UM TIRA DA PESADA (1984) - FILM REVIEW
🔷 Um tira da pesada (1984)
Não se faz filmes como nos anos 80... E não é um comentário herege, tipo como se outras décadas não fossem tão ou mais importantes. Mas há um charme dos anos 80 que é inigualável, principalmente quando envolve buddy cops e música. As trilhas sonoras embalando perseguições enquanto a câmera foca em elementos aleatórios da paisagem. Talvez este efeito seja explicado pela revolução que a Nova Hollywood fez no cinema americano, abrindo as portas para interpretações mais divertidas do entretenimento.
Como foi um sucesso atrás do outro, eles direcionaram o mercado numa mesma direção. Um exemplo destas situações corriqueiras em Um Tira da Pesada, além da própria abertura, é aos 11 minutos, quando Axel chega em casa e não puxa o freio de mão do carro. A cena em questão não tem nenhuma importância na trama, mas a sequência de situações assim inseridas na narrativa (aliadas a uma dezena de outras coisas que não vemos mais hoje), dão um charme que jamais retornaram ao cinema.
Estes elementos retiram o eventual senso de urgência para colocar o telespectador imerso na trama, ao mesmo tempo, em que ficamos rendidos a um blockbuster inteligente, divertido, que venceria o tempo. E isto aconteceu em diversos gêneros. Não havia espaço para edições vertiginosas como nos filmes de Micheal Bay, discursos sobre representatividade e tantas outras “problematizações” que direcionam os filmes de hoje para o fracasso.
E não é que os filmes não sejam representativos. Basta olhar Um Tira da Pesada ou Um Príncipe em Nova York. Mas especificamente, falando de Um Tira da Pesada: policial negro (cujo chefe da polícia, Gil Hill, também negro) investiga o assassinato de um amigo (pilantra), cujo assassino e mandante são brancos. Ele vai a Detroit e procura uma mulher (Lisa Eilbacher) que gerencia uma galeria de arte (e tem um Mercedes conversível vermelho) cujo funcionário (Bronson Pinchot) é gay.
Policial de Beverly Hills
A sintonia do elenco era um espetáculo a parte e tornavam os filmes ainda mais divertidos. O trio Murphy, Ashton e o Reinhold improvisou muitas de suas falas. Muitas cenas foram arruinadas por membros do elenco, atores ou o diretor rindo durante as filmagens. Durante o monólogo "super-policiais" (aos 56 min.), Ashton se contorce, olhando para baixo, tentando não rir, enquanto Reinhold coloca a mão no bolso e belisca sua própria coxa, tentando evitar rir.
Aliás, Gilbert R. Hill (que interpretou o inspetor Todd), era um detetive de homicídios do Departamento de Polícia de Detroit na vida real. Mais tarde, ele se tornou presidente do Conselho da Cidade de Detroit. Martin Brest o conheceu enquanto visitava Detroit para pesquisar e explorar locações para o filme.
Na sequência em que Axel está andando pela rua após sair do hotel, ele passa por dois homens vestidos com roupas de couro, ele então se curva para rir. No stand-up Eddie Murphy: Delirious (1983), ele se veste com o couro vermelho, e em Eddie Murphy - Sem Censura (1987) se verste com o azul.
A mansão usada no tiroteio final entre Foley e Maitland (a antiga propriedade de Harold Lloyd em Beverly Hills) é a mesma mansão vista no tiroteio final entre Matrix e Arius em Comando para Matar (1985). Coincidentemente, tanto Foley quanto Matrix estavam tentando resgatar alguém chamado Jenny naquela mansão em seus respectivos filmes.
Este filme marcou uma mudança de carreira para Ronny Cox. Frequentemente usado para personagens paternais e de fala mansa, Cox tornou-se procurado no papel de vilões corporativos, notadamente em RoboCop: O Policial do Futuro (1987) e O Vingador do Futuro (1990), após interpretar o detetive durão, que apesar de tudo, não era vilão.
Em um dos rascunhos escritos para Stallone, Billy Rosewood, seria morto no meio da história durante uma das cenas de ação consideradas "muito caras" pela Paramount. Depois que Martin Brest escalou Judge Reinhold e John Ashton, ele decidiu manter Rosewood vivo.
Mickey Rourke, que faria mais tarde Os Mercenários com Stallone, era a segunda opção, mas o ator preferiu fazer Nos Calcanhares da Máfia (1984). Detalhe: o amigo de Foley morto se chamava Mikey. Ironia ou homenagem?