DRÁCULA: O PRÍNCIPE DAS TREVAS (1966) - FILM REVIEW
Terence Fisher foi, sem dúvidas, o diretor mais memorável dos estúdios Hammer. Ele ousou trazer de volta, com maestria, os monstros do cinema mudo (Lobisomem, Drácula, Frankenstein, Mr. Hyde, Fantasma da Ópera e Múmia), além de explorar temas caros ao cinema de horror. Se hoje pareça datado, nos anos 60 era soberbo. Reinou quase absoluto (Freddie Francis e Roy Ward Baker também faziam das suas). Apesar de sua temática ser sombria e escatológica, seus filmes foram comercialmente bem sucedidos.
Com Fisher, veio um dos mais importantes e queridos Dráculas do cinema: O Horror de Drácula, de 1958. O sucesso nos deu uma ótima saga de cinema, além de nos agraciar com a dupla Cushing e Lee em vários filmes, rivais mortais em cena, mas muito amigos do lado de cá das telas.
E na série de filmes, há produções mais queridas e outras, menos. Drácula: O Príncipe das Trevas. A história acompanha jovens casais viajando em férias e que aconselhados por moradores de um pequeno vilarejo na região das Montanhas Carpathians a desistir de seus planos. Segundo os habitantes da região, uma maldição vive escondida no interior da floresta. Julgando tratar-se de mera superstição dos moradores locais, os viajantes ignoram o aviso e partem em direção ao desconhecido. Abandonados pelo cocheiro em pleno interior da floresta, eles caminham até um castelo onde poderão contar apenas com a hospitalidade do... Conde Drácula.
O filme se passa em 1895, ano em que o mundo viu o cinema pela primeira vez. A obra foi filmada consecutivamente com Rasputin: O Monge Louco (1966), usando muitos dos mesmos membros do elenco e cenários. O filme também tinha Lee no papel principal, mas foi dirigido por Don Sharp. Francis Matthews (Charles Kent) e Suzan Farmer (Diana Kent), por exemplo, interpretaram um casal no filme Drácula. Já em Rasputin, eles interpretaram os irmãos Ivan e Vanessa.
Christopher Lee não tem falas neste filme. Sua única expressão ao longo é um único grito. Dai saiu uma lenda urbana. Christopher Lee teria supostamente dito que achou as falas dadas a seu personagem tão terríveis que ele escolheu interpretá-lo silenciosamente. De acordo com o roteirista Jimmy Sangster, isto não é verdade. Se olharmos a carreira de Lee e a quantidade de filmes que o ator participou (mais de 270 !!!), é pouco provável que tenha sido verdade. Mas a história não se resumiu à lenda. O próprio Lee confirmou a história, embora nenhuma fala foi encontrada nos scripts originais.
Eu não falei nessa imagem. O motivo era muito simples. Li o roteiro e vi o diálogo! Eu disse a Hammer, se você acha que vou dizer alguma dessas frases, você está muito enganado.
Exceto a sequência de flashback de abertura, Drácula não aparece até quarenta e cinco minutos (metade do filme). Na produção uma tragédia quase aconteceu. O dublê de Christopher Lee, Eddie Powell, ficou preso debaixo d'água durante a cena do afogamento e quase se afogou.
O "Martelo" por trás da Estaca.
O Estúdio da Hammer foi fundado em 1934. Mas foi com "Terror que Mata", de 1955, dirigido por Val Guest, que seu sucesso começou a tomar forma. Vários filmes do personagem foram feitos, incluindo um que teve problemas de direitos, X the Unknown, não sendo vendido como um filme da série. Mas as produções atraíram grandes distribuidoras (Columbia, Paramount, United Artists e Universal-International). E a Hammer ainda se beneficiou de um investidor poderoso, Eliot Hyman, que deu um gás extra aos filmes. A resposta das bilheterias para estes thrillers de ficção científica, foi tão expressiva, que a Hammer encomendou uma pesquisa para saber o que atraiu tantos espectadores para o cinema.
