". Em 1963, foi convidado pelo cineasta Jean-Luc Godart a desempenhar um papel no filme "O Desprezo". No ano seguinte, já quase cego, presidiu o Festival de Cinema de Cannes. O cineasta voltou a morar nos Estados Unidos, onde passou seus últimos anos. Embora tenha parado de produzir, teve sua filmografia reavaliada pela crítica, passando a ser prestigiado como um dos maiores criadores da história do cinema. Faleceu em 1976, aos 85 anos.
Em "Dr. Mabuse - O Jogador", o bandido manipulador Dr. Mabuse é um poderoso anarquista, que usa a influência de sua sugestão para roubar milionários e dominar a Bolsa de Valores. O investigador von Wenck sai à sua captura, mas sempre o Dr. Mabuse escapa usando suas habilidades em disfarces e seus poderes de hipnose.
Na segunda parte, "Dr. Mabuse - O Inferno do Crime", é possível ver as máscaras do Dr. Mabuse, gênio criminoso, hipnotizador, falsificador, mestre do disfarce e assassino, caindo paulatinamente. Sua jornada pelo crime continua, mas cada vez mais o cerco vai se fechando pelo incansável investigador von Wenck. Dr. Mabuse tenta de todas as formas neutralizá-lo, chegando até a controlar sua mente numa impressionante sessão de hipnotismo coletivo.
Na sequência, “O Testamento de Dr. Mabuse”. O filme conta a história de Dr. Mabuse (Rudolf Klein-Rogge), um paciente de um asilo psiquiátrico, que vive em estado catatônico, e cuja única comunicação com o mundo exterior é feita via textos que escreve compulsivamente e que descrevem roteiros para crimes perfeitos. Coincidentemente, enquanto Dr. Mabuse escreve seu “Testamento”, trancado em sua cela, vários crimes misteriosos vão acontecendo na cidade, liderados por um líder sem rosto, capaz de eliminar sem piedade todo aquele que mostre ter uma opinião.
A fim de impedir que os crimes continuem acontecendo, o Inspetor Lohmann (Otto Wernicke) é chamado a dar início às investigações. Para isso, conta com o auxílio do psiquiatra responsável pelo tratamento de Dr. Mabuse, Professor Baum (Sir Oscar Beregi).
E por fim, "Os 1000 olhos do Dr. Mabuse", de 1960. O filme começa com um repórter morto em seu carro no caminho para o trabalho. O inspetor Kras recebe uma chamada de seu informante Peter Cornelius, um vidente cego, que teve uma visão do crime, porém não viu o agressor. Enquanto isso, Henry Travers, um rico industrial americano, chega ao Hotel Luxor, que foi equipado pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial para espionar as pessoas em cada quarto. Estes acontecimentos vão culminar com a descoberta da presença de uma figura conhecida e vingativa: Dr. Mabuse.
Em 1956 deixou Hollywood para voltar a viver na Alemanha, onde dirigiu, em 1960, "Os Mil Olhos do Dr. Marbuse". Em 1963, foi convidado pelo cineasta Jean-Luc Godart a desempenhar um papel no filme "O Desprezo". No ano seguinte, já quase cego, presidiu o Festival de Cinema de Cannes. O cineasta voltou a morar nos Estados Unidos, onde passou seus últimos anos. Embora tenha parado de produzir, teve sua filmografia reavaliada pela crítica, passando a ser prestigiado como um dos maiores criadores da história do cinema. Faleceu em 1976, aos 85 anos.
Em "Dr. Mabuse - O Jogador", o bandido manipulador Dr. Mabuse é um poderoso anarquista, que usa a influência de sua sugestão para roubar milionários e dominar a Bolsa de Valores. O investigador von Wenck sai à sua captura, mas sempre o Dr. Mabuse escapa usando suas habilidades em disfarces e seus poderes de hipnose.
Na segunda parte, "Dr. Mabuse - O Inferno do Crime", é possível ver as máscaras do Dr. Mabuse, gênio criminoso, hipnotizador, falsificador, mestre do disfarce e assassino, caindo paulatinamente. Sua jornada pelo crime continua, mas cada vez mais o cerco vai se fechando pelo incansável investigador von Wenck. Dr. Mabuse tenta de todas as formas neutralizá-lo, chegando até a controlar sua mente numa impressionante sessão de hipnotismo coletivo.
