A MULHER FAZ O HOMEM (1939) - FILM REVIEW
Texto: M.V.Pacheco
Revisão: Thais A.F. Melo
Ao discutirmos questões de "A Mulher faz o Homem", obra-prima de Frank Capra lançada em 1939, percebemos como a humanidade não evoluiu. Ainda que tecnologicamente, tenha dado grandes passos na última década, mesmo neles, há um vírus, sem vacinas, chamado homem.
O filme já inicia com a frase famosa "Qualquer semelhança com a realidade é coincidência". E não é à toa. Na visão do diretor, a história é atemporal. Basta dizer que o filme trata de política e um homem honesto entrando no meio. E como ele não anda conforme o sistema, é vítima de fale news para descredenciá-lo.
Jefferson Smith (James Stewart) é um homem humilde do interior que é convidado a se tornar senador dos Estados Unidos em Washington. Ao chegar lá, ele vai ver como a política é suja e como a maioria dos chefes de estado estão afundados nessa lama. Apesar de Smith ser um homem simples, ele não se acovarda perante aos outros, como quando após sofrer falsas acusações, fez um discurso de várias horas que o esgotou completamente. No meio dessa sujeira toda, o que ele acreditava em relação à bondade e ao caráter dos governantes fica totalmente ameaçado.
Eu gostaria que o filme fizesse menos sentido neste 2023, mas não é nossa realidade. E não vejo caminho para mudança, só eventuais melhoras, mas que não permanecem. A imprensa de Washington ficou extremamente indignada do modo como eles foram tratados no filme. Consequentemente, uma boa quantidade de críticas iniciais do congresso americano foram bem negativas. Uma das objeções era que o filme retratou-os bebendo muito. Já o público reagiu de outra forma, já que Frank Capra recebeu muitas cartas ao longo dos anos de pessoas que se disseram inspiradas pelo filme a entrar para a política.
Um dos verdadeiros senadores de Montana odiou tanto o filme que ele deixou a sessão no meio do filme e foi embora (sinal que o filme é grandioso). Em 1942, quando os filmes americanos foram banidos por imposição alemã na França ocupada, os principais cinemas optaram por apresentar A Mulher Faz o Homem como o último filme dos Estados Unidos antes da medida entrar em vigor. Um cinema exibiu o filme durante 30 dias consecutivos antes da proibição.
Em sua autobiografia, Frank Capra afirmou que após o lançamento geral do filme, ele e Harry Cohn receberam um telegrama do embaixador dos Estados Unidos na Grã-Bretanha, Joseph P. Kennedy, dizendo que achava que o filme prejudicaria o "prestígio da América na Europa" e, portanto, deveria ser retirado da distribuição europeia.
O filme acabou proibido na Alemanha nazista, na Itália fascista e na Espanha falangista. Segundo Capra, o filme também foi dublado em alguns países europeus para alterar a mensagem do filme de modo que se adequasse à ideologia oficial. Na União Soviética, o filme foi lançado apenas em 8 de outubro de 1947.
James Stewart transborda dignidade no papel de um político (e amigo) puro, que acredita que está ali para uma função real. O seu "idealismo" reside na imagem que ele tem da política, mas através dela, a perda da inocência vem por conta da manivela que faz a engrenagem política girar chamada homem.
A ideia de unir política, escoteiros mirins e Stewart na mesma linha, demonstra o quão otimista era o diretor Frank Capra. O Escotismo é uma escola de cidadania através da destreza e habilidade em assuntos mateiros. E torná-lo gatilho para expor as manipulações políticas e da mídia (quando lhes convém) é genial. Mas achar que o discurso idealista do personagem seria catalisador do arrependimento de políticos com as mentiras inventadas parece surreal aos nossos olhos.
Capra, porém era um (reconhecido) otimista incorrigível desde sempre, e sua filmografia reflete isso. Em sua infância, a família de Capra o pressionou a abandonar a escola e ir trabalhar, mas ele recusou, pois queria viver plenamente do sonho americano e, para isso, precisava de educação. Capra mais tarde relembrou que sua família pensava que ele era um vagabundo por querer estudar.
Capra foi subversivo ao lançar um filme retratando a mídia como coiotes procurando carniça e políticos como bandidos sem caráter. Para ele, a juventude poderia ser a solução, não pela competência, mas pela falta de contaminação.