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15 PAIS ESSENCIAIS PARA O CINEMA - PARTE 2

15-pais-essenciais-para-o-cinema-parte-2

Uma das publicações mais conhecidas do nosso site é "Os 15 pais essenciais do cinema". Confesso que ela teve uma repercussão inesperada, a ponto de ser publicada na Revista Preview do ano de 2018, edição 107. 

E desde então, pensei em fazer uma "continuação", ampliando o conceito do próprio título, que engana um pouco, sugerindo da importância somente aos homens. Busquei nomes femininos que encaixassem no contexto do post, de mulheres consideradas "mães" de algo relevante. E lá se foram 3 anos de pesquisa, para postar então neste 2021. 

Surpreenda-se abaixo com + 15 pais do cinema, não se esquecendo que a palavra "Pais" se refere ao Pai e a Mãe.


Alice é "razoavelmente" importante. Digamos, se nunca ouviu falar nela, é porque há uma falha incrível de comunicação. Ela é, simplesmente, a primeira diretora da história.   Nascida na França ingressou no ramo de cinema porque foi trabalhar como secretária numa empresa que foi adquirida pela Gaumont em Paris no ano de 1896. Para quem não sabe, a Gaumont é uma companhia francesa de produção cinematográfica, fundada em 1895 pelo engenheiro e inventor Léon Gaumont. No ano seguinte, a Gaumont mudou da fabricação de câmeras para a produção de filmes, e Guy se tornou a primeira mulher a se arriscar na função de realizadora. 

Sua vocação foi reconhecida, chegando a ser nomeada  diretora de produção da empresa, supervisionando os demais diretores da empresa. Ela se casou com o empresário  Herbert Blaché, de onde herdou o sobrenome. Ela fez mais de 400 trabalhos, sendo a maioria curtas metragens, desde 1896. Seu primeiro foi "A fada do repolho".  Atuou como produtora em muitos casos, roteirista e até atriz.

Georges Meliès começou no mesmo ano. Workaholic como Alice. Ambos visionários. Mas havia uma diferença capital: ela era mulher. Alice explorou técnicas que seriam, obviamente, atribuídas a um homem alguns anos depois: D. W. Griffith. Seu protagonismo no universo cinematográfico era tão grande, que em 1906 fez A vida de Cristo, um média metragem que mostra um desenvolvimento da linguagem cinematográfica até então inédito. Para ter uma ideia de quão avançada era Alice, em 1912 fez "Um tolo e seu dinheiro", com o primeiro elenco formado somente por negros da história. Bom, o machismo e a sociedade patriarcal francesa fez questão de esquecê-la após a separação do marido. Depois do fato, ocorrido no início dos anos 20, ela foi socialmente aposentada. Faleceu em 1968 aos 94 anos.


O espanhol Jesus Franco começou sua carreira aos 24 anos como assistente de direção na indústria cinematográfica espanhola, realizando muitas tarefas, incluindo compor música para alguns dos filmes, bem como co-escrever vários roteiros. Ajudou vários diretores, como Joaquín Luis Romero Marchent , León Klimovsky e Juan Antonio Bardem. 

Apesar de conhecido, nunca alcançou grande sucesso comercial. Muitos de seus filmes foram distribuídos apenas na Europa, e a maioria deles nunca foi dublada para o inglês. Franco mudou-se da Espanha para a França em 1969 para que pudesse fazer filmes mais violentos e eróticos, livres da censura estrita da Espanha da época, e foi nesse ponto que sua carreira começou a entrar em declínio comercial, à medida que ele se tornava mais baixo o orçamento de produção de filmes com ênfase em material adulto.

Os temas de Franco frequentemente giravam em torno de vampiras lésbicas, mulheres na prisão, sadomasoquismo, zumbis e exploração sexual (incluindo vários filmes baseados em obras do Marquês de Sade). Trabalhou inúmeras vezes usando os mais diversos pseudônimos. E pela carreira com mais de 200 filmes dirigidos, ficou conhecido como Pai dos filmes "B" da Espanha.

Franco sofreu um grave acidente vascular cerebral em 27 de março de 2013 e foi levado para um hospital em Málaga, Espanha, onde morreu seis dias depois, na manhã de 2 de abril. Ele tinha 82 anos. 


A importância de Mario para o cinema é ímpar. Através de sua obra, nasceu o movimento cinematográfico, que seria mundialmente conhecido por Blaxploitation. Os filmes blaxploitation eram protagonizados e realizados por atores e diretores negros e tinham como publico alvo, principalmente, os negros norte-americanos. Era uma forma de dar voz a eles ou mesmo, forçar a sociedade a escutá-los. Nos filmes, nenhuma instituição oficial é confiável ou tem interesse legítimo pelo que se passa nas comunidades afro-americanas. “Os problemas das comunidades negras só são resolvidos pela ação direta dos próprios membros dessa comunidade”.

Assim, nasceu um dos principais momentos do cinema setentista. O movimento fez versões de muitos sucessos da época, como Drácula, Poderoso chefão e Exorcista. A produção Sweet Sweetback’s Badaaasss Song reunia pela primeira vez todas as características que definiram o gênero: produção independente de baixo orçamento, tendo como personagem principal um anti-herói negro em conflito com o poder estabelecido. E claro, uma trilha sonora matadora do Earth, Wind and Fire. Ele é, portanto, reconhecido como o marco zero do movimento.


