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O GRANDE DRAGÃO BRANCO (1988) - FILM REVIEW


Esporte sangrento.

Texto: M.V.Pacheco

Revisão: Thais A.F. Melo


Cinema é cultura. Sem ele, provavelmente não saberia quem foi Frank Dux e muito menos o Kumite. O Grande Dragão Branco veio ao mundo em dezembro de 1988 no Brasil e ainda é o melhor filme do ator belga Jean-Claude Van Damme, mesmo que sua filmografia seja bastante diversificada e com ótimos filmes.

Na trama, o soldado americano Frank Dux  (Van Damme) vai a Hong Kong para ser aceito no Kumite, uma competição de artes marciais altamente secreta e extremamente violenta. Enquanto tenta ganhar acesso ao mundo subterrâneo dos combatentes clandestinos, ele também tem que fugir dos oficiais militares que o consideram um desertor. Após suportar um treinamento difícil e começar um romance com a jornalista Janice Kent, é dada a Frank a oportunidade de lutar.


O filme é muito bem produzido. Sua direção é inspirada. Newt Arnold é um daqueles casos que gostaríamos de ver muitos outros trabalhos, mas isto não aconteceu. Ele não fez nenhum filme após este. Ele foi assistente de diretor de incontáveis obras-primas. Só para citar algumas: Pat Garrett e Billy the Kid, Os Implacáveis, O Poderoso Chefão II, Inferno na Torre, Blade Runner, O Comboio do Medo, Os Goonies, 12 Homens e uma Sentença, enfim, ele era o cara.  

O GDB foi um dos poucos filmes com cenas filmadas dentro da cidade murada de Kowloon antes de sua demolição. Em janeiro de 1987, o governo de Hong Kong anunciou planos para demolir a cidade. Depois de um árduo processo de despejo, a demolição começou em março de 1993 e foi concluída em abril de 1994.


Na produção há várias curiosidades sobre os lutadores, sendo a maior delas sobre Frank Dux, que será tratada mais abaixo. Michel Qissi (o Paredes) conhecia Jean-Claude Van Damme quando adolescente, e eles vieram para os EUA para se tornarem estrelas de ação juntos. Mais tarde, ele interpretou o principal vilão da série Kickboxer, o Tong Po.

O lutador Hossein (Mariano) foi realmente inconsciente por Van Damme, com um cotovelo no rosto. A cena entrou no filme. Paulo Tocha (o Paco) é um lutador consagrado na vida real de Muay Thai. A cena dele com Van Damme é uma das mais memoráveis, quando eles trocam chutes simultâneos na lateral do corpo. A cena foi quase real para os atores. Tocha teve o nariz quebrado na cena. 


Os shorts usados ​​pelo personagem ostentam as palavras "Sor Thanikul", impressas no silabário tailandês. Este é o nome da academia em que Tocha treinou como um concorrente legítimo de kickboxing. Tempos depois, Tocha usou suas conexões com a academia para torná-lo um local de filmagem para o projeto subsequente do ator Van Damme, Kickboxer: O Desafio do Dragão (1989).

A demonstração de Frank Dux é puramente ficcional, assim como o Dim Mak ("Toque da Morte"). É um golpe lendário no folclore chinês das artes marciais. O Dim Mak é um ataque de pressão, onde o atacante rapidamente golpeia seu oponente várias vezes (em sequência) em vários pontos do corpo. Golpear um oponente nesse método pode resultar em ossos quebrados, paralisia / espasmos musculares dolorosos ou até morte instantânea. A personagem de Pei-Pei Cheng , Jade Fox, usa um ataque paralisante do tipo Dim Mak em O Tigre e o Dragão (2000).



A maioria das falas de Bolo Yeung é semelhante às de Bruce Lee no Operação Dragão (1973), no qual Bolo também atuou. E ainda que Yeung transborde arrogância com o personagem, ele é uma pessoa extremamente simpática. Ele e Van Damme permanecem bons amigos até hoje.

Imprima-se a lenda

Talvez Frank Dux seja muito mais que um grande campeão.Talvez seja um grande mentiroso. Nos créditos finais de "O Grande Dragão Branco" apareciam estes dados, aparentemente reais: Nocaute mais rápido - 3,2 segundos; Soco mais rápido com um nocaute - 0,12 segundos; Chute mais rápido com um nocaute - 72 mph; Nocautes mais consecutivos em uma competição - 56.

Não sei se por inocência de uma época, mas aparentemente Dux se inventou. E olha que ele foi o coordenador das lutas neste filme. Quando Jean-Claude Van Damme foi escalado, Dux anunciou que Van Damme não estava em boa forma e o colocou em um programa de treinamento de três meses. Van Damme, que era atleta, considerou a preparação a mais difícil de sua vida. Se mentiu, ele se passou de forma muito convincente por um experiente lutador. 


As dúvidas surgiram sobre sua veracidade durante o processo. A maioria dos entusiastas de artes marciais vê seus relatos de competir em torneios secretos como ficção completa, juntamente com suas alegações de que ele era um agente secreto da CIA. Alguns apontaram que ninguém mais se apresentou para confirmar sua história sobre competir em torneios secretos, ou contou sua própria versão. Ele nunca esteve em nenhum ramo militar, muito menos na CIA. Sua marca pessoal de artes marciais, Dux Ryu Jitsu, é uma fabricação completa e Frank Dux provavelmente nunca venceu ou sequer competiu em um único torneio de artes marciais. Sério isto, não? Se for mesmo mentira, ele enganou a todos: produção, fãs, e principalmente nós, telespectadores que adoram ao filme como eu, ao longo de várias décadas.

Frank Dux afirma que o Kumite em que ele competiu ocorreu nas Bahamas. Segundo ele, o personagem interpretado por Donald Gibb foi baseado no ex-motociclista e praticante de jiu-jitsu Richard Robinson. Curiosamente, ele é o único lutador que não carrega traços de nenhuma arte marcial específica. É como se o personagem, simplesmente, distribuísse porradas aleatórias e vencia as lutas pela força. E só. 


Achei um resultado (que não confirmei obviamente), mas nos faz pensar. Para ter 56 nocautes consecutivos em um único torneio de eliminação, você precisaria de 72.057.594.037.927.936 quatrilhões de lutadores para participar. Imagine uma copa do mundo de futebol, por exemplo, que tem 32 times, a seleção precisa de 6 jogos para ir à final. Por tanto, quanto maior o número de jogos, maior tem que ser o número de lutadores nas primeiras lutas. 

E como era um torneio no submundo, não poderia haver uma concentração de lutadores tão absurdamente grande sem serem notados, ainda mais contando público e eventuais torcedores. Os números são expressivos, principalmente se levarmos em conta que a população mundial em 1980, por exemplo, era de 4,4 bilhões de pessoas. 


O lance é que meses depois do lançamento do filme, o jornal LA Times publicou uma reportagem mostrando que tudo era uma farsa. E claro, não foi aleatório. O jornal foi atrás dos registros no exército e chegou à conclusão de que ele nunca esteve na Ásia. A reportagem não encontrou indícios de que Frank Dux tenha sido o campeão absoluto com 56 nocautes consecutivos entre 1975 e 1980, como afirma. Ainda mostrou um recibo indicando que um dos troféus exibidos por ele foi comprado em uma loja de penhores. 

Pode falar leitor, ficou com vergonha de ter acreditado nele né? Bom, como eu disse, todos foram enganados. Imagine o elenco recebendo o "astro", tirando fotos, dando dicas... Ou seja, é uma espécie de Marcelo Nascimento (aquele que fingiu ser um monte de coisas aqui no Brasil, como o fundador da Gol, Henrique Constantino). A verdade é uma só: ninguém checa nada antes, e um mentiroso assume uma identidade falsa facilmente. 


Dux defende até que a cena do pó nos olhos do personagem na luta final realmente aconteceu com ele.  Bom, de toda forma, como uma das linhas mais famosas do cinema: "Quando a lenda é mais interessante que a realidade, imprima-se a lenda ". John Ford é que tinha razão. Como amante de cinema, o melhor é acreditar na magia deste mundo irreal, que tanto parece real e nos captura para lugares que gostamos de acreditar que são reais.

Portanto, não importa muito se Frank Dux é uma invenção de Frank Dux. O que importa é O Grande Dragão Branco é um filmão...

E claro, baseado em fatos reais. 

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