google-site-verification=21d6hN1qv4Gg7Q1Cw4ScYzSz7jRaXi6w1uq24bgnPQc

VIDAS EM JOGO (1997) - FILM REVIEW

 vidas-em-jogo-1997-film-review

O jogo.

Texto: M.V.Pacheco

Revisão: Thais A.F. Melo


“Vidas em Jogo” funciona como um precursor de Clube da Luta, que sairia 2 anos depois.  Na história, que se passa em São Francisco, Nicholas Van Orton (Michael Douglas), um banqueiro milionário no seu 48º aniversário (a idade do pai quando se suicidou), ganha de presente do seu irmão Conrad (Sean Penn), um cartão que lhe dá acesso a um divertimento incomum, organizado pela empresa Serviços de Recreação do Consumidor. 

Deste momento em diante, Nicholas se vê envolvido em um perigoso "jogo", que parece ter como objetivo matá-lo. Ele já não sabe em quem confiar, pois qualquer pessoa pode ser um assassino em potencial. Nicholas resolve então ir à polícia denunciar o ocorrido, mas quando chega à sede da empresa encontra apenas um andar vazio, sendo que a administradora do prédio nega que esta firma tenha tido no passado um escritório ali. Ele então toma consciência que tem de lutar sozinho para manter-se vivo e evitar que as pessoas por trás disto concluam o plano de roubar todo o seu dinheiro.

O cinema de Fincher, notoriamente seus 4 primeiros filmes, foram construídos em função de um plot twist no final, digno de algumas obras do diretor M.N. Shyamalan, que fazia isto na mesma época e curiosamente lançou O Sexto Sentido no mesmo ano de Clube da Luta (1999), tornando o ano um registro importante dos plot twists na história do cinema (Matrix, A Bruxa de Blair, O Suspeito da Rua Arlington e até mesmo À Espera de um Milagre, só para citar alguns mais famosos).

“Vidas em Jogo” sairia antes de Seven, mas a prioridade do diretor era fazer o filme com Brad Pitt, que se tornou disponível antes do planejado, tornando Seven a sua prioridade. O diretor colocou “Vidas em Jogo” em stand by.  Inicialmente, quem daria um sacode na vida de Van Orton (Michael Douglas) seria a irmã, Jodie Foster. A atriz foi contratada para o papel, mas ela queria fazer o papel de filha de Douglas. Eles não chegaram a um acordo e Penn foi chamado para o lugar dela.

A conversa que rolou nos bastidores era de que Douglas não quis Foster como filha por conta da diferença de idade, o que não faz qualquer sentido, já que eles têm 18 anos diferença, além de terem interpretado pai e filha numa produção anterior da Disney, chamada Napoleão e Samantha de 1972.

Mas a história não acabou aí. Por conta do contrato verbal, Foster disse ter "saído do mercado", já que outras empresas não poderiam considerar projetos porque ela estava comprometida. E consequentemente, perdido trabalhos. Por este motivo, processou a PolyGram. Detalhe: a produtora Egg Pictures, fundada por Foster, era associada da PolyGram. Num olhar superficial, parecia apenas processo típico de Hollywood. Mas se analisarmos os envolvidos foi uma situação atípica. Foster mandou seu recado para a indústria. No final, tudo terminou com um acordo e a atriz estrelando o próximo filme de Fincher, O Quarto do Pânico. 

Como de costume, nomes interessantes tomaram a frente do projeto, antes de Fincher pegar a direção. Jonathan Mostow foi originalmente escalado para dirigir o filme em 1993, com Kyle MacLachlan como Nicholas Van Orton e Bridget Fonda como Christine. Mostow terminou indo para outro projeto, que também virou cult, Breakdown: Implacável Perseguição, com Kurt Russell. E Jeff Bridges foi sondado para o papel de Conrad Van Orton depois que Jodie Foster saiu do filme. 

Alienação e solidão

Como eu disse no primeiro parágrafo, “Vidas em Jogo” é uma prévia de Clube da Luta por tratar temas caros à filmografia de Fincher: alienação e solidão. O grand finale de “Vidas em Jogo” pretende o que Tyler Durden faz a cada 5 minutos: fazer o público pensar na futilidade da vida e que perdemos muito tempo nos realizando em cima de coisas sem importância. A vida de Nicholas (Douglas) é uma variação de Edward Norton em Clube da Luta (a diferença maior entre os dois é o status) enquanto o irmão de Nicholas, interpretado por Penn faz o papel da pessoa que dá o empurrão na vida do personagem principal, fazendo com que ela ande, tal como Tyler Durden. 

Ainda que sob contextos diferentes e tratando de realidades distintas, os personagens são similares em suas motivações iniciais. Mas Fincher mostra que sendo ou não milionário, a alienação e solidão se tornam cada vez mais comuns, levando à depressão e em muitos casos, o suicídio. Curioso que, num outro paralelo, os personagens dos dois filmes se matam no final (uma de forma fake e a outra sugerida), reforçando o discurso do diretor. 

Enquanto revejo o filme, pude notar várias outras semelhanças, como o fato de que Nicholas vive alienado e só "enxerga" algo fora da casinha através do seu irmão Conrad (Sean Penn). Da mesma forma, Edward Norton, que precisa de Durden para também conseguir sair do seu mundo. Inclusive, a personalidade de ambos é oposta, o que torna real a mudança drástica na vida de ambos protagonistas dos filmes. 

Quanto à parte técnica, “Vidas em Jogo” é um primor. O diretor usa de forma hábil movimentos de câmera, iluminação e edição para manter a trama interessante, criando uma atmosfera de suspense e opressão. As reviravoltas vão acontecendo aparentemente de forma inverossímil (o roteiro é brilhante), mas que pretende funcionar como se Nich flertasse com o surreal para buscar uma contrapartida de sua realidade, absurdamente controlada e monótona.

Um filme que resistiu ao tempo e que fez parte da vida inteligente que permeou o cinema desde meados da década de 90 e culminando com o histórico 1999, considerado um dos melhores da história. E David Fincher estava lá, cravando seu nome no imaginário de quem ama cinema como um dos cineastas mais interessantes que surgiram para contar histórias cada vez mais marcantes e inovadoras.   


Tecnologia do Blogger.