google-site-verification=21d6hN1qv4Gg7Q1Cw4ScYzSz7jRaXi6w1uq24bgnPQc

EDWARD, MÃOS DE TESOURA (1990) - FILM REVIEW

 edward-maos-de-tesoura-1990-film-review

Edward, mãos de tesoura

Texto: M.V.Pacheco

Revisão: Thais A.F. Melo


Tim Burton é um destes diretores que conseguiu criar um estilo próprio tão forte e marcante que acabou se tornando escravo dele. Principalmente na expectativa. E quando foge do padrão, como Grandes Olhos, causa imensa estranheza. Mas, em contrapartida, quando seu estilo não encaixa com a obra (como Planeta dos Macacos), se torna um fracasso. 

E os filmes que delinearam seu cinema foram Os Fantasmas se Divertem, Batman e Edward, Mãos de Tesoura. O primeiro por popularizar seu talento, o segundo para render muita grana e o terceiro por caracterizar seu estilo narrativo que o acompanharia por décadas. Principalmente, por ser o início da parceria com Johnny Depp.

Na história do filme, Peg Boggs (Dianne Wiest) é uma vendedora da Avon que acidentalmente descobre Edward (Johnny Depp), jovem que mora sozinho em um castelo no topo de uma montanha, criado por um inventor (Vincent Price) que morreu antes de dar mãos ao estranho ser, que possui apenas enormes lâminas no lugar delas. Isto o impede de poder se aproximar dos humanos, a não ser para criar revolucionários cortes de cabelos, mas ele dá vazão à sua solidão interior ao podar a vegetação em forma de figuras ou esculpir lindas imagens no gelo. No entanto, Edward é vítima da sua inocência e, se é amado por uns, é perseguido e usado por outros.

A ideia do filme foi inspirada em um desenho que Tim Burton fez quando era adolescente. O desenho representava um homem magro e solene com lâminas longas e afiadas no lugar dos dedos. “Como eu gostava de desenhar desde que era mais jovem, muitas vezes surgiam imagens e ficavam com você, e você continuava desenhando. Esse foi um personagem que desenhei um tempo atrás”, diz ele. 

Ele explica que o personagem o representou como ele era na adolescência e como o filme representa grande parte de seu crescimento. Ele comparou crescer no subúrbio a um filme de Frankenstein com os suburbanos agindo como os aldeões furiosos. Burton também afirmou que muitas vezes ficava sozinho e tinha problemas para manter amizades: “Tenho a sensação de que as pessoas simplesmente têm esse desejo de querer me deixar em paz por algum motivo, não sei exatamente por quê”.

De certa forma, Burton seguiu com estes tipos "estranhos" ao longo da carreira e se fazendo valer das caras, bocas, maquiagens do ator Johnny Depp, sendo ele uma espécie de alter ego do diretor. O papel do inventor foi escrito especificamente para Vincent Price. Esta foi outra marcante característica de Burton ao longo dos anos: resgatar atores, principalmente do cinema de horror, para pequenos, mas importantes papéis. O papel de Vincent Price era para ser maior, mas o ator veterano estava muito doente com enfisema e doença de Parkinson, então suas cenas foram reduzidas ao mínimo. O bairro é baseado na cidade natal de Tim Burton, Burbank, Califórnia. As casas usadas no filme eram de uma comunidade real na Flórida, completamente inalteradas, exceto por sua pintura exterior extravagante.

Embora Tim Burton não conhecesse a então popular atuação de Johnny Depp em Anjos da Lei (1987), ele sempre foi a primeira escolha do diretor. No momento de seu casting, Depp estava querendo sair do status de ídolo adolescente que sua atuação em "Anjos da Lei " lhe proporcionou. Para se preparar para o papel, Depp assistiu aos filmes do ator de cinema mudo Charles Chaplin para ter uma ideia de como expressar emoções sem diálogos.

Curiosamente, o primeiro papel de Johnny Depp no cinema foi em A Hora do Pesadelo (1984), em que o assassino Freddy Krueger usava luvas com lâminas. Além disso, Winona Ryder também fez o teste para o papel de Kristen em A Hora do Pesadelo 3: Os Guerreiros dos Sonhos (1987), e mais tarde foi considerada para o papel de Julie em O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy Krueger (1994). Os papéis eventualmente iriam para Patricia Arquette e Tracy Middendorf, respectivamente. E em  Sweeney Todd, Depp também usa lâminas... Além disto, na segunda colaboração de Burton com Depp, o personagem título também se chama Edward (Ed Wood de 1994)...

Tim Burton pediu a Robert Smith, do The Cure, para fazer a trilha sonora, e até enviou o roteiro. Robert estava ocupado gravando "Disintegration" na época, e não sabia quem era Burton, então perdeu a oportunidade, entregando o trabalho a Danny Elfman. Mesmo assim, o cabelo de Edward é baseado no cabelo de Robert, Depp e Winona Ryder namoraram durante as filmagens deste filme e ficaram noivos naquele ano mesmo.

Quando Edward está cortando o cabelo das mulheres da vizinhança, a música instrumental soa semelhante a um medley de Sweeney Todd, embora não seja realmente uma amostra direta. Tim Burton e Johnny Depp posteriormente fizeram o atual Sweeney Todd, o Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet em 2007. Inclusive, a primeira cena em que Dianne Wiest encontra Depp na mansão, a cena do sótão é muito similar à de  Sweeney Todd.

Nesta mesma cena em que Peg Boggs entra na mansão, ela recua até a base da escadaria, onde logo atrás dela está uma estátua que lembra o homem Oogie Boogie em O Estranho Mundo de Jack (1993), também escrito e produzido por Burton.

Rick Baker foi o primeiro a fazer os efeitos de maquiagem para este filme. Mas Baker estava ocupado fazendo Gremlins 2: A Nova Geração (1990). Rob Bottin também havia sido abordado, mas estava trabalhando em O Vingador do Futuro (1990). Burton finalmente abordou Stan Winston, tendo ficado impressionado com seu trabalho em filmes como O Exterminador do Futuro (1984) e Aliens, o Resgate (1986). Winston concordou em trabalhar no filme.

Para construir as mãos de tesoura, Stan Winston e sua equipe procuraram todos os tipos diferentes de tesouras e tesouras de poda já feitos. Se os espectadores olharem para as mãos de Edward, observe que cada dedo parece muito diferente do outro. Uma vez que o projeto final foi estabelecido, muitos conjuntos de mãos de tesoura foram feitos. A maioria delas eram lâminas de resina leves e muito seguras, vacumetalizadas para lhes dar a aparência de metal, mas, na verdade, havia algumas verdadeiras construídas apenas para tomadas de inserção.

Edward, no final das contas, é uma história triste, pessimista (Tom Cruise rejeitou o papel por conta do final), onde não há redenção. O personagem é levado para o mundo, que o rejeita por sua estranheza ao mesmo tempo, em que o acolhe por interesse. E quando Edward se apaixona, o roteiro faz questão de desmistificar o tom de conto de fadas, tornando a história de amor trágica e não consumada. 

Esse filme mostra que se você é diferente, as pessoas podem fingir que te aceitam, mas, na verdade, apenas te toleram por curiosidade ou enquanto tem benefícios. Fora isso, uma hora as diferenças pesam muito para quem é supostamente normal. E em um momento, parece que todo o mal do mundo se torna culpa de quem é diferente...

Ponto para Burton. Nos fez amar Edward, sentir empatia por sua dor, torcer por seu romance, para no final, nos transportar de volta para a realidade. E esta frustração, torna o filme inesquecível. 

Tecnologia do Blogger.