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ALLIGATOR: JACARÉ ASSASSINO (1980) - FILM REVIEW

 

Jacaré.

Texto: M.V.Pacheco

Revisão: Thais A.F. Melo


A arte pontua nossas vidas de forma poderosa. Falo pela intimidade com o cinema e música, principalmente. Funciona como um ponto de restauração. Como se pudéssemos reviver certos momentos. Só não dá para modificá-los como no filme Efeito Borboleta. E o mais curioso nesta pontuação impressa no nosso DNA, é que não faz diferença se o filme é ruim ou bom. Ele apenas marca. Quando o filme é O Poderoso Chefão, você fala com orgulho, já que é uma das obras-primas do cinema, mas quando se trata de American Ninja ou Invasão USA, você os nomeia como Guily pleasures, que são filmes que, por algum motivo, você se sente culpado por gostar tanto.

O portal do tempo hoje foi aberto por Alligator, que curiosamente tem Michael V. Gazzo, o Frankie Pentangeli de  O Poderoso Chefão 2. E já de início, logo após voltarmos ao passado, pulamos para o futuro (parece roteiro de certa trilogia clássica não?) e percebemos como Bong Joon-ho homenageou (ou copiou descaradamente) Alligator com seu "O Hospedeiro", que convenhamos, é uma obra prima anos luz do trash em questão.

Alligator - O Jacaré Assassino começa com um trágico show, onde um jacaré ataca o criador. Uma família que assistia à apresentação traz um filhote de jacaré do local sem o consentimento do pai, que ao descobrir, se livra do problema jogando o filhote na privada. Ele sobrevive e, nos esgotos, alimenta-se de lixo, tornando-se um monstro gigantesco que sai às ruas da cidade fazendo vítimas.

A primeira vez que vi o filme foi no SBT, exibido "pela primeira vez na televisão" na Semana Papai Noel em 1985. Detalhe: estou escrevendo este post há uma semana do Natal (2022). O filme traz diversos elementos de Tubarão e Tubarão 2 (a cena do fotógrafo, no caso). O diretor Lewis Teague fez em seguida Cujo e Olhos de Gato, mostrando sua predileção com animais em cena (depois deu um upgrade em sua filmografia com Joia do Nilo, Comando Imbatível e Aliança Mortal).

O cultuado diretor John Sayles foi roteirista (!!) enquanto Bryan Cranston (!!!), de Breaking Bad, trabalhou no filme como assistente de produção do departamento de efeitos especiais. Robert Forster improvisou todas as piadas a respeito de sua calvície, ainda que, curiosamente, não tenha ficado completamente calvo ao longo da vida.

"Ramon", o crocodilo animatrônico que vivia com defeito durante a produção, foi posteriormente doado ao Florida Gators da Universidade da Flórida em Gainesville, para ser mascote do time. Ramon fez várias aparições antes dos jogos e durante o intervalo. Conforme o diretor Lewis Teague, o filme deveria ter trilha sonora de James Horner (!!!!!!!!!!!), que, na verdade escreveu uma trilha sonora completa para ele. No entanto, devido a uma greve na indústria, ele não conseguiu gravar sua partitura e foi substituído por outro compositor.

O roteiro "original" Frank Ray Perilli, descartado pelo diretor, era ambientado em Milwaukee e dizia que o crocodilo teria ficado gigante devido à cerveja nos esgotos. Esta ideia tosca foi prontamente substituída por hormônios de crescimento injetados nos jacarés. Robert Forster era amigo do pintor Ramon Santiago e sugeriu que incluíssem uma pintura sua na parede da casa de seu personagem. E veio a ser também o nome do jacaré, como dito acima.

O roteirista John Sayles também escreveu Mercenários das Galáxias (1980), de Roger Corman, lançado em 1980, mesmo ano deste filme. Nesse período, Sayles também escreveu o primeiro rascunho de um roteiro para Steven Spielberg conhecido como "Night Skies", que nunca foi feito, mas ajudou a inspirar ET: O Extraterrestre (1982) (que inclui uma menção sobre "jacarés nos esgotos").

No prólogo que mostra a jovem Marisa e seu filhote de estimação, o jacaré Ramon, em casa, para marcar o período, o noticiário do rádio menciona tumultos na Convenção Democrata de Chicago, ocorrida em 1968. Robert Forster estrelou o filme Dias de Fogo (1969), centrado nesses mesmos motins.

Este é um dos filmes que tiveram coragem de matar uma criança inocente (fiz um post sobre o tema, leia aqui). A cena, que ocorre em torno de 1 hora, é sangrenta. O grafite nas paredes do esgoto no final do filme é uma referência ao personagem de Orson Welles no filme O Terceiro Homem (1949), que também fiz um texto sobre ele, que também foi lançado pela Classicline em Bluray. Este mesmo texto pode ser encontrado no encarte da edição.


 

A morte do caçador (Henry Silva) é praticamente idêntica à do clássico de Steven Spielberg, alterando apenas o animal e o cenário, que aqui é urbano. Alligator foi o último filme de Sue Lyon (1946-2019), a Lolita no filme de Stanley Kubrick (1928-1999). Sue se casou 5 vezes, e em uma das vezes, conheceu Gary "Cotton" Adamson na Penitenciária Estadual do Colorado, onde ele cumpria pena por assassinato e roubo. Ela trabalhava como garçonete e morava em um hotel nas proximidades de Denver. Sue se casou com ele em 1973 e começou a trabalhar pela reforma da prisão e pelos direitos conjugais. Ela não voltou mais ao mundo cinematográfico. No filme ela faz a repórter que Henry Silva flerta, uma referência à Lolita, já que ele era muito mais velho (22 anos)

Aqui temos a penúltima aparição de Dean Jagger (da infame morte no carro, durante a festa de casamento). E detalhe: o último filme dele foi o seguinte, lançado 7 anos depois e dirigido por Curtis Hanson (1945-2016) de Los Angeles: Cidade Proibida. A obra nem foi lançada aqui e chama-se Evil Town.

E para finalizar, a garotinha do início do filme, anunciada como a jovem Marissa e interpretada por Leslie Brown, é Marisa (Robin Riker), a herpetóloga e interesse amoroso de Robert Forster. Seu jacaré bebê de estimação, a quem ela chamou de Ramon, é o jacaré gigante do filme. Este é um exemplo irônico de causa e efeito: se seu pai a tivesse deixado ficar com o crocodilo, ela e o personagem de Forster provavelmente nunca teriam se conhecido.

Em tempo, Alligator 2: A Mutação é uma continuação que não marcou época, mas vale a pena ser conhecido. Dirigido por Jon Hess de O Limite do Terror e produtor de A Outra História Americana (1998), o filme traz no elenco nomes como Dee Wallace (de E.T e Cujo), o eterno vilão Richard Lynch de Invasão USA, Steve Railsback de Força Sinistra, Kane Hodder (O Jason Jason Voorhees mais popular) e Ramon Estevez, irmão de Emílio Estevez e Charlie Sheen).

E na história....ah...quem se importa? 



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