TUFF TURF: O REBELDE (1985) - FILM REVIEW
Tuff Turf.
Texto: M.V.Pacheco
Revisão: Thais A.F. Melo
Impressionante como os filmes dos anos 80 exerceram um poder sobre minha paixão acerca do cinema. Como pode uma obra como Tuff Turff ou American Ninja ser revista por mim mais de 100 vezes? Mais que um Bergman ou Hitchcock?
Entrevistei mais de 150 atores, diretores, atrizes, cinéfilos, colecionadores do mundo todo e esta situação era comum com todos os apaixonados por cinema: havia sempre algum filme entre os preferidos que parecia inexplicável. Mas a verdade é que há filmes que exercem esta força em nossas vidas.
Hoje vou falar de um destes filmes: Tuff Turf - O Rebelde. Para começar, assisti ao filme como disse mais de 100 vezes sem entender o título. Não fazia ideia que pode ser traduzido como "Território difícil", que é totalmente adequado ao filme. O filme foi exibido "pela primeira vez na TV" no Cinema em Casa do SBT no dia 03/05/1989. Faz tempo não?
A história nos mostra o jovem rebelde Morgan (Spader), que se muda com a família recém-falida de Connecticut para Los Angeles. Envolve-se com Frankie (Kim Richards, tia de Paris Hilton na realidade), cujo namorado Nick (Mones) é líder de uma violenta gangue local. O filme nos mostra a dinâmica das novas amizades se formando, as diferenças sociais que sempre existiram e falta de perspectiva dos jovens, que se entregavam às drogas e a diversão como primeira opção.
A trilha sonora é tão marcante que virou uma das minhas obsessões (nos tempos áureos de colecionar CDs de trilhas sonoras, eu nunca consegui achar esta, que hoje pode ser baixada com facilidade ou mesmo escutada no Spotify).
O filme tem 4 nomes que despontam: Kim Richards, Paul Mones, James Spader e Robert Downey. Mones, atualmente com 65 anos, não levou à carreira adiante. Fez este e Ruas de Fogo (de Walter Hill) um ano antes. Escreveu o roteiro de 2 filmes famosos do astro belga Jean Claude Van Damme (Desafio Mortal e A Colônia, em 1996 e 1997, respectivamente). Também dirigiu na mesma época Perigo em Família (1992) e Santos e Pecadores (1994).
Kim Richards começou cedo a carreira, ainda criança. Nascida em 1964, sua primeira participação foi em 1971. Ela também tem uma "função" do lado de cá das telas: é tia da famosa socialite Paris Hilton. E para finalizar, o Homem de Ferro e o Ultron. A dupla Robert Downey (na época pré-confusões, prisões, etc.) e James Spader, bem antes da série Blacklist, dão o tom ao desenrolar da trama: um pelo humor (mas que parece deslocado do mundo) e outro pela dor (que parece que não encontra o seu lugar no mesmo mundo).
A cena do clube pontua bem isto. Enquanto Downey se diverte como um bobo da corte de um castelo que não o quer, Spader canta romanticamente no piano, mas que, no fundo, transmite a dor da letra para o público. Diferenças irremediáveis de classes e perspectivas.
O filme ainda tem alguns veteranos bem conhecidos, Matt Clark (ainda vivo e fez trabalhos até poucos anos) e Art Evans, que ainda trabalha no cinema. A direção ficou a cargo de Fritz Kiersch, que fez três clássicos da era VHS: Colheita Maldita, que adapta uma obra de Stephen King e foi sua estreia na direção, Tuff Turf e Gor e os Guerreiros Selvagens, outro filme muito alugado e inexplicavelmente inédito em DVD ou Bluray no Brasil.
O filme mistura choque de cultura com a inocência quase cartunesca dos anos 80. O que dizer, por exemplo, da sequência final? De tão intensa e dramática, uma morte ocorre. E o que acontece? A polícia chega? Prende alguém? Chega a ambulância? Nada disto. Os personagens vão para uma boate dançar.
Como diz um personagem: a vida não é um problema a ser resolvido, é um mistério a ser vivido. Então, se você ama Tuff Turf, faça como eu, não tente entender o porquê: apenas ame e reveja até o cabeçote gastar.