HELLRAISER - SAGA REVIEW
Hellraiser.
Texto: M.V.Pacheco
Revisão: Thais A.F. Melo
Vou iniciar hoje mais uma maratona de horror. E uma das que mais temo. Quando assisti a cada filme individualmente, achei os últimos filmes muito ruins, não fazendo jus ao legado do primeiro. Será que minha opinião mudará? Dificilmente. Mas estou aberto. Vou desbravar hoje o universo criado por Clive Barker, que fez seu nome no horror com o já clássico: Hellraiser - Renascido do Inferno.
Vamos aos filmes e boa sessão:
Hellraiser: Renascido do Inferno (1987)
Correntes, torturas, gore, cenobitas, sexo e prazer. Não há uma forma de definir melhor o espetáculo de sangue que vemos na tela. Pinhead nasceu clássico e é um dos grandes personagens que o cinema de horror produziu em sua história.
Na trama, em busca de novas experiências de prazer, Frank Cotton manipula um cubo misterioso que o leva à dimensão dos cenobitas: criaturas deformadas, repletas de cicatrizes, que impingem às suas vítimas sessões de tortura e mutilação. Anos depois, seu irmão Larry decide voltar com a esposa, Julia, para a então abandonada casa da família. Todavia, o insólito reaparecimento de Frank transforma tudo num pesadelo crescente, claro, com a presença horripilante dos cenobitas.
O filme deveria se chamar "The Hellbound Heart", em homenagem à novela (de Clive Barker) em que foi baseado. O estúdio decidiu que o título parecia muito com um romance e pediu a Clive Barker para mudá-lo. Barker ofereceu "Sadomasoquistas do Além do Túmulo", que foi rejeitado pelo conteúdo abertamente sexual. Ele acabou abrindo espaço para que a equipe de produção apresentasse suas próprias sugestões, levando um dos integrantes da equipe, de 60 anos, a dar uma ideia infame: "O que uma mulher fará por uma boa foda". Como sabemos, ficou Hellraiser, e Hellbound se tornou o subtítulo do segundo filme.
O termo cenobite é uma palavra que significa "membro de uma ordem religiosa comunitária"; O Hellbound Heart especifica que eles são membros da Ordem do Gash. O texto também se refere a eles como Hierofantes. Clive Barker inspirou-se para os designs dos cenobitas na moda punk, no catolicismo e nas visitas que fez aos clubes S&M de Nova York e Amsterdã. Para Pinhead especificamente, Barker se inspirou em esculturas fetichistas africanas. Inicialmente, Barker pretendia que Pinhead fizesse um piercing no umbigo, sugerindo que o personagem tinha piercings genitais.
Doug Bradley foi originalmente oferecido escolher entre o papel de um dos caras que está movendo o colchão e o Cenobita Líder. Ele quase recusou o papel de Cenobita, pois originalmente pensava que era importante que, como um ator novato no cinema, o público precisaria ver seu rosto. E curiosamente, aconteceu uma situação constrangedora na festa de encerramento da produção envolvendo justamente este problema. Durante a confraternização, boa parte da equipe, que só conhecia Doug maquiado, não o reconheceu.
O personagem de Doug Bradley foi nomeado "Priest" nos primeiros rascunhos do roteiro e acabou se tornando simplesmente "Cenobita líder" no roteiro durante as filmagens. "Pinhead" originou-se como um apelido para o personagem dado pela própria equipe, só que ele pegou e começou a ser usado nas sequências. O diretor Clive Barker não gostou do nome, achando-o indigno, e em sua série de quadrinhos Hellraiser produzida para BOOM! em 2011, os personagens se referiram a Pinhead como "Priest". Da mesma forma, a Cenobita Feminina foi designada "Garganta Profunda" no set, embora a natureza abertamente sexual do apelido tenha feito com que ela simplesmente fosse chamada de "Cenobita Feminina" novamente na sequência.
O conceito de um cubo sendo usado como um portal para o inferno tem sua base na lenda urbana de The Devil's Toy Box, que diz respeito a um cubo de seis lados construído com espelhos voltados para dentro. Segundo a lenda, os indivíduos que entrarem na estrutura e depois a fecharem passarão por um fenômeno surreal e perturbador que, ao mesmo tempo, concederá a eles uma experiência reveladora e deformará permanentemente sua mente.
Barker conseguiu cravar seu nome no imaginário dos fãs de horror criando não só um filme, mas uma mitologia. E ainda que os filmes tenham ido para um caminho ruim, a mitologia vive e sempre haverá espaço para o retorno de algum cenobita disposto a levar personagens para o inferno.
Hellraiser II: Renascido das Trevas (1988)
Sequências diretas favorecem muito a empatia por elas. Este segundo filme começa com uma recapitulação dos eventos anteriores. Na história, após enfrentar os monstros sadomasoquistas do inferno que mataram sua família, a jovem Kristy (Ashley Laurence) está em um hospital psiquiátrico, onde não acreditam em sua história. Mas mal sabe ela que o diretor da clínica, Dr. Channard (Kenneth Cranham) é um profundo estudioso do apavorante mundo que Kristy conheceu. Disposto a conhecer tudo por trás dessa história, ele traz de volta a terrível madrasta de Kristy, Julia (Clare Higgins), que passa a matar inocentes. Agora, a jovem se vê novamente correndo risco de passar a eternidade no pior de seus pesadelos.
Continuar a história com o personagem principal em um hospital psiquiátrico virou lugar comum nestas produções, mas é um fato aceitável, considerando os traumas Uma subtrama detalhando as origens de Pinhead ( Doug Bradley ) foi roteirizada, mas excluída na pré-produção devido a cortes no orçamento de última hora. Mesmo assim eles incluíram um prólogo mostrando o capitão Spencer abrindo a caixa e se transformando em Pinhead.
Clive Barker desenvolveu elaboradas histórias de fundo para os Cenobitas no primeiro filme, embora suas origens nunca tenham sido exploradas. Nesse filme, ele queria ter certeza de que, no mínimo, o público entendia que os Cenobitas já foram humanos e que seus próprios vícios os levaram a se tornarem demônios. Clive Barker voltou como produtor executivo para a esta sequência.
O diretor Tony Randel afirma que o tom sombrio do filme refletia sua própria mentalidade sobre o mundo da época. Curiosamente, ainda que o filme seja a continuação mais bem lembrada, o realizador não fez mais nada de relevante na direção. Este segundo filme deveria ter um orçamento muito maior, mas diminuiu consideravelmente depois a New World Pictures (fundada por Roger Corman e Gene Corman) comprou o estúdio independente Highgate Pictures em 1987 (ano em que Hellbound foi filmado).
Julia (Clare Higgins) deveria originalmente se levantar do colchão como a "rainha do inferno" no final do filme, a teoria é que ela seria a personagem contínua da série. Assim que Hellraiser: Renascido do Inferno (1987) estreou, no entanto, Pinhead provou ser o personagem mais popular entre o público, tanto que os posters sempre dão ênfase ao personagem, mesmo sendo Julia uma grande vilã capaz de sacrificar inúmeras vítimas só para satisfazer seus desejos sexuais com o irmão.
Hellraiser III: Inferno na Terra (1992)
A década de 90 marcou o ponto baixo dos ícones do cinema de horror que surgiram no final dos anos 70 e anos 80. E Pinhead começa aqui seu caminho tortuoso e questionável. Na trama, ele está aprisionado no cubo que, acidentalmente, vai parar nas mãos de J.P. Monroe (Kevin Bernhardt), um playboy dono de uma boate. Após um acordo, o demônio é libertado e começa a matar pessoas inocentes. Ele também planeja destruir o cubo, para que nunca mais precise voltar para o inferno. Mas em seu caminho está Joey Summerskill (Terri Farrell), uma jovem repórter que está investigando os terríveis assassinatos.
Originalmente, o roteirista Peter Atkins ia dirigir o filme, mas quando Miramax comprou a série, eles sentiram que ele não tinha experiência suficiente. Peter Jackson também foi convidado para dirigir, mas recusou porque ele não conseguia se ver dirigindo um filme de terror tão sério. Ele gostou do produto final, e disse que se ele tivesse feito, teria piadinhas por todo filme, o que iria contra o propósito da trama. O filme acabou caindo nas mãos de Anthony Hickox, que havia feito "A Passagem", sua continuação chamada "Perdidos no Tempo" e "Vampiros em Fuga". Curiosamente, os filmes de Hickox tinham muito humor. O próprio Barker acreditava que ele não se encaixava bem na série Hellraiser,.
Tony Randel, que dirigiu Hellraiser II: Renascido das Trevas (1988), co-escreveu a história com Peter Atkins, que completou o primeiro rascunho do roteiro em 1991. Muitos elementos importantes permaneceram inalterados desde o roteiro de filmagem. Este foi o primeiro filme Hellraiser a se referir ao personagem de Doug Bradley como Pinhead dentro do filme.
A Trans Atlantic Entertainment deu a Anthony Hickox seis semanas para rodar o filme. Hickox já havia estabelecido um cronograma de filmagens muito rápido que consumia longas horas, o que significava que o elenco tinha que se ajustar ao seu estilo pouco ortodoxo e às demandas dos estúdios. Doug Bradley disse que trabalhou 17 horas seguidas em um dia, e o grande número de cenas filmadas diariamente significava que eles tinham pouco tempo para aperfeiçoá-las. A preferência de Hickox pela edição na câmera acelerou a produção, mas limitou a visão dos atores do filme completo, uma vez que limitou a fase de edição
Este foi o primeiro filme lançado pela Dimension Films, então selo da Miramax Films usado para o lançamento de filmes de gênero. E foi um dos três filmes lançados pela Dimension enquanto a Miramax era uma empresa independente, um mandato que terminou menos de um ano após o lançamento do filme, quando a Disney comprou a Miramax.
E quanto a história...
Mais uma vez a trama gira em torno da ressurreição de alguém através do sacrifício alheio. Porém, até este terceiro filme, se tratam de pessoas diferentes (no primeiro Frank, no segundo Julia e neste terceiro, Pinhead). Uma crítica comum aos filmes antológicos é que, com o passar das produções, os produtores tendem a contar histórias de origem e isto tira o mistério do personagem.
Hellraiser IV: Herança Maldita (1996)
Em 2127, na Base Espacial Minos, o cientista Dr. Paul Merchant (Bruce Ramsay) sente-se culpado, já que seu antepassado Phillip foi o responsável pela abertura das portas do inferno. Merchant sequestra uma nave projetada por ele mesmo e é surpreendido pela equipe de segurança no momento em que invoca Pinhead (Doug Bradley). O cientista é preso e, ao ser interrogado, ele conta a história de sua família e sua herança maldita, e revela ser descendente direto do homem que inventou a Configuração do Lamento, capaz de abrir os portões do inferno. Ele tenta convencer a líder do tal grupo sobre a urgência de terminar o que ele havia começado, tentando a todo custo deter, antes que Pinhead e suas legiões dominem a humanidade.
Não há como ver os cenários e não se lembrar da série Emmanuelle no Espaço. Não há como olhar para o robô do início do filme e não associá-lo diretamente ao O Exterminador do Futuro e num segundo momento, ao Mark 13 de Hardware, o destruidor do futuro. Não há como ver o nome Alan Smithee no pôster e entender que se trata de um bom filme. Aqui, todo possível clima de horror se esvai, deixando para o público apenas um filme para assistir, não odiar, mas também para não ser lembrado.
Novas cenas foram filmadas em abril e maio de 1995. Doug Bradley disse que consistiam em material totalmente novo, e não eram refilmagens. A origem e as relações de Angelique com Pinhead e a linha L'Merchant foram alteradas. Muitas cenas foram removidas durante a edição, especialmente do enredo de L'Merchant. Angelique e Pinhead originalmente tinham uma relação mais violenta e adversária.
Angelique representou uma versão mais antiga e caótica do Inferno que favorece a tentação prolongada, e Pinhead representou uma ordem ascética baseada em resultados que assume o controle. A versão de cinema substitui parte de sua hostilidade por tensão sexual. O corte original tinha 111 minutos de duração, mas o corte final tinha 82 minutos. Quando Kevin Yagher viu o filme finalizado, sentiu que se distanciava muito de sua visão original e pediu para seu nome ser removido dos créditos, usando o pseudônimo de Alan Smithee.
Devido ao fracasso crítico e financeiro do filme, este seria o último filme de "Hellraiser" a ter um amplo lançamento nos cinemas, embora algumas das últimas sequências tenham sido exibidas em festivais de cinema e em várias outras exibições limitadas antes de irem direto para vídeo. Aliás, a história se passa em 1796, 1996 e 2127.
Doug Bradley, que havia interpretado Pinhead em todos os filmes anteriores, foi o primeiro ator contratado. Bradley concordou que o filme deveria focar mais nos outros personagens, e em vários atores menos conhecidos ingressando em papéis principais, incluindo Bruce Ramsay e Valentina Vargas.
A Walt Disney Pictures foi criticada pela mídia quando comprou a então polêmica e descolada Miramax Films. O clamor se deve ao fato de que a Disney, um estúdio de cinema familiar, estaria diretamente envolvida no marketing e no lançamento de filmes de terror, apesar do fato de a Miramax ser apenas uma empresa subsidiária e os filmes não ostentarem o logotipo da Disney. A Lionsgate acabaria comprando a Miramax da Disney nos anos 2000.
Hellraiser V: Inferno (2000)
Este quinto filme, surpreendentemente, melhora com o tempo, sendo bem mais interessante que o anterior. Com um personagem mais reflexivo e uma trama mais bem centrada no universo criado por Clive Barker, esta produção agradará mais aos fãs do gênero, com um tom que se assemelha mais a um terror psicológico. Não a toa, o diretor estreante Scott Derrickson faria depois sucessos como O Exorcismo de Emily Rose, A Entidade e Doutor Estranho.
Na trama, o perturbado detetive Joseph Thorne (Craig Sheffer) descobre um enigmático cubo que traz do inferno o terrível Pinhead. Uma série de assassinatos começa a acontecer além do desaparecimento de uma criança, fazendo com que Joseph corra contra o tempo para salvar a criança. Ele mergulha em um mundo de mortes, sadismo e loucura, lidando com criaturas que só se satisfazem com a dor dos seres humanos.
Como o filme na sequência, Hellraiser: Caçador do Inferno (2002), "Inferno" era originalmente um script de terror não relacionado a Hellraiser de propriedade da Dimension. Para economizar dinheiro ao escrever uma história Hellraiser completamente original, o roteiro foi rapidamente editado para inserir o Pinhead e os Cenobitas.
O maior mérito do filme é não copiar as tramas dos três primeiros ou ir pelo ensandecido mundo espacial do quarto. E sua melhor característica gerou incompreensão do público, tal como Halloween 3, que é um ótimo filme, mas não foca no personagem título. Os próprios roteiristas tiveram na mão a chance de fazer um filme mais parecido com o primeiro, mas optaram por um caminho original. Mérito deles.
Hellraiser – Caçador do Inferno (2002)
Não há maior tristeza do que relembrar a felicidade em tempos de miséria.
Dante Alighieri
Este sexto filme marca o retorno de Ashley Laurence (que aparentemente morre 4 minutos depois!!!) Na história, mais uma vez Pinhead está de volta para torturar alguns humanos. Desta vez o escolhido é Trevor, um cara comum que se envolve com as forças do mal depois de um grave acidente envolvendo sua esposa.
Aqui a trama psicológica ganha novamente espaço, explorando trauma e memórias com o mundo infernal de Pinhead. Os personagens do filme anterior e deste estão ligados muito mais à tentativa de compreensão de suas jornadas errantes. Já nos três primeiros, o que move os personagens principais é a identificação com o inferno de Pinhead. Esta diferença não é nada sutil e muitos fãs reclamaram. O mais problemático em relação aos outros é que a história apenas sugere uma continuação, voltando com a atriz principal, mas seu arco não se desenvolve para lado nenhum, relegando a sua participação a um mero fan service.
O próprio diretor justificou a não continuidade, dizendo que os fãs não buscavam isto. Mas para que trazer Ashley então? Outro detalhe: mesmo que sua imagem apareça com destaque nos pôsteres do filme, Pinhead tem menos de 5 minutos de tela. A história inclusive, é nitidamente um roteiro de um filme de horror psicológico que não veio a mundo e foi filmado com pequenas alterações, colocando os cenobitas e Ashley.
Hellraiser - O Retorno dos Mortos (2005)
Manter o diretor costumeiramente é uma boa escolha para manter a qualidade, identidade e visão de uma saga. Porém, manter Rick Bota, diretor do filme anterior, que passou longe de ser original, foi um erro absoluto. O roteiro original de Neal Marshall Stevens não tinha nada a ver com a mitologia de Hellraiser. Quando ficou decidido que o roteiro seria usado para a produção de um novo filme da série, o roteirista Tim Day fez com que o personagem Winter fosse um descendente do criador de brinquedos LaMerchant. Ele também deixou de lado a questão entre Pinhead e Kirsty no final do filme anterior.
Na trama, Amy Klein (Kari Wuhrer) trabalha como repórter em um jornal de Londres e está atualmente investigando um culto underground que prega o suicídio. Atraída para o mundo místico do culto, Amy descobre que os artefatos utilizados nas cerimônias podem abrir as portas para o inferno.
Filmado consecutivamente com Hellraiser 8: O Mundo do Inferno (2005) em 2002, pelo mesmo diretor, para deixar o orçamento mais enxuto. Bob Weinstein o orientou a reescrever "O Retorno dos Mortos'' para que o tom do filme se assemelhasse aos filmes de terror japoneses Ring e Pulse.
Sem dúvidas, estes cinco últimos filmes são muito inferiores. Mas até este sétimo, são pelo menos, “assistíveis”. Aliás, uma última observação. Fica claro que o diretor utilizou como base a trama de Coração Satânico nos filmes 6 e 7: No sexto filme o protagonista interage com pessoas que aparecem mortas na sequência, sugerindo ele ser o assassino. E no sétimo, o roteiro segue a detetive que investiga um caso envolvendo mortes, e quanto mais ela se aproxima da verdade, mais se enfia no meio da verdade, fazendo uma verdadeira decida ao inferno. Se juntarmos os dois personagens, eles executam a jornada de Harry Angel (Rourke) no filme de Alan Parker.
Hellraiser 8: O Mundo do Inferno (2005)
Apesar de começar com um tom religioso, focando em imagens, usando letras nos títulos que lembram uma cruz e música sacra, a trama segue um caminho mais moderno. Nela, o jovem Adam comete suicídio. Seus amigos Chelsea, Allison, Derrick e Mike buscam razões para seu ato, e descobrem apenas que ele estava obcecado pelo jogo virtual Hellworld. O grupo se sente culpado por não ter ajudado quando Adam estava vulnerável, e decidem ir a uma festa organizada para os fãs de Hellworld, a fim de descobrir em que consiste o jogo. Mas a festa, dentro de uma grande mansão, transforma-se em um verdadeiro inferno.
Este é o último filme em que Doug Bradley, amigo de infância de Clive Barker, retrata o famoso Cenobita Pinhead. O filme é estrelado por Lance Henriksen no papel do Anfitrião. Henriksen foi originalmente chamado para interpretar o papel de Frank Cotton no primeiro filme da série, Hellraiser, mas recusou a oferta em favor de um papel principal no thriller de vampiros Quando Chega a Escuridão (1987).
Convenhamos depois que os filmes da saga passaram a levar o nome da Dimension Films, as produções são a cara da empresa. E o que dizer do roteirista? Joel Soisson foi responsável por coisas como Drácula 2000, Drácula 2: A Ascensão, Highlander 4: A Batalha Final, O Homem sem Sombra 2, Colheita Maldita: Gênesis e Piranha 2.
A história é, sem dúvidas, diferente de tudo o que foi mostrado até aqui. Só que o diretor, mais uma vez, não deu sorte em suas realizações. Incluir o universo Hellraiser em camisas, jogos e itens que podem ser encontrados pelos personagens na esquina, aproximam o inferno de Pinhead do ridículo. Imagine se for ao acampamento Crystal Lake e encontrar numa loja as roupas de Jason para vender, chaveiro com a miniatura da cabeça da mãe de Jason ou camisas com fotos dos atores e atrizes?
Este Hellword é por ai... mas com um diferencial: Henry Cavill na época pré-Superman. E Pinhead matar um dos personagens com uma faca foi simplesmente, o fim.
Hellraiser: Revelações (2011)
Nada pode ser tão ruim que não possa ficar pior. Mesmo assim, é interessante, para quem maratona, ver que a maioria dos filmes da série tenta fugir do formato original, mesmo que falhando miseravelmente. Este Hellraiser começa com o artifício de "câmera da mão", o popular found footage, para inserir na trama o cubo e Pinhead.
Na história, durante uma noite de farra no México, os amigos Steven Craven (Nick Eversman) e Nico Bradley (Jay Gillespie) abrem uma caixa suspeita, em um estranho ritual, onde surgem seres das trevas conhecidos como Cenobitas. Um ano depois, Emma (Tracey Fairaway), irmã de Steven, redescobre a caixa e decide abri-la. Porém, a atitude gera consequências para as duas famílias.
Com o eminente fim dos direitos de exploração dos personagens, a produção foi feito “a toque de caixa”, sendo programada para ser filmada em onze dias. E todo o processo (com pré e pós, 3 semanas). A ausência de Doug Bradley como Pinhead é também muito sentida.
