Vindo de quem participou ativamente do período, o primeiro Pânico não foi inovador no conteúdo, mas foi genial na forma em que foi apresentado, já começando com uma referência a Psicose, em que a atriz, aparentemente um destaque do filme, é morta (Drew Barrymore, com caracterização similar às musas de Hitchcock). Aliás, a peruca loira de Drew é uma cópia do penteado de Michelle Pfeiffer em Scarface (1983) de Brian de Palma, que fez carreira em cima da filmografia de Hitch.
No fim de semana de estreia, Pânico arrecadou apenas US$ 6 milhões. Entretanto, na semana seguinte ao seu lançamento, sua bilheteria já tinha saltado para US$ 21 milhões, graças ao boca-a-boca extremamente positivo que recebeu. De fato, a direção é inspirada, tensa e ainda consegue criar um novo personagem, tal como foi com Jason, Freddy e outros da era de ouro do cinema slasher, o Ghostface.
Na maioria das vezes, o cinema de horror é uma repetição de elementos. Por tanto, a forma que é levada às telas é mais importante. E um diretor acima da média como Craven, que viveu o período e tinha competência para inovar (visto casos como A Hora do Pesadelo e a própria revitalização da série O Novo Pesadelo, que ele dirigiu). E com muita propriedade, o diretor estabelece as regras da nova franquia com base no que foi feito até então. Esta bem sacada forma de olhar para trás, reavaliar erros e acertos do gênero, e trazê-los de volta para uma geração que cresceu sob aquela influência, capturou a atenção de todos, principalmente os que tratavam o terror slasher com desconfiança.
Se por um lado, Pânico não existiria sem seus antecessores, por outro, é um degrau acima. Uma evolução do que foi mostrado. E visto de hoje, a franquia é sem dúvidas, a melhor já feita, visto que os filmes são mais alinhados. “Jogos Mortais” quase conseguiu o mesmo feito, se não fosse pelo antepenúltimo filme, que na falta de ideias, desdisse tudo que aprendemos sobre aquele universo. Mas esta é outra história...
Ao contrário dos filmes do gênero, Craven "esfrega" os dois assassinos na nossa cara desde o início, mas considera que não iremos desconfiar deles, já que ambos até brincam sobre os assassinatos. De tão óbvio, você os coloca no fim da fila de suspeitos. Após a segunda ligação, feita para Sidney, vemos que se trata de um serial killer, disposto a levar o terror à cidade (o uso de identificador de chamadas aumentou mais de três vezes após o lançamento deste filme).
Durante a produção, o manto preto de Ghostface seria branco, para fazê-lo parecer ainda mais um fantasma. Isso foi alterado com medo de pessoas comparando o traje com aqueles que a Ku Klux Klan usa. Aliás, o filme foi originalmente intitulado Scary Movie, mas foi renomeado pela The Weinstein Company um pouco antes de completarem as filmagens.
O roteiro de Kevin Williamson acerta ao colocar os mesmos elementos de sempre misturados, dando novas atribuições. A namorada indefesa se torna forte neste novo cenário. A jornalista insuportável se torna vítima (como sempre), mas ao sobreviver, tem chance de redenção mediante a uma nova perspectiva. O namorado (e verdadeiro assassino) é preso logo no início e acaba sendo inocentado mediante a um plano (nem tão mirabolante assim). O cara que faz graça, e sempre é fadado a morrer... não morre (no primeiro filme, pelo menos). E por fim, o policial burro, continua burro, mas se torna um sobrevivente e peça fundamental do tabuleiro.
Ou seja, como dito acima, o filme privilegia a forma, pois o conteúdo é basicamente o mesmo. O filme foi lançado em dezembro, cinco dias antes do Natal. O estúdio fez isso porque durante a temporada de férias, filmes voltados para a família geralmente são lançados, e o estúdio queria dar ao público de terror algo para ver durante um período em que nenhum filme de terror seria lançado.
Quando Bob Weinstein assistiu partes das primeiras cenas filmadas (cortes brutos), ele disse que a máscara usada era "idiota". Ele pediu aos produtores que filmassem uma cena com sete máscaras diferentes e deixassem que ele escolhesse a que mais gostasse. Os produtores não concordaram e ameaçaram encerrar a produção. Disseram-lhe para esperar até que a primeira sequência (a de Drew Barrymore ) estivesse completa e então ele poderia decidir. Depois de assistir, ele concordou, percebendo o erro.
