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MATAR OU MORRER (1952) - FILM REVIEW

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Há filmes tão perfeitos que transcendem a vida. Tornam-se imortais. Matar ou morrer é um destes, simples, bem feito, bem executado. Não há tempo para pensar. Não há uma gordura sequer em sua curta duração. A obra transcorre em tempo (quase) real.

Na história, Will Kane (Gary Cooper) é um xerife que fica sabendo na hora de seu casamento que ao meio-dia chegará um trem trazendo Frank Miller (Ian MacDonald), um criminoso que mandou para a cadeia e planeja se vingar. Apesar de Amy (Grace Kelly), sua noiva, argumentar que deve ir embora, ele acha que fugirá para sempre se não enfrentar a situação. A população (com raras exceções) se refugia sem ajudá-lo, apesar de ele pedir aos cidadãos para enfrentarem o pistoleiro e seus cúmplices.


Como grande parte das obras primas, principalmente no pós-guerra e dos anos 70, Matar ou Morrer começou cercado de problemas políticos.  Na época da "caça às bruxas," o Macarthismo foi uma intensa  repressão e perseguição política, baseada em métodos de censura e difamação pela prática de acusações de traição ou subversão, publicadas sem evidências, mas com grande impacto negativo na vida dos denunciados. Neste período, os roteiristas penavam. Carl Foreman foi um deles.  Em 1951, durante a produção de "Matar oi morrer", Carl foi convocado para depor no Comitê de Atividades Não Americanas da Câmara durante sua investigação da "propaganda e influência comunista" na indústria cinematográfica de Hollywood. Resultado: não delatou ninguém, foi para a Lista Negra, e teve que sair dos EUA, inclusive impondo uma saia justa do diretor  Fred Zinnemann. 

A carreira de Foreman não foi a mesma. A frequência de trabalhos diminuiu e algumas vezes chegou a trabalhar sob pseudônimo (Derek Frye) ou sem crédito. O diretor Richard Fleischer ajudou Carl Foreman a desenvolver a história do filme ao longo de dois meses que passaram juntos no set de  "Alma em Sombras (1949)". Fleischer  só não dirigiu "Matar ou morrer" por razões contratuais com a RKO. 


Da mesma forma que vivemos um momento de polarização política, eram aqueles tempos. Artistas se posicionavam, recusavam trabalhos, denunciavam parceiros de cena. E "Matar ou morrer" era uma alegoria política. A cidade onde o filme transcorre, é uma figura dos Estados Unidos amedrontados pelo macarthismo. O personagem, perseguido, isolado, tendo que enfrentar sozinho seus medos é um espelho da realidade de muitos. O papel principal foi oferecido a John Wayne, mas ele recusou justamente pelo tom do filme. Wayne apoiava a Lista Negra  e inclusive ajudou a expulsar Foreman do país. John fundou e dirigiu uma organização "anticomunista" para a indústria cinematográfica. 

Gary Cooper era amigo próximo de Wayne e curiosamente, ao ganhar o Oscar por sua atuação, pediu que ele o recebesse, já que estava na Europa. Ele acabou se divertindo com a situação. (Veja o momento abaixo)



Mas perda na categoria de Melhor Filme para O Maior Espetáculo da Terra (1952), dirigido por Cecil B. DeMille , é habitualmente apontada como uma das maiores reviravoltas da história dos Óscares. Essa perda foi vista por muitos na indústria como resultado de um importante lobby anticomunista dirigido ao filme, liderado justamente por Wayne. Já  De Mille era um dos maiores apoiadores do senador Joseph McCarthy.

Kramer ainda ofereceu o papel a Gregory Peck, que recusou porque achava o papel parecido com "O matador (1950)". Mais tarde, ele disse que considerou isso o maior erro de sua carreira. Talvez, mas Peck fez personagens icônicos similares. Algo como o "Pistoleiro humano". "Céu amarelo" em 1948, "Da Terra nascem os homens" e "Estigma da crueldade" em 1958 são exemplos. Modestamente, Peck acrescentou que não achava que poderia ter interpretado o personagem principal tão bem como Gary Cooper fez .

 Fred Zinnemann e Grace Kelly

Mas Gregory acabou ajudando Cooper, que depois de 25 anos no show business, a reputação profissional de Gary Cooper estava em declínio, e ele foi retirado da lista do "Motion Picture Herald" dos dez maiores artistas nas bilheterias. Em 1952 voltou em grande estilo, aos 51 anos de idade. Grace Kelly, que interpreta a esposa do cinquentão Cooper, tinha apenas 22 anos, mas na tela passa certa maturidade ao personagem. Gary Cooper e Grace Kelly tiveram um caso que durou toda a duração das filmagens.

Lee Van Cleef foi originalmente contratado para interpretar o assistente Harvey Pell. No entanto, o produtor Stanley Kramer decidiu que seu nariz era muito "curvo", o que o fazia parecer um vilão, e disse-lhe para consertar isso. Van Cleef recusou e Lloyd Bridges conseguiu o papel. Van Cleef recebeu o papel menor, o atirador Jack Colby, um membro da gangue Miller. Imagine só: era o papel de estreia de Cleef no cinema.

A obra foi inovadora em muitos aspectos. O tempo de execução da história é quase precisamente paralelo ao tempo de execução do filme, com um efeito intensificado por tomadas frequentes de relógios, para lembrar aos personagens (e ao público) que o vilão chegará no trem do meio-dia. Fiz uma lista de filmes que usam o recurso e você pode acessar clicando na imagem abaixo.


O filme Introduziu a ideia de uma música-tema a ser comercializada separadamente do filme e ser um guia sonoro para a trilha ao longo do filme. Tex Ritter ( pai de John Ritter ) cantou a música "Do Not Forsake Me", cuja letra é do ponto de vista do herói apelando para que sua esposa não o abandone. A música foi a primeira canção ganhadora do Oscar de um filme não musical. Frankie Laine vendeu um milhão de discos com a canção-título, embora a versão de Tex Ritter, ouvida na trilha sonora, tenha se saído bem ao longo dos anos.

Gary Cooper foi o responsável por conseguir que o ator Lloyd Bridges, fizesse o papel de Harvey Pell. Na cena de luta envolvendo os dois, o filho de Lloyd, Beau Bridges, então um jovem, estava no palheiro assistindo às filmagens. Quando a água foi jogada em seu pai após a luta, Beau não pôde deixar de rir, atrapalhando toda a cena e exigindo que ela fosse filmada novamente. Para piorar a situação, Cooper estava passando mal e com muita dor (tinha uma úlcera hemorrágica), mas foi cortês e compreensivo com o garoto.


Como o roteiro de Carl Foreman tem certas semelhanças com a história de John W. Cunningham , "The Tin Star", o produtor Stanley Kramer comprou os direitos do romance de Cunningham para proteger a produção contra acusações de plágio. Henry Fonda não pode participar do filme por conta de suas convicções políticas. Curiosamente, em 1957, Fonda fez um filme chamado "The Tin Star", que aqui no Brasil levou o nome de O homem dos olhos frios, dirigido por Anthony Mann.

O público em 1952 ficou desapontado com a revelação de que Ian MacDonald estava interpretando Frank Miller. Com sua eventual aparição no filme demorando mais de uma hora, os fãs esperavam um ator mais conhecido. Pesquisas feitas nos cinemas revelaram que Ward Bond, um rosto frequente nos faroestes, e Walter Brennan, um frequente co-astro de Gary Cooper, foram os principais nomes que os fãs gostariam de ver como Frank Miller. Nas cenas de confronto, os fãs podem notar uma loja chamada "Boyd's Hardware", uma referência a William Boyd , que interpretou o papel-título na série de televisão Hopalong Cassidy (1952). 


Para finalizar, uma nerdice: o nome da personagem de Grace Kelly é Amy Fowler no e se casou com o personagem de Gary Cooper. Na série de TV "The Big Bang Theory",  Mayim Bialik se chamava Amy Farrah Fowler e ela se casou com...  Sheldon Cooper

Obras primas transcendem culturas e o próprio tempo, ao contrário de Kane, que tinha as horas contadas.



Blu-ray: Matar ou Morrer - Edição Definitiva Limitada Com Pôster e Cards 
(Blu-ray + DVD)

A Versátil lançou “Matar ou Morrer”, o icônico faroeste do mestre Fred Zinnemann (“A um Passo da Eternidade”) com os astros Gary Cooper e Grace Kelly em Edição Definitiva Limitada, que traz esse clássico em inédita versão restaurada em alta definição em um disco Blu-ray, com dublagem clássica em português, e outro disco DVD com quatro horas de vídeos extras, incluindo especiais e documentários, além de um pôster exclusivo e 2 cards exclusivos para colecionadores.


Informações sobre a edição:

Título: Matar ou Morrer
Título original: High Noon
País de produção: Estados Unidos
Ano de produção: 1952
Gênero: Faroeste
Direção: Fred Zinnemann
Elenco: Gary Cooper,  Grace Kelly, Thomas Mitchell, Llyod Bridges, Lee van Cleef, Katy Jurado, Otto Kruger, Lon Chaney Jr.
Resolução: 1080p High Definition
Idioma: Inglês, Português
Áudio: LPCM 2.0 (Inglês), Dolby Digital 2.0 (Português)
Legenda: Português
Formato de tela: Fullscreen 1.37:1
Tempo de duração: 85 min.
Região: A
Preto e Branco
Faixa etária: 14 anos

Extras: 

Making of (22 min.), Especiais sobre o filme (143 min.), Depoimentos (65 min.), Trailer (2 min.)


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