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SHOW DE TRUMAN (1998) - FILM REVIEW

 

Show de Truman

Texto: M.V.Pacheco

Revisão: Thais A.F. Melo

O Show da Vida

O Show de Truman dialoga com o telespectador sobre a futilidade de um reality show e como sua importância finda no momento em que ele termina. Não importa o quanto tenha se emocionado durante a sua exibição ou mesmo se decepcionado: sua experiência está relacionada ao seu tempo de exibição, mesmo que, para quem vive, seja real, intenso e inesquecível.

Na trama do filme, Truman Burbank (Jim Carrey) é um pacato vendedor de seguros que leva uma vida simples com sua esposa Meryl Burbank (Laura Linney). Porém, algumas coisas ao seu redor fazem com que ele passe a estranhar sua cidade, seus supostos amigos e até sua mulher. Após conhecer a misteriosa Lauren (Natascha McElhone), ele fica intrigado e acaba descobrindo que toda sua vida foi monitorada por câmeras e transmitida em rede nacional. 

Visionário

O filme de Weir e o roteiro de Andrew Niccol foram visionários. Para ter uma ideia, o primeiro "Big Brother" surgiu na Holanda no final de 1999 (no ano seguinte ao lançamento do filme) e só chegou ao Brasil em 2002. Claro que o roteiro bebe em fontes bem mais antigas, como o livro 1984 de George Orwell (publicado em 1949) ou O tempo desconjuntado, de Philip K. Dick, que mostra um homem que, sem saber, é forçado a viver em uma realidade alternativa. Mas o roteiro de O Show de Truman dialoga com nossa realidade atual de forma fenomenal.

E visto de hoje (2021), estamos cada vez mais próximos da vida de Truman, só que de forma consciente. Somos cada vez mais controlados, direcionados, e vivemos cada vez mais vidas que só fazem sentido se forem acompanhadas em redes sociais ou canais de YouTube. Como se em cada um de nós, existisse um Truman disposto a não deixar o show morrer, mesmo que isto seja, literalmente, inevitável.

Não à toa, a hoje conhecida como"Síndrome de Truman" tomou conta de muitas pessoas fora da ficção e se caracteriza por um distúrbio psicológico no qual as pessoas acreditam estarem vivendo em um reality show. A Síndrome tem sido documentada e há inúmeros casos curiosos como um cara que invadiu um prédio federal americano pedindo que fosse liberto do show. Em outro caso, uma pessoa escalou a Estátua da Liberdade acreditando que sua namorada do colégio estaria no topo, o que era o caminho para ele sair do show.

Ainda há muita discussão sobre este problema (muito real) que acontece na vida destas pessoas. Basicamente, os especialistas discutem se é uma doença nova (o que é pouco provável) ou um delírio paranoico causado por uma esquizofrenia (pré-existente), mas que ao assistirem o filme, se identificaram e passaram a acreditar que aquela "realidade" era vivida por eles.

Mas voltando ao filme. 

A grande sacada de O Show de Truman é enxergar além do que vê na tela, já que não há uma grande revelação final, pelo menos para nós, telespectadores. Por exemplo, Ed Harris faz o diretor do programa, que se comunica de uma base no céu, como uma divindade. Seu nome é Christof, uma referência óbvia a Cristo, pessoa central da religião católica, que é largamente associada a controle.

Truman também estava cercado por pessoas que não eram quem diziam ser, o que é exatamente a realidade de quase todos nós. Sem contar o paralelo que podemos traçar entre o mundo de Truman e o mundo irreal das redes sociais, onde pessoas procuram ser mais irreais possíveis em seus posts sobre as vidas perfeitas que supostamente levam. Tão fake quanto os atores do mundo que cerca Truman. Inclusive, os merchans feitos pelos atores não ficam distantes dos feitos hoje em dia por pseudo influencers no Instagram.

Curioso como, ao apresentar um mundo falso, projetado para dar a ilusão de uma conexão humana verdadeira, a obra previu o comportamento das pessoas 20 anos depois. E o mais assustador é que, o que era piada no filme, se tornou a nossa realidade.

A grande diferença entre Truman e nós, é que ele não sabia, até certo ponto, que estava sendo filmado. Não sabia que sua família e amigos eram pessoas que mentiam para ele o tempo todo, bem como o (seu) mundo todo foi construído e controlado por pessoas que estavam no poder, cujos interesses (audiência e merchandising, basicamente) eram mais importantes que sua própria vida. 

E nós, sabemos.

In case i don't see ya good afternoon good evening and good night

Truman Burbank



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