Durante este período, dois jovens cineastas americanos, Max J. Rosenberg e Milton Subotsky (que mais tarde fundaram a maior rival da Hammer, Amicus) apresentaram um roteiro para uma adaptação de Frankenstein. Embora o romance da Mary Shelley tenha se tornado de domínio público, Anthony Hinds não tinha certeza sobre o roteiro. Mas revisões foram feitas no roteiro. O script continha horror e violência gráfica, e seria retratado em cores vivas. A Maldição de Frankenstein tomava forma.
Nomes como Terence Fisher, Peter Cushing e Christopher Lee se tornavam referência no estúdio a partir dai. O filme foi um sucesso. A Hammer não perdeu tempo e iniciou suas séries de filmes de horror, principalmente os clássicos, como Drácula, Múmia, Dr. Jekyll, Fantasma da Ópera e Lobisomem. "O Vampiro da Noite" foi um enorme sucesso, quebrou recordes de bilheteria em todo o mundo. O título nos Estados Unidos foi mudado para o "Horror of Dracula" para evitar confusão com a versão clássica de 1931 (Dracula). Essa era uma preocupação real porque a versão de Bela Lugosi ainda estava passando nos cinemas, o que durou até o pacote de filmes clássicos de terror da Universal ser lançado na televisão. Apesar do sucesso, Lee reclamou da produção em algumas ocasiões. As lentes de contato que ele usava em algumas cenas causavam dor, além de não conseguir ver nada. O ator tem apenas 13 falas no filme. Durante a produção, Lee caiu numa cova bem em cima da dublê de uma atriz que estava sendo enterrada na cena...
Com o êxito do filme, a Hammer firmou um acordo com a Universal, que lhe permitia trazer outros mitos do horror clássico para as telas. Era a hora de trazer de volta "A Múmia." O filme contaria a história de três arqueologistas britânicos, John Banning (Peter Cushing), Stephen Banning (Felix Aylmer) e Joseph Whemple (Raymond Hutley), que descobrem o túmulo de uma princesa egípcia, Ananka (Yvonne Furneaux), morta há quatro mil anos. Sem imaginar o que realmente fazia, Stephen lê o "Pergaminho da Vida". Isto faz voltar a vida Kharis (Christopher Lee), o guardião da tumba, que recebe a ajuda de Mehemet Bey (George Pastell), um egípcio que não aceita o túmulo ter sido profanado por "infiéis". Três anos depois, Mehemet leva para a Inglaterra Kharis, que terá a missão de matar os três arqueólogos que lideraram a expedição que achou a tumba de Ananka. Mais um filme impecável.
A medida que passavam os anos, e havia a mudança natural da forma da plateia ver o cinema, a Hammer precisou inovar. Contratou novos roteiristas e diretores. Fez filmes no estilo "mulheres das cavernas" e produções de horror psicológico. Mas não tinham a genialidade de filmes como O Bebê de Rosemary e A Noite dos Mortos-Vivos. As cores da Hammer começavam a desbotar...
Nos anos setenta, sexo e a violência foram realçados. Veio a trilogia Karnstein. Vampirismo e lesbianismo entram no cenário para ficar. Os títulos inseriam as mulheres, por conta do apelo. Vieram "O Médico e a Irmã Monstro", "Drácula no Mundo da Minissaia", mostrando que a Hammer tentava se adaptar aos novos desejos do público.
Na última parte da década de 1970, Hammer fez menos filmes, e as tentativas que foram feitas para romper com os filmes de terror góticos, então deslumbrantes, sobre os quais o estúdio construiu sua reputação, não deram certo. A Lenda dos Sete Vampiros (1974) tentou combinar horror, gótico e artes marciais. Mas não ganhou o público; Uma Filha para o Diabo (76), que trazia a nudez de Nastassja Kinski (com 14 anos na época!!!) não foi o sucesso esperado; A Dama Oculta, remake do thriller de Hitchcock, naufragou. Naquele 1979, uma era chegava ao fim.
Mas não sem antes nos deixar algumas dos mais marcantes personagens do horror, como este Drácula, com o saudoso Christopher Lee.