A máscara é baseada na pintura "Scream" de Edvard Munch, nos personagens da capa do álbum The Wall do Pink Floyd e nos personagens fantasmagóricos que apareceram no desenho animado "Betty Boop" (1930) da década de 1930. A máscara exibia emoções diferentes: "É uma aparência horrível, é uma aparência triste, é uma aparência frenética". De fato, foi um trabalho genial. Ela foi concebida em 1991 por Brigitte Sleiertin como parte de uma série intitulada "Fantastic Faces". O design e o título do Ghostface são de propriedade da Fun World. Foi a produtora Marianne Maddalena quem "descobriu" a máscara. Ela a encontrou dentro de uma casa durante a busca de locações para o filme e chamou a atenção de Wes Craven, que começou a tentar obter os direitos de usá-la.
Como todo filme, a trajetória do diretor e elenco não foi "só flores", até a aceitação do projeto. Nem mesmo o título ou a máscara como dito acima. Mas o cinema é assim: feito de transpiração, inspiração e um pouco de sorte.
Caçar referências aos filmes de horror era uma obrigação na época do lançamento. Mas décadas depois, um novo olhar nos faz prestar mais atenção no filme em si, do que nas referências, já que a obra é moldada como uma referência ao passado. Uma rápida aparição da atriz Linda Blair (Regan de O Exorcista) ou o faxineiro vestido de Freddy Kurgger (vivido por Wes Craven) não são diferenciais na história, mas apenas cerejas de um bolo muito maior.
A casa de Tatum (Rose McGowan) fica do outro lado da rua da casa em Santa Rosa, Califórnia, usada em Pollyanna (1960). Também fica do outro lado da rua da casa usada em A Sombra de uma Dúvida (1943), de Alfred Hitchcock. A casa na cena de abertura ficava ao lado da casa usada em Cujo (1983).
Um aceno muito óbvio para o clássico filme de terror "Halloween" é o sobrenome do namorado de Sydney: Loomis. Isso, claro, faz referência ao Dr. Samuel Loomis, que foi o psiquiatra de Michael Myers no Halloween.
E por fim, o filme mais citado dentre os muitos, é "A Morte Convida para Dançar". Curiosamente, o título nacional não deixa de traduzir a inteira trama de Pânico. Genial, Pânico nasceu clássico e continuá-lo seria meramente uma obrigação, até porque ao longo dos anos, as continuações de slashers carregavam o fardo de serem inferiores e Pânico entrou na brecha para mudar isso.
Pânico 2 era inevitável e previsível, mas iniciar a narrativa com o filme sobre a primeira história foi genial. E ainda torna explícita a referência ao filme Psicose, com a atriz que faz o papel de Casey (Drew Barrymore) ligando o chuveiro, remetendo à cena clássica do filme de Hitch. Inclusive, o diretor faz um paralelo interessante com a cena "real" do primeiro Pânico, mostrando como funciona a liberdade criativa.
Na história, dois anos pós o massacre em Woodsboro, Sidney Prescott (Neve Campbell) e Randy Meeks estão tentando refazer suas vidas em uma nova cidade. Estudando no colégio de Windsor, eles vão lidar com uma nova onda de assassinatos quando o terrível psicopata retorna para assombrá-los nas vésperas do lançamento do filme baseado nos crimes.
Desta vez um ator (Omar Epps) e duas atrizes Jada Pinkett Smith e Heather Graham (no filme dentro do filme) são assassinados antes dos créditos, restabelecendo a regra de que uma continuação é maior, com mortes mais elaboradas e maior orçamento. No elenco, vemos nomes relacionados a filmes do gênero (Sarah Michelle Gellar de "Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado", Joshua Jackson e Rebecca Gayheart, de Lenda Urbana) e a história se apresenta com a clássica trama de vingança, o que torna a linha temporal bastante coesa, afinal, como se tratavam de adolescentes no primeiro filme (ainda que assassinos), seria natural que alguém com o mesmo desvio de comportamento decida se vingar.
E mais uma vez, Craven estampa os vilões diante de nós, e oferece dicas erradas ao longo da trama para prestarmos a atenção em outros personagens, como Cotton Weary (Liev Schreiber), inocentado pela falsa acusação do primeiro filme. A propósito, o elenco não foi informado da identidade do assassino até o último dia de filmagem. Além disso, o elenco não recebeu as últimas dez páginas do roteiro até a hora de filmar as cenas nele contidas, que foram impressas em papel cinza para impedir a duplicação ilícita das mesmas.Todos os membros do elenco foram obrigados a assinar cláusulas de confidencialidade como parte de seus respectivos contratos que os impediam de discutir o fim da história e a identidade do assassino.
Ou dos...
Na realidade, ao rever o filme depois de vinte anos, eu, que não lembrava quem eram os assassinos, os identifiquei facilmente através de dois closes (bem conclusivos). Uma senhora de meia idade e um jovem do grupo (Timothy Olyphant). E dessa forma, presumi (não cheguei ao final do filme ainda) que ela seja mãe do personagem de Skeet Ulrich, enquanto o rapaz é a entrada dela no campus, possivelmente algum maluco que ela encontrou pelo caminho.
Mais uma vez, a forma é mais importante que o conteúdo.
O diretor Robert Rodriguez dirigiu as cenas de "Stab", o filme dentro do filme. Mickey menciona Star Wars Episódio V: O Império Contra-Ataca (1980) em uma discussão sobre o filme. Vinte e três anos depois, Timothy Olyphant apareceria na estreia da segunda temporada de O Mandaloriano (2019), como Cobb Vanth. Rodriguez dirigiu um episódio da mesma temporada.
Kevin Williamson teve a ideia de uma sequência enquanto escrevia o roteiro de Pânico (1996), entendendo que havia mais nuances da história. Este filme começou a ser filmado apenas seis meses após o lançamento de Pânico (1996), e foi lançado menos de um ano depois de seu antecessor.
Um dos extras vazou o roteiro para a internet (um dos primeiros grandes vazamentos de filmes de todos os tempos), e por isto, houve tensão pelo resto das filmagens. Como resultado, o roteiro foi quase inteiramente reescrito, com as páginas muitas vezes sendo concluídas no dia em que seriam filmadas. A segurança foi reforçada, como dito mais acima. Porém, o mais curioso é que a identidade dos assassinos seriam outras. Curiosamente, tornaria o filme mais "tradicional", já que não seria a mãe e muito menos Mickey (Timothy Olyphant), que seria uma vítima.
Sobre o primeiro filme, eu disse que o bom cinema é resultado de transpiração, inspiração e um pouco de sorte. E Pânico 2 é exatamente isso e teve muita sorte com o vazamento, que modificou as partes certas e ainda levou publicidade gratuita ao lançamento.
Aliás, Debbie Loomis, mãe de Billy, acaba sendo mesmo revelada como uma das assassinas, que é uma homenagem intencional ao primeira Sexta-Feira 13 (1980), onde a Sra. Pamela Voorhees, mãe de Jason, é a assassina. E no primeiro filme Pânico, Casey (Drew) morre justamente ao errar o nome do assassino do primeiro Sexta-Feira 13. Metaliguagem cinematográfica pura.
Pânico 3 (2000)
Já superado os eventos dos dois filmes anteriores, Cotton Weary (Liev Schreiber) usufrui do gancho deixado por Sidney Prescott (Neve Campbell) para a fama, enquanto um novo assassino vai atrás de sua namorada para forçá-lo a dizer o paradeiro de Sidney, que foi para um (merecido) isolamento, bem distante de psicopatas potenciais.
Neste cenário, a continuação dos filmes "Stab", está sendo gravada. "Stab - Return To Woodsboro" está em produção quando o assassino começa a matar o elenco, na mesma sequência que eles morrem no filme, e ainda por cima, deixa a foto de Maureen Prescott, mãe de Sidney Prescott, quando era mais jovem, sobre os corpos das vítimas. De forma sensivelmente diferente, o início da trama estabelece a mesma ideia dos filmes anteriores: qualquer um pode ser morto.
O contrato de Neve Campbell permitiu que ela ficasse no set por apenas vinte dias, razão pela qual Sidney tem menos tempo de tela do que nos outros filmes. Como resultado de seu papel ser reduzido, uma maior ênfase foi colocada nos personagens coadjuvantes. A disponibilidade de Campbell atingiu apenas três semanas no total, forçando os cineastas a filmar em torno de sua programação. Ela estava filmando simultaneamente Quem Não Matou Mona? (2000) e outra temporada de O Quinteto.
Kevin Williamson não estava disponível para retornar às funções de escritor, devido a conflitos de agenda com a série Dawson's Creek e os filmes Prova Final, Halloween H2: Vnte anos depois e Tentação Fatal (que ele dirigiu). Prova final foi dirigido por Robert Rodriguez, que também dirigiu cenas do "Stab", como dito mais acima. A casa usada durante o clímax, onde ocorre a maior parte da matança é a mesma casa usada como escola em Halloween H20.
David Arquette e Courteney Cox se conheceram no set de Pânico (1996), namoraram durante as filmagens de Pânico 2 (1997) e se casaram um mês antes do início das filmagens deste filme. Eles abreviaram a lua de mel (nas Bahamas) para filmar. Cox adicionou "Arquette" ao nome dela, como visto nos créditos. Courteney brincou sobre o fato: "Eu estava apenas flertando com David no primeiro, estava dormindo com ele no segundo, e compartilhamos um trailer no terceiro."
Kincaid (Patrick Dempsey) foi incluído no clímax por insistência dos produtores depois que eles perceberam que ele desapareceu antes do terceiro ato, e seu arco não foi a lugar nenhum. Uma inclusão absurdamente sem sentido.
Por causa do massacre de Columbine, e a controvérsia e o hype da mídia na época sobre se os videogames e filmes violentos foram ou não co-responsáveis, os produtores ficaram pressionados a diminuir a violência do filme. (A certa altura, o estúdio tentou exigir que nenhum sangue fosse visto no filme). Como tal, o filme é um pouco mais satírico e cômico do que os dois primeiros. Observe como as facadas raramente são mostradas na tela, e as cenas de sangue mais pesadas envolvem as consequências dos assassinatos. Além disso, nenhum adolescente está incluído no elenco para ser morto por razões óbvias, tornando este o filme menos sangrento de toda a série.
Para evitar os problemas de vazamentos que ocorreram no filme anterior, Wes Craven filmou três finais diferentes e não disse ao elenco qual ele usaria. A Miramax estava tão preocupada em proteger os segredos da trama do filme que nenhum jornalista teve permissão para ver o filme finalizado até dois dias antes de sua estreia.
Várias cenas deste filme referem-se ao teste do sofá de elenco e produtores de filmes de Hollywood trocando favores sexuais para dar a atrizes papéis no cinema, como Maureen Prescott, vítima de estupro coletivo sistemático pela elite de Hollywood e Bianca Burnette dizendo que perdeu o papel da Princesa Leia porque ela não quis dormir com George Lucas, e Angelina revelando ter dormido com o diretor para conseguir o papel de Sidney em Stab 3. Mal sabia a mídia mundial na época que o produtor da série Harvey Weinstein era um predador sexual.
Para finalizar, uma coincidência bizarra. Em um ponto, Gale faz um comentário que Jennifer Jolie estava em um relacionamento com Brad Pitt. Coincidentemente, o nome é junção de Jennifer Aniston e Angelina Jolie, ambas casadas com Brad Pitt em certos momentos após o lançamento deste filme.
E vou deixar aqui uma impressão que fiquei do todo. A história foi construída para serem dois assassinos, e isto mudou ao longo dos eventos. Este fato afetou drasticamente a verossimilhança da trama. A morte do assassino é forçada e o fato de ser um só, torna-o capaz de viajar longas distâncias e praticamente se teletransportar para diferentes locais para cometer todos esses assassinatos implausíveis e, em muitos desses casos, Angelina estava desaparecida, pois ela seria a assassina quando Roman não estivesse por perto. Dicas de que Angelina (Emily Mortimer) era a segunda assassina ainda permanecem no filme. E sua própria morte parece encenada.
