SILVIA COLLATINA - RESPONDE ÀS 7 PERGUNTAS CAPITAIS
1) É comum lembrarmos com carinho do início da nossa relação com o cinema. Os filmes ruins que nos marcaram, os cinemas frequentados (que hoje, provavelmente, estão fechados), as extintas locadoras de VHS e DVD que faziam parte do nosso cotidiano. Você é uma apaixonada por cinema? Conte-nos um pouco de como é sua relação com a 7ª arte.
S.C.: Sempre fui uma apaixonada por cinema com especial atenção ao cinema de terror, desde criança. Com minha família, costumávamos ver filmes de terror e nos reuníamos todos na sala à noite. Para mim, era algo mágico. Lembro-me de mim e da minha irmã vendo esses filmes à noite em nosso quarto com uma pequena TV em preto-e-branco, o que tornava tudo muito mais reconfortante. Ainda podia sentir a empolgação... E ainda preciso sentir essas sensações, adoro ficar assustada, preciso disso, sou fã de terror em primeiro lugar.
2) Muitos adoram fazer listas de filmes preferidos. Outros julgam que é uma lista fluida. Para não te fazer enumerar vários filmes, nos diga qual o filme mais importante da sua vida.
S.C.: Sem a menor sombra de dúvidas, meu filme favorito é “O Exorcista”. Ele sempre me fascinou desde que eu era uma garotinha. É claro que não fui autorizada a vê-lo e quando ouvi pessoas falando sobre ele, senti um efeito irresistível no filme e não pude esperar para apreciá-lo. Quando finalmente aconteceu, eu pude assistir, fiquei tão emocionada de prender a respiração, ainda posso sentir a excitação esperando por este filme. Ele representou todos os meus medos mais profundos, é uma obsessão, li muito sobre O Exorcista: Tenho o romance, vi documentários, bastidores, anedotas, entrevistas, tudo!
M.V.: De fato, é um filme que impactou aquela geração. Eu assistia toda vez que passava na TV, quando eu tinha em torno dos 10 anos. E sempre fiquei com medo. Até hoje tenho um respeito profundo pelo filme e jamais revejo de noite. Preenchi esta cota há muito tempo. “O Exorcista” é o filme definitivo do horror.
3) Você iniciou sua carreira de atuação profissional com apenas sete anos de idade, quando estrelou Crocodilo: A Fera Assassina, de 1979. O que te inspirou a se tornar atriz?
S.C.: Comecei no meio muito jovem, com 5 anos de idade, dois anos antes do primeiro filme. Eu, minha irmã e meu irmão mais velho, fomos encaminhados para uma agência de talentos por uma senhora amiga da minha mãe e começamos juntos. Trabalhamos muito naquela época e fomos bastante famosos na indústria cinematográfica.
4) Algumas profissões rendem histórias interessantes, curiosas e às vezes engraçadas. E certamente, quem trabalha com cinema, tem suas pérolas. Lembra-se de alguma história legal que tenha acontecido durante a execução de algum trabalho seu e que possa compartilhar conosco? Alguma história de bastidores, por exemplo…
S.C.: Tenho curiosidades e histórias engraçadas para contar sobre os filmes em que atuei, principalmente em A Casa do Cemitério. Nem todo mundo sabe que eu tinha outra função, além da minha personagem principal Mae Freudstein: eu emprestei meu braço esquerdo para algumas cenas. Fui eu quem cortou a garganta de Ania Pieroni e matei Dagmar Lassander. Portanto, posso definitivamente dizer que minha mão teve um papel forte e crucial no filme também.
M.V.: Muitos disseram que Fulci era um homem difícil. Apesar de você ser apenas uma criança na época, qual foi sua impressão sobre ele?
S.C.: Não posso negar que Fulci, na época, passou um pouco de medo em mim. Ele era um pouco rude, nada fácil de agradar. Eu sabia que ele era alguém importante, um diretor imponente e representava para mim um professor que eu deveria ouvir, respeitar e atender suas necessidades. Eu era muito profissional, mesmo sendo tão jovem eu seguia cegamente seu conselho. Mais tarde, soube que ele se preocupava comigo e tenho muito orgulho disso!
5) O que fez você decidir deixar de atuar?
S.C.: Com o passar dos anos, me arrependi de ter saído de cena. Não posso me culpar por essa decisão, mas francamente, estou falando agora que me arrependi. Ser atriz às vezes me deixava desconfortável, eu estava muito mal naquela época e só queria ser como todas as outras crianças. As pessoas me olhavam como uma garota esquisita, com cabelo vermelho... Como uma bruxa, mas eu queria apenas me sentir “normal”, uma pessoa comum. Com o passar dos anos, percebi que nunca fui uma pessoa comum e não quero ser normal. Eu sou bizarra, engraçada, amo o terror, sou eu... E sou muito feliz por isso.
M.V.: E você tem algum projeto futuro?
S.C.: Quanto ao futuro, estou trabalhando em alguns projetos, talvez um filme nos EUA (um filme de terror, claro) e um monte de outras ideias e planos. Algo está se movendo de novo em mim e estou muito feliz. Aceito compromissos que atendam às minhas necessidades e à natureza mítica. Na verdade, eu gostaria de atuar novamente, mas meu grande sonho é dirigir um filme de terror só meu. Já escrevi a história toda e acho que pode dar certo porque é uma homenagem aos filmes de terror dos anos 80. É uma homenagem aos melhores filmes de terror que ainda amamos... Vamos cruzar os dedos, então!
6) Ainda na sua área de atuação. Qual trabalho que você fez que te deixou mais orgulhosa?
S.C.: Serei sempre grata a Fulci pelo cuidado especial comigo em "A Casa do Cemitério". Minha realização é saber que as pessoas amam meu papel. E eu amo, com certeza, os fãs de Mae também.
Em contrapartida, algum arrependimento?
S.C.: Não me arrependo de nenhum filme. Não faço segredo de que tenho um amor especial por filmes de terror, mas muitos papéis foram importantes para mim, para construir a pessoa que sou, profissional e intimamente. Qualquer experiência cria algo novo! Espero ter outras chances de atuar novamente em um futuro próximo e se isso fosse nos filmes de terror, eu não poderia estar mais feliz!
7) Para finalizar, cite uma frase famosa do cinema que representa você.
S.C.: "Ninguém vá para dentro. Eu avisei a todos para não irem."
M.V.: Obrigado Silvia, foi um prazer.
S.C.: Obrigado Marcus, o prazer foi todo meu.