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A ORIGEM (2010) -- EXPLICAÇÃO DEFINITIVA


Dom Cobb é um ladrão com a rara habilidade de roubar segredos do inconsciente, obtidos durante o estado de sono. Impedido de retornar para sua família, ele recebe a oportunidade de se redimir ao realizar uma tarefa aparentemente impossível: plantar uma ideia na mente do herdeiro de um império. Para realizar o crime perfeito, ele conta com a ajuda do parceiro Arthur, o discreto Eames e a arquiteta de sonhos Ariadne. Juntos, eles correm para que o inimigo não antecipe seus passos.

Do mesmo diretor de Batman - O Cavaleiro das Trevas, o filme de ação e ficção científica de Christopher Nolan liderou as bilheterias no final de semana da estreia norte-americana, arrecadando US$ 60,4 milhões. Ao lado de O Discurso do Rei, o longa foi líder de estatuetas do Oscar, levando os prêmios de melhores efeitos visuais, fotografia, mixagem de som e edição de som.


O QUE EU VI...


Sabe aquele filme que você assiste, não entende, assiste de novo e entende finalmente, depois lê sobre o filme e descobre que havia entendido da primeira vez e acaba se confundido todo e esquece o que realmente você entendeu? Ufa...é a origem.

Você acaba ficando obcecado com um filme enigma, que parece ter solução, mas que não consegue ver.
Só para constar, eu sou fanático com o filme, mas coloquei numa sessão diferente por que achei que se encaixava melhor.



DISSECANDO

Sem dúvida uma obra de arte do diretor Christopher Nolan. Quem não curtiu Amnésia?? ou Batman Begins e Batman O Cavaleiro das Trevas?? Dessa vez Nolan deu uma marretada no estômago de muitas pessoas de novo. Leonardo Di Caprio como sempre com ótima atuação. Marion Cotillard, apesar de um papel secundário, teve ótima atuação, além da beleza estonteante .

Nas primeiras duas vezes em que vi o filme, achei intrigante e apesar de ter entendido a ideia geral, algumas partes continuaram nebulosas. Começarei isolando as partes importantes para que o entendimento fique mais fácil. 


Envolvidos:

Cobb: Leonardo Di Caprio – especialista em “extração”, roubar ou pegar uma ideia enquanto a pessoa está dormindo.

Mal: Marion Cotillard – esposa de Cobb, se matou pois não soube mais distinguir a realidade do sonho. Virou uma projeção alimentada pela memória de Cobb e passou a perseguir o mesmo.


A equipe:

Ariadne: Ellen Page – arquiteta. Cria os labirintos e todo o background dos sonhos.

Arthur: Joseph Gordon Levitt – especialista em pesquisar sobre a vida do alvo e passar todas as informações necessárias para diminuir os riscos da “extração”

Saito: Ken Watanabe – CEO da segunda maior corporação de energia do mundo que não pode mais concorrer com a principal e, por esse motivo, contrata os serviços de Cobb para fazer uma “inserção” (em vez de roubá-la, eles terão que implantar uma ideia).


Yusef: Dileep Rao – químico. Cria sedativos diferenciados caso seja necessário viajar por 2 ou mais níveis do sonho.

Eames: Tom Hardy – pesquisa o alvo e o personifica (inclusive trejeitos, modo de falar, etc.)

Alvos:

Browning: Tom Berenger – padrinho aparentemente interessado no testamento. Ele não é um alvo, mas é usado pela equipe de Cobb para criar uma ideia baseada no laço afetivo.

Fischer: Cillian Murphy – herdeiro da principal corporação de energia que terá o monopólio do setor. O principal alvo, a equipe de Cobb deverá entrar fundo no subconsciente dele para plantar uma ideia que vai definir Fischer e consequentemente destruir o próprio império.


Termos usados

Totem: artefato usado para distinguir a realidade do sonho. A única forma de saber se o mundo em que se vive é real ou não.

Pontapé/Kick: quando a pessoa sonha que está caindo, normalmente ela acorda. Essa técnica utiliza a gravidade e é usada para fazer a pessoa acordar de um sonho.

