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A TESTEMUNHA (1985) - FILM REVIEW

 

A Testemunha é um filme que marcou época. Mais um, aliás, que compõe o mosaico inesquecível do cinema nos anos 80, período que tornou até os piores filmes, marcantes. O ponto de partida da história mostra a viúva Rachel Lapp (Kelly McGillis) e seu filho de oito anos Samuel Lapp (Lukas Haas), que pertencem a uma comunidade Amish, fazendo uma viagem para a cidade. Eles pretendem ir para Baltimore, pois Rachel quer visitar a irmã, mas em uma estação de trem na Filadélfia, Samuel vai ao banheiro e acaba testemunhando um assassinato no qual a vítima foi um policial, que teve a garganta cortada. John Book (Harrison Ford), o detetive da polícia que investiga a morte, só sabe que o assassino é um negro alto e, assim, leva o menino para a delegacia, onde Samuel tenta encontrar entre os "suspeitos usuais" e nas fotografias dos fichados o criminoso. 

Mas o garoto descobre o assassino ao ver uma notícia de jornal, na qual o detetive McFee (Danny Glover) é enaltecido por seu trabalho na narcóticos. Sentindo a gravidade da situação, Book leva o fato a Paul Schaeffer (Josef Sommer), seu chefe, que promete investigar o caso. Entretanto, logo McFee tenta matar Book, o que deixa claro que Schaeffer o traiu. O crime faz parte de uma conspiração envolvendo alguns detetives do seu departamento e, assim, John foge com Rachel e Samuel para a comunidade Amish em que eles vivem. 

Mas a ideia de deixar Rachel e Samuel lá e partir não funciona, pois quando McFee tentou matá-lo o deixou ferido. Deste modo, John tem de ficar para se recuperar e Rachel o alerta que ele não pode ser levado para um hospital, pois assim seria fácil localizar Samuel e quem fez isto com John matará o menino. Enquanto isto, os assassinos vão ao encalço deles, pois querem logo eliminá-los.

O diretor

Se uma característica define a filmografia do australiano Peter Weir é a diversidade. Durante mais de 30 anos de carreira, seus reconhecidos filmes, trataram de mais diversos temas, com a mesma qualidade. Seu interesse pelo cinema foi despertado por seu encontro com outros estudantes. Após deixar a universidade em meados dos anos 1960, ele se juntou à estação de televisão ATN-7 de Sydney, onde trabalhou como assistente de produção no inovador programa de comédia The Mavis Bramston Show. Sua carreira na Austrália começou no final dos anos 60. E depois de quase 20 anos, migrou a carreira para os EUA para realizar A Testemunha, iniciando assim, uma segunda fase de grandes filmes.

Além da história, comum, mas muito bem contada, a grande atração é o elenco, encabeçado pelo ator Harrison Ford, eleito o astro mais importante do século XX em outubro de 1997 pela revista inglesa Empire. Ford era o cara (dentro e fora das telas). Há pouco tempo, o ator caiu com um avião (e saiu andando, claro). Em outro momento, pilotou o próprio helicóptero para resgatar uma garota de 20 anos, com quadro de desidratação, em uma montanha próxima ao seu rancho, em Jackson Hole, no Wyoming.

Dá para imaginar que esta fantástica carreira foi por acaso? Antes de decidir investir na carreira de ator, Harrison Ford estava cursando inglês e Filosofia em uma faculdade de Wisconsin. Foi então que, para tentar ganhar uma “nota alta fácil”, ele se matriculou em um curso de atuação e descobriu seu amor pela profissão. Após isso, ele abandona a faculdade e se muda para a Califórnia para tentar seguir uma carreira como ator.

Interessante que alguns dos principais papéis foram conseguidos no tropeço: Tom Selleck pulou fora de Indiana Jones por conta do seriado Magnum; Alec Baldwin pulou fora do personagem Jack Ryan por conta de cachê. No caso de Star Wars, foi mais curioso ainda: ele foi chamado por Lucas para ler falas com os possíveis escolhidos para os papéis principais, porém quem ficou com a vaga foi ele!!! Aliás, uma curiosidade: lembra que ele tem uma cicatriz no queixo? Ele adquiriu a marca quando tentou, em 1968, colocar o cinto de segurança enquanto dirigia e acabou perdendo o controle do carro. 

O contraponto

Por trás de um herói, sempre há um vilão. Em A Testemunha, o cargo ficou com Danny Glover. Grande ator, diretor de cinema e ativista americano e hoje, certamente, diria com muita propriedade, que está velho demais para isto (a observação marcante do Sargento Roger Murtaugh em Máquina Mortífera). No alto dos seus quase 80 anos, e disposto a fazer apenas papéis menores em filmes, Glover começou sua carreira auxiliando o desenvolvimento de sua comunidade na prefeitura. Só depois migrou para o cinema, mas sem jamais deixar de lado os serviços comunitários.

Certa vez, disse que a arte também é uma forma de expressar suas ideias, descontentamentos e protestos. Ele também é um apoiador ativo de várias causas políticas, inclusive, visitou o ex presidente Lula na prisão e a família de Marielle Franco, vereadora e ativista LGBT assassinada no Rio de Janeiro. 

O roteiro original de A Testemunha era focado na personagem Rachel Lapp. Foi o diretor Peter Weir quem perguntou aos roteiristas William Kelley e Earl W. Wallace se poderiam trocar o foco da história, voltando-o para a comparação entre violência e pacifismo pelos olhos do personagem John Book, que aceitaram. Em preparação para seu papel, Kelly McGillis (Rachel Lapp) viveu com uma viúva Amish real e seus sete filhos por um tempo antes de as filmagens começarem a diminuir a cadência da fala e observar a vida diária de uma mãe viúva Amish.

O filme foi a estreia nos EUA de Alexander Godunov. Seu papel como um homem Amish pacifista é quase o oposto do papel que ele se tornaria mais famoso três anos depois: o sádico terrorista alemão Karl em Duro de Matar (1988). Viggo Mortensen (o eterno Aragorn) tem aqui seu primeiro papel no cinema. Já o ator Lukas Haas, que atua brilhantemente, havia feito "O Testamento" dois anos antