A SÉTIMA PROFECIA (1988) - FILM REVIEW
Texto: M.V.Pacheco
Revisão: Thais A.F. Melo
É comum o cinema buscar representações para estabelecer suas histórias. Principalmente quando se trata do Apocalipse. É quase certo que vejamos em cena um eclipse e uma mulher grávida.
O cinema associa o eclipse ao perigo, medo... Os eclipses na Terra são causados pelo bloqueio da Lua ao Sol (ou do Sol na Lua) e, ao longo da história, têm sido vistos como uma perturbação da ordem natural e como um mau presságio.
Muitas culturas deram-lhes uma explicação sobrenatural, descrevendo o conflito entre os deuses, embora os eclipses estejam curiosamente ausentes na mitologia egípcia antiga. Muitas sociedades realizaram rituais para tentar acabar com o eclipse, e há algumas evidências de que os incas realizaram sacrifícios humanos para trazer o Sol de volta, já que ele é geralmente visto como a fonte de luz e vida, então um eclipse era perturbador.
E por que a gravidez é associada a mau presságio?
No livro bíblico, Apocalipse, apresenta a visão de uma mulher e de um dragão (Ap 12,1-12). "¹ E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça. ² E estava grávida, e com dores de parto, e gritava com ânsias de dar à luz. ³ E viu-se outro sinal no céu; e eis que era um grande dragão vermelho, que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre as suas cabeças sete diademas. ⁴ E a sua cauda levou após si a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a terra; e o dragão parou diante da mulher que havia de dar à luz, para que, dando ela à luz, lhe tragasse o filho.
De uma maneira simples e rápida, traduz-se a grávida perseguida e oprimida pelo mal.
O que nos leva ao filme "A Sétima Profecia". Na história, ao redor do mundo, os sinais do fim dos tempos, como está dito no Apocalipse, estão ficando cada vez mais claro e parece estar vindo com o surgimento de um andarilho misterioso. Padre Lucci (Peter Friedman), o emissário do Vaticano, tem a missão de investigar as ocorrências e as considera como fatos normais.
Entretanto, Abby Quinn (Demi Moore), uma jovem mulher americana, tem razão para temer que elas sejam reais, já que o desenrolar dos eventos pode significar desgraça para o filho dela, que ainda não nasceu. Abby está determinada em fazer qualquer coisa para evitar o fim do mundo, inclusive dar sua vida, pois este foi o desafio que lhe fez o andarilho.
Profecia
O significado e a relevância do título deste filme 'O Sétimo Sinal' é que ele se refere aos sete selos que aparecem no livro final do Novo Testamento da Bíblia: O Livro do Apocalipse.
Em uma perspectiva alegórica, podemos dizer que a mulher em dores de parto simboliza a vida, a humanidade, o povo de Deus, as comunidades perseguidas, as classes trabalhadora e camponesa superexploradas. O eclipse, naturalmente, o momento em que a luz divina se apaga, ainda que momentaneamente. Um sinal de trevas, mas também de esperança, já que é sabido que o eclipse é passageiro.
Cinema, não realidade...
Muitas vezes é afirmado incorretamente que Demi Moore estava grávida na vida real durante as filmagens deste filme. A produção terminou em agosto de 1987 e Rumer Willis só foi concebido em novembro. Moore confirmou isso em 2019, postando polaroides dos bastidores no Instagram dela colocando a prótese de barriga e mamilos falsos antes das filmagens.
Um filme de estreias
Foi o primeiro filme em Hollywood dirigido pelo diretor nascido na Hungria (e depois se tornou australiano), Carl Schultz. O realizador é daqueles casos que apareceram do nada e sumiram para ninguém sabe onde. De relevante, além deste filme, a série O Jovem Indiana Jones, em que dirigiu a maioria dos episódios.
Foi também estreia no cinema do ator John Taylor, que é portador da Síndrome de Down. Demi Moore e Michael Biehn apareceram mais tarde no documentário sobre o ator chamado de Yours to Keep (1989), que acompanha a vida do jovem, desde a formatura do ensino médio, seu sonho de ser disc jockey, até conseguir o papel no filme.
Ellen DeGeneres filmou um pequeno papel, mas foi cortado do longa antes do lançamento. A cena cortada foi exibida em Ellen: The Ellen DeGeneres Show (2003) em 23/05/07. Se não tivesse sido cortado, teria sido seu primeiro papel no cinema.
A escalação de Michael Biehn foi influenciada por sua participação em dois filmes do diretor James Cameron: O Exterminador do Futuro (1984) e Aliens, O Resgate (1986).
Voltando à 7ª profecia
O filme parece buscar ideias no passado do cinema de horror para alcançar sua identidade. Logo no início, há duas passagens breves no deserto e em uma aldeia no Haiti, remetendo aos dois momentos de O Exorcista (1973) e O Exorcista II - O Herege (1977), respectivamente. E são tão sutis que só percebi por ver os filmes em um intervalo de tempo pequeno. Para não restar dúvidas, a protagonista se chama Abby, referência ao clássico filme blaxploitation homônimo, cujo tema é exorcismo e lançado em 1974. Isto sem contar que a grávida em filme de horror já nos traz a imagem de O Bebê de Rosemary (1968), quase que instantaneamente.
Ao longo do filme, Abby vivencia ocorrências sobrenaturais, como estranhos fenômenos climáticos, o aparecimento de estigmas em suas mãos e a ressurreição de um pássaro morto. Esses eventos se alinham com as profecias do apocalipse, e Abby se convence de que deve impedir o fim iminente do mundo, mesmo com sua flagrante crença no divino.
À medida que Abby Quinn continua a investigar os sinais proféticos que a rodeiam, ela também enfrenta desafios pessoais e emocionais. Ela se questiona sobre o significado de sua gravidez e o papel que seu filho pode desempenhar no destino do mundo. Abby também precisa lidar com sua própria fé e dúvidas, confrontando o que ela acredita e as escolhas que ela deve fazer para impedir o aparente fim.
A trama incorpora histórias paralelas que se entrelaçam com a jornada de Abby. Uma dessas histórias segue o padre Lucci (Peter Friedman), que investiga os sinais e busca compreender seu significado. Outro enredo envolve um processo judicial em que um homem chamado Jimmy Szaragosa (John Taylor) está sendo julgado por assassinato. Essas narrativas paralelas acrescentam profundidade e complexidade ao enredo.
O filme explora temas de fé, sacrifício e a natureza do bem e do mal. Ele investiga questões sobre o significado da vida, o poder da crença e até onde alguém está disposto a ir para proteger o que é importante.
Demi Moore tem uma atuação convincente como Abby Quinn, retratando o medo, a determinação e a força interior de sua personagem. Michael Biehn traz profundidade ao papel de Russell Quinn, marido de Abby, que luta para compreender e apoiar sua esposa em meio ao desenrolar dos acontecimentos. A interpretação de David Bannon por Jürgen Prochnow adiciona um elemento enigmático e misterioso à história. A presença maligna se constrói aos poucos como se fosse contaminando os personagens.
Os efeitos visuais e a fotografia do filme contribuem para o tom misterioso e atmosférico, criando uma sensação de destruição iminente. A produção emprega várias técnicas para criar uma sensação de desconforto e tensão, como iluminação e imagens simbólicas.
Lançado no final da década de 1980, o filme reflete as ansiedades e incertezas da época. Aborda temas de guerra nuclear e preocupações ambientais, explorando o medo da catástrofe global da era da Guerra Fria (conflito político-ideológico travado entre Estados Unidos (EUA) e União Soviética (URSS), entre 1947 e 1991).
O filme, ainda que não tinha sido um sucesso na época, continua sendo um belo programa para lembrarmos que não se fazem mais filmes como nos anos 80, quando até os filmes "menores", eram bons.