BEM-VINDOS AO PASSADO: A NOSTALGIA DOS ANOS 80 SE TORNA REALIDADE
Grandes clássicos do cinema atravessam gerações. E aliados a eles, filmes com temas semelhantes pipocam as salas de cinema caracterizando cada época. São vários exemplos que definem estes períodos, como as comédias do cinema mudo, os filmes Noir dos anos 40 e 50, a Nova Hollywood que praticamente redefiniu os rumos do cinema nos anos 70 e 80, enfim: a história do cinema pode ser subdividida em períodos e conforme a paixão de um cinéfilo nasça em algum deles, é bem provável que, na idade adulta, a nostalgia tome conta.
E ela não vem só atrelada ao cinema, mas com diversos outros setores: jornais, brinquedos, propagandas, novelas, produtos alimentícios, álbuns de figurinhas. São muitos. Mas afinal, porque o pessoal anda tão nostálgico? Se dermos uma ida ao supermercado, nos deparamos com vários produtos que emulam os anos 80 como uma lata de Nescau e um Elma Chips. Até o chocolate Surpresa voltou em formato de ovo de páscoa.
Esta Nostalgia vem sendo discutida em várias profissões, como psicologia, sociologia, história e ciências sociais. É um estudo interessante e que vale muito a pena tentar identificar padrões da sociedade pela nostalgia. Ela é, de certa forma, a memória impressa no DNA que remete á fase mais marcante da vida, incluindo os bons e os maus momentos.
Mas afinal, porque o hype dos anos 80? Se olharmos para os lados, não podemos ignorar os sinais.
Alguns lançamentos em DVD estão recebendo a roupagem de um VHS, como elemento Nostálgico. A FamDVD lançou o gift set do CineMagia com tantas características daqueles anos, que é impossível não escorrer uma lágrima ao ver o produto. A série Sranger Things é uma homenagem ao cinema dos anos 80 e seu Bluray também vem em formato do VHS. Além disto, muitos colecionadores ostentam orgulhosos seus filmes em VHS, adquiridos e saboreados como um em alta definição.
Em pleno 2021, com as músicas ao alcance de todos no spotify mais próximo, o disco de Vinil já pode ser encontrado (e disputado) nas lojas Saraiva. Curiosamente o Vinil veio ao mundo no final dos anos 40, mas perdeu terreno para os CDs justamente no final dos anos 80, colocando-o na rota desta década.
Aquela geração cinéfila, que como eu, floresceu o amor por cinema naqueles anos, vive um hiato cultural. Nossa paixão viu nascer Tela Quente (e a expectativa dos anúncios semanais do que passaria na segunda feira), Cinema em casa (pela primeira vez na Televisão), Sessão da Tarde (ainda que a sessão tenha nascido em 1974, os clássicos “Sessão da tarde” foram exibidos, em sua grande maioria, nos anos 80). Viram grandes atores e atrizes em seus auges, como Robert De Niro, Al Pacino, Clint Eastwood, Meryl Streep e uma centena de outros, além de diretores, produtores. Viu o auge de trilhas sonoras que marcariam o cinema para sempre, como as memoráveis de John Williams.
As extintas locadoras de VHS traziam para a vida dos seus frequentadores não somente filmes, mas experiências, relacionamentos. Aprendíamos dar valor ao dinheiro empregado no aluguel de cada fita, ao mesmo tempo em que nos arriscávamos a conhecer novos mundos cinematográficos com poucas informações sobre os diretores e atores. Era uma época pré internet. Era um tempo do guia de filmes do Rubens Ewald Filho.
Eu mesmo, que sempre fui ávido em conhecer mais do cinema, buscava-os em jornais, livros, bibliotecas. Fazia questão, todo domingo, de ter a revistinha do Jornal do Brasil com programação dos filmes. Era uma época de movimento. Tínhamos que ir, andar, nos mover até conseguir nossos objetivos. E como diz o personagem de Brad Pitt em Guerra mundial Z: "Movimento é vida".
Em contrapartida, esta nossa geração sofre com a falta de ídolos. Seja no cinema, esportes, músicas. Grandes hits ficaram no passado. Grandes elencos envelheceram e não renovaram assim como atletas. Como torcer por nossa seleção de futebol hoje? Impossível. Você não consegue saber nem o time titular. Um exemplo claro de que a nostalgia está determinando comportamento é que, no primeiro ano de Pandemia, a televisão começou a passar jogos de futebol e novelas antigas. Afinal, porque fizeram isto? A reposta é simples, e não é a busca pela audiência (somente), mas trazer de volta bons momentos vividos outrora para fazer uma contrapartida com a tragédia atual.
As redes sociais dos anos 80 (e 90, claro) era uma boa reunião com amigos na rua. Conversas intermináveis, brincadeiras que não se ouve falar com frequência mais (como pique bandeira, pique altura, bater bafinho, adedanha). E quem está hoje, em torno dos 40 anos, está ditando um padrão de comportamento, que atinge mais velhos e mais novos: com a frustração do vazio cultural atual, a volta ao primeiro amor é mais que nostálgica. Ela se torna real quando certos grupos entendem que a nostalgia dos anos 80 é um campo a ser explorado para ganhar dinheiro.
De certa forma, uma frase dita por Tyler Durden em Clube da Luta, descreve este momento com maestria: "As coisas que você possui acabam possuindo você." E isto realmente aconteceu, pois o capitalismo nos fazia projetar expectativas e realizações em itens que você poderia adquirir e hoje, esta nostalgia destas realizações, nos possuíram.
Muitos, como nós, entendemos que o mundo foi para um lugar vazio, e nós, que vivemos uma época memorável, conseguimos influenciar uma grande parte de adeptos a fazer um passeio “De volta para o futuro”. E como da história do filme (que por sinal, é dos anos 80), para corrigir o presente, precisamos dar um belo e nostálgico passeio pelo passado.