Humberto Mauro nasceu apenas 2 anos após a primeira exibição oficial de um curta dos irmãos Lumiére. Da sua paixão pela fotografia e pelo cinema veio a compra em 1925 de uma câmara cinematográfica de 9,5 mm,com a qual Mauro filmou um curta-metragem. No ano seguinte filmou "Na Primavera da Vida" e em seguida "Tesouro Perdido", um filme nos moldes dos filmes de aventura americanos, com muitas e complicadas cenas de ação. Assim seguiu uma carreira marcante, inclusive migrando para o cinema falado com sucesso e depois, para os filmes em cores, até seu último trabalho em 1967.

Por sua trajetória paralela ao próprio cinema, é considerado o pai do cinema Brasileiro.


Quem, como eu, ama o filme "12 Condenados” de Robert Aldrich, sabe muito bem que a interpretação mais marcante é de John Cassavetes, que faz um sociopata inesquecível. E quem conhece o nome de  Cassavetes por este filme (como aconteceu comigo) não poderia imaginar que é um diretor sensível, que sempre se mostrou preocupado com as mazelas sociais. 

Mas sua visão profunda era dificultada pela falta de investimentos por grandes estúdios, mas isto não tornou a sua jornada mais complicada, apenas deu luz à sua jornada, tornando-o pai do cinema independente americano. Ele escrevia e dirigia filmes financiados em parte com a renda de seu trabalho como ator.

Basicamente, seus filmes eram centrados no ator e atriz principal, mostrando de forma visceral as consequências impostas pela sociedade ou por eles mesmos, às suas vidas. Sem grandes efeitos, explosões ou estilos típicos de Hollywood. E a arte do improviso era usada sempre.

Partiu relativamente cedo, de cirrose hepática em 1989, aos 59 anos, deixando a esposa Gene Rowlands e três filhos. Um deles, Nick Cassavetes, seguiu os passos do pai como ator e diretor.


Charlotte Elisabeth Germaine Saisset-Schneider ou simplesmente Germaine Dulac,  foi diretora, teórica, jornalista e crítica de cinema.

Cedo se interessou pela arte e estudou música, pintura, teatro e fotografia. Depois da morte de seus pais, instalou-se definitivamente em Paris e combinou seu crescente interesse pelo socialismo e o feminismo com sua carreira jornalística.  Em 1905, iniciou sua carreira jornalística em uma das primeiras revistas feministas da época, Ela entrevistou uma infinidade de mulheres estabelecidas na França com a intenção de solidificar os papéis das mulheres na sociedade e na política francesas. Mais tarde ela se aventurou pelo cinema.

Ao lado de Alice Guy, foi uma das pioneiras do cinema francês. No mesmo ano, casou-se com Louis-Albert Dulac, um engenheiro de família rica. Hoje é mais conhecida por seu filme impressionista "A sorridente Senhora Beudet" de 1923  e seu experimento surrealista, A concha e o padre, de 1928. Também foi vítima do fatídico final da década de 20, que ceifou quase todas as realizadoras do mapa.

Por volta de 1930, voltou ao trabalho comercial, produzindo noticiários para Pathé e depois para Gaumont . Ela morreu em Paris em 20 de julho de 1942.


Émile Eugène Jean Louis Courtet ou simplesmente Émile Cohl foi o pioneiro na animação, considerado "Pai do desenho animado". Ele começou sua carreira como caricaturista, cartunista e escritor por volta dos 20 anos e, em 1908, foi contratado pela produtora de filmes Gaumont como escritor. Ele logo também se tornou um diretor, criando comédias e fantasias, mas foi com os filmes de animação, que estavam apenas começando a ganhar espaço, que o fascinaram.  Ele começou a experimentá-los e desenvolvê-los.  

Ele trabalhou com desenhos de linhas, silhuetas e bonecos, e em 1908 ele fez Fantasmagorie (1908), considerado o primeiro filme totalmente animado (consistia em 700 desenhos de um personagem que ele criou, "Fantoche", cada um fotografado separadamente) . Ele fez mais de 250 filmes de animação entre 1908 e 1923 para uma variedade de estúdios, incluindo Eclair e Pathe. Infelizmente, Cohl foi financeiramente arruinado pela Grande Depressão do início dos anos 1930 e morreu na pobreza na França em 1938, após ter contraído uma pneumonia.


Talvez o "pai" menos conhecido desta lista seja José Zialcita Nepomuceno. Conhecido por seu pioneirismo, o produtor e diretor filipino foi reconhecido como o "Pai do Cinema Filipino".  Ele se formou como bacharel em artes pelo San Beda College. Ele estudou engenharia elétrica  e concluiu um curso de artes plásticas na Universidade das Filipinas. Ele se tornou um correspondente credenciado da Pathe News e da Paramount News de Hollywood. Ele adquiriu experiência em sua carreira fazendo documentários e cinejornais sobre diversos temas locais. 

Nascido em 1893, dois anos antes do cinema ver sua aurora, ele fez em 1919 o primeiro filme mudo filipino intitulado Dalagang Bukid . O filme foi estrelado por Atang de la Rama, um futuro Artista Nacional das Filipinas. 

Também fez legendas em inglês e espanhol para filmes importados da Europa. Foi fotógrafo e proprietário do seu estúdio fotográfico Electro-Photo-Studio Parhelio que se tornou o maior e mais caro do país. Mais tarde, ele o vendeu e fundou a Malayan Movies em 1917. Após dois anos de experimentação e treinamento, ele fez Dalagang Bukid (Country Maiden), 1919. Foi o primeiro longa-metragem produzido pelos filipinos.

Como ele era constantemente atormentado pela falta da capital, Nepomuceno foi produtor, contador de histórias, roteirista, cinegrafista, diretor de arte, montador, distribuidor e exibidor de seus filmes. Sua casa e seus estúdios pegaram fogo em 1921 e 1923, mas ele nunca desistiu. 


