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O QUE FOI O CINEMA NOVO ALEMÃO


A dinâmica das escolas de cinema obedece a um padrão. E a necessidade de mudanças foi sendo absorvida pelas principais culturas cinematográficas e criando suas próprias identidades.

A Nouvelle Vague, ou Nova onda, foi estabeleceu o maior pulso, principalmente nos anos 60, influenciando e redirecionando o cinema dos países que absorveram a ideia de que algo novo precisava ser feito.

Na Alemanha o Novo Cinema Alemão teve se gatilho com o Manifesto Oberhausen (que detalhei aqui), que dizia que o filme precisa ser mais independente. Livre de todas as convenções usuais da indústria, do controle de parceiros comerciais e do ditado das partes interessadas.  Em 1 de fevereiro de 1965, foi fundado o Kuratorium Junge Deutscher Film, que apoiou vários filmes jovens alemães com empréstimos com o apoio do Ministério Federal do Interior.


Marco zero

O filme "Das Brot der frühen Jahre" de 1962, baseado no romance O Pão dos Primeiros Anos, de Heinrich Böll, é considerado o primeiro filme do "Novo Cinema Alemão". A obra, dirigida por Herbert Vesely, contava a história de um jovem engenheiro elétrico, noivo da filha de seu chefe e a caminho de uma existência segura, sai de sua vida normal ao conhecer um amigo de infância.

O movimento proporcionou uma ruptura duradoura com a estética convencional da indústria do cinema popular. Nomes começaram a surgir, como Volker Schlöndorff, com seu "O jovem Törless", que foi notado no Festival de Cinema de Cannes em 1966. Em 1º de janeiro de 1968, a nova Lei de Financiamento de Filmes entrou em vigor e a Agência de Financiamento de Filmes (FFA) foi fundada em Berlim Ocidental.


A comédia "Zur Sache, Schatzchen", de May Spils foi um dos maiores sucessos comerciais do Novo Cinema Alemão, chegando aos cinemas alemães em 4 de janeiro de 1968. Naquele mesmo ano, outro nome ganhava o Urso de Prata: Werner Herzog e o filme Sinais de vida.

Em 1968, alguns jovens cineastas se reuniram para organizar a 1ª Mostra de Cinema de Hamburgo. Um fim de semana que ficou marcado na história do jovem cinema alemão como um acontecimento cinematográfico. No ano seguinte foi a vez de "Cenas de caça na baixa Baviera (1969)" de Peter Fleischmann. 

Na história, um habilidoso mecânico bem considerado pelas pessoas, retornou à sua pequena aldeia faz pouco tempo. A aldeia, na Baixa Baviera, uma comunidade rural que é lar de inúmeros tipos de pessoas, algumas abertas a mudanças, mas que levam sua vida conjuntamente. Mas quando surgem suspeitas sobre a sexualidade de Abram, todos que ele conhece passarão a odiá-lo.

No mesmo ano, Rainer Werner Fassbinder estreou-se com "O amor é mais frio do que a morte" na Berlinale. 


70's

Os anos 70 serviram para consolidar nomes e carreiras. Assim como a Nova Hollywood, que trazia diretores como Robert Altman, Martin Scorsese, Brian de Palma, Steven Spielberg e Francis Ford Coppola, na Alemanha, Alexander Kluge, Hansjürgen Pohland, Edgar Reitz, Wim Wenders, Volker Schlöndorff, Werner Herzog, Hans-Jürgen Syberberg, Werner Schroeter, Margarethe von Trotta e Rainer Werner Fassbinder se destacaram. 

Michael Verhoeven escandalizou o festival de Berlim com O.K., filme em que soldados americanos estupram e assassinam uma garota no Vietnã. O presidente do júri daquele ano, o diretor americano George Stevens, exigiu que o filme fosse retirado do festival. Isso causou tanta polêmica que os diretores do festival ofereceram sua renúncia e o festival acabou precocemente.


Verhoeven é filho de um diretor alemão chamado Paul Verhoeven, que é homônimo ao famoso realizador holandês, de tantos sucessos com Instinto selvagem e Vingador do futuro. Em 18 de abril de 1971, a cooperativa "Filmverlag der Authors" foi fundada em Munique para organizar a distribuição e produção dos cineastas. No mesmo ano, Berlim aprendeu com o escândalo do ano anterior e incorporou seu próprio “Fórum Internacional para Filmes Jovens” à Berlinale.

No ano seguinte, uma das duplas mais famosas do cinema (leia sobre esta relação aqui) se formou: Werner Herzog e o ator Klaus Kinski, que trabalharam juntos pela primeira vez no filme Aguirre, a Cólera dos Deuses. Eles fizeram mais duas obras-primas, Fitzcarraldo e Nosferatu - o vampiro da Noite. Vários filmes, como O tambor de Volker Schlöndorff e Amigo americano, de Wenders, ganharam o mundo além do Oscar e Palma de Ouro, respectivamente. 

A morte do principal representante por overdose de drogas, Rainer Werner Fassbinder, em 1982 é frequentemente vista como o fim do Novo Cinema Alemão, já que ele era o motor principal do movimento.


