O TEMPO (2021) - FILM REVIEW
Texto: M.V.Pacheco
Revisão: Thais A.F. Melo
M. Night Shyamalan é um diretor que não precisa provar nada para ninguém. Caso ele não seja arrogante (nunca me pareceu ser), talvez precise provar apenas para ele mesmo. O fato é que ele jamais saiu da sombra do seu maior sucesso, O Sexto Sentido. Mesmo tendo feito ótimos filmes, para o público em geral, o diretor nunca mais atingiu aquele nível na direção, se tornando quase um "escravo" do final com plot twist, o que foi, definitivamente, o grande equívoco de sua carreira. Quando ela não acontecia, frustrava os fãs. E quando ocorria, muitas vezes não surpreendia tanto. M. Night Shyamalan se tornou escravo de O Sexto Sentido.
O que nos leva a Tempo, mais nova empreitada do diretor pelo cinema fantástico. No filme, acompanhamos um grupo de pessoas durante uma viagem para uma ilha tropical. Quando eles chegam a uma praia deserta, algo estranho começa a acontecer: todos passam a envelhecer rapidamente e anos inteiros passam em questão de minutos. Eles, então, precisam descobrir o que está acontecendo antes que suas vidas sejam encurtadas drasticamente.
Indiscutivelmente, o diretor tem um olhar peculiar sobre os personagens e passa isto para o público com bastante identidade. Ele consegue envolver o telespectador no mistério acerca da trama, nos fazer pensar sobre tudo aquilo e até mesmo tentar nos instigar a solucionar a trama. Mas uma rápida passada pela internet, constatamos que as opiniões sobre o filme são opostas. Há quem diga que é uma obra-prima. Outros dizem ser mais um filme pretensioso do realizador.
Efeito Pandemia
"Tempo" é uma adaptação de uma história em quadrinhos de 2010 do escritor Pierre Oscar Lévy e do artista Frederik Peeters chamada Sandcastle. Quando questionado sobre o que o inspirou a adaptar o livro ao cinema, o diretor M. Night Shyamalan explicou: "O livro me deu a oportunidade de trabalhar com muitas ansiedades que sentia em relação à morte e ao envelhecimento, e coisas como o envelhecimento dos meus pais."
A obra foi filmada em 2020, durante o auge da pandemia global do Coronavirus. O elenco e a equipe deveriam ser testados diariamente para possíveis infecções. M. Night Shyamalan disse que o tema do filme, em que um grupo de pessoas se veem presas em uma praia isolada, lidando com um fenômeno mortal, espelha a experiência de estarem confinados e a incerteza da pandemia. Por puro acaso, o filme nos faz pensar muito profundamente sobre a morte, sobre a sobrevivência e sobre estar preso. Podemos facilmente traçar um paralelo entre aquela prisão na praia e o tempo perdido com a população durante os piores momentos da pandemia.
Antes da produção, M. Night Shyamalan exibiu dois filmes para seu elenco e equipe, que foram considerados grandes influências no estilo e tom que ele queria para Old. O primeiro foi A Longa Caminhada (1971), dirigido por Nicolas Roeg. O segundo foi Piquenique na Montanha Misteriosa (1975), direção de Peter Weir. Shyamalan os descreveu como "histórias sobre seres humanos lutando contra o poder descomunal da natureza", filmes onde a natureza se torna algo misterioso, avassalador, quase sobrenatural.
Final arrebatador?
Precisamos nos acostumar com M. Night Shyamalan para apreciar melhor sua obra como um todo. O que importa, realmente., é a viagem. Mas um destino frustrante esbarra no julgamento do filme em sua totalidade. Um final confuso ou fraco estraga o resultado, na cabeça de muitos. Curioso que o contrário, com o filme começando ruim e melhorando, a percepção muda. Por isso, é tão importante que a surpresa final entregue mais do que o esperado. E nesse sentido, Shyamalan acumula decepções.
Então, leitora e leitor, não vou colocar aqui minha percepção do final. Prefiro falar sobre a viagem até lá... Num primeiro momento, o gatilho inicial é o corpo encontrado boiando. Logo em seguida, o short do garoto, que parece ter ficado apertado repentinamente. Depois, a mãe de um dos personagens morre. Pequenas situações que ocorrem em sequência, que expõem as divergências do grupo, principalmente por ser um ambiente hostil.
E quem é pai ou mãe, vai entender perfeitamente a cena em que as crianças crescem repentinamente. Num piscar de olhos. Mais real impossível. Logo após, uma engravida e quer tomar suas próprias decisões, como se ficar adulto fosse, de fato, algo resolvido num piscar de olhos. Outro exemplo, o fato de o casal estar se separando. Num mundo real, no século passado, eles seriam socialmente obrigados a ficar juntos, tal como no filme. Envelhecerem juntos e extraírem os prós e contras de uma relação não desejada. Os valores mudam com a rapidez de um raio.
Tempo lida com o fatalismo da vida, com a percepção de como ela passa rápido e a necessidade de dar sentido à sua linha temporal a fim de não terminar seu tempo na Terra em vão. E a mensagem antes do "gran finale" é: para sair de uma situação indesejável, demanda esforço. E é simples assim, a estagnação não é o caminho.
Movimento é vida.
Tempo não é uma ficção. É uma metáfora.