David Wark Griffith  nasceu em 1875. Em 1897, Griffith decidiu seguir a carreira de ator e escritor para o teatro, mas a maior parte não teve sucesso.  Mesmo assim, ele concordou em atuar no novo meio cinematográfico de Edwin S. Porter na Edison Company. Griffith acabou recebendo uma oferta de emprego na American Mutoscope & Biograph Co., com dificuldades financeiras, onde dirigiu mais de quatrocentos e cinquenta curtas-metragens (!!!). Ele produziu e dirigiu o primeiro filme realizado em Hollywood, In Old California (1910).

Griffith e seu diretor de fotografia pessoal GW Bitzer colaboraram para criar e aperfeiçoar dispositivos cinematográficos como o flashback, a foto da íris, a máscara e o corte transversal. Nos anos que se seguiram, o reconhecimento de sua carreira foi do céu a inferno, por conta dos flagrantes casos de racismos impressos nos fotogramas. 

Ironicamente, o lançamento de O Nascimento de Uma Nação (1915) inspirou muitos afro-americanos a começarem a fazer seus próprios filmes na tentativa de contrariar a representação que o filme faz deles e oferecer imagens e histórias alternativas positivas do povo afro-americano.

D.W. foi chamado de "o pai da técnica do cinema" e "o homem que inventou Hollywood". Lillian Gish o chamou de "o pai do cinema". Embora Griffith a considerasse uma amiga íntima, ela o respeitava tanto que nunca se referiu a ele como algo diferente de "Sr. Griffith", mesmo muito depois de sua morte.


Ao contrário da maioria esmagadora dos diretores de cinema, grande parte das diretoras começou carreira como atrizes. Ida estreou em The Love Race no ano de 1931 e dirigido pelo primo Henry William George Lupino. No ano seguinte participou do filme de Allan Dwan, um dos grandes diretores do cinema mudo (e falado) que realizou mais de 400 obras, entre curtas e longas. Ida quis ser música antes de migrar para o cinema e mal sabia ela que seu destino era o sucesso. 

Ida era um talento nato. Aprendeu muito sobre direção de filmes e seus processos enquanto atuava. A primeira chance de dirigir veio de maneira inesperada em 1949, quando o diretor Elmer Clifton sofreu um infarto e não pode terminar o longa "Mãe Solteira", no qual Ida co-produziu e co-escreveu. Ida finalizou o filme, mas não recebeu nenhum crédito por ele, em respeito a Clifton. O filme recebeu grande visibilidade pelo tema controverso sobre gravidez fora do casamento e Ida chegou a ser convidada pela primeira-dama, Eleanor Roosevelt, a discutir o tema em um programa de rádio.  

Seu primeiro filme veio a ser "Quem ama não teme". Ela se tornou uma astuta cineasta de baixo orçamento, reutilizando cenários de outras produções de estúdio. Ela e o marido, Collier Young, formaram uma empresa independente chamada The Filmakers para produzir, dirigir e escrever filmes de baixo orçamento e pensados para tratar questões a serem discutidas, como o primeiro filme que ela co-dirigiu. 


O cinema indiano é o que mais produz filmes no mundo. Mas muitos não sabem que a Bollywood tem um pai, que nasceu em 1870 e que ainda morreu esquecido, poucos anos depois do seu último filme. 

Dadasaheb Phalke nasceu em Nasik, na Índia. Ingressou na escola J. J. School of Arts, em Bombaim (atualmente Mumbai) em 1885. Depois de se ter formado, foi para o Kala Bhavan em Baroda, onde aprendeu técnicas de fotografia e impressão. Ele começou a sua carreira profissional como fotografo numa pequena cidade em Ghodra, mas teve que abandonar o negócio depois da morta da sua primeira mulher e do seu filho, depois de um surto de peste bubônica. Pouco depois ele conheceu o ilusionista alemão Carl Hertz, um dos 40 ilusionistas que trabalhavam para os irmãos Lumiére.

Ele passou a interessar-se pelo cinema e depois de assistir ao filme "A Vida de Cristo", ele imaginou fazer algo de similar mas com os deuses indianos. Phalke fez o seu primeiro filme Raja Harishchandra em 1912, contudo este foi apenas exibido publicamente a 3 de Maio de 1913 no Coronation Cinema de Bombaim. Phalke fundou em Bombaim uma empresa cinematográfica com o patrocínio de cinco empresários, a Hindustan Films.

Seu reconhecimento veio com o tempo.


Nas andanças pelo you tube, talvez já tenha se esbarrado com uma animação chamada As Aventuras do Príncipe Achmed (1926). Ele foi o  primeira longa-metragem de animação européia, tal como o resto da obra cinematográfica de Reiniger, é um jogo simples de luzes e sombras, um conceito surgido e popularizado na China, de onde são oriundas as famosas caixas de sombras. As figuras do filme, repleto de batalhas, comédia, romance, magia e confrontos com pequenos demônios, foram recortadas e manipuladas à luz de câmara pela realizadora.

Charlotte "Lotte" Reiniger foi uma diretora de cinema alemã e a maior pioneira da animação de silhuetas. Quando criança ficou fascinada com a arte chinesa de teatro de sombras, construindo o seu próprio teatro de fantoches, para que pudesse apresentar espetáculos para sua família e amigos. Na adolescência Reiniger apaixonou-se pelo cinema, primeiro pelos filmes de Georges Méliès por seus efeitos especiais e, em seguida, pelos filmes do ator e diretor Paul Wegene, hoje conhecido por seu trabalho como diretor em O Golem (1920). Em 1915, participou de uma palestra de Wegener sobre as possibilidades fantásticas da animação.

