SANGUE NA PRAIA (1961) - FILM REVIEW
Não há uma distância tão grande entre um filme "B" e um Blockbuster, a não ser a mais evidente: o orçamento. Enquanto um reúne um time de amigos, vizinhos e profissionais dispostos a trabalhar para pagar o almoço, o outro é planejado para render milhões. Mas ambos buscam entreter seu público, e fazê-lo esquecer um pouco dos problemas da vida.
E após a sessão, os dois têm um resultado em comum bem curioso: a maioria de suas cenas é esquecida no momento em que saímos da sessão. Há exceções? Lógico e ainda bem, mas o entretenimento em si, tem esta função, de certa forma inglória, que é marcar pelo tempo que o consumimos.
O astro fazia muitos filmes assim, que buscam seu público, que consome seus filmes sem pensar. E o filme "Sangue na praia" não é diferente. Dirigido por Herbert Coleman, que fez apenas este filme e Quadrilha do Inferno, no mesmo ano, com o mesmo ator. Na trama,
que se passa em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, precisamente nas Filipinas invadida pelo Japão, o civil Craig Benson (Audie Murphy), associado à Marinha, ajuda o movimento de resistência com suprimentos e evacuando sobreviventes.
Ele é movido pelo desejo de reencontrar a esposa Ruth (Dolores Michaels), de quem se perdeu em Manila durante a invasão japonesa. Ajudado pelo bonachão Marty Sackler (Gary Crosby), Craig finalmente a encontra, mas tem uma surpresa. Acontece que Ruth pensa que ele está morto e agora está envolvida com Julio Fontana (Alejandro Rey), o líder dos guerrilheiros.
Realidade paralela
O diretor Herbert Coleman é mais conhecido como assistente de inúmeras produções famosas como Um corpo que cai, A Princesa e o Plebeu, O Homem que Sabia Demais, A Selva Nua e A Marca Rubra. Curiosamente, o ano de 1941 foi particularmente decisivo para Murphy, já que morreu a mãe, seus irmãos pequenos foram para o orfanato e o Japão atacou Pearl Harbor em 7 de dezembro. O EUA entraram na guerra e com isto, Murphy se alistou e mesmo com pouca idade (foi apelidado de Boy-Face), ele conseguiu. Na guerra, pegou malária duas vezes, foi chefe por improviso devido a inúmeras baixas, feitos heroicos dignos de filmes, foi ferido e teve gangrena na perna, foi capa da revista "Life" e recebeu muitas medalhas.
Murphy lutou contra a depressão e os efeitos de explosões violentas que presenciou, passando seus últimos anos como um defensor dos veteranos norte-americanos. Durante uma viagem de negócios em maio de 1971, Murphy pereceu junto com outros cinco passageiros e o piloto Herman Butler no acidente de um avião fretado na Floresta Nacional de Jefferson, perto da cidade de Galax, na Virgínia. Ele tinha 46 anos.
É de fato, uma tragédia que uma pessoa sobreviva a uma Guerra e morra de acidente ainda jovem. Sangue na praia foi ambientando num ano decisivo para Murphy, como formação de uma pessoa que iria pouco adiante, mas deixaria sua marca no cinema e na memória de muitos fãs.
"B"
Os filmes B nasceram bem antes do que muitos supõem. E mais curioso ainda é que o "B" não significa "Barato" como muitos pensam, já que em inglês, eles se chamam B movies. O nascimento dos filmes B se deu por conta do fim do cinema mudo. Durante a transição, nos anos 20, muitos exibidores buscavam filmes mais curtos para realizar sessões duplas. Nascia aí o "Grind house", amplamente explorado décadas depois, que nada mais era que filmes B.
As sessões priorizavam filmes simples, e consequentemente, baratos. Nascido na Era de Ouro de Hollywood se disseminou como um vírus (mas no bom sentido). Na época, reinavam os Westerns B, enquanto a Ficção e o Horror tomaram conta da década de 50, principalmente com o medo dos americanos por conta da guerra fria. E até hoje, os filmes B tem seu conceito distorcido. Muitos acham que se trata de obras que gostariam de ser obras de arte, mas não tinham orçamento para isto. Outros pensam que são filmes vagabundos, mal feitos e com o objetivo de ser apenas figurantes enquanto as obras principais eram esperadas.
Mas é um erro. Inclusive, muitos dos grandes diretores, atores, atrizes, roteiristas começaram neste cinema. E são reverenciados até hoje. Eu assisti muitos filmes de John Wayne e John Ford que são filmes B. Roger Corman era o pai dos Filmes B (não pela ideia, mas pela quantidade de filmes executados. Pasmem: mais de 400 produzidos!!!).
Não dá para cravar nem a origem exata, muito menos os primeiros filmes B. Situei acima quando foram implementados, mas o conceito já existia uma década antes. Grandes estúdios faziam distinção entre as suas produções, dando orçamentos bastante desiguais, e os filhos "pobres" eram, de certa forma, filmes B. Ou seja, alguns gozavam de prestígio e outros, de baixo orçamento, tinham que trabalhar melhor as ideias para suprir a falta de investimento.
Muitas obras utilizavam dos mesmos cenários, atores e alguns casos, criaram algo como uma série de TV, com cada filme sendo equivalente a um episódio Provavelmente daí surgiram as séries de TV como conhecemos. E Audie Murphy foi um símbolo, não só de heroísmo, mas deste cinema de pouco custo, que mas sempre nos entreteve.