Aviso/música: no entanto, o pontapé deve ser dado com aviso prévio, pois o plano deve ser todo sincronizado. Qual a única forma de saber quando o “extrator” levará o pontapé? Colocar uma música em um dos “extratores”. A música reverbera no subconsciente e assim pode-se calcular que o pontapé virá a qualquer instante.

Níveis do sonho: entrar no nível significa entrar no subconsciente. Há vários níveis como 1, 2, e 3. Estar no nível 2, significa entrar num sonho dentro de outro sonho e no 3, um sonho dentro de outro dentro de outro.

Limbo: último nível do sonho. Nesse lugar um minuto de vida normal pode simbolizar dez anos. Tudo é possível lá, pois o subconsciente não consegue distinguir o real da ilusão.


CONCLUSÃO SOBRE O FIM:

Cobb e Saito se matam para conseguir voltar  para a vida real. Por que?

Ele criou o Limbo mostrado na parte final do filme e, além disso, ficou preso lá por 50 anos com Mal (sua esposa). Fica subentendido que ele é o melhor no ramo da extração e construção de mundos dos sonhos, por esse motivo conhecia todos os atalhos e truques. Sem falar que foi o primeiro a realizar uma “inserção” com sucesso e ter conseguido escapar do Limbo. 

Por que não poderia ter feito de novo? 

O jogo  de palavras e frases no final é um indício disso também. Para convencer Saito de que aquilo não era real e eles precisavam voltar, ele usa frases que Saito havia dito antes da missão. Quando Saito estava ferido no segundo nível do sonho, ele diz algo do tipo: “eu vou conseguir” e “voltaremos a ser jovens novamente”. 


Podemos mencionar o que foi dito no começo do filme também quando Saito diz: “você prefere ser um velho cheio de arrependimentos esperando para morrer só?” Essas (e outras) frases foram técnicas de persuasão utilizadas por Cobb para provar que o mundo no qual Saito estava não era real. E Nolan usou-a conosco para chegarmos a tal conclusão.

O totem no final foi uma tentativa de Nolan de plantar a ideia na mente de cada pessoa que viu o filme. Você vai alimentar a ideia de que Cobb voltou realmente ou de que ele ficou preso em outro Limbo? Só o fato de você ter ficado confuso, perdido ou ter gasto tempo refletindo nessa simples ideia, mostra a força sua força e sustenta a frase inicial do filme: “Qual o parasita mais resistente que existe?”.


Alguns pontos furam teorias de fãs:

Cobb voltou para os sonhos?

Não. Os filhos de Cobb, na memória. estão usando a mesma roupa e não cresceram. Philipa na verdade parece estar usando a mesma roupa, mas na memória de Cobb ela usa uma sandália de cor escura, já no fim, ela está usando um All Star rosa. Na memória de Cobb a posição das crianças no jardim é diferente do final. Isto mostra que ele realmente voltou para a realidade.

Desde o começo foi tudo uma ilusão e Cobb já estava no Limbo?

Impossível, pois o totem é girado várias vezes no decorrer do filme, mostrando o que era real e o que não era.


PONTOS DESCONECTADOS:

1. Tenha em mente que para fazer esse trabalho você precisa de muito dinheiro, ou seja, Cobb é podre de rico. Cobb é super inteligente também, pois consegue entender a teoria de algo denso e, mais importante, consegue criar novas aplicações e métodos utilizando-os na prática com perfeição. Saito teve poder para mudar acusações de assassinato com apenas um telefonema. No começo do filme, Cobb estava preparado para desaparecer do mapa fugindo de Saito. É certo que com suas habilidades e grana, conseguiria fugir e viver bem pelo resto da vida. Então eu me pergunto: por que arriscar a vida de toda uma equipe e inclusive a sua aceitando a possibilidade de ficar preso no Limbo para sempre? Você vai me dizer: vontade de rever os filhos.