Reiniger convenceu os pais a deixá-la se inscrever no grupo de atuação ao qual Wegener pertencia, o Teatro de Max Reinhardt. Lá começou trabalhando nos bastidores, fazendo figurinos e adereços, além de retratos de silhueta dos vários atores. Em pouco tempo passou a fazer elaborados títulos e inter-títulos para os filmes de Wegener, muitos dos quais contavam com silhuetas.


Em 1918, Reiniger animou ratos de madeira e criou inter-títulos animados para o filme de Wegener "O flautista de Hamelin. O sucesso desta obra fez com que fosse aceita no Instituto de Pesquisa Cultural, um estúdio de animação experimental e curtas-metragens. No Instituto, ela conheceu o seu futuro parceiro criativo e marido, Carl Koch, com quem se casou em 6 de dezembro de 1921, assim como outros artistas de vanguarda, incluindo Hans Cürlis, Bertolt Brecht e Bertold Bartosch.

Além de produzir filmes de animação em silhueta, Reiniger estava igualmente envolvida com personagens em sombras.  Por exemplo, em 1933, Reiniger fez uma sequência de sombras para Don Quixote  (1933), de GW Pabst . Em 1937, ela criou a "Ponte Quebrada", uma curta sequência de sombras filmada para A marselhesa (1938), de Jean Renoir.

É até difícil mensurar o legado e a importância de Lotte para o cinema de animação. De certa forma, todos miraram no seu trabalho para iniciarem os seus,  principalmente conto de fadas. Até o clássico “Fantasia” emula o estilo de Reiniger no início da cena onde Mickey Mouse está com os músicos em live-action. E não só na formação do cinema, mas até hoje, com toda tecnologia possível disponível, podemos ver Lotte em cena. Só dar uma conferida em produções como Desventuras em série e Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1, que verão sua marca registrada em cena.

Dentre as citadas no post, foi a que teve a carreira mais longa, trabalhando de 1919 a 1980. Ela faleceu 20 dias depois de completar 82 anos.


Cada "cinema" ou "escola" de um país é resultante de um emaranhado de influências, que geram características que são assimiladas. O Cinema Novo (ou Cinema brasileiro moderno) surgiu nos anos 50, influenciado pelo Neorrealismo Italiano, com um questionamento contra a inserção total do estilo de Hollywood nas produções brasileiras. 

Com esse tema questionador, Nelson Pereira dos Santos filma “Rio, 40 graus” de 1955, de baixo orçamento, em busca de um realismo brasileiro. O filme acabou por ser censurado, gerando uma campanha de intelectuais e estudantes para sua liberação.

Na trama, que se passa no Rio de Janeiro em um dia intenso de verão, cinco garotos pretos e pobres saem da favela onde vivem para vender amendoim pela cidade. Percorrendo os quatros cantos do Rio, eles vivem e presenciam casualidades e incidentes cariocas, verdadeiras desventuras urbanas que destrincham a realidade urbana carioca daquele período.

Foi o primeiro filme de Nelson Pereira dos Santos e o marco zero do Cinema Novo.


Sergio Leone nasceu  no mundo  cinema. Ele era filho de Roberto Roberti (também conhecido como Vincenzo Leone), um dos pioneiros do cinema na Itália, e da atriz Bice Valerian. Ele começou a trabalhar no cinema no final da adolescência como assistente de direção para diretores italianos e norte-americanos que trabalhavam na Itália (geralmente fazendo épicos bíblicos e romanos, muito em voga na época). 

No final da década de 1950, começa a escrever roteiros e a dirigir após assumir Os Últimos Dias de Pompéia (1959). Mas em 1964 deu ao mundo Por Um Punhado de Dólares, que embora não seja o primeiro Western Spaghetti, foi o de maior sucesso comercial até então, catapultando Clint Eastwood ao estrelato. E no rastro, Ennio Morricone. 

Seus (poucos) Westerns spaghetti adquiriram uma notoriedade tão grande, influenciando os demais filmes do gênero e levando luz às produções mais obscuras de uma forma tão definitiva, que Leone foi chamado de Pai do Western Spaghetti.


Para encerrar, não vou apontar um pai, mas vários, para tentarmos chegar a uma conclusão: quem é, de fato, o pai do cinema?

Foram os irmãos Lumiere?

No imaginário das pessoas curiosas sobre cinema, o marco zero foi a exibição dos irmãos Lumiere em 1895. Mas muitos não sabem  que 3 anos antes, o francês Léon Bouly conseguiu, a partir do cinetoscópio, desenvolver o cinematógrafo, um modelo que conseguia gravar e projetar a luz das imagens-movimento em tela, em quadros por segundo. Contudo, Bouly não possuía dinheiro para registrar a patente do invento. O cinematógrafo acabou por ser patenteado pelos irmãos Lumière.

Ou seja, foi  Léon Bouly?

A captura da “imagem-movimento” foi possível a partir de 1889 com a criação do cinetoscópio por William Dickson, assistente do cientista e inventor americano Thomas Edison.

Ou seja, foi  William Dickson?

Eadweard Muybridge, um fotógrafo inglês, usou câmeras para captar o movimento, além de inventor do zoopraxiscópio, um dispositivo para projetar os retratos em movimento que seria o precursor da película de celuloide, usada ainda hoje. E precursor do cinetoscópio, que evoluiu para o o cinematógrafo.

Ou seja, foi Eadweard Muybridge?

Thomas Edison, que também foi inventor da lâmpada, inventou a primeira câmera cinematográfica bem-sucedida. 