Na sequência, “O Testamento de Dr. Mabuse”. O filme conta a história de Dr. Mabuse (Rudolf Klein-Rogge), um paciente de um asilo psiquiátrico, que vive em estado catatônico, e cuja única comunicação com o mundo exterior é feita via textos que escreve compulsivamente e que descrevem roteiros para crimes perfeitos. Coincidentemente, enquanto Dr. Mabuse escreve seu “Testamento”, trancado em sua cela, vários crimes misteriosos vão acontecendo na cidade, liderados por um líder sem rosto, capaz de eliminar sem piedade todo aquele que mostre ter uma opinião.
A fim de impedir que os crimes continuem acontecendo, o Inspetor Lohmann (Otto Wernicke) é chamado a dar início às investigações. Para isso, conta com o auxílio do psiquiatra responsável pelo tratamento de Dr. Mabuse, Professor Baum (Sir Oscar Beregi).
E por fim, "Os 1000 olhos do Dr. Mabuse", de 1960. O filme começa com um repórter morto em seu carro no caminho para o trabalho. O inspetor Kras recebe uma chamada de seu informante Peter Cornelius, um vidente cego, que teve uma visão do crime, porém não viu o agressor. Enquanto isso, Henry Travers, um rico industrial americano, chega ao Hotel Luxor, que foi equipado pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial para espionar as pessoas em cada quarto. Estes acontecimentos vão culminar com a descoberta da presença de uma figura conhecida e vingativa: Dr. Mabuse.
Como dito, é dividido em duas partes: "Dr. Mabuse - O Jogador" e "Dr. Mabuse - O Inferno do Crime". O longa é baseado na trajetória e influência do Dr. Mabuse, originalmente personagem dos romances de Norbert Jacques. Quando a produção do primeiro filme começou, a série de livros ainda estava sendo publicada. A produção fez diversas modificações significativas em relação aos livros. A principal delas, talvez, seja as verdadeiras motivações do personagem central. Outras características foram acrescentadas, como ele ser um falsificador.
Aliás, foi durante a produção deste filme que Lang e Von Harbou começaram seu caso, o que resultaria em seu casamento. Embora Von Harbou estivesse casada com Klein-Rogge na época, isto não causou problemas para o filme.
Originalmente, existia uma cena em que a mulher que interpretava Venus estava completamente nua. Porém, Fritz Lang, após a primeira tentativa de filma-la, ficou incomodado com os pelos pubianos da atriz e mandou que ela raspasse. A atriz se recusou e a solução encontrada foi colocar uma roupa por cima. Esse cena não entrou no filme nas versões que circularam durante as décadas de 40, 50 e 60, podendo ser vista apenas nas cópias com cenas raras dos arquivos do diretor. O filme teve um outro corte feito por editores Soviéticos, cujo supervisor era o diretor Sergei M. Eisenstein, tornando-se mais enxuto.
Num dado momento do filme, o diretor Fritz Lang faz uma piadinha interna com o próprio Expressionismo. Quando numa conversa com uns cavalheiros, é perguntado ao Dr. Mabuse: "Qual sua posição em relação ao Expressionismo, Doutor?", ao que ele responde: "O Expressionismo é uma mera brincadeira... mas por que não? Tudo hoje é uma brincadeira...!". Esta frase talvez passasse até despercebida, se não fosse formulada por um dos nomes mais importantes da estética expressionista e justamente num momento em que surgiam os filmes mais representativos do expressionismo alemão.
O filme contou com um elenco composto por alguns dos melhores atores alemães da época, tendo inclusive alguns destes feito parceria com o diretor em outros filmes, como o ator que faz o Dr. Mabuse (que também atuou em mais 9 filmes do diretor), o ator que faz o Sr. von Wenk (também presente em A Morte Cansada e na saga dos Nibelungos), além do ator que representa o Graf Told (Metropolis).
"O Testamento do Dr. Mabuse" estreou no dia 21 de abril de 1933 em Budapeste. Com duração de 124 min., o filme foi proibido na Alemanha, por conter alusões bastante claras ao nazismo, só vindo a ser exibido em terras germânicas em agosto de 1951, numa versão censurada de 111 min. O original do filme foi guardado no Instituto do Cinema Alemão, mas sofreu sérios danos. Contudo, um duplicado positivo de 1951 da coleção do Instituto do Cinema Alemão serviu de base para a restauração.