Se prestar atenção às ações de Angelina durante a festa de encerramento do Stab 3, você pode ver que ela age bastante desconfiada, entrando e saindo constantemente e desaparecendo misteriosamente quando a casa explode apenas para se reunir com todos depois que eles caem nas colinas. Ela deveria ser a pessoa que acendeu o fogão a gás que causou a explosão, enquanto Roman estava matando Stone. Roman ainda seria responsável por cortar a energia e enviar por fax as páginas do roteiro para os personagens dentro da casa (o que seria realmente impossível, se a energia fosse cortada). É por isso que Angelina se afastou de todos antes que caíssem pelas colinas e desceu em segurança para se encontrar com eles, porque ela sabia quando a explosão aconteceria. Também vale a pena notar que ela estava ignorando Dewey '
E afinal, como Ghostface conseguiu rastrear e ligar para o número de Sidney enquanto ela estava escondida em isolamento? De acordo com o próprio filme, Sidney se escondeu para lidar com seus traumas e nem mesmo o detetive Kincaid conseguiu encontrá-la.
Pânico 4 (2011)
Saldo até aqui: Sidney teve um ex-namorado assassino, um meio irmão assassino e uma mãe promíscua. Ela ainda mata a mãe do ex e o meio irmão (mas não antes de ser alvejada por ele duas vezes). E vamos agora de Pânico 4, esperando inclusive que nenhum parente perdido apareça ou ninguém esfaqueie ou atire em David Arquette porque francamente, ele já sofreu demais.
Pânico 4 veio ao mundo uma década depois do capítulo anterior, cercado de dúvidas, já que a história foi "encerrada" no filme anterior. Na história, Sidney Prescott (Neve Campbell) está de volta à sua cidade natal, Woodsboro, onde sobreviveu a uma série de terríveis assassinatos. Ela escolheu a cidade para encerrar a turnê de lançamento de seu livro, no qual fala sobre como deixar de se sentir uma vítima. Só que, tão logo ela chega, o assassino Ghostface volta a atacar. Ao lado dos velhos amigos Dewey (David Arquette) e Gale (Courteney Cox), agora casados, eles precisarão enfrentar uma nova série de mortes. Para complicar ainda mais a situação, os adolescentes da cidade idolatram o massacre de Woodsboro e, fãs de filmes de terror, o celebram a cada aniversário.
O filme recicla as próprias ideias, ironizando o caos gerado pelas infinitas continuações de filmes de terror. Este foi o último filme dirigido por Wes Craven antes de morrer de câncer no cérebro em 30 de agosto de 2015, aos setenta e seis anos. Curioso que o filme seja o fim de um ciclo não só para o diretor, mas para o casal Courteney Cox e David Arquette, que se formou no primeiro filme e se separaram neste, que, aliás, tem o melhor elenco principal e secundário de todos, com Emma Roberts, Hayden Panettiere, Rory Culkin, Adam Brody, Alison Brie, Anthony Anderson, Lucy Hale, Mary McDonnell, Anna Paquin, Kristen Bell além do trio principal, sobrevivente (e sinceramente, não duvido que algum deles se torne psicopata no futuro).
O roteirista Kevin Williamson teve repetidos confrontos com os Weinsteins (Bob e Harvey Weinstein), resultando na contratação, mais uma vez, de Ehren Kruger, agora para reescrever cenas. Aliás, minha lembrança da história é zero. Posso brincar de detetive enquanto escrevo e ver se acerto algo. Não creio que o assassino seja um parente, já que isto já cansou.
Com 30 minutos, estou supondo que sejam duas pessoas novamente e como a trama envolve o sucesso da história, imagino que seja uma armação: uma pessoa mata enquanto a outra tira vantagem sendo vítima para obter o sucesso de Sidney Prescott. Acho que se a história for por ai, será mais original... No caso, Jill (Roberts) seria a moça, enquanto o seu comparsa/assassino, um namorado. Mas neste ponto do filme, tenho fortes suspeitas da policial, parceira de David Arquette, por conta de "certos olhares". Veremos daqui a pouco...
Enquanto isso...
Vou observando algumas coisas. Eu senti falta de uma referência a Psicose, comum em todos os filmes. Mas ai, descobri que o nome do policial vivido por Anthony Anderson é Perkins. Referência mais sutil, mas está la...
Cada um dos novos personagens centrais é um arquétipo de um dos personagens do original: Jill, vivida por Emma Roberts é Sidney; Kirby (Hayden Panettiere) e Olivia (Marielle Jaffe) formam juntas Tatum (Rose McGowan); Trevor (Nico Tortorella) faz o Billy; Charlie (Rory Culkin) faz Stu, Robbie (Erik Knudsen), faz Randy; Rebecca Walters (Alison Brie) faz Gale, enquanto Vice Judy (Marley Shelton), Dewey. Desta forma, Trevor estaria cometendo os assassinatos e Stu ajudando.
