OLHOS NA FLORESTA (1980) - FILM REVIEW
Texto: M.V.Pacheco
Revisão: Thais A.F. Melo
Em 16 de outubro de 1923, Walt Disney e seu irmão Roy fundaram o Disney Brothers Cartoon Studio em Hollywood, Califórnia. E de lá para cá, foram muitas glórias sendo a principal delas, a associação direta com a animação de qualidade. Da era de ouro das animações (em torno dos anos 30), passando por uma grande guerra roubando a atenção do mundo para o conflito que parecia interminável na época, chegando nos “live-actions”, que tanto marcaram a infância de muitos (como A Ilha do Tesouro, A Lenda dos Anões Mágicos, Se Meu Fusca Falasse, O Príncipe e o Mendigo, A Cidadela dos Robinsons).
E foi neste período, precisamente em 1966, que Walt Disney faleceu. Logo em seguida, veio o declínio da indústria de animação. E foi durante a década de 70 que os filmes live-actions do estúdio ficaram menos inspirados. Talvez como uma necessidade de arriscar novos públicos, o filme "Olhos na Floresta" veio como uma aposta.
Na trama, o espírito de uma criança assombra os filhos de um casal americano em sua nova residência, uma bela casa cercada por uma floresta na Inglaterra. As duas meninas da família passam a ver coisas e ouvir vozes. A mais velha das meninas procura desvendar o desaparecimento de uma garota ocorrido há trinta anos.
A família é composta por Paul Curtis (o escocês David McCallum, rosto conhecido pela série de TV dos anos 70 O Homem Invisível), a mãe escritora Helen (Carroll Baker, de Da Terra Nascem os Homens e Assim Caminha a Humanidade) e as duas filhas, a adolescente Jan (Lynn-Holly Johnson) e a pequena Ellie (Kyle Richards, irmã menos famosa de Kim Richards, atriz de obras como A Montanha Enfeitiçada, Perigo na Montanha Enfeitiçada, Assalto à 13ª DP e Tuff Turf: O Rebelde).
O diretor responsável foi John Hough, que tem em seu currículo As Filhas de Drácula (1971), da “Hammer” e com o ícone Peter Cushing, o clássico de casa mal-assombrada A Casa da Noite Eterna (1973), com Roddy McDowall e Os Anfitriões, um filme que bizarramente, eu confundia na minha infância com este: Olhos na Floresta, sem saber que eram do mesmo diretor. Curioso que os filmes não tem qualquer relação, a não ser, talvez, pela fotografia e os cenários.
O filme foi baseado no livro “A Watcher in the Woods” (na tradução literal, “Um Observador na Floresta”, publicado em 1976 e escrito por Florence Engel Randall. A obra recebeu dois títulos no Brasil, Mistério no Bosque na exibição nos cinemas e Olhos na Floresta no lançamento em VHS e com uma capinha nada convidativa. Em 2017, ganhou uma refilmagem dirigida por Melissa Joan Hart e com Anjelica Houston no elenco.
O final original do filme lançado em 1980 foi considerado muito sombrio e não foi bem recebido na época. Então os realizadores optaram por relançar o filme, o que ocorreu um ano depois, em 1981, com outro final mais leve e explicativo, que teve a direção não creditada de Vincent McEveety. O lançamento em DVD originalmente teria dois discos, com o corte original de 100 minutos considerado perdido na época e a versão de 84 minutos. Infelizmente a Disney vetou o lançamento.
O delay de 1 ano foi devido à greve dos atores do SAG (Screen Actors Guild) de 1980. As refilmagens e as cenas adicionais não puderam ser filmadas até novembro de 1980. Interessante que revi O Exorcista III recentemente, e ele passou por um processo semelhante de alteração de final pelo estúdio. E em ambos os casos, o final imposto foi inferior.
No entanto, algumas imagens previamente excluídas foram aproveitadas no flashback de Jan. Quando originalmente exibido nos cinemas em 1980, o filme começou com um prólogo totalmente diferente. Nesta versão, o Vigilante assusta uma garotinha na floresta, que deixa cair sua boneca. Um raio de luz azul atinge a boneca e ela explode em chamas. Os títulos de abertura reproduziam a imagem do rosto da boneca derretida.
Não só por ter nomes como Carroll Baker, Bette Davis e Ian Bannen no elenco, ou pela curiosidade de ser um autêntico filme de horror envolvendo fantasmas numa Disney voltada para filmes família, mas Mistério no Bosque (ou Olhos na floresta, como preferir) merece ser redescoberto.