Ou seja, sem suas invenções, existiria cinema?



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Uma das publicações mais conhecidas do nosso site é "Os 15 pais essenciais do cinema". Confesso que ela teve uma repercussão inesperada, a ponto de ser publicada na Revista Preview do ano de 2018, edição 107. 

E desde então, pensei em fazer uma "continuação", ampliando o conceito do próprio título, que engana um pouco, sugerindo da importância somente aos homens. Busquei nomes femininos que encaixassem no contexto do post, de mulheres consideradas "mães" de algo relevante. E lá se foram 3 anos de pesquisa, para postar então neste 2021. 

Surpreenda-se abaixo com + 15 pais do cinema, não se esquecendo que a palavra "Pais" se refere ao Pai e a Mãe.


Alice é "razoavelmente" importante. Digamos, se nunca ouviu falar nela, é porque há uma falha incrível de comunicação. Ela é, simplesmente, a primeira diretora da história. Nascida na França, ingressou no ramo de cinema porque foi trabalhar como secretária numa empresa que foi adquirida pela Gaumont em Paris no ano de 1896. Para quem não sabe, a Gaumont é uma companhia francesa de produção cinematográfica, fundada em 1895 pelo engenheiro e inventor Léon Gaumont. No ano seguinte, a Gaumont mudou da fabricação de câmeras para a produção de filmes, e Guy se tornou a primeira mulher a se arriscar na função de realizadora. 

Sua vocação foi reconhecida, chegando a ser nomeada diretora de produção da empresa, supervisionando os demais diretores da mesma. Ela se casou com o empresário  Herbert Blaché, de onde herdou o sobrenome. Alice fez mais de 400 trabalhos, sendo a maioria curtas-metragens, desde 1896. Seu primeiro foi "A Fada do Repolho".  Atuou como produtora em muitos casos, roteirista e até atriz.

Georges Meliès começou no mesmo ano. Workaholic como Alice. Ambos visionários. Mas havia uma diferença capital: ela era mulher. Alice explorou técnicas que seriam, obviamente, atribuídas a um homem alguns anos depois: D. W. Griffith. Seu protagonismo no universo cinematográfico era tão grande, que em 1906 fez A Vida de Cristo, um média-metragem que mostra um desenvolvimento da linguagem cinematográfica até então inédito. Para se ter uma ideia de quão avançada era Alice, em 1912 fez "Um Tolo e Seu Dinheiro", com o primeiro elenco formado somente por negros da história. Bom, o machismo e a sociedade patriarcal francesa fez questão de esquecê-la após a separação do marido. Depois do fato, ocorrido no início dos anos 20, ela foi socialmente aposentada. Faleceu em 1968 aos 94 anos.


O espanhol Jesus Franco começou sua carreira aos 24 anos como assistente de direção na indústria cinematográfica espanhola, realizando muitas tarefas, incluindo compor música para alguns dos filmes, bem como co-escrever vários roteiros. Ajudou vários diretores, como Joaquín Luis Romero Marchent, León Klimovsky e Juan Antonio Bardem. 

Apesar de conhecido, nunca alcançou grande sucesso comercial. Muitos de seus filmes foram distribuídos apenas na Europa, e a maioria deles nunca foi dublada para o inglês. Franco mudou-se da Espanha para a França em 1969 para que pudesse fazer filmes mais violentos e eróticos, livres da censura estrita da Espanha da época, e foi nesse ponto que sua carreira começou a entrar em declínio comercial, a medida que ele se tornava mais baixo o orçamento de produção de filmes com ênfase em material adulto.

Os temas de Franco frequentemente giravam em torno de vampiras lésbicas, mulheres na prisão, sadomasoquismo, zumbis e exploração sexual (incluindo vários filmes baseados em obras do Marquês de Sade). Trabalhou inúmeras vezes usando os mais diversos pseudônimos. E pela carreira com mais de 200 filmes dirigidos, ficou conhecido como Pai dos filmes "B" da Espanha.

Franco sofreu um grave acidente vascular cerebral em 27 de março de 2013 e foi levado para um hospital em Málaga, Espanha, onde morreu seis dias depois, na manhã de 2 de abril. Ele tinha 82 anos. 


A importância de Mario para o cinema é ímpar. Através de sua obra, nasceu o movimento cinematográfico, que seria mundialmente conhecido por Blaxploitation. Os filmes blaxploitation eram protagonizados e realizados por atores e diretores negros e tinham como publico-alvo, principalmente, os negros norte-americanos. Era uma forma de dar voz a eles ou mesmo, forçar a sociedade a escutá-los. Nos filmes, nenhuma instituição oficial é confiável ou tem interesse legítimo pelo que se passa nas comunidades afro-americanas. “Os problemas das comunidades negras só são resolvidos pela ação direta dos próprios membros dessa comunidade”.

Assim, nasceu um dos principais momentos do cinema setentista. O movimento fez versões de muitos sucessos da época, como Drácula, O Poderoso Chefão e O Exorcista. A produção Sweet Sweetback’s Badaaasss Song reunia pela primeira vez todas as características que definiram o gênero: produção independente de baixo orçamento, tendo como personagem principal um anti-herói negro em conflito com o poder estabelecido. E claro, uma trilha sonora matadora do Earth, Wind and Fire. Ele é, portanto, reconhecido como o marco zero do movimento.