Well well...uma hora e 10 minutos depois.
Acertei (quase) tudo. Jill era mesmo a psicopata que queria se fazer de vítima, enquanto Charlie (e não Trevor), mata com ela. Trevor (Nico Tortorella), namorado de Jill, originalmente deveria ser o Ghostface nos primeiros rascunhos do roteiro, mas essa ideia foi rapidamente vetada depois que foi vista como muito derivada do primeiro filme.
Mesmo assim, seria mais verossímil que os dois fossem, já que no momento em que Charlie é amarrado na cadeira, Jill estava no quarto em baixo da cama e não poderia ter se tele transportado para a cena, ainda que, quando Prescott retorna ao quarto, ela não está mais lá.
Ao invés de colocar Trevor como cúmplice, Jill forja para que ele seja (levando a um resultado parecido). E o motivo de tudo isso era realmente a busca pela fama, como imaginei. Bom, se fosse hoje, era só fazer um podcast ou canal do YouTube. E um detalhe: somente Marnie Cooper, Olivia Morris e Robbie Mercer foram vítimas de Charlie. As outras 7 foram pelas mãos de Jill.
Este filme pretendia ser o primeiro de uma nova trilogia, e a pré-produção de um quinto filme realmente começou após o lançamento deste filme, com o elenco principal de Neve Campbell, David Arquette, Courteney Cox, Marley Shelton e Hayden Panettiere reprisando seus papéis (com Kirby revelado ter sobrevivido). Infelizmente, porém, com a morte de Wes Craven , combinada com Pânico "na TV" (não resisti à piadinha infame) servindo como o reboot da franquia, esses planos foram inicialmente abandonados, até que Pânico (2022) fosse feito, com todos, exceto Panettiere, retornando.
Um bom filme do gênero, mas numa avaliação crítica, a série perdeu fôlego a cada filme, ainda que tenha buscado caminhos para que isto não acontecesse de forma significativa.
Pânico 5 (2022)
Desnecessário dizer que Pânico 5 era um filme... desnecessário. E é neste lugar que reside a saga: uma hábil tentativa de criar em cima de repetições. Os novos tempos proporcionam elementos criativos adicionados à linguagem narrativa, como dispositivos de segurança e smartphones. Na trama, que se passa vinte e cinco anos após uma série de assassinatos brutais chocar a tranquila cidade de Woodsboro, um novo assassino se apropria da máscara de Ghostface e começa a perseguir um grupo de adolescentes para trazer à tona segredos do passado.
Como sempre, escrevo enquanto o filme se desenrola. E como passou muito tempo do primeiro filme, só tenho uma suposição: que o novo assassino ou nova vítima, esteja relacionado a algum personagem do primeiro. Nenhuma outra hipótese me ocorreu. Em um chute estratosférico, eu diria que uma inversão de papéis irá ocorrer como em Star Wars. O filho ou filha de algum dos vilões se torna vítima, possivelmente, de uma vingança.
10 minutos depois... Bingo.
Acertei o fato de que a personagem principal era filha do vilão. E ao término do filme, fiquei com várias sensações (que podem muito bem mudar ao longo dos anos). Gostei mais deste do que das duas continuações anteriores, principalmente pela volta de quase todos os personagens. A motivação do crime foi de longe a pior, já que ela emula a anterior. Penso que seria mais interessante tornar a filha do assassino a vítima e de repente, um filho do casal do primeiro filme, o assassino. Da forma que ocorreu, assim como as mortes, foi aleatória demais.
Afinal, matar porque não concordam com os rumos das adaptações cinematográficas, sendo que a série Stab está no seu oitavo filme, chega a ser burrice, já que era mais provável que um remake fosse feito e a história dos assassinos nem fosse contada. Enfim, um filme burro, mas dinâmico, nostálgico e indicado para os fãs do gênero e da saga. A morte de Dewey foi além de só um lugar comum nestes retornos muito tempo depois, mas uma crueldade com um personagem que sofreu mais do que merecia ao longo dos cinco filmes.
