PAGAMENTO FINAL (1993) - FILM REVIEW
O cinema nos marca de diversas formas. Uma de suas maiores características é pontuar momentos, que sem ele, estariam perdidos, fadados ao esquecimento ou mesmo sem a exata localização em nossa linha temporal. Por exemplo, quando pesquisa sobre quando um filme foi lançado nos cinemas no nosso país, se aquele filme está associado a algum fato marcante, você tem, quase precisamente, o ano, mês, e até mesmo o dia em que assistiu. E você associou ao evento.
Por exemplo, eu me lembro de ter assistido ao filme "Nascido em 4 de julho" no dia do aniversário do meu primo. Lembro-me de ter ficado duas sessões e depois ido para a casa dele. Uma rápida pesquisa, e descobri que o filme foi lançado em 16 de fevereiro de 1990. Como os aniversários de criança eram sempre aos sábados, e eu ia à semana de estreia, consegui chegar na data de 17 de fevereiro, como sendo o dia que eu assisti ao filme. Incrível não? Mas o mais interessante é que pontuo estas datas desde os meus 6 anos, quando assisti E.T. com minha mãe.
Agora vou dar um salto no tempo. Este ano de 2020 foi terrível em muitos sentidos. Gerais e particulares. No meu caso, perdi recentemente uma das pessoas mais queridas da minha vida, que era meu Padrinho, que ao lado da minha Madrinha, me proporcionaram conhecer o cinema como nunca na época que eles moravam em Niterói.
O que me leva ao filme do texto de hoje, Pagamento final. Ele estreou em 21 de Janeiro de 1994 e num daqueles momentos que acontecem poucas vezes na vida, consegui que meu Padrinho, que havia uns 15 anos que não ia ao cinema, fosse ver Pagamento final comigo, no Cinema Icaraí. Pagamento final poderia até um ser uma obra ruim, mal dirigida, com péssimos atores, que ainda assim teria marcado o momento.
Mas para minha sorte, foi emocionante. Marcou meu primeiro Brian de Palma no cinema. E minha despedida daquele, que seria um dos cinemas mais marcantes que fui na vida.
E justamente quando eu pensei que estava fora. Eles me puxam de volta...
Esta frase, dita por Michael Corleone em Poderoso chefão 3 praticamente define Pagamento Final. Curiosamente dita por Al Pacino. No filme, Carlito Brigante é libertado da prisão graças a seu amigo e advogado David Kleinfeld (Sean Penn). Assim que é solto ele promete ao juiz e a todos que quer abandonar sua vida antiga de delitos como o tráfico de heroína, Carlitos tem planos de guardar dinheiro para poder viver nas Bahamas, onde pretende realizar seu grande sonho de ter um negócio próprio e acima de tudo honesto.
Porém, ele logo se vê envolvido com antigos e perigosos amigos, onde há por todos lados perigos que o cercam, e o tentam a voltar para sua antiga vida de delitos. Mas graças ao amor de sua antiga namorada (Penelope Ann Miller) e ao seu glorioso sonho ele fará de tudo para conseguir seu objetivo, custe o que custar.
Um favor vai te matar mais rápido do que uma bala.
Al Pacino conheceu o juiz 'Edwin Torres' em 1973, enquanto ele se preparava para o Serpico (1973). Na época, Torres estava escrevendo os romances que deram origem ao filme e os discutiu com Pacino. Vinte anos depois, Torres levou Pacino ao East Harlem para ajudá-lo a se preparar para o papel de Carlito. "Brigante" é um sobrenome da Córsega. Edwin Torres foi inspirado a fazer Carlito de ascendência da Córsega porque houve um grande influxo de imigração da Córsega para Porto Rico no século XIX.
O filme adapta "After Hours" de Edwin. No entanto, tirou o título do primeiro romance de Torres sobre a ascensão do chefão do crime Carlos Brigante para que não fosse confundido com a comédia dramática de Martin Scorsese, Depois de Horas (1985). O ator Rocco Sisto, aliás, aparece tanto neste filme quanto no filme de Scorsese.
Os diretores John McKenzie e Abel Ferrara foram considerados antes de Brian De Palma ser contratado. De Palma inicialmente relutou em aceitar o trabalho porque não queria fazer outro filme sobre um gangster latino como fez em Scarface (1983) e com o próprio Al Pacino. Mas o script o convenceu do contrário. John Leguizamo recusou o papel de Benny Blanco quatro vezes. Ele finalmente assumiu o papel depois que Brian De Palma permitiu que Leguizamo improvisasse muitas de suas falas.