Até Clive Barker se manifestou sobre o filme (e as produções anteriores), dizendo "que se eles afirmam que a produção é da minha mente, é uma mentira. Não é nem mesmo da minha bunda." Se a opinião dele não conta veja por você mesmo (a).
Hellraiser: O Julgamento (2018)
Chega ao décimo filme a série criada por Clive Barker. Nele, os detetives policiais Sean (Damon Carney) e David Carter (Randy Wayne) fazem parte de um caso investigando uma série de assassinatos que assolam uma cidade. Juntos da detetive Christine Egerton (Alexandra Harris), eles passam a acreditar que talvez esses assassinatos podem ter origem além desse mundo.
Mais uma vez, um filme da série segue uma narrativa diferente, porém mal aproveitada. Mesmo o gore e a estranheza da sequência inicial não salva o resultado final. O filme se salva por este início, uma aparição surpresa e uma curiosidade. Por volta dos 28 minutos, a atriz Heather Langenkamp (de A Hora do Pesadelo) aparece em uma ponta de 1 minuto.
E a curiosidade fica por conta do diretor Gary J. Tunnicliffe, um ávido fã de Doutor Estranho, esculpiu o símbolo do famoso 'Olho de Agamotto' no figurino usado por Pinhead (Paul T. Taylor), além de adicionar uma forma de diamante em homenagem a 'Leviathan' (o Deus que os Cenobitas servem) no torso. Coincidentemente, Scott Derrickson , que dirigiu a adaptação cinematográfica de Doutor Estranho (2016), iniciou sua carreira como diretor de longas-metragens com a primeira sequência direta para vídeo de "Hellraiser", Hellraiser V: Inferno (2000).
Enfim minha visão geral é de que só o primeiro filme vale mesmo a pena rever e até mesmo ter na coleção. Os demais foram tentativas de levar algo novo, mas fracassaram. Pinhead sempre cita sofrimento em seus discursos. Mas mal sabia ele que sofrimento mesmo é acompanhar sua trajetória cinematográfica.
Hellraiser (2022)
O cinema vive uma falência de ideias. E voltar a filmes dos anos 80 é a ordem da vez. E não digo simplesmente continuações, mas uma trama que retome especificamente um clássico. Esta persistência, juntamente com a insistência, por vezes, dá resultados positivos.
O novo Hellraiser perde no ineditismo de sua narrativa, algo que não aconteceu com o aclamado Predador - A Caçada. Mas ganha terreno na ótima ambientação, aproximando um pouco do clássico Candyman (inclusive, por volta dos 29 min. e 40 seg., quando Matt está no banheiro depois de ser cortado pela caixa do quebra-cabeça, o autógrafo de Tony Todd pode ser visto como grafite na parede atrás dele).
As seis configurações da caixa representam seus seis presentes: Lament (vida), Lore (conhecimento), Lauderant (amor), Liminal (sensação), Lázaro (ressurreição) e Leviatã (poder).
O filme não é um remake. Nem continuação. É um Hellraiser de um mundo paralelo, disposto a ser sangrento como os fãs gostam e trazer os cenobitas mais fantásticos desde o primeiro filme. Dirigido por David Bruckner (de O Ritual e A Casa Sombria) e filmado em Belgrado, na Sérvia, o filme mostra uma jovem que está lutando contra o vício acaba encontrando uma caixa de quebra-cabeças sem saber que, na verdade, estaria convocando os seres sobrenaturais conhecidos como Cenobitas, criaturas demoníacas de outra dimensão que são uma grande ameaça aos humanos.
Produção original do streaming norte-americano Hulu (mesma de Predador: A Caçada), este é o primeiro Hellraiser a ter uma Pinhead. Com esta reinicializarão, todos os principais filmes da Era de ouro dos Slashers (que fica entre os anos 70 e 80) foram refeitos: Leatherface em 2003, Michael Myers em 2007, Jason Voorhees no ano 2009, Freddy Krueger em 2010, Chucky em 2019 e agora Pinhead em 2022. E quase todos ainda apostaram numa continuação ou remake tempos depois, provando que é possível reciclar o reciclado.
Eu tive a honra de entrevistar alguém do elenco ou produção de todos estes filmes. Curiosamente, o último que fiz foi o roteirista do primeiro Hellraiser, Peter Atkins, que roteirizou também outros filmes da série.
Hellraiser, no final das contas, representa mais um caso que reforça a importância do original.