Outro fato que me incomodou bastante é que Gale e Sidney levam tiro e facada, respectivamente, na região abdominal, mas parece que o roteiro resolveu poupá-las para o capítulo 6 e pronto. Ficou por isso. Eliminou qualquer lastro de gravidade do ferimento. E sem contar a trama da filha de Billy, que de tão mal escrita, nunca sabemos ao certo se ela luta contra os impulsos do pai em seu sangue ou luta contra o pai. No final, com a violência da cena em que ela mata um dos assassinos, fica sugerido que ela vai se render ao DNA assassino do pai, algo forçado demais.
Mais um ponto negativo é o fato de que o filme "culpa" a ficção pelas decisões tomadas pelos psicopatas, algo que Craven não faria. Mas não se engane. Estes são detalhes ruins em um filme com ótimo ritmo e que faz valer o preço do ingresso. E antes que alguém diga que eu estou de mal com a vida, o roteiro foi escrito por James Vanderbilt (O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro, Independence Day: O Ressurgimento, Mistério no Mediterrâneo) Guy Busick, que é a parte melhor da dupla, fez Casamento Sangrento e Castle Rock. Fica fácil entender as partes mal escritas.
O casal que ninguém viu...
Embora Patrick Dempsey não apareça no filme, finalmente descobrimos o que aconteceu com seu personagem de Pânico 3 (2000) Mark Kincaid após Pânico 4 (2011). Acontece que Sidney e Mark se casaram e tiveram filhos. Patrick Dempsey foi considerado para reprisar seu papel como Mark para o quarto filme, mas conflitos de agenda com Transformers: O Lado Oculto da Lua (2011) tornariam isso impossível.
Neve Campbell estava inicialmente hesitante em retornar à franquia, especialmente em um novo filme de Pânico que não apresentava Wes Craven como diretor, que seria incapaz de dar a bênção a Campbell e aos novos diretores devido à sua morte. O que a fez mudar de ideia foi uma carta enviada a ela por Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, onde eles escreveram sobre o quanto Wes Craven e seus filmes significavam para eles como cineastas.
Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett eram grandes fãs dos filmes Pânico muito antes de serem contratados como diretores deste filme. Ambos citam Wes Craven e Pânico (1996) como a razão pela qual começaram a fazer filmes de terror.
Um fato que achei bem curioso é que o ator Jack Quaid (filho de Meg Ryan e Dennis Quaid) é muito parecido com o ator Joshua Jackson, que trabalhou na série Dawson's Creek, de Kevin Williamson. Inclusive há uma referência dela no filme. Outro fato curioso é que o ator Dylan Minette nasceu 9 dias após o Pânico original (1996) chegar aos cinemas em dezembro de 1996.
Vale também citar as conexões dos personagens: Samantha Carpenter é a filha ilegítima de Billy Loomis de Pânico (1996); Wes é filho de Judy Hicks, sobrevivente de Ghostface em Pânico 4 (2011); Chad e Mindy são sobrinhos e sobrinhas do falecido Randy Meeks de Pânico (1996);Heather Matarazzo reprisa seu breve papel de irmã mais nova de Randy, Martha Meeks, apresentada em Pânico 3 (2000), que é a mãe de Chad e Mindy Meeks-Martin; Vince Schneider é sobrinho de Stu Macher, de Pânico (1996); e Amber Freeman vive na antiga casa de Stu Macher em Turner Lane.
A única personagem adolescente do ensino médio de Woodsboro no filme a não ter uma conexão com um personagem legado na tela é Liv McKenzie, embora seu sobrenome pareça ser uma referência aos vizinhos de Casey Becker mencionados no prólogo de Pânico (1996).
Enfim, com o gancho do final, teremos um embate entre Samantha e Sidney na sexta parte? Será o fim das ligações com perguntas de filmes? Teremos um filme franco sobre uma assassina vingando a morte do pai? Em breve saberemos.
Mas pelo menos, a referência ao filme Psicose fará parte com certeza (constante nos cinco filmes). Isto se não descobrirmos que o verdadeiro nome de Samantha é Norma Bates (ou quem sabe Norma Stabs, caso o roteirista de "Mistério no Mediterrâneo" volte a atacar).
