NATAL SANGRENTO (1984) - FILM REVIEW
Será que há crime justificável? Se consideramos que Billy (Jonathan Best) presenciou o assassinato dos pais por um Papai Noel (sendo a mãe estuprada antes). Se considerarmos que três anos depois, em 1974, Billy está celebrando o Natal em um orfanato administrado por uma Madre Superiora rígida que ataca persistentemente crianças que se comportam mal e na manhã de Natal, o orfanato convida um homem vestido de Papai Noel para visitar as crianças e a madre arrasta Billy para sentar no colo do Noel, mas num surto de raiva, soca o homem antes de fugir para o seu quarto, horrorizado.
Se considerarmos todos os bullying sofridos, incompreensões e uma inacreditável incapacidade dos seres que o rodeiam de compreender sua dor e ajudá-lo, Billy Chapman (Robert Brian Wilson com 18 anos) se torna uma bomba relógio, prestes a explodir quando alguém ascender o pavio. E isto ocorre quando ele veste a contra gosto, a roupa de um Papai Noel. Toda sua fúria é liberada, e ele mata quem estiver na sua frente.
Noite silenciosa, noite mortal (como era conhecido na época do saudoso VHS), é um filme do sub-gênero slasher, típico dos anos 80. Porém, controverso por conta do assassino estar vestido de Papai Noel. O filme gerou protestos na época. Multidões de famílias possessas se aglomeraram nos cinemas e shoppings em todo o país para protestar contra o filme. Na estréia do filme no Interboro Quad Theatre, no Bronx, os manifestantes fizeram piquetes e cantaram canções natalinas em protesto.
Por conta disto, o filme, que estreou com outro famoso slasher, A hora do pesadelo, rendeu mais que este no primeiro final de semana, porém os exibidores logo tiraram ele de cartaz. O filme foi relançado mais tarde por um distribuidor independente, Aquarius Films, em maio de 1985, com uma campanha publicitária substituindo o trailer original. O filme ganhou, assim, uma versão editada.
Vida real
Natal sangrento é muito mais que um slasher dos anos 80. É um estudo sobre as consequências graves, por vezes incuráveis, de um trauma de infância. Recentemente vimos vários casos de ataques a colégios, mesquitas, igrejas e os envolvidos sempre tinham algum histórico negativo na infância. Vivemos consequências reais de problemas muitas vezes ignorados pela sociedade, principalmente, membros próximos da família.
Tanto o personagem do filme, quanto as pessoas que cometeram atrocidades do lado de cá das telas, tiveram seu momento de ruptura. Um gatilho que disparou o monstro adormecido desde a época que seus problemas pessoais aconteceram.
Não há dúvidas de que não podemos taxar as pessoas como simplesmente criminosas ou fracas perante a onda de traumas e problemas. A questão é muito mais complicada que isto. Mesmo diante da eminente revolta social com os atos, principalmente dos familiares, que muitas vezes se surpreendem com o acontecido, demonstrando claro distanciamento do problema que os cercava.
Natal sangrento, como eu disse acima, é muito mais que um slasher. É um filme que denuncia e alerta que, o que acontece com nossas crianças, sempre tem consequências, para o bem ou para o mal. Ele estar vestido de Papai Noel é "apenas" uma metáfora sobre a ideia de que um possível psicopata pode estar disfarçado de qualquer um, inclusive de um ícone cultural como nosso querido e imaginário morador do Polo Norte.
Legado
O filme deixa uma ponta óbvia para uma continuação, usando praticamente a mesma ideia do primeiro. Natal sangrento 2: Retorno macabro conta agora a história do Ricky Caldwell, irmão do assassino que matou vestido de Papai Noel no primeiro filme. Confinado em um sanatório, já que também é atormentado pelas visões de seus pais sendo mortos por um homem vestido de Papai Noel, Ricky conta a um psiquiatra a história do irmão homicida. Assim, os primeiros 45 minutos desta seqüência não passam de cenas retiradas do filme original. Finalmente, Ricky decide seguir a trilha sangrenta de seu irmão e matar a Madre Superiora do orfanato, onde ambos tiveram uma infância traumática. Feito no ano de 1987.
Dois anos depois veio Noite do Silêncio (1989), dirigido por (pasmem !!!) Monte Hellman, talvez, seu pior filme. Na bomba, o excêntrico dr. Newbury (Richard Beymer) utiliza uma jovem sensitiva cega, Laura Anderson (Samantha Scully), em suas experiências secretas realizadas num hospital psiquiátrico. Sem que a jovem saiba, o cientista está criando uma ligação telepática entre ela e Ricky Caldwell (Bill Moseley), o psicopata de "Natal Sangrento 2", que está vivo, mas em estado vegetativo. Mas a experiência dá errado, despertando o Papai Noel assassino do coma para uma nova onda de mortes. Sem saber de nada, Laura decide passar o Natal com sua vó numa pequena cidade do interior, enquanto Ricky a persegue deixando uma trilha de cadáveres.
Depois de três filmes enfocando a figura de um psicopata que se vestia de Papai Noel e seu irmão que herdou o hábito ("Natal Sangrento 1", "Natal Sangrento 2" e "Noite do Silêncio"), a franquia de horrores natalinos parte para histórias independentes. Desta vez, uma repórter investiga o estranho caso de uma mulher carbonizada e acaba se envolvendo com um grupo místico, ligado a um bizarro assassino. A única relação com a série é o fato de a história se passar na época natalina, e o filme troca o campo do slasher pelo horror melequento e repleto de criaturas e efeitos de maquiagem, bem ao gosto do diretor Yuzna. O filme, de 1990, se chamou Natal sangrento 4 - A iniciação.
No ano seguinte, seguiu-se Natal sangrento 5: O Horror na loja de brinquedos. No filme (bastante original !!! #sqn), na véspera de Natal, garoto vê seu pai ser morto por um brinquedo assassino (Oi?). As suspeitas recaem sobre um fabricante de brinquedos, alcoólatra e pai de um jovem estranho. A picaretagem atingiu níveis intransponíveis, depois que o sexto filme foi feito em 2010, por um fã da série. Feito, roteirizado e estrelado por Kyle Brooky.
Em contrapartida, um remake foi feito em 2012 pelo pior diretor do cinema atual, chamado Steven C. Miller. Como diria o finado coronel Walter E. Kurtz: o horror, o horror.