Humberto Mauro nasceu apenas 2 anos após a primeira exibição oficial de um curta dos irmãos Lumiére. Da sua paixão pela fotografia e pelo cinemam, veio a compra em 1925 de uma câmera cinematográfica de 9,5 mm, com a qual Mauro filmou um curta-metragem. No ano seguinte filmou "Na Primavera da Vida" e em seguida "Tesouro Perdido", um filme nos moldes dos filmes de aventura americanos, com muitas e complicadas cenas de ação. Assim seguiu uma carreira marcante, inclusive migrando para o cinema falado com sucesso e depois, para os filmes em cores, até seu último trabalho em 1967.

Por sua trajetória paralela ao próprio cinema, é considerado o pai do cinema Brasileiro.


Quem, como eu, ama o filme "Os 12 Condenados” de Robert Aldrich, sabe muito bem que a interpretação mais marcante é de John Cassavetes, que faz um sociopata inesquecível. E quem conhece o nome de  Cassavetes por este filme (como aconteceu comigo), não poderia imaginar que é um diretor sensível, que sempre se mostrou preocupado com as mazelas sociais. 

Mas sua visão profunda era dificultada pela falta de investimentos por grandes estúdios, mas isto não tornou a sua jornada mais complicada, apenas deu luz à sua jornada, tornando-o pai do cinema independente americano. Ele escrevia e dirigia filmes financiados em parte com a renda de seu trabalho como ator.

Basicamente, seus filmes eram centrados no ator e atriz principal, mostrando de forma visceral as consequências impostas pela sociedade ou por eles mesmos, às suas vidas. Sem grandes efeitos, explosões ou estilos típicos de Hollywood. E a arte do improviso era usada sempre.

Partiu relativamente cedo, de cirrose hepática em 1989, aos 59 anos, deixando a esposa Gene Rowlands e três filhos. Um deles, Nick Cassavetes, seguiu os passos do pai como ator e diretor.


Charlotte Elisabeth Germaine Saisset-Schneider ou simplesmente Germaine Dulac,  foi diretora, teórica, jornalista e crítica de cinema.

Cedo se interessou pela arte e estudou música, pintura, teatro e fotografia. Depois da morte de seus pais, instalou-se definitivamente em Paris e combinou seu crescente interesse pelo socialismo e o feminismo com sua carreira jornalística. Em 1905, iniciou sua carreira jornalística em uma das primeiras revistas feministas da época, Ela entrevistou uma infinidade de mulheres estabelecidas na França com a intenção de solidificar os papéis das mulheres na sociedade e na política francesas. Mais tarde, ela se aventurou pelo cinema.

Ao lado de Alice Guy, foi uma das pioneiras do cinema francês. No mesmo ano, casou-se com Louis-Albert Dulac, um engenheiro de família rica. Hoje, é mais conhecida por seu filme impressionista "A Sorridente Senhora Beudet" de 1923 e seu experimento surrealista, A Concha e o Padre, de 1928. Também foi vítima do fatídico final da década de 20, que ceifou quase todas as realizadoras do mapa.

Por volta de 1930, voltou ao trabalho comercial, produzindo noticiários para Pathé e depois para Gaumont. Ela morreu em Paris em 20 de julho de 1942.


Émile Eugène Jean Louis Courtet ou simplesmente Émile Cohl foi o pioneiro na animação, considerado "Pai do desenho animado". Ele começou sua carreira como caricaturista, cartunista e escritor por volta dos 20 anos e, em 1908, foi contratado pela produtora de filmes Gaumont como escritor. Ele logo também se tornou um diretor, criando comédias e fantasias, mas foi com os filmes de animação, que estavam apenas começando a ganhar espaço, que o fascinaram. Ele começou a experimentá-los e desenvolvê-los.  

Ele trabalhou com desenhos de linhas, silhuetas e bonecos, e em 1908 fez Fantasmagorie (1908), considerado o primeiro filme totalmente animado (consistia em 700 desenhos de um personagem que ele criou, "Fantoche", cada um fotografado separadamente). Émile fez mais de 250 filmes de animação entre 1908 e 1923 para uma variedade de estúdios, incluindo Eclair e Pathe. Infelizmente, Cohl foi financeiramente arruinado pela Grande Depressão do início dos anos 1930 e morreu na pobreza na França em 1938, após ter contraído uma pneumonia.


Talvez o "pai" menos conhecido desta lista seja José Zialcita Nepomuceno. Conhecido por seu pioneirismo, o produtor e diretor filipino foi reconhecido como o "Pai do Cinema Filipino". Ele se formou como bacharel em artes pelo San Beda College. Ele estudou engenharia elétrica  e concluiu um curso de artes plásticas na Universidade das Filipinas. José se tornou um correspondente credenciado da Pathe News e da Paramount News de Hollywood. Ele adquiriu experiência em sua carreira fazendo documentários e cinejornais sobre diversos temas locais. 

Nascido em 1893, dois anos antes do cinema ver sua aurora, José fez em 1919 o primeiro filme mudo filipino intitulado Dalagang Bukid. O filme foi estrelado por Atang de la Rama, um futuro Artista Nacional das Filipinas. 

Também fez legendas em inglês e espanhol para filmes importados da Europa. Foi fotógrafo e proprietário do seu estúdio fotográfico Electro-Photo-Studio Parhelio que se tornou o maior e mais caro do país. Mais tarde, ele o vendeu e fundou a Malayan Movies em 1917. Após dois anos de experimentação e treinamento, fez Dalagang Bukid (Country Maiden), 1919. Foi o primeiro longa-metragem produzido pelos filipinos.

Como era constantemente atormentado pela falta da capital, Nepomuceno foi produtor, contador de histórias, roteirista, cinegrafista, diretor de arte, montador, distribuidor e exibidor de seus filmes. Sua casa e seus estúdios pegaram fogo em 1921 e 1923, mas ele nunca desistiu. 