Em sua missão de criar uma nova linguagem cinematográfica perspicaz, os jovens cineastas alemães refletiram suas próprias posições políticas (muitas vezes esquerdistas) e enfrentaram radicalmente questões contemporâneas em seu trabalho. Essa mistura de arte e política costumava criticar as instituições burguesas e comentar sobre as tentativas de reconciliar um passado brutal, grupos marginalizados, juventude alienada, os limites de uma democracia liberal e integridade jornalística. 

Porém, a  intenção do Novo Cinema Alemão nunca foi alcançada. A maioria dos filmes do movimento foram fracassos comerciais, sendo recebidos com apatia pelo público alemão. Uma injustiça que só foi corrigida com o passar dos anos e aqueles filmes se tornarem cada vez mais cultuados.

Confira abaixo 10 filmes essenciais para conhecer o Cinema Novo Alemão. Procurei colocar apenas 1 filme de cada diretor, já que alguns, como Fassbinder, tem diversos filmes importantes no período.


O filme conta a história  de um jovem engenheiro elétrico, noivo da filha de seu chefe e a caminho de uma existência segura, sai de sua vida normal ao conhecer um amigo de infância.
Como dito acima, considerado o marco zero do movimento.


Em 1956, três gerações de uma família alemã com uma situação de vida difícil decidem realizar uma reunião em Colônica, com intuito principal de relembrar todos os momentos conturbados de suas trajetórias. Juntos, reconfiguram os conflitos ocorridos durante a Primeira Guerra Mundial, em que alguns de seus filhos pereceram.


Uma jovem, Anita G., rouba um pulôver para se aquecer. Cumprida a pena, ela faz várias tentativas de começar vida nova. Depois de uma fuga em zigue-zague, vai parar de novo na cadeia. Os nazistas tinham levado seus pais. Ela vem do Leste. E agora passa frio no Oeste. Três Alemanhas. Prêmio Especial do Júri do Festival de Veneza.


Törless é um jovem de classe alta, que entra em um internato militar austríaco, no início do século XX. Quando alguns colegas de classe começam a aterrorizar e humilhar outro estudante, Törless passa a observar os acontecimentos à distância, na tentativa de entender o comportamento dos outros jovens.


No século XVI, algumas décadas após o fim do Império Inca, uma expedição espanhola segue em direção ao rio Amazonas em busca de ouro. Ameaças surgem de todos os lados, nada sai como planejado e o número de baixas só aumenta. Liderando o que sobrou do grupo está o insano Don Lope de Aguirre (Klaus Kinski), impávido na obsessão de encontrar o Eldorado.


Grischa e Heinrich se conheceram nos bastidores dos palcos, e logo engataram em um relacionamento. Com a relação andando a passos largos, Heinrich propõe que os dois tenham um filho juntos. Após refletir, a artista concorda em aumentarem a família, e aproveita o momento para engatar em um projeto jornalístico que aborda a experiência da gestação a partir de depoimentos de diferentes mulheres. 


Katharina Blum e Ludwig Göette se apaixonam à primeira vista em uma festa de carnaval e passam a noite juntos. Na manhã seguinte, o apartamento da jovem é invadido pela polícia. Ludwig desapareceu, mas Katharina é levada presa. Ela não sabia que tinha acabado de se envolver com um dos suspeitos de terrorismo mais procurados pela inteligência alemã. 

De um simples caso de polícia, a história de Katharina vira um escândalo nacional quando o repórter Werner Töetges, do jornal sensacionalista Zeitung, passa a cobrir o caso. Sem escrúpulos e em busca apenas de fatos chocantes para publicar – sendo verdade ou não – o jornalista passa a perseguir todas as pessoas que faziam parte da vida pessoal da jovem.


Jonathan Zimmermann (Bruno Ganz) é um pacato moldurista alemão, com um áspero contato com um americano, Tom Ripley (Dennis Hopper), em um leilão. Jonathan desconfia que está sofrendo de uma moléstia incurável e recebe uma inacreditável proposta de um gângster: matar um bandido rival, recebendo em troca uma quantia que permitisse que sua família vivesse tranquila após sua morte. 

Dividido entre a angústia de estar com os dias contados e a hesitação em se tornar um assassino, Jonathan cada vez mais se envolve na trama. Porém, o que ele não sabe é que quem está por trás dela é justamente Tom Ripley.


Martin é um ator suíço condenado a cumprir pena por ter se envolvido sexualmente com um rapaz ainda menor de idade. Já dentro da prisão, Martin se ocupa de produzir uma pequena peça teatral para os detentos e as suas famílias, e durante os ensaios conhece Thomas, o filho de um carcereiro da prisão. Os dois se apaixonam, mas trata-se de um amor impossível e sujeito às consequências.


Baseando-se no grande romance expressionista de Alfred Döblin, Fassbinder nos conta a história de Franz Biberkopf que, após cumprir quatro anos de prisão, decide começar uma vida nova na Berlim do final dos anos 20. Será que Franz conseguirá se tornar um "homem decente" na corrosiva paisagem urbana da República de Weimar?



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