Ora, o cara é inteligente e riquíssimo. Não seria mais fácil fazer com que seus pais viajassem com os seus filhos para fora dos EUA para viverem em outro lugar? Mesmo se o FBI, CIA e todas as entidades rastreassem a família, a acusação seria contra Cobb, não envolvendo a família, outra que ele conseguiria fugir, possivelmente. Ele sabia dessa possibilidade, mas preferiu arriscar tudo pois não conseguia mais ficar sem viajar no mundo dos sonhos.


Outra possibilidade: Nolan apenas usou isso para dar base ao foco principal do filme (a teoria que eu mais acredito).

2. No primeiro sonho, quando eles estão no segundo nível do sonho de Saito, Cobb leva Mal para um quarto e amarra uma corda no pé da cadeira. Depois pede que Mal se sente para que ele possa escalar pelo parapeito do quarto afim de entrar no quarto debaixo. Ela senta e se levanta, causando uma queda repentina de Cobb. Se ele estava sonhando, a perda de gravidade deveria funcionar como um pontapé e, naquele momento, ele deveria ter acordado no primeiro nível.

3. Quando estão no primeiro nível para tentar implantar a ideia em Fischer uma locomotiva entra no meio da cidade. Cobb e Ariadne ficam perplexos. Yusef estava no carro naquele momento, por que ele não disse nada? Nem quando chegaram ao galpão Yusef menciona a locomotiva na cidade.


4. Por mais que você esteja sedado, um nível de sonho afeta o outro e quanto mais profundo você viaja pelos níveis, mais é preciso ter cuidado, pois o mundo dos sonhos fica mais instável. Minha pergunta é: quando a van rolou a ribanceira no primeiro nível, por que o terceiro nível de sonho não foi afetado?? Em teoria deveria ter sido mais afetado que o segundo nível naquele momento. Por exemplo, quando a van rolou, o hotel do segundo nível começou a dar voltas de 360˚, mas as montanhas do terceiro nível continuaram estáticas.

Outra prova é que quando o pontapé é dado no 1˚ nível, ou seja, quando a van começa a cair no rio, no terceiro nível começa uma avalanche. Quer dizer: o carro rola umas 2 vezes e nada acontece, mas quando a van começa a cair no rio uma avalanche ocorre… não faz sentido.


MAS...

VENDO NOVAMENTE....

"Qual é o parasita mais resistente? Uma bactéria? Um vírus? Não. Uma ideia! Resistente e altamente contagiosa. Uma vez que uma ideia se apodera da mente, é quase impossível erradicá-la. Uma ideia que é totalmente formada e compreendida, permanece"

Essa é a carta de apresentação do mais novo filme de Christopher Nolan: "A origem". Essas palavras são pronunciadas para alguém que está comendo. É importante ter isso em mente para a compreensão do uso do nome "Inception", que tem sido mal interpretado até mesmo nas críticas onde a língua-mãe é o inglês.


Inception: No dicionário significa Início, origem. Ok, mas tudo no filme, a começar pela cena que descrevi acima, nos leva a perceber que o uso do título "Inception" deriva do verbo incept, que significa ingerir. Tudo no filme gira em torno da ingestão de uma ideia. Concordo que seria um título esquisito e pouco chamativo, mas nas legendas do filme é usada a expressão inserção, que pode não ser a tradução literal, mas é a mais adequada (e funcionaria perfeitamente para o título em português). 

Há uma diferença fundamental entre inserção e ingestão. Enquanto o primeiro nos remete a um procedimento invasivo, ativo no sentido de ser empurrado algo a alguém, no segundo temos um movimento de aceitação, de passividade, de acolhimento. São assim que as idéias são absorvidas, e assim que elas permanecem. Considerando isto, uma outra tradução possível para o título, e que seria ainda mais precisa (embora pouco conhecida) é Intervenção.


Intervenção é um termo usado em psicanálise para definir a pontuação feita pelo psicanalista no paciente, numa dada vivência, de forma que o liberte ou dê uma tomada de consciência antes não acessada. Pra quem achou complicada essa definição, nada mais é do que a intervenção de um especialista na mente do paciente, no sentido de conduzir o fluxo de seus pensamentos para uma auto-libertação (catarse). É exatamente o que acontece no filme com o executivo Fischer (interpretado por Cillian Murphy) e com Cobb (Di Caprio). Sabemos que a intervenção do executivo foi guiada por Cobb. Mas quem guiou a do guia?

O final do filme dá margem a duas interpretações básicas: 1 - Cobb acorda de fato e volta para seus filhos no mundo real. 2 - Cobb ainda está sonhando. Essa segunda alternativa é que abre o filme a infinitas interpretações que pipocam pela internet e fazem a graça e a genialidade da sétima arte, porque insere o espectador na história, faz o filme não acabar com o fim da projeção, e "digerimos" aquela idéia por dias, talvez semanas ou meses!


Vou compartilhar com vocês uma visão e que faz todo o sentido como acima. QUEM poderia estar por trás do sonho de Cobb ? Apresento-lhes agora o responsável pela distorção de realidade que nós e Cobb compartilhamos por 2 horas e 46 minutos:

Ele mesmo, Miles (Michael Caine), o pai de criação e mestre de Cobb na "arte de navegar mentes"; o único com capacidade para iludir Cobb num intrincado jogo para fazê-lo se perdoar e voltar para os filhos, e o único com motivos para fazê-lo. Há duas teorias sobre em que momento Cobb entrou neste "grande sonho" sem perceber: Uma é que TODO o filme já é um sonho. 

Isso torna as coisas mais fáceis, pois todos os personagens e situações anteriores a isso ocorreriam apenas na mente de Cobb, manipulada por Miles. Mas a 2ª segue o raciocínio (embasado por dicas dadas pelo filme) de que o "grande sonho" começa em Mombaça (na África).


Percebam que quando Cobb conhece Yusuf (Dileep Rao) ocorrem uns diálogos estranhos. Ele aparentemente alfineta Cobb com a pergunta "você


ainda sonha, Cobb?" ou o velho que diz "Eles vêm aqui para serem acordados. O sonho se tornou para eles a realidade. Quem é você pra dizer o contrário?", na parte em que mostram alguns idosos sonhando num porão. 

Antes disso Yusuf ainda questiona Cobb se ele tem certeza de que quer ver essa cena. Após Cobb pedir pra Yusuf testar nele um poderoso sonífero, ele sonha com Mal e "acorda" tão angustiado que não consegue nem girar o pião. Só que, de acordo com minha teoria, ele não acorda de verdade. E a partir daí surgem flashes das crianças e de Mal em sua "realidade". O pião não é girado mais (ou pelo menos ele não cai). Esse é o "grande sonho" do qual ele não acorda mais.

A ideia por trás dessa teoria é que Miles, juntamente com Ariadne e Yusuf (e possivelmente Saito) sabem do plano dentro do plano, que é mergulhar fundo na mente de Cobb ao mesmo tempo em que mergulham na de Fischer pra realizar a missão de Saito. Tipo um remake psicológico de "11 homens e um segredo". Pode ser que haja outros personagens envolvidos na trama, ou até mesmo todos os personagens (tirando o Fischer e seu tio), mas é difícil definir isso sem viajar na maionese. 


O que me deixa bastante confiante na teoria é que o diretor passou 10 anos escrevendo e elaborando esse script, e creio que ele teve tempo demais pra pensar em todos os detalhes e não deixar nada tão preguiçoso macular seu brilhante roteiro se não fosse intencional (Ariadne aceitar muito facilmente um trabalho que é oferecido a ela como ilegal e, depois, perigoso. Saito aparecer magicamente na África; Miles estar convenientemente esperando por ele na alfândega do aeroporto; as crianças estarem praticamente com as mesmas roupas e posição no final, etc). 

Outro fato que corrobora a teoria é a conversa de Cobb com Miles. Miles parece bastante cínico quanto ao pedido de Cobb por um arquiteto, pois sabe das tramóias ilegais em que ele esteve envolvido, mas quando Cobb diz a ele que é pra reencontrar os próprios filhos, Miles prontamente diz "eu tenho a pessoa certa pra você" e nos apresenta Ariadne (Ellen Page). Isso acontece porque Miles percebe que é a hora certa de botar seu próprio plano de "inception" em prática. Como falei mais acima, a intervenção só funciona no tempo e momento de cada um. Quando Cobb se considera apto para "abandonar suas ilusões" Miles arquiteta seu plano.


Os nomes dos personagens são um guia para entender o roteiro:

Dom Cobb: Dom é "Senhor, Soberano". Cobb pode ser traduzido como "aquele que está no controle". O que é irônico, porque ele PENSA que está no controle, mesmo quando as coisas dão errado, mas, se minha teoria estiver correta, é a garota (A Arquiteta) que comanda o espetáculo, como veremos abaixo.

Arthur: É o "herói" do filme no seu sentido mais hollywodiano. É altivo, guardião, confiável, infalível e ainda beija a garota. Não há erro em apontar seu nome como uma referência direta ao Rei Arthur.

Ariadne: Do grego Arihagne (Pura, sagrada). Na mitologia Ariadne é quem ensina Teseu a se guiar no labirinto de Tebas e a derrotar o Minotauro. Ela dá a ele um rolo de fio - que ficou conhecido como o "fio de Ariadne" - pra ele sempre saber por onde veio. No filme a menina (imagem de pureza) guia Cobb pelo labirinto que ela criou. Ela é o fio condutor da trama, e pode ser considerada a personagem principal, por ser a guia na jornada de Cobb pela sua própria mente, sem que ele perceba a intenção por detrás disso.


Mal: O nome da esposa de Cobb é incerto (possivelmente Margaret), mas todos a chamam de Mal, que em francês é o mesmo que em português: O mal. Na divulgação do filme ela é chamada de "A sombra", e é exatamente isso que ela é, na psicologia analítica. A sombra é uma parte de nossa psiquê que queremos ocultar de nós mesmos, e assim a projetamos inconscientemente no outro. 

O sentimento de culpa em relação ao que aconteceu a Mal manteve-a viva nas projeções mentais de Cobb, levando a este conflito Amor x Culpa em todos os sonhos dele, representados/projetados na figura bidimensional/caricata de Mal que, ao mesmo tempo em que é a doce amada, é também a raiva e a destruição dos desejos inconscientes de Cobb (que não fosse o dele ficar com ela no limbo, porque no fundo ELE não queria deixá-la, por essa mistura de amor, culpa e arrependimento).


Fischer: É o executivo em quem Cobb deve implantar a idéia. Seu nome deriva de Fisher (pescador). Ironicamente quem é "fisgado" sem querer é o Cobb.

Eames: É o que se transforma no tio de Fischer dentro do sonho. Seu nome deriva do inglês arcaico Eam, que significa.... Tio.

Yusuf: É o químico preparador do sonífero que permite o sonho pesado. Seu nome significa José, em árabe. No Corão há um Yusuf cuja história começa com um maravilhoso sonho que ele teve, e posteriormente adquire a habilidade de interpretar sonhos. Na nossa Bíblia há também - em Gênesis 37 - um José que interpreta sonhos.

Maurice: É o pai de Fischer. Seu nome deriva do latim Mauritius (Mouro), uma tribo que vivia no norte da África e hoje são muçulmanos. São Maurício (St. Maurice) foi o soldado romano (convertido cristão) que se tornou mártir ao preferir morrer com toda a sua unidade de soldados a cumprir ordens de esmagar uma revolta cristã.


Miles: É o pai de Mal, professor de arquitetura e mentor de Cobb na arte de criar sonhos. Seu nome significa, em latim, soldado. É interessante perceber que a figura paterna do personagem Fischer possui um nome que remete ao próprio sogro de Cobb.

Saito: Provavelmente este nome é uma homenagem a Hajime Saito, samurai líder dos Shinsengumi e policial do serviço de inteligência, relacionado com contra-espionagem. O personagem é apresentado no filme como um empresário poderoso, representando um Deus Ex Machina que possibilita qualquer coisa que Cobb precise. É a chave para a realização do desejo de Cobb rever seus filhos, algo que até então ele achava impossível. 


Durante o filme Saito dá mostras de seu poder e influência (como comprar uma companhia aérea inteira pra utilizar UM avião) e resgata Cobb de uma enrascada no meio da África. Isso fortalece os laços entre ambos, e ele acaba assumindo para Cobb uma figura de autoridade quase paterna, influência que Miles não possuía. Por isso creio que Saito foi utilizado para influenciar discretamente o consciente de Cobb com um questionamento: "Você quer se tornar um homem velho, cheio de arrependimento, esperando pra morrer sozinho?". 

A frase é lembrada mais duas vezes, sendo a última no limbo, usada como um gatilho para Cobb recobrar sua consciência e trazer Saito de volta. A beleza aqui é que na verdade nesta cena Cobb está resgatando ELE MESMO do limbo através do "espelho" Saito, que naquele momento era uma representação visual - e visceral - da ideia contida na frase que era pra Cobb!


A ideia de espelho está inserida no filme em outros momentos-chave, que mais parecem uma forma gratuita de usar computação gráfica mas não são: quando a menina "dobra" a cidade e vemos prédios iguais se juntando, de forma espelhada. E noutra cena, quando a mesma menina "fecha" um vão da ponte com espelhos. O espelho é uma forma sutil de demonstrar que um dos dois é falso, e na psicanálise ele é usado para promover a desidentificação de figuras parentais ou próximas e ajudar na individuação da criança. 

Por exemplo, uma criança pequena não concebe a mãe como outra pessoa, e sim uma extensão dela mesma, e o espelho ajuda-a a perceber-se como indivíduo pela primeira vez. No caso de Cobb sua individualidade estava "contaminada" pela presença de Mal, e o que Ariadne faz? Ela usa o espelho para que Cobb se veja como SUJEITO, uma entidade separada de Mal. Obriga-o a olhar pra si mesmo, como se apontasse "Ei, este é você AGORA". Cobb certamente não percebeu isso conscientemente, mas algo sempre fica implantado (ingerido).


Isso é intervenção. Um psicólogo hábil pode arar e adubar a terra, e depois construir, como um arquiteto, as fundações e o palco para a apresentação de sua ideia, e assim vê-la germinar; é isso que acontece no filme, quando o Demiurgo Miles constrói, através dos personagens, toda a base (ver os filhos), o palco (a inserção de uma ideia na mente de outra pessoa, a ajuda e incentivo dos outros) e apresenta sua ideia ("Cobb, tudo o que está entre você e seus filhos agora é a sua sombra"). O desenrolar da história e o grand finale vão depender sempre do paciente.

Só que a sombra não assiste a tudo pacificamente. Ela cria um sem-fim de dificuldades e desafios, porque o inconsciente tem seus próprios planos. No filme chamam de "defesas da mente", e elas existem mesmo, e podem assumir as formas mais assustadoras ou desejáveis desde que cumpram o seu papel de bloquear aquilo com o qual você não quer (ou não está preparado para) se confrontar, como anticorpos que atacam as células que consideram invasoras. No filme isso é representado pelos cofres, pelas gangues armadas até os dentes e por uma esposa apaixonada ou raivosa.


Mal é o minotauro que Ariadne ajuda Cobb a derrotar. É graças à menina que Cobb se abre e admite sua culpa e seu remorso, confessando a história da inserção malsucedida em Mal. Esse foi o primeiro passo de Cobb rumo à aceitação/libertação. É emblemático que Ariadne esteja sempre ao lado dele nos confrontos com a sombra, e mais emblemático ainda que ela o incentive a derrotá-la (matá-la), como na cena do limbo; quando a sombra está prestes a dominar Cobb, Ariadne intervém e atira em Mal, enfraquecendo-a e permitindo um lindo momento de catarse, em que Cobb dialoga com sua própria sombra como não sendo mais a mulher que ele tanto amou:

Cobb - Eu não posso ficar com ela porque ela não existe mais.

Mal - Eu sou a única coisa em que você ainda acredita. 

Cobb - Eu gostaria. Eu gostaria mais que tudo. Mas eu não posso imaginá-la em toda a sua complexidade, toda a sua perfeição, toda a sua imperfeição. Olhe pra você. Você é só uma sombra da minha esposa verdadeira. Você é o melhor que eu posso fazer; mas sinto muito, você não é boa o suficiente.


Isso se chama em psicologia lacaniana de "atravessar o fantasma", ou seja, confrontar o sujeito com a realidade. Isso nada mais é do que achar um sentido para aquilo que inicialmente não tinha sentido. Ariadne faz isso o tempo todo com Cobb. Foi a única que explorou a relação de Cobb com Mal, entrou em seus sonhos, o ajudou a superar todas as etapas da inserção; inclusive no momento em que ele desiste e diz que fracassou, ela encontra uma solução. 

É ela quem dá um outro SENTIDO para continuar. É ela que vai até o último andar do elevador dos sonhos de Cobb (onde ele não queria entrar) e o acompanha ao nível mais profundo do inconsciente e o ajuda a "atravessar o seu fantasma". Ariadne é a peça-chave no filme, e creio não ser por acaso seu amuleto ser um bispo: uma peça de xadrez que, na França (terra da personagem) é chamada de "Bobo da corte", aquele que em tempos medievais se fazia de tolo e de inocente pra falar de forma ambígua certas verdades ao Rei, que o bobo (que de bobo não tinha nada) captava no mundo fora dos muros do castelo. Uma menina inexperiente expressa bem essa imagem.


Vemos então o epílogo, que é também o início do filme. Cobb está saindo do mar, que é um símbolo na psicologia para o inconsciente, porque, segundo Freud, o inconsciente - assim como o mar - não tem começo nem fim, e nem tem individualidade (é um amálgama de água, e água tirada do mar não é mar, é água). Essa simbologia nos remete claramente ao estado de Cobb, como que ressurgindo do limbo em que sua individualidade ia se perdendo (isso explica a falta de memória dele à mesa com o Saito velhinho).

O título da música de Edith Piaf "Non, Je Ne Regrette Rien" significa "Não, não me arrependo de nada". Isso é a síntese da catarse de Cobb, quando ele confronta a sombra no limbo. E não por acaso é a música escolhida pra "chutar" de volta os personagens ao mundo real. O mais fantástico foi a forma como o compositor da trilha sonora, Hans Zimmer, utilizou fragmentos dessa música para permear a trilha, dentro do paradigma imposto pelo roteiro de que, quanto mais profundo o sonho, o tempo - e a música - desaceleram:


Absolutamente brilhante, não?

No final do filme eu fiquei desejando que o pião caísse, e se concretizasse o sonho do personagem. Mas Nolan mais uma vez respeitou a inteligência da platéia e nos brindou com aquele corte seco. O fato é que o desejo de Cobb se concretizou, independente de como vemos as coisas de fora! Podemos fechar a teoria acreditando que aquilo era um sonho, mas o fechamento psicológico do "grande sonho", e após isso ele estaria pronto para acordar no "mundo real".

Os símbolos são mais reais que aquilo que simbolizam, o significante precede e determina o significado (Lévi-Strauss).

O que conta, no final, é que sonho nós queremos viver. E de quem será o sonho que estamos sonhando agora?


E DEPOIS DE SUPOSIÇÕES A TEORIA SE CONFIRMA PELO PRÓPRIO...

Tá, se você voltar ao final, você vai lembrar que Don Cobb reencontrou seus filhos e sogro (interpretado por Caine) em uma cena final de arrancar lágrimas. Como é típico dele, ele gira o pião para ter certeza de que está de volta à realidade, mas não se importa o suficiente para ver se o pião para de girar (se parar, ele está mesmo no mundo real).

Caine deixou escapar um bom spoiler quando apareceu na BBC Radio para promover sua autobiografia. Isto é o que ele tinha a dizer sobre o final de Chrisptopher Nolan, roteirista e diretor de Inception:

"Cai no fim, é aí que eu volto. Se eu estou em cena é porque é real, porque nunca estou no sonho. Eu sou o cara que inventou o sonho."




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