David Wark Griffith  nasceu em 1875. Em 1897, Griffith decidiu seguir a carreira de ator e escritor para o teatro, mas a maior parte não teve sucesso. Mesmo assim, ele concordou em atuar no novo meio cinematográfico de Edwin S. Porter na Edison Company. Griffith acabou recebendo uma oferta de emprego na American Mutoscope & Biograph Co., com dificuldades financeiras, onde dirigiu mais de quatrocentos e cinquenta curtas-metragens (!!!). Ele produziu e dirigiu o primeiro filme realizado em Hollywood, In Old California (1910).

Griffith e seu diretor de fotografia pessoal, GW Bitzer, colaboraram para criar e aperfeiçoar dispositivos cinematográficos como o flashback, a foto da íris, a máscara e o corte transversal. Nos anos que se seguiram, o reconhecimento de sua carreira foi do céu a inferno, por conta dos flagrantes casos de racismos impressos nos fotogramas. 

Ironicamente, o lançamento de O Nascimento de Uma Nação (1915) inspirou muitos afro-americanos a começarem a fazer seus próprios filmes na tentativa de contrariar a representação que o filme faz deles e oferecer imagens e histórias alternativas positivas do povo afro-americano.

D.W. foi chamado de "o pai da técnica do cinema" e "o homem que inventou Hollywood". Lillian Gish o chamou de "o pai do cinema". Embora Griffith a considerasse uma amiga íntima, ela o respeitava tanto que nunca se referiu a ele como algo diferente de "Sr. Griffith", mesmo muito depois de sua morte.


Ao contrário da maioria esmagadora dos diretores de cinema, grande parte das diretoras começou carreira como atrizes. Ida estreou em The Love Race no ano de 1931 e dirigido pelo primo Henry William George Lupino. No ano seguinte, participou do filme de Allan Dwan, um dos grandes diretores do cinema mudo (e falado) que realizou mais de 400 obras, entre curtas e longas. Ida quis ser música antes de migrar para o cinema e mal sabia ela que seu destino era o sucesso. 

Ida era um talento nato. Aprendeu muito sobre direção de filmes e seus processos enquanto atuava. A primeira chance de dirigir veio de maneira inesperada em 1949, quando o diretor Elmer Clifton sofreu um infarto e não pode terminar o longa "Mãe Solteira", no qual Ida co-produziu e co-escreveu. Ida finalizou o filme, mas não recebeu nenhum crédito por ele, em respeito a Clifton. O filme recebeu grande visibilidade pelo tema controverso sobre gravidez fora do casamento e Ida chegou a ser convidada pela primeira-dama, Eleanor Roosevelt, a discutir o tema em um programa de rádio.  

Seu primeiro filme veio a ser "Quem Ama não Teme". Ela se tornou uma astuta cineasta de baixo orçamento, reutilizando cenários de outras produções de estúdio. Ela e o marido, Collier Young, formaram uma empresa independente chamada The Filmakers para produzir, dirigir e escrever filmes de baixo orçamento e pensados para tratar questões a serem discutidas, como o primeiro filme que ela co-dirigiu. 


O cinema indiano é o que mais produz filmes no mundo. Mas muitos não sabem que a Bollywood tem um pai, que nasceu em 1870 e que ainda morreu esquecido, poucos anos depois do seu último filme. 

Dadasaheb Phalke nasceu em Nasik, na Índia. Ingressou na escola J. J. School of Arts, em Bombaim (atualmente Mumbai) em 1885. Depois de se ter formado, foi para o Kala Bhavan em Baroda, onde aprendeu técnicas de fotografia e impressão. Ele começou a sua carreira profissional como fotógrafo numa pequena cidade em Ghodra, mas teve que abandonar o negócio depois da morte da sua primeira mulher e do seu filho, depois de um surto de peste bubônica. Pouco depois, ele conheceu o ilusionista alemão Carl Hertz, um dos 40 ilusionistas que trabalhavam para os irmãos Lumiére.

Ele passou a interessar-se pelo cinema e depois de assistir ao filme "A Vida de Cristo", ele imaginou fazer algo de similar mas com os deuses indianos. Phalke fez o seu primeiro filme Raja Harishchandra em 1912, contudo este foi apenas exibido publicamente em 3 de Maio de 1913 no Coronation Cinema de Bombaim. Phalke fundou em Bombaim, uma empresa cinematográfica com o patrocínio de cinco empresários, a Hindustan Films.

Seu reconhecimento veio com o tempo.


Nas andanças pelo You Tube, talvez já tenha se esbarrado com uma animação chamada As Aventuras do Príncipe Achmed (1926). Ele foi o  primeira longa-metragem de animação européia, tal como o resto da obra cinematográfica de Reiniger, é um jogo simples de luzes e sombras, um conceito surgido e popularizado na China, de onde são oriundas as famosas caixas de sombras. As figuras do filme, repleto de batalhas, comédia, romance, magia e confrontos com pequenos demônios, foram recortadas e manipuladas à luz de câmara pela realizadora.

Charlotte "Lotte" Reiniger foi uma diretora de cinema alemã e a maior pioneira da animação de silhuetas. Quando criança, ficou fascinada com a arte chinesa de teatro de sombras, construindo o seu próprio teatro de fantoches, para que pudesse apresentar espetáculos para sua família e amigos. Na adolescência, Reiniger apaixonou-se pelo cinema, primeiro pelos filmes de Georges Méliès por seus efeitos especiais e, em seguida, pelos filmes do ator e diretor Paul Wegene, hoje conhecido por seu trabalho como diretor em O Golem (1920). Em 1915, participou de uma palestra de Wegener sobre as possibilidades fantásticas da animação.

Reiniger convenceu os pais a deixá-la se inscrever no grupo de atuação ao qual Wegener pertencia, o Teatro de Max Reinhardt. Lá, começou trabalhando nos bastidores, fazendo figurinos e adereços, além de retratos de silhueta dos vários atores. Em pouco tempo, passou a fazer elaborados títulos e inter-títulos para os filmes de Wegener, muitos dos quais contavam com silhuetas.


Em 1918, Reiniger animou ratos de madeira e criou inter-títulos animados para o filme de Wegener "O Flautista de Hamelin. O sucesso desta obra fez com que fosse aceita no Instituto de Pesquisa Cultural, um estúdio de animação experimental e curtas-metragens. No Instituto, ela conheceu o seu futuro parceiro criativo e marido, Carl Koch, com quem se casou em 6 de dezembro de 1921, assim como outros artistas de vanguarda, incluindo Hans Cürlis, Bertolt Brecht e Bertold Bartosch.

Além de produzir filmes de animação em silhueta, Reiniger estava igualmente envolvida com personagens em sombras. Por exemplo, em 1933, Reiniger fez uma sequência de sombras para Don Quixote (1933), de GW Pabst . Em 1937, ela criou a "Ponte Quebrada", uma curta sequência de sombras filmada para A Marselhesa (1938), de Jean Renoir.

É até difícil mensurar o legado e a importância de Lotte para o cinema de animação. De certa forma, todos miraram no seu trabalho para iniciarem os seus, principalmente no conto de fadas. Até o clássico “Fantasia” emula o estilo de Reiniger no início da cena onde Mickey Mouse está com os músicos em live-action. E não só na formação do cinema, mas até hoje, com toda tecnologia possível disponível, podemos ver Lotte em cena. Só dar uma conferida em produções como Desventuras em série e Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1, que verão sua marca registrada em cena.

Dentre as citadas no post, foi a que teve a carreira mais longa, trabalhando de 1919 a 1980. Ela faleceu 20 dias depois de completar 82 anos.


Cada "cinema" ou "escola" de um país é resultante de um emaranhado de influências, que geram características que são assimiladas. O Cinema Novo (ou Cinema Brasileiro Moderno) surgiu nos anos 50, influenciado pelo Neorrealismo Italiano, com um questionamento contra a inserção total do estilo de Hollywood nas produções brasileiras. 

Com esse tema questionador, Nelson Pereira dos Santos filma “Rio, 40 Graus” de 1955, de baixo orçamento, em busca de um realismo brasileiro. O filme acabou por ser censurado, gerando uma campanha de intelectuais e estudantes para sua liberação.

Na trama, que se passa no Rio de Janeiro em um dia intenso de verão, cinco garotos pretos e pobres saem da favela onde vivem para vender amendoim pela cidade. Percorrendo os quatros cantos do Rio, eles vivem e presenciam casualidades e incidentes cariocas, verdadeiras desventuras urbanas que destrincham a realidade urbana carioca daquele período.

Foi o primeiro filme de Nelson Pereira dos Santos e o marco zero do Cinema Novo.


Sergio Leone nasceu  no mundo do cinema. Ele era filho de Roberto Roberti (também conhecido como Vincenzo Leone), um dos pioneiros do cinema na Itália, e da atriz Bice Valerian. Ele começou a trabalhar no cinema no final da adolescência como assistente de direção para diretores italianos e norte-americanos que trabalhavam na Itália (geralmente fazendo épicos bíblicos e romanos, muito em voga na época). 

No final da década de 1950, começa a escrever roteiros e a dirigir após assumir Os Últimos Dias de Pompéia (1959). Mas em 1964, deu ao mundo Por Um Punhado de Dólares, que embora não seja o primeiro Western Spaghetti, foi o de maior sucesso comercial até então, catapultando Clint Eastwood ao estrelato. E no rastro, Ennio Morricone. 

Seus (poucos) Westerns spaghetti adquiriram uma notoriedade tão grande, influenciando os demais filmes do gênero e levando luz às produções mais obscuras de uma forma tão definitiva, que Leone foi chamado de Pai do Western Spaghetti.


Para encerrar, não vou apontar um pai, mas vários, para tentarmos chegar a uma conclusão: quem é, de fato, o pai do cinema?

Foram os irmãos Lumière?

No imaginário das pessoas curiosas sobre cinema, o marco zero foi a exibição dos irmãos Lumière em 1895. Mas muitos não sabem que 3 anos antes, o francês Léon Bouly conseguiu, a partir do cinetoscópio, desenvolver o cinematógrafo: um modelo que conseguia gravar e projetar a luz das imagens-movimento em tela, em quadros por segundo. Contudo, Bouly não possuía dinheiro para registrar a patente do invento. O cinematógrafo acabou por ser patenteado pelos irmãos Lumière.

Ou seja, foi  Léon Bouly?

A captura da “imagem-movimento” foi possível a partir de 1889 com a criação do cinetoscópio por William Dickson, assistente do cientista e inventor americano Thomas Edison.

Ou seja, foi  William Dickson?

Eadweard Muybridge, um fotógrafo inglês, usou câmeras para captar o movimento, além de inventor do zoopraxiscópio, um dispositivo para projetar os retratos em movimento que seria o precursor da película de celuloide, usada ainda hoje. E precursor do cinetoscópio, que evoluiu para o o cinematógrafo.

Ou seja, foi Eadweard Muybridge?

Thomas Edison, que também foi inventor da lâmpada, inventou a primeira câmera cinematográfica bem-sucedida. 

Ou seja, sem suas invenções, existiria cinema?



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