Pouco antes do lançamento do filme, em janeiro de 1933, Adolf Hitler havia ascendido ao poder e nomeado Joseph Goebbels ministro da propaganda. Fritz Lang foi convocado ao gabinete de Joseph Goebbels, chefe da propaganda do nazismo e grande fã de sua filmografia, que o convidou para supervisionar os filmes alemães. Após negar o convite (o diretor alegou possuir antepassados judeus), Lang teve que fugir na mesma noite para Paris e, logo após, para os Estados Unidos. Goebbels baniu o filme na Alemanha, aventando a possibilidade de que o filme pudesse diminuir a confiança do público em seus políticos.
Em 1938, Goebbels escreveu que ao assistir o filme, ele ficou "impressionado como o filme era fraco, sua construção grosseira e as atuações inadequadas." Apesar da afirmação de Goebbels, ele apresentaria o filme sem censura de tempos em tempos em salas de exibição privadas para amigos pessoais próximos.
Foi o segundo filme falado de Lang para a companhia Nero-Film e sua última colaboração com sua então esposa e roteirista Thea von Harbou. Ao contrário do cineasta, sua esposa e roteirista, Thea von Harbou, escolheu permanecer na Alemanha nazista, da qual era simpatizante. Mais tarde, com o agravar da situação, eles se separaram. A direção de fotografia é do expressionista Fritz Arno Wagner (o mesmo de "Metrópolis") e a produção do judeu Seymour Nebenzal, que também terminaria fugindo do nazismo.
Dentre as várias sequências impressionantes do filme, chama a atenção o trabalho que Lang fez para representar as alucinações construídas pelo Dr. Mabuse, bem como uma cena na qual um industrial pede socorro à polícia e, logo após, todos os objetos da sua mesa tornam-se de cristal. Para a construção desta cena, Lang lançou mão de um artifício ao mesmo tempo simples e engenhoso. Assim como fez em "Metrópolis", no qual ele substituiu as estátuas dos sete pecados capitais por pessoas idênticas, de carne e osso, no filme de 1933 ele apenas trocou os objetos da mesa por outros idênticos, feitos sob encomenda. Embora simples, ainda hoje é um truque que intriga muitas pessoas que assistem o filme.
As cenas da perseguição de carro foram utilizadas pelo produtor no filme "O rei de Champs-Élysées (1934)", com Buster Keaton.
Depois do êxito obtido na Alemanha com os filmes "O Tigre de Bengala" e "O Sepulcro Indiano", o produtor Artur Brauner, responsável pelo retorno de Lang à Alemanha, convidou-o a filmar um "remake" de "O Testamento do Dr. Mabuse". Em contra-proposta, Lang sugeriu uma nova variação sobre ele, retratando-o na Alemanha do final da década de 1950, como foram os outros da série, cada um no seu período.
O filme, baseado no romance "Mr. Tot compra mil olhos", do autor polonês Jean Forge, trouxe a estória do personagem de Fritz Lang para os seus dias e mesclou elementos de filmes de Edgar Wallace, obras de espionagem e vigilância num estilo semelhante ao do Grande Irmão, de George Orwell, à visão niilista do mundo do Dr. Mabuse.
O ator Wolfgang Preiss, que vive o Dr. Mabuse na última parte da trilogia, foi incluído por Carlos Reichenbach numa seleta relação das melhores interpretações masculinas do cinema.
Como consequência da boa receptividade que o último filme de Fritz Lang obteve, uma série de outros trabalhos foram feitos, se aproveitando do sucesso da trilogia e tendo como produtor Artur Brauner. Todos os trabalhos foram realizados num estilo similar ao dos três filmes de Lang e foram, a saber, estes: Im Stahlnetz des Dr. Mabuse (1961), Die unsichtbaren Krallen des Dr. Mabuse (1962), Das Testament des Dr. Mabuse (1962), Scotland Yard jagt Dr. Mabuse (1963) e Die Todesstrahlen des Dr. Mabuse (1963).
A trilogia se tornou essencial para qualquer estudioso de cinema. E a edição está belíssima. Não deixem de adquirir.
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