PIRANHA 2 ASSASSINAS VOADORAS (1981) - FILM REVIEW
Texto: M.V.Pacheco
Revisão: Thais A.F. Melo
Cinema é uma mistura de entretenimento com a percepção que tem dele aliada a fase que se encontra na sua vida pessoal. É a melhor forma de entender como podemos assistir uma obra-prima do diretor Ingmar Bergman uma única vez na vida, porém rever Piranha II, dez vezes (no meu caso, vi mais de 30),
Você pode estudar cinema, aprender cinema, suas nuances, e ainda assim, rever menos um filme genial que um considerado ruim. Eu mesmo, revi Os Sete Samurais (um dos 3 melhores filmes que já assisti) menos que American Ninja.
Bom, hoje vou falar de Piranha II - Assassinas Voadoras. Aliás, vou mostrar diversas situações que o tornaram merecedor do título de um dos piores filmes já feitos, para no final dizer que assisti-lo é uma obrigação. E revê-lo, entretenimento.
Na história, que começa como um filme teen, meio Sorvete de limão, Anne Kimbrough (Tricia O'Neil) é uma instrutora de mergulho que, ao investigar a morte de um mergulhador, descobre que os responsáveis são peixes parecidos com piranhas e que possuem asas. Ela tenta então convencer Tyler Sherman (Steve Marachuk), o gerente de um resort local, a cancelar a celebração anual de peixe frito. Mas ele está determinado a proporcionar aos seus hóspedes um verdadeiro banquete.
Clássico da Sessão da Tarde e Um Clássico do Cinema em Casa
Apesar de James Cameron ser creditado como diretor, boa parte do filme coube ao produtor executivo Ovidio G. Assonitis. O trabalho de Cameron não estava satisfazendo o produtor, que após uma semana de filmagens resolveu que ele poderia continuar rodando as cenas, mas não poderia vê-las, nem participar da edição final. A versão lançada em laserdisc contém a edição feita por James Cameron, com 20 minutos a menos e diversas cenas reeditadas e reordenadas.
A crítica, que de forma geral detonou o filme por apresentar piranhas voadoras, não imagina que seríamos invadidos por Sharknados, décadas depois e que eles seriam um sucesso. Na realidade, Piranha foi mais um filme que capitalizou em cima do Tubarão, e nesse caso, usa diversos elementos parecidos, como a cena do corpo de uma pessoa devorada saindo do casco e assustando o mergulhador, ou a cena do reconhecimento do corpo no necrotério, ou ainda a cena que a atriz principal fala um diálogo muito semelhante ao de Richard Dreyfuss em Tubarão, dizendo "- não foi uma barracuda, nem acidente de barco"...
A diferença, nesse caso, é que o personagem de Dreyfuss afirma que foi um tubarão, enquanto em Piranha, ela diz que "não sabe". Aliás, com 1 hora e 3 minutos, na cena em que uma mulher cai num tanque, atacada pelas piranhas, ouvimos o início do tema de Tubarão.
Directors'cut? Cameron's Cut? Or cut the bullshit?
Em uma entrevista, James Cameron disse que este filme fica melhor na metade quando visto no drive-in com uma embalagem de seis cervejas. O filme foi o primeiro de Cameron, mas que no final das contas, sofreu o efeito Liga da Justiça. Antes, ele trabalhou na equipe de miniaturas e efeitos visuais de Roger Corman, tendo participado de filmes como "Mercenários das Galáxias" (1980) e "Galáxia do Terror" (1981). Ainda em 81, atuou na equipe técnica do clássico "Fuga de Nova York" (1981), e foi contratado pelo produtor italiano Ovidio G. Assonitis para comandar Piranha 2, finalmente ocupando a cadeira de diretor.
Natural do Egito, Assonitis já tinha dirigido, ele próprio, alguns filmes. É o caso de "Tentáculos" ("Tentaculi"), sobre um polvo assassino, lançado em 1977 e com nomes como John Huston, Shelley Winters e Henry Fonda no elenco. Ele também dirigiu uma cópia de "O Exorcista" chamada "Espírito Maligno" ("Beyond the Door"), em 1974. Ou seja, Ovidio G. Assonitis era o cara que fazia filmes para pegar carona.
Na realidade, embora este seja o primeiro crédito oficial Cameron, a maior parte do trabalho foi realizada por Ovidio (produtor). Assonitis tinha feito um acordo com uma pequena gravadora da Warner Bros. com um orçamento razoável para a produção do filme, desde que um americano fosse creditado como diretor. Após considerar Miller Drake como diretor, mas achando-o inadequado, cedeu o cargo a Cameron após ficar impressionado com seus efeitos especiais em Galáxia do Terror (1981); mas o que ele queria mesmo era um estreante que pudesse facilmente desviar para assumir a direção, algo que já havia feito em Espírito Maligno (1974) e Havia uma garotinha (1981).
De acordo com "Dreaming Aloud", uma biografia de James Cameron, de Christopher Heard, e "The Futurist", de Rebecca Keegan, Cameron trabalhou nos efeitos especiais do filme, reescreveu o roteiro, criou storyboards, examinou locações e realmente filmou por quatro dias. No entanto, Assonitis refez muita coisa, questionou continuamente as decisões de Cameron, não permitiu que ele assistisse às suas próprias filmagens e, finalmente, demitiu-o no quinto dia de filmagem. Mais tarde, Cameron conseguiu convencer Assonitis a mostrar-lhe um corte bruto do filme, que era horrível, mas não porque houvesse algo de errado com sua filmagem, mas porque o diretor adicionou cenas de nudez de forma arbitrária, gratuita, para levar o público teen ávido a seios.
Cameron então invadiu a sala de edição todas as noites durante semanas e editou sua própria versão. Infelizmente, Assonitis descobriu e recortou novamente. A versão mais distribuída do filme que está disponível em DVD é a versão de Assonitis, embora Cameron tenha mais tarde sido autorizado a criar uma versão do diretor que teve um lançamento limitado em alguns mercados.
Primeiro, mas quase o último.
Como Cameron queria um final explosivo, ele acrescentou ao roteiro que o personagem de Henriksen pulasse de um helicóptero para salvar sua família que está se afogando. A aeronave era um helicóptero da polícia jamaicana usado para perseguir traficantes de drogas e era pilotado por um piloto profissional. Porém, a certa altura, um barco passou inesperadamente sob o helicóptero, quase atingindo as pernas de Henriksen, então o piloto teve que elevar rapidamente e, na manobra, Cameron acidentalmente deixou cair a câmera no mar, que nunca foi recuperada. Tanto Cameron quanto Henriksen se consideraram sortudos por ainda estarem vivos depois disso. Lance Henriksen passou a trabalhar em praticamente todos os filmes de James Cameron, demonstrando que adrenalina os uniu.
Nada é tão ruim que não possa piorar. O subtítulo original do filme, que aparece nos créditos iniciais, é The Spawning ("A Desova"). Porém, misteriosamente, nos créditos finais o subtítulo é outro: Flying Killers ("Assassinas Voadoras"), mostrando que a equipe era tão incompetente que não conseguiu chegar nem a uma conclusão sobre o nome do filme. Ou entenderam que não havia foco nenhum na tal "Desova". Esse “erro” foi corrigido anos depois, tirando o The Spawning de cena completamente...
No final das contas, as piranhas voadoras foram criadas em laboratório como arma de guerra.
"Eu acredito que 'The Spawning' foi o melhor filme de piranha voadora já feito.", disse Cameron. Literalmente, ele tinha razão e se assisti-lo é uma obrigação, revê-lo é puro entretenimento.