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O QUE É UM FILME B


Os filmes B nasceram bem antes do que muitos supõem. E mais curioso ainda é que o "B" não significa "Barato" como muitos pensam, já que em inglês, eles se chamam B movies. Hoje vamos dar uma pincelada em toda a história dos filmes B até sua decadência.

O nascimento dos filmes B se deu por conta do fim do cinema mudo. Durante a transição, nos anos 20, muitos exibidores buscavam filmes mais curtos para realizar sessões duplas. Nascia aí o "Grind house", amplamente explorado décadas depois, que nada mais era que filmes B. 


As sessões priorizavam filmes simples, e consequentemente, baratos. Nascido na Era de Ouro de Hollywood se disseminou como um vírus (mas no bom sentido). Na época, reinavam os Westerns B, enquanto a Ficção e o Horror tomaram conta da década de 50, principalmente com o medo dos americanos por conta da guerra fria. 

E até hoje, os filmes B tem seu conceito distorcido. Muitos acham que se trata de obras que gostariam de ser obras de arte, mas não tinham orçamento para isto. Outros pensam que são filmes vagabundos, mal feitos e visando ser apenas figurantes enquanto as obras principais eram esperadas. 


Mas é um erro. Inclusive, muitos dos grandes diretores, atores, atrizes, roteiristas começaram neste cinema. E são reverenciados até hoje. Eu assisti a muitos filmes de John Wayne e John Ford que são filmes B. Roger Corman era o pai dos Filmes B (não pela ideia, mas pela quantidade de filmes executados. Pasmem: mais de 400 produzidos!!!).

Origem e primeiro filme

Não dá para cravar nem a origem exata, muito menos os primeiros filmes B. Situei acima quando foram implementados, mas o conceito já existia uma década antes. Grandes estúdios faziam distinção entre as suas produções, dando orçamentos bastante desiguais, e os filhos "pobres" eram, de certa forma, filmes B., ou seja, alguns gozavam de prestígio e outros, de baixo orçamento, tinham que trabalhar melhor as ideias para suprir a falta de investimento.


Muitas obras utilizavam dos mesmos cenários, atores e alguns casos, criaram algo como uma série de TV, com cada filme sendo equivalente a um episódio Provavelmente daí surgiram as séries de TV como conhecemos.

Mudo para o falado

O cinema mudo tinha suas particularidades. Uma delas é ter, em alguns cinemas, músicos ao vivo, dando dinamismo à exibição.  Com a chegada do filme sonoro aos cinemas americanos em 1929, muitos expositores independentes começaram a abandonar o modelo de apresentação então dominante, mesclando uma sessão dupla com animações ou curtas. E os custos de tudo isto foi norteando qual era a melhor direção. Existia um filme "principal" e ele seria exibido primeiro na região central e depois migraria para as regiões periféricas. Isto costumava tomar meses. De 3 a 6 meses no mínimo.


Mal comparando, eu cheguei a pegar filmes como Blade Runner e 9 1/2 semanas de amor exibidos durante um ano todo. E o último que me lembro, Titanic, ficou 6 meses em cartaz. Eram outros tempos. Hoje  um mega sucesso fica um mês e dois meses depois, já está disponível no streaming. Quer dizer, me refiro ao período pré-Pandemia, já que em 2020/2021 os filmes estão sendo lançados direto no streaming e com indícios irreversíveis.

Sobre estas diferenças orçamentárias, o presidente de uma empresa da "Poverty Row" (gíria usada em Hollywood desde a década de 1920 até meados da década de 1950 para se referir a uma variedade de pequenos estúdios produtores de filme B): "Nem todo mundo gosta de comer bolo. Algumas pessoas gostam de pão, e até mesmo certo número de pessoas gosta de pão velho em vez de pão fresco." 


Nesta linha de estúdios, alguns produziam poucos e saiam do mercado. Outros mantinham produções contínuas. Posso citar alguns: A Tiffany Pictures que funcionou de 1921 a 1932 como produtora (cerca de 90 filmes) e distribuidora; A Mascot Pictures foi formada em 1927 por Nat Levine e se fundiu com a Republic Pictures em 1935 (que se formou acampando esta e outras 5); E até um caso interessante: a CBC Productions, que mais tarde se tornou a Columbia Pictures, foi fundada por Harry Cohn, foi uma Poverty Row de 1919 até 1924.

Interessante que Republic Pictures foi tipo a CCE. Apesar de ter produzido alguns filmes de orçamento considerável, nunca perdeu a fama de estúdio de segunda classe, mesmo porque ela foi a rainha dos filmes B.


Adaptação

As maiores empresas de Hollywood resistiram à tendência dos filmes B, mas logo se adaptaram. No final das contas, todos estabeleceram "unidades B" para produzir filmes para este crescente mercado. O custo benefício era alto e poderiam ser adquiridos às cegas, sem medo de ter prejuízo. A Poverty Row formou a base cinematográfica enquanto os grandes estúdios levavam os filmes que entraram para a história. Talvez, não haveria um sem o outro. Não haveria um “Rastros de ódio” sem que a dupla Ford e Wayne tivessem passado pelo crivo dos filmes B. Para ter uma ideia, em 1935, a produção de filmes B na Warner Bros. aumentou de 12 para 50 por cento da produção total do estúdio. A Fox fez o mesmo. 

Um passeio pela história

Se olharmos as datas colocadas, percebemos um paralelo entre o início do cinema falado, as poverty rows e a crise de 29. Conhecida também como Grande Depressão, a crise foi uma forte recessão econômica que atingiu o capitalismo internacional no final da década de 1920. Marcou a decadência do liberalismo econômico, naquele momento, e teve como causas a superprodução e especulação financeira. Muitos tiraram suas próprias vidas enquanto outros nasceram nesta época de incertezas. 


O cinema falado veio nesta época (ou de uma necessidade de dar voz ao desespero) e com ele, as produções encareceram. E quem queria trabalhar com cinema, mas não tinha capital, criaram os pequenos estúdios fundo de quintal, que com poucos recursos, conseguiram entrar no radar do universo cinematográfico que se formava. Naquele ano, exatamente em 16 de maio de 1929, aconteceu a primeira cerimônia do Oscar, e era a chance de dar visibilidade a produções B.

A partir de 1931, o cinema hollywoodiano começou a sentir os efeitos da Grande Depressão de 1929, através da queda do número de espectadores. Numa tentativa de evitar a falência, as 5 maiores companhias da época se organizaram, de forma integrada e interdependente, em uma associação comercial denominada MPPDA (Motion Picture Producers and Distributors of América), que dominava conjuntamente o mercado cinematográfico através da produção, distribuição e exibição de cinema. 

As cinco companhias eram a MGM, Paramount, Warner Brothers, 20th Century Fox e RKO Pictures. Em torno delas giravam outros menores como a Columbia Pictures, a Universal Pictures e a United Artists, que eram de porte médio, além de algumas semi-independentes, como as de Walt Disney, Samuel Goldwyn, David O. Selznick entre outras. Por sua vez, as pequenas produtoras realmente independentes, tais como a Republic Pictures e a Monogram, eram subjugadas pelas grandes, sob condições de sobrevivência ditadas por elas.


Em poucos anos, os Westerns B proliferaram e com eles, nomes como Johnny Mack Brown, William Boyd (Hopalong Cassidy), Tim Holt, Allan "Rocky" Lane, Charles Starrett (Durango Kid), Rex Allen, Monte Hale, Fred Thomson, George O’Brien, Buster Crabbe, Kermit Maynard e Bill Elliott tomaram as sessões.

E como citado lá no início, os seriados eram um tipo de filme B, com ingredientes agradáveis, repetitivos, cenários idênticos, personagens facilmente identificáveis e os "perigos" que não faziam mal a ninguém, sem contar os figurinos, que pareciam saídos do guarda-roupa, sem um amassado ou sujo sequer. 

Neste sentido, a Republic Pictures reinou, considerada por muitos como a maior produtora de seriados. Cada episódio durava entre quinze e vinte minutos e era exibido nas matinês de sábado. O final sempre mostrava uma situação de perigo, o chamado "gancho" (cliffhanger), para obrigar o espectador a voltar na semana seguinte.  E não posso deixar de citar os inúmeros filmes Noir produzidos na época, além do cinema de guerra, que também tinha um público que adorava.


As histórias começaram a variar. Aventuras nas selvas, viagens interplanetárias, super-heróis dos quadrinhos, invasões por discos voadores, a polícia montada canadense, agentes secretos, o "perigo oriental", foras-da-lei (principalmente Jesse James), o FBI, mocinhos e bandidos mascarados, pilotos de aviões. 

Tenho a maioria deles em minha coleção e ainda que eu não tenha vivido naquela época, posso imaginar a reação ao ver, pela primeira vez, certas ideias colocadas na telona pela primeira vez. Deve ter sido mágico. E como era um período bem distante da rapidez com que as notícias chegam e formam opiniões, o público se divertia sem ser julgado por um espetáculo, apesar do orçamento Baixo.

Mediante seus roteiros baseados em fórmulas e seus orçamentos pobres, os filmes B foram, durante muito tempo, menosprezados, a despeito de terem sido grandes responsáveis pela manutenção da indústria regular do cinema. Suas qualidades só começaram a ser reconhecidas quando se começou a analisá-los “sob seus próprios termos”, isto é, quando se passou a considerar as condições em que foram feitas. 

Tudo o que tem um começo tem um fim
Oráculo - Matrix Revolutions

Como era de se esperar, os filmes B foram indo até perderem força no final dos anos 60. A Nova Hollywood marcou um novo momento do cinema. Hoje em dia, o termo Filme B passou a ser usado para se referir a qualquer filme comercial de baixo orçamento, com atores pouco conhecidos ou em decadência. Ou seja, distante do que realmente eram os filmes B, mas bem próximo do tom pejorativo que muitos rotulavam.


Após o pico dos memoráveis filmes do período entre anos 50 e 60, principalmente do cinema de ficção e horror, um nome entrou para a história: Roger Corman, que trouxe holofotes para nomes como Vincent Price, Jack Nicholson, Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Robert De Niro, James Cameron, Joe Dante, ou seja, a Nova Hollywood.

Roger Corman obviamente não se considerava pai ou rei dos filmes B, até porque, é uma imprecisão histórica. Em sua própria opinião, ele disse que nunca fez um filme B na vida. Na sua visão, ele fazia filmes exploitation de baixo orçamento. Certa vez disse: "Os filmes B 's morreram quando eu comecei a dirigir". Bom, talvez seja verdade.


A morte e ressurreição

Morreu com a Nova Hollywood e renasceu na Nova Hollywood. Na década de 1970, produtoras como a International Pictures, Film Ventures International, Charles Band Productions, Cannon Films, New Line Cinema, Golan-Globus, entre outras, partiram para a criação de uma nova geração de filmes B., mas a maioria quebrou nos anos 1980 porque, na prática, eram filmes pobres, mas com orçamentos maiores que os filmes B, e com resultados financeiros aquém.

Filmes como Tubarão, Poderoso Chefão, Taxi Driver, demoliram as chances destas produções B vingarem. Curioso é que elas têm um pai em comum: Roger Corman. Talvez ele estivesse parcialmente certo na declaração que deu; "Os filmes B 's morreram quando eu comecei a dirigir". Na realidade, ele criou os monstros que mataram os filmes B,

Roger Corman era o verdadeiro Coringa do cinema.


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