Sean Penn disse que pegou o papel de David Kleinfeld para trabalhar com Al Pacino e pelo dinheiro para que pudesse usá-lo para financiar seu segundo filme, Acerto Final (1995). A primeira escolha de Brian De Palma para o papel de Gail foi a atriz irlandesa Alison Doody, que interpretou Elsa em Indiana Jones e a Última Cruzada (1989). Ela rejeitou a oferta por causa de uma sequência de dança em topless que ela teria que apresentar no filme.
Al Pacino então, sugeriu que Penelope Ann Miller fosse sua co-estrela. Os dois se envolveram romanticamente durante as filmagens. Miller falou publicamente sobre o romance deles em entrevistas. Mas Pacino tinha um relacionamento com Lyndall Hobbs na época. Pacino compareceu à estreia do filme com Hobbs e evitou totalmente Miller.
O local usado como apartamento de Gail é o mesmo prédio usado como apartamento de Frank Serpico em Serpico (1973), que também foi estrelado por Al Pacino. O exterior do hospital onde Carlito visita seu advogado acamado é o mesmo onde Vito Corleone é internado em O Poderoso Chefão (1972), também estrelado por Al Pacino .
Yelba Osorio, que interpreta a namorada de Benny Blanco, era a namorada na vida real de John Leguizamo na época. Mais tarde, eles se casaram e eventualmente, se divorciaram. Kleinfeld não morre no romance em que o filme se baseia. Mas Brian De Palma sentiu que Carlito deveria ter alguma retribuição antes de morrer.O advogado Alan Dershowitz ameaçou com um processo judicial a produção porque sentiu que David Kleinfeld foi baseado nele.
Ei, lembra de mim, Benny Blanco do Bronx?
A composição das cores do filme é um espetáculo a parte. Como dito e visto no filme, a história é sobre a tentativa de um gângster de tentar sair da vida de crimes. Ele não quer redenção. Apenas acredita que os anos na prisão lhe deram motivação para mudar de vida. Mas ao tentar sair, acaba gerando conflito de interesses com seu meio, já que ninguém o vê de outra forma que não seja como um criminoso.
E o vermelho é a cor escolhida para mostrar quando Carlito está sendo tragado pelo crime. Quando ele sai da prisão e volta para o bairro, seu primo já o coloca numa encrenca. Repare as cores das paredes do bar. São todas vermelhas, mostrando que seu destino está traçado do momento em que deixou a cadeia, não importa o que ele faça.
Outro momento pontuado com o vermelho é o confronto com Benny Blanco. A iluminação dessa cena mostra o rosto de Benny Blanco totalmente iluminado e Carlitos meio iluminado. O novo jovem gângster em ascensão contra o velho perdendo o poder. Também simboliza Carlito não estar totalmente investido no estilo de vida ao passo que Benny está preenchido com o vermelho. E a metade meio cinza de Brigante, mostra uma intenção de redenção, porém que será frustrada.
Quando ele encontra Gail a primeira vez e senta com ela no bar, o tom de verde é fortemente percebido, em comparação aos tons pastéis do fundo. A cor verde simboliza a esperança que Brigante vê em Gail, como sendo uma saída.
Curioso notar também como a dança é praticamente, a folha em que a história é escrita. Da primeira a ultima cena. Vários momentos relacionados a Gail, inclusive. Percebam como ela é mais importante em todos os sentidos: Brigante não se importa que ela dance seminua numa boate, e nem que pessoas distribuam cantadas. Ele apenas contempla a dança. Brigante também não se importa com o “carcamano” que está dançando com Gail na boate, já que para ele, há maior beleza em contemplar o momento.
Mesmo em seus momentos finais, ele parece não se importar tanto com sua própria morte, mas a última cena que vê é de Gail dançando. Aliás, quando ele a vê a primeira vez, do telhado, à noite, chovendo, ela está numa aula de dança. É uma forma bem clara de associar a ideia de que a vida te tira para dançar, e você vai ter que se adequar ao ritmo da música e dançar até ela acabar.
E como vemos no filme, Al Pacino faz lindamente.