google-site-verification=21d6hN1qv4Gg7Q1Cw4ScYzSz7jRaXi6w1uq24bgnPQc

A JANELA SECRETA (2004) - FILM REVIEW

Janela secreta


Texto: M.V.Pacheco

Revisão: Thais A.F. Melo


Quando a vida imita a arte e a Janela Secreta de Stephen King.

Não é a primeira vez que a vida imita a arte, mas com Stephen King ocorreu por duas vezes de forma bastante pontual. Uma em Kingdom Hospital, outra em Janela Secreta. No filme, Mort Rainey (Johnny Depp) é um escritor em crise, que acaba de se separar de sua esposa (Maria Bello), após tê-la flagrado com outro homem. Mort decide se isolar em uma cabana à beira do lago Tashmore, em busca de tranquilidade.  

Para complicar, John Shoother (John Turturro), vindo do Mississipi, aparece inesperadamente e começa a atormentá-lo dizendo que Rainey se favoreceu do plágio de um de seus melhores contos, ao qual tinha escrito diversos anos antes de 1997, e que exclusivamente o final foi modificado. 

Diante disso, o curioso homem começa a exigir uma reparação pública e indenização ou uma prova concreta do contrário num breve período de apenas três dias, pressionando de forma invasiva o escritor e demonstrando também possuir sinais de ser um sujeito mentalmente alterado e ameaçador.

Stephen King usa do filme como discurso a fim de confrontar situações que ele mesmo passava, tais como bloqueios criativos, isolamento, e o uso de pseudônimo, que em linhas gerais, não fazia qualquer sentido, já que ele não precisa se esconder por trás de um nome. Até mesmo a questão do mesmo ter fama de não saber finalizar seus livros, torna um dos principais pontos explorados no filme.

O livro "Janela Secreta, Jardim Secreto", teve a sua primeira publicação em setembro de 1990, ou seja, muito antes dos acontecimentos que se seguiram. 

Pensar que o autor de qualquer obra narrativa não foi influenciado por outros trabalhos é um absurdo, por isso, encontrar semelhanças entre as histórias é muito comum. Plágio, claro, é outra questão. E são incontáveis os casos que param na justiça, não só de livros, mas músicas, filmes, peças, até discursos. 

Stephen King nunca foi processado com sucesso por plágio. No entanto, houve alguns casos em que ele foi acusado publicamente. Um exemplo bem conhecido é o caso da saga "A Torre Negra", que alguns críticos argumentaram ter sido fortemente influenciado pela série "A Torre", de Robert Browning. 

A verdade é que só quem escreve conhece bem a dificuldade de se conceber, escrever e finalizar uma história, de modo que, observando a frequência com que King publica novas obras, é possível imaginar que ele não escreva tudo, podendo serem escritos por ghostwriters (escritores fantasmas) ou até mesmo, plágio.

No tempo que lidei com o grande crítico de cinema Rubens Ewald Filho (que infelizmente faleceu em 2019 após cair em uma escada rolante e sofrer um desmaio), divulgava suas críticas no meu site, mas conforme o volume dos filmes que ele assistia e precisava divulgar, Rubens passou a delegar funções para seus alunos, que faziam com satisfação. 

Infelizmente, por mais que Rubens se esforçasse, o trabalho dos seus pupilos dificilmente tinha as mesmas características. Portanto, era possível entender o motivo pelo qual o crítico assina críticas que não fazia. E, ao mesmo tempo, reconhecer que os trabalhos não têm a mesma qualidade.

Olhando casos como esse, fica fácil entender como o plágio pode ser identificado para quem conhece todas as características do escritor. Ao mesmo tempo, talvez por pressão, também é fácil entender quando um escritor recorre a um livro esquecido na última prateleira do sebo a fim de pegar algumas poucas ideais, imaginando que aquilo nunca viria a tona.

A direção

David Koepp é um roteirista bastante conhecido do público, principalmente devido a sucessos como Jurassic Park (1993), Pagamento Final (1993) e Homem-Aranha (2002). A estreia na direção foi com o ótimo Efeito Dominó, lançado em 1996. E curiosamente, em Janela Secreta, ele pratica métodos semelhantes a um gênio por trás das câmeras: William Friedkin. 

Não à toa, o filme Perigo por Encomenda (2012), teve as sequências de perseguições inspiradas nos filmes de Friedkin, como Operação França (1971) e Comboio do Medo (1977).

Por exemplo, na cena em que Johnny Depp invade o quarto do Motel em que Maria Bello e Timothy Hutton estavam, David Koepp queria que Bello e Hutton parecessem chocados e assustados. Ele fez com que os dois ficassem deitados na cama por quinze minutos antes de Depp entrasse correndo. 

A equipe de produção montou grandes alto-falantes que emitiam ruído estático quando o roteiro exigia que eles ficassem com medo. As luzes da sala também foram preparadas para acender quando Johnny Depp abria a porta, assustando ainda mais os atores. Ninguém sabia exatamente como agir.

Em outra cena, em que Johnny Depp e Timothy Hutton estavam conversando na beirada do passeio, um veículo passa e Depp claramente toma um susto real. O diretor Friedkin era famoso por usar tais métodos em cena, inclusive chegou a dar um tiro próximo ao ouvido do ator Jason Miller para obter uma determinada reação do personagem.

E uma última observação, que demonstra como coincidências realmente acontecem. Comecei o post citando Kingdom Hospital, Janela Secreta e como a vida imitou a arte nesses dois projetos. E o bizarro é que Stephen King negociou os direitos de Janela Secreta para obter os direitos de adaptar para a TV Kingdom Hospital (2004).

Portanto, a vida não só imita a arte, como às vezes elas habitam o mesmo lugar no espaço, contrariando  o princípio da impenetrabilidade da matéria, de Isaac Newton.

 

Tecnologia do Blogger.