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O DISCÍPULO DO DIABO (1959) - FILM REVIEW


Pode-se afirmar que Discípulo do diabo foi concebido no auge da carreira da dupla central, que já tinha passado da fase de reconhecimento inicial e feito inclusive dois filmes juntos  (dos sete, veja aqui). Já possuíam assim, certa força no rumo de suas carreiras. Sendo assim, Discípulo do diabo está entre os filmes subestimados da dupla. Talvez pelo tema. Talvez por eles terem saído do mega clássico "Sem lei sem alma". O filme foi criticado na época, principalmente por ter feito alterações em relação à obra em que se baseia (o que é uma idiotice, já que o filme se baseia apenas).

A produção foi conturbada (o que sempre atribui peso ao resultado final). Era para ter saído do papel em 1939. Nomes como Marlon Brando,  Rex Harrison, Montgomery Clift e Carroll Baker foram anexados a vários anúncios sobre cronogramas de produção que nunca se concretizaram. A Montgomery Clift foi oferecido o papel de Dick Dudgeon. Inclusive a Hecht-Lancaster Productions iria filmá-lo com Lancaster e Montgomery Clift . A Warner Brothers se recusou a emprestar Carroll Baker para o papel de Judith Anderson. Até mesmo Gary Cooper foi pensado para o papel do reverendo Anthony Anderson, com Elizabeth Taylor interpretando sua esposa, Judith. 


Natalie Wood recusou o papel de Judith Anderson porque não queria trabalhar com Kirk Douglas por razões "pessoais".  Para quem não sabe, em 1954, Natalie Wood, então com 16 anos, foi estuprada por um ator mais velho. Embora ela nunca tenha ido à polícia, ela contou a várias de suas amigas o que aconteceu. Natalie afirmou que ela foi estuprada pelo ator Kirk Douglas. Ele a convidou para ir ao seu quarto no Chateau Marmont para uma audição. A mãe de Natalie levou-a para o hotel e esperou no carro. Quando chegou ao quarto, Kirk deu uma bebida a Natalie e disse que gostava de "garotas jovens". Então ele a jogou na cama e violentou-a brutalmente. O ataque durou várias horas. Quando acabou, ele disse: "Se você contar a alguém, será a última coisa que você faz".

O estupro foi tão violento que Natalie começou a sangrar e teve que ir ao hospital. Sua mãe a desencorajou de apresentar uma queixa porque temia que isso prejudicasse a carreira cinematográfica de Natalie. Na época, Kirk Douglas era uma das estrelas mais poderosas de Hollywood. Ele admitiu que em seu passado que era um mulherengo e um alcoólatra, mas nunca confessou ter cometido o crime. Natalie ficou traumatizada pelo estupro e passou anos em terapia. Amigos disseram que ela "estremecia" toda vez que ela ouvia o nome de Douglas.

Coincidência ou não, Natalie foi assassinada anos depois e o crime não foi resolvido (leia a matéria completa da sua morte aqui !!!).


Mas voltando...

Quando Lancaster conseguiu os direitos para filmá-lo, a pré-produção foi agendada para 1955 (que não aconteceu). O filme foi inicialmente dirigido por Alexander Mackendrick, que havia trabalhado neste meio tempo com Lancaster em "A embriaguez do secesso". Logo após o início das filmagens, Mackendrick foi sumariamente demitido. O diretor alegou que foi por causa de sua objeção a revisões no roteiro que enfatizavam a ação e o sexo sobre os elementos que eram puramente Shaw.  Lancaster e Douglas afirmaram que sua demissão foi devido à sua insatisfação com o ritmo das filmagens. De qualquer forma, a demissão de Mackendrick foi uma boa notícia para Guy Hamilton, o promissor jovem diretor britânico que faria quatro filmes de James Bond. Como substituto de Mackendrick, o leve toque de Hamilton e a capacidade de misturar ação com humor e romance fizeram dele um diretor adequado para este filme em particular. Curioso é que Mackendrick passou pela mesma situação em Canhões de Navarone (1961), quando em seu lugar, entrou J. Lee Thompson.


A peça vs filme

Entre as mudanças mais significativas está a de que o personagem do Rev. Anthony Anderson, interpretado por Lancaster, foi elevado em importância para se igualar ao de Richard Dudgeon, interpretado por Douglas. O filme abre na vila de New Hampshire durante os últimos dias da Revolução Americana. Anderson é um homem bondoso e gentil com uma esposa muito jovem, Judith (Janette Scott), que tenta permanecer apolítica, apesar dos eventos que ocorrem ao seu redor. Os britânicos sob o comando do general Burgoyne (Laurence Olivier) ocuparam as áreas vizinhas e tomaram medidas duras para eliminar a resistência rebelde. Isso é conseguido enforcando publicamente suspeitos de rebeldes, às vezes com base em evidências pequenas ou equivocadas.

O personagem do reverendo Anthony Anderson foi baseado na figura histórica de Peter Muhlenberg, conhecido como o "Lutador  da Revolução Americana".  Ele foi um clérigo americano , soldado do Exército Continental durante a Guerra Revolucionária Americana , e figura política nos Estados Unidos recém-independentes. Como Ministro Luterano, ele serviu na Câmara de representantes dos Estados Unidos e no Senado dos Estados Unidos na Pensilvânia .

O autor

George Bernard Shaw  foi dramaturgo e romancista irlandês. "Pigmalião", sua obra mais importante, foi adaptada para o cinema com o título "My Fair Lady", sob a direção de George Cukor e a participação de Andrey Hepburn. Em 1925, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, mas recusou, afirmando "Recusei o prêmio por estar suficientemente rico".

Ele nasceu em Dublin, na Irlanda, no dia 26 de junho de 1856. Recebeu grande influência da mãe, que era amante das artes. Com 15 anos, ingressa no Museu de Dublin para estudar pintura. Trabalha durante cinco anos numa agência imobiliária, para ajudar a família. Separada do marido, sua mãe vai para Londres, com as duas filhas. George muda-se depois, onde encontra a família em precárias condições econômicas. Entre 1878 e 1881, incentivado pela mãe, escreve três romances, "Imaturidade", "O Nó Irracional" e "Amor Entre Artistas". Em 1881, contrai varíola e as marcas em seu rosto fizeram-lhe deixar a barba crescer. Em 1882, escreve "A Profissão de Castel Byron". Adere ao socialismo inglês, ingressando, em 1884, na organização socialista Sociedade Fabiana. Em 1885, a situação financeira melhora, quando começa a trabalhar como crítico de arte e literatura para diversos jornais.


Em 1889, impressiona-se com o drama Casa de Bonecas, do autor norueguês, Ibsen, e inicia sua carreira de dramaturgo. Em 1893, escreve "O Dinheiro Não Tem Cheiro", era o começo de uma série de peças que o tornaria famoso. Em 1894, viu sua peça "O Homem a as Armas" ser recebida com reservas pela crítica, mas depois, foi levada aos palcos do mundo inteiro. Trabalha na seção de crítica de Saturday Review, mas logo abandona a carreira jornalística. "O Discípulo do Diabo" fez grande sucesso nos Estados Unidos. Passa a se dedicar exclusivamente a produzir peças, sem abandonar os interesses pelas questões políticas e sociais. Em pouco tempo fez fortuna com suas obras. Casa-se com Charlotte Payne Townshend e vai morar numa mansão londrina. A partir de 1905, produz intensamente, destacam-se "Ândrocles e o Leão" e "Pigmalião", transformada em opereta e levada ao cinema com o título de "My Fair Lady". Em 1923, publica a peça irônica "Guia da Mulher Inteligente para o Capitalismo e o Socialismo".

George Bernard Shaw faleceu em Ayot Saint Lourence, Inglaterra, no dia 2 de novembro de 1950. Em seu testamento pede que suas cinzas e as de sua mulher sejam jogadas pelo jardim de sua mansão. Sua casa hoje está aberta para visitação. 


A peça em questão, foi apresentada pela primeira vez como "Copyright Performance" ( encenada puramente com a finalidade de proteger os direitos autorais do autor sobre o texto. Havia o receio de que, se o texto de uma peça fosse publicado, ou uma produção rival encenada, antes de sua estréia oficial ) em 17 de abril de 1897 em Londres, com George Bernard Shaw lendo a parte do reverendo Anthony Anderson.  Foi exibido pela primeira vez nos EUA na Broadway  em Nova York, em 4 de outubro de 1897, e em Londres no ano seguinte. 

Prêmio

No filme, o desempenho de Olivier é ainda mais impressionante, dado o fato de que em sua vida pessoal ele estava lidando com o colapso mental de sua esposa, a atriz Vivien Leigh. Ele foi indicado para um BAFTA de Melhor Ator (perdeu para Peter Sellers em "Papai é um nudista").

Ou seja, há motivos de sobra para assistir a obra.


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