Pânico 6 (2023)
Eu adoro Sexta-Feira 13, Parte 8: Jason Ataca Nova York (1989), mas levar Pânico VI a Nova York talvez seja mais que uma simples homenagem, mas um aceno aos produtores que a saga Pânico esteja na hora de encerrar. E não é pela qualidade do elenco, roteiro ou direção. O filme inclusive recebeu sinal verde em 3 de fevereiro de 2022, três semanas após o lançamento de Pânico (2022). E rendeu mais que o quinto filme em poucas semanas.
Nem pela resposta do público. Mas pela necessidade de mirar nas continuações já desgastas de outras sagas para construir sua narrativa. Na trama, Sam (Melissa Barrera), Tara (Jenna Ortega) e seus dois amigos sobreviveram a um massacre terrível em Woodsboro no ano anterior. Para tentar recomeçar a vida, os jovens decidem se mudar para a agitada cidade de Nova Iorque. No entanto, uma nova versão Ghostface tentará matá-los a todo custo, dessa vez ainda mais brutal e determinado a acabar de vez com essa história envolvendo as irmãs Carpenter.
Em homenagem a Wes Craven, que dirigiu os primeiros quatro filmes de “Pânico”, a figurinista Avery Plewes colocou na cena do metrô personagens da filmografia do diretor. Na cena podemos ver trajes dos filmes: Aniversário Macabro (1972), Benção Mortal (1981), A Hora do Pesadelo (1984), A Maldição de Samantha (1986), Shocker: 100 Mil Volts de Terror (1989), As Criaturas Atrás das Paredes (1991) e Um Vampiro no Brooklyn (1995).
Os diretores explicaram que não resistiram a uma das referências mais óbvias em relação à sequência do set de Nova York: Sexta-Feira 13, Parte 8: Jason Ataca Nova York (1989). Matt Bettinelli-Olpin disse: "Acho engraçado; foi realmente um acaso, na verdade. Continuamos fazendo piadas, obviamente; desde a primeira vez que lemos o roteiro, mas Jason nunca teve um lugar para destacá-lo no roteiro até que tudo simplesmente se encaixou."
E no final, o easter egg ficou sendo quando Jason (quem mais?) Carvey retorna ao seu apartamento, e o filme na TV é Sexta-Feira 13, Parte 8.
A volta dos que não foram...
Kirby Reed, um dos sobreviventes do Pânico 4 (2011), foi um retorno surpresa, fazendo dele o primeiro filme de Hayden Panettiere em 5 anos, e seu primeiro lançado nos cinemas em 12 anos, sendo o último o próprio Pânico 4 (2011). Já havia planos de envolver Panettiere em Pânico (2022) segundo o roteirista Kevin Williamson, mas ela não foi localizada a tempo, então sua presença se limitou à foto em miniatura do YouTube e a uma participação especial de voz.
Aos 17 anos, Jack Champion, que interpretou Ethan Landry, é o ator mais jovem da franquia a interpretar um dos assassinos. Ele também é um dos únicos dois adolescentes a interpretar um Ghostface adolescente. Emma Roberts, que interpretou Jill Roberts, tinha 19 anos quando Pânico 4 (2011) foi filmado, é a outra. Skeet Ulrich e Matthew Lillard, que interpretaram os assassinos Billy Loomis e Stu Macher no filme original; Rory Culkin , que interpretou Charlie Walker em Pânico 4 (2011) e Mikey Madison, que interpretou Amber Freeman em Pânico (2022), estavam todos na casa dos 20 anos.
Este é o primeiro filme da franquia que tem três assassinos em vez de dois (ou um). Tecnicamente, são cinco, se você contar Jason Carvey e seu parceiro invisível Greg Brockner como assassinos. É também o primeiro filme da franquia a ver mais de um assassino Ghostface fantasiado na mesma cena, e o primeiro a ter dois dos assassinos atacando uma vítima simultaneamente.
E inflar o número de assassinos, aumentar orçamento, e a necessidade da segunda reivenção da saga (a primeira, justamente de 2011, falhou), demonstram que se o público realmente endossa o quinto e sexto filmes, a turma de Woodsboro deveria se aposentar no sétimo, enquanto estão novamente no auge.
Mas acredito que a regra básica dos produtores de Slasher seja: "desistir nunca, render-se jamais." Portanto, Pânico só acaba se parar de ser vanjatoso financeiramente. Então, por enquanto, veremos o legado de Craven ser explorado até o bagaço.