FILHA DE RYAN (1970) - FILM REVIEW
Adultério é um tema recorrente no cinema. Mas nas mãos do clássico e épico diretor David Lean, até um curta metragem tem 3 horas de duração. O cineasta britânico é considerado um dos maiores diretores da história do cinema e é mais lembrado por épicos como A Ponte do rio Kwai, Lawrence da Arábia e Doutor Jivago.
A história se passa em um pequeno vilarejo irlandês em 1916, logo após a 1ª Guerra Mundial. A jovem Rosy Ryan (Sarah Miles) está presa a um casamento sem amor com um professor primário de meia-idade, Charles Shaugnessy (Robert Mitchum). Charles é um sujeito sério, taciturno, de princípios firmes como uma rocha. Rosy, ao contrário, é jovem e bela, uma mulher em vias de desabrochar a sua sexualidade.
Quando o jovem Major Randolph Doryan (Christopher Jones), soldado britânico com trauma de guerra, chega à cidade para ajudar a controlar o contato entre o Exército Republicano Irlandês e os alemães. Ele e Rosy se apaixonam e começam a se encontrar em locais afastados da cidade. Mas o que parecia ser apenas um caso de amor pode ter consequências desastrosas para todos quando Michael (John Mills), o louco da aldeia, resolve denunciá-los aos moradores.
A MGM esperava que este filme repetisse o enorme sucesso de Doutor Jivago (1965). Infelizmente, o filme foi brutalmente criticado pelos especialistas, que normalmente se queixaram de que era uma escala muito grande para sua modesta história de amor (o que, convenhamos, é verdade). Lean ficou tão ferido com isso que não faria outro filme por quatorze anos, quando realizou sua derradeira, Passagem para a Índia. A filha de Ryan não passou em branco no Oscar, vencendo melhor ator coadjuvante (Mills) e Fotografia (Freddie Young ). Sarah Miles concorreu como melhor atriz e a dupla Gordon K. McCallum / John Bramall como melhor Som.
Em um ponto, Miles pediu a Robert Mitchum para drogar o café da manhã de Jones para fazê-lo superar seu desgosto em filmar a cena em que Rosy e Doryan têm um encontro na floresta, mas Mitchum exagerou na dose, deixando Jones quase catatônico para filmar a cena e levando-o a acreditar que ele estava tendo um colapso nervoso. Uma combinação de pesar pela morte de Tate e sua experiência negativa trabalhando no filme levou Jones a desistir de atuar. Ele só fez outro filme em 1996, chamado Prazer em matar-te (poderia ter ficado aposentado). Sua atuação foi um dos aspectos mais criticados deste filme.
Robert Bolt escreveu o papel do Padre Collins para Alec Guinness, habitual rosto nos épicos de Lean. Porém Guinness, um católico convicto, enviou ao diretor David Lean fez uma longa lista de objeções que ele teve ao retrato do personagem. Foi mais uma chateação para Lean, que ofereceu o papel para Trevor Howard , que aceitou. A ideia original do roteirista era fazer um filme de Madame Bovary, estrelado por Sarah Miles . David Lean leu o roteiro e disse que não achou interessante, mas sugeriu a Bolt que ele gostaria de retrabalhá-lo em outro cenário.
Robert Mitchum estava passando por uma crise pessoal na época. Ele disse a David Lean que ele estava pensando seriamente em suicídio quando foi escalado. Quando o roteirista Robert Bolt ouviu falar disso, ele disse a Mitchum que pelos menos encerrasse o filme, que seria responsável por pagar seu enterro.
A aldeia de "Kirrary" foi construída apenas para este filme e depois demolida. Lojas, escola, igreja, pub, correios... Tinha de tudo no lugar. Duzentos trabalhadores o construíram, todos usando ardósia e vinte mil toneladas de granito de uma dezena de pedreiras locais. Qualquer coisa menos substancial não teria resistido aos vendavais do Atlântico. Muitos prédios tinham interiores, tetos, iluminação, encanamento e até chaminés e lareiras funcionando.
E a bruxa estava mesmo solta no filme
Leo McKern fez uma pausa na carreira depois da experiência nada agradável de quase se afogar durante uma cena. E por pouco não perdeu o olho de vidro. Tempestades repentinas, aliás, deram trabalho à produção. A equipe teve que encomendar lentes num formato especial que pudesse driblar as constantes levas de água nos equipamentos em função dos ventos constantes. Trevor Howard estava passando por dificuldades conjugais durante as filmagens.
Quando sua esposa Helen fez uma visita, acabou indo embora depois de uma discussão com ele, e quase morreu em um acidente de carro nas estradas sinuosas da localidade. Jones bateu com o seu carro esportivo no mesmo lugar. Trevor Howard foi hospitalizado depois de cair de um cavalo. Howard e John Mills quase se afogaram quando uma cena de barco de pesca deu errado, sendo salvos por membros da equipe de salvamento, e dois veículos da produção afundaram em um pântano.
Quando sua esposa Helen fez uma visita, acabou indo embora depois de uma discussão com ele, e quase morreu em um acidente de carro nas estradas sinuosas da localidade. Jones bateu com o seu carro esportivo no mesmo lugar. Trevor Howard foi hospitalizado depois de cair de um cavalo. Howard e John Mills quase se afogaram quando uma cena de barco de pesca deu errado, sendo salvos por membros da equipe de salvamento, e dois veículos da produção afundaram em um pântano.
Jones provou ser um desastre durante as filmagens, o que explica o monossilabismo de seu caráter. Aliás, você mal se lembra do seu rosto ao término das 3 horas e 20 de filme. Na cena de amor, Lean queria fazer algo mais explícito, coisa que ele não podia em Doutor Jivago por causa da censura, mas Jones tinha zero química com MIles. Esta, aliás, muito parecida com a atriz de Doutor Jivago, Julie Christie. E não por coincidência, o papel foi inicialmente pensado para ela, que rejeitou.
O corte de pré-estreia durou três horas e quarenta e três minutos, porém foi criticado por sua duração e baixo ritmo. O diretor David Lean se sentiu obrigado a remover dezessete minutos de filmagem antes do lançamento, e a filmagens foram perdidas.
O filme foi um sucesso comercialmente, mas Lean, acostumado com os holofotes não digeriu tanto problema interno que acabou refletindo no resultado final. Mas se avaliarmos com mais cuidado a obra, é apenas um filme detalhista envolto de uma história, em teoria, curta. Nunca é chato ou monótono, apenas destituído de grandes acontecimentos. Mesmo a trilha sonora do sempre competente Maurice Jarre não é memorável, reforçando a ideia do minimalismo do filme. Até mesmo a atuação fraca da Jones combina com o tipo esquisito que ele representa.
A Filha de Ryan é para ser visto (ou revisto) com melhores olhos e entra certamente num post com os 10 filmes essenciais do diretor (que realizou 16 apenas). E afinal de contas, Robert Mitchum, adultério e produção problemática (e porque não amaldiçoada) são "elementos" que nunca saem de moda.
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A edição também apresenta a opção de dublagem clássica, imperdível para os fãs mais nostálgicos da tv.
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