O QUE É SURREALISMO NO CINEMA
O conceito de surrealismo é de certa forma, intuitivo,
afinal, sugere algo que extrapola a realidade. Os surrealistas
inicialmente buscavam de forma inconsciente, ir
além do racionalismo e do realismo literário, já que entendiam que elas reprimiam a imaginação, poluída por dogmas.
Eles desejavam explorar o inconsciente e transpor para a arte, as eventuais
contradições e anseios.
A obra de Sigmund Freud foi profundamente influente para os
surrealistas, particularmente seu livro A Interpretação dos Sonhos (1899). E um
dos destaques na pintura foi o espanhol Salvador Dali, o que nos leva ao cineasta espanhol Luis Buñuel e o surrealismo no
cinema.
Com origens em Paris na década de 1920, nomes como René Clair, Jean
Renoir, Jean Epstein ganharam destaque com Entreato (1924), A filha da água
(1925) e A Queda da Casa de Usher (1928), respectivamente. Mas o maior destaque
foi justamente para Um cão Andaluz (1929)
em que Luis Buñuel fez justamente com Salvador Dalí.
Ainda que busquemos teorizar tudo, as obras surrealistas não eram
definidas por estilos e formas, mas eram resultados da prática do surrealismo.
Propor a teoria é uma forma de reduzi-lo a um estilo, quando seu objetivo é
romper barreiras, buscando perspectivas cada vez mais amplas. Curiosamente
trazemos essa essência do surrealismo para nosso dia a dia, quando nomeamos
algo, que em nossa percepção, é surreal. E não podemos qualificar nem
quantificar este valor que colocamos no elemento que julgamos surreal.
Foi o surrealismo - não o expressionismo - o primeiro
movimento literário e artístico a ser seriamente associado ao cinema. Os surrealistas reconheceram no cinema uma forma bem
abrangente de explorar os limites da realidade.
Mas há traços para identificação de um filme surrealista? Claro, e vai além de visuais alucinantes (no sentido de
alucinógeno mesmo). O mais marcante é a distorção da realidade e a esse
elemento, associo diretamente "Um corpo que cai", obra-prima de
Alfred Hitchcock e "O
segundo rosto", de John Frankenheimer, lançada em 1966. Obras que buscam trazer confusão ao telespectador, a ponto de se
questionarem sobre o que é real e o que não é.
Outro elemento comum é a fotografia psicodélica ou mesmo
impressionista. Um ótimo exemplo de um
filme que podemos encontrar este traço é "A árvore da vida (2011)" de
Terrence Malick. Irreversível (2002) de Gaspar Noé também combina elementos
surreais com seus movimentos de câmera e com a fotografia psicodélica. Sete anos depois, ele lançou "Viagem
Alucinante", que leva a fotografia psicodélica a um patamar extremo.
Um adendo: há um elemento bem comum nos filmes “não
surreais”- quando o personagem reconhece sua presença como espectador. Quando
isso ocorre, dizemos que ele quebrou a quarta parede. E neste instante, que
costuma ser breve, o surreal toma conta da produção. "Bons Companheiros
(1990)", de Martin Scorsese, faz uso deste elemento de forma memorável.
Por fim, muitos ótimos filmes deixam você na dúvida quanto aos
acontecimentos. E neste ponto, "A Origem (2010)"de Christopher Nolan,
me representa. Mas em um filme surrealista, o significado torna menos
importante que a trajetória. E neste ponto, "À Beira do Abismo", Noir
de Howard Hawks lançado em 1946 é a obra que indico para visualizar esta ideia.
Texto: M.V.Pacheco
Revisão: Thais A.F. Melo
Fiz uma lista parcial com indicações de filmes interessantes sobre o tema.
Confira a seguir: