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A ALDEIA DOS AMALDIÇOADOS (1960) - FILM REVIEW

 

Vila dos condenados.

Texto: M.V.Pacheco

Revisão: Thais A.F. Melo


A paranoia americana e a invasão alienígena no cinema dos anos 50

Com o fim da Segunda Guerra em 1945, travada entre os países do Eixo (que eram basicamente, Alemanha, Itália e Japão) contra os Aliados (resto do mundo...). A vitória (óbvia?) dos Aliados, gerou um virtual novo conflito, novamente pelo poder e controle: a Guerra Fria, entre os vitoriosos EUA e URSS.

É chamada "fria" porque não houve uma guerra direta entre as duas superpotências. A corrida armamentista pela construção de um grande arsenal de armas nucleares foi o objetivo central durante a primeira metade da Guerra Fria, estabilizando-se na década de 1960 até à década de 1970 e sendo reativada nos anos 1980 com o projeto do presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan chamado de "Guerra nas Estrelas".

Nesta época houve toda a questão espacial, gerando muitas teorias de conspiração, inclusive uma de que os EUA não foram à Lua como exibido na TV, sendo aquilo um filme dirigido por Stanley Kubrick (!!!) para iludir as pessoas sobre a suposta superioridade norte-americana na corrida espacial. Para quem não lembra, a URSS já havia mandado Yuri Gagarin no espaço, saindo na frente da corrida.

O feito de Gagarin, primeiro homem a orbitar a Terra, não foi transmitido ao vivo, como a posterior viagem à Lua, mas repercutiu em todo o planeta. “Nunca antes na história um ser humano via o seu mundo deste ponto de vista exterior. Um novo ambiente passou a ser explorado naquele dia. A volta que Yuri Gagarin deu ao mundo foi um passo vital para a conquista espacial”.

A guerra, como dito, não ocorreu. Mas os efeitos da Guerra Mundial e da iminência de um novo conflito geraram pavor, tensão e paranoia na população. As manifestações artísticas, eram fortemente influenciadas por esta questão. E o cinema não ficou de fora, claro. O conflito foi reinterpretado em vários e vários filmes, principalmente nos filmes de ficção. Geralmente tratavam de temas como morte coletiva, monstros radioativos, testes nucleares, bases subterrâneas, mísseis, satélites, supercomputadores e até mesmo o "botão vermelho".

A ideia era que as pessoas refletissem sobre o assunto. Como nessa guerra tudo era invisível e secreto, a imaginação sobre como as instituições estariam se comportando ou deveriam se comportar preencheu a falta de informações reais. De certa forma, o filme concretizava os pesadelos do pós-guerra, como fragmentação social, guerras com bombas atômicas, colapso social e econômico, perda da humanidade, excesso de racionalismo, invasões alienígenas, fim da privacidade, militarismo, fim do mundo.

Afinal, como esquecer filmes como "O Dia em que a Terra Parou", "Vampiros de Almas" e "Guerra dos Mundos"? Assim nasceu este cinema, que mostram, exatamente, as fobias sociais que se instauraram na época.

Todos estes tinham como base o medo. O medo de os americanos não serem eles mesmos, da iminente destruição, de perder a humanidade, de sofrerem mutações, de perder a identidade. E de forma indireta, as invasões extraterrestres eram a forma que todos estes medos se manifestavam e se encaixavam perfeitamente, inclusive.

O que nos leva a Aldeia dos Amaldiçoados

Baseado no livro The Midwich Cukkoos, de John Wyndham, e lançado em 1957, o filme trata de um conflito insólito na cidade interiorana de Midwitch, na Inglaterra, onde certo dia, de maneira súbita, todos os moradores desmaiam ao mesmo tempo, e ficam assim por algumas horas, até que estranhamente todos despertam. Meses depois, doze mulheres dão à luz, ao mesmo tempo, a crianças assustadoramente idênticas: inteligentes, platinadas e não demonstram sentimentos por ninguém, exalando frieza diante de seus olhares penetrantes e posturas manipuladoras.

O título do livro refere-se ao fato de que, quando os cucos põem ovos, eles os depositam nos ninhos de outros pássaros (insuspeitos), que então criam os filhotes de cuco como seus. Para agravar a natureza insidiosa desse processo, os filhotes dos cucos muitas vezes matam seus companheiros de ninho em competição por comida e atenção dos pais.

Originalmente planejado para começar a pré-produção no mesmo ano em que o livro saiu, o roteirista Stirling Silliphant disse que o escreveu com Ronald Colman em mente, mas na época, o produtor Milo O. Frank Jr. queria que Glenn Ford estrelasse. Este impasse fez a MGM reprogramar as filmagens duas vezes. Uma delas porque em 19 de maio de 1958, Ronald Colman  faleceu, vítima de infecção pulmonar e deixando a atriz Benita Hume, viúva. Ela casou-se com George Sanders em fevereiro do ano seguinte.E numa daquelas situações inusitadas da vida, Sanders estrelou o filme, já que Glenn Ford estava ocupadíssimo com outras produções da própria MGM. 

A obra era para ser filmada nos EUA, mas a MGM relocou a equipe para seus estúdios britânicos. Wolf Rilla foi designado para dirigir. Devido aos prazos, ele teve um fim de semana para reescrever pontos o roteiro de Stirling Silliphant, pois era claramente adequado para ser filmado nos EUA.

E foi um grande acerto da MGM, pois a trama pedia por um ar mais britânico. Curioso como, enquanto o filme trata da paranoia da Guerra Fria, podemos olhá-lo com a ótica atual. Eu vejo pequenos ditadores, que reagem ao serem ameaçados. Vejo um governo controlador, que coloca todos a mercê dos seus atos. 

Isso mostra como o filme permanece atual. A diferença é que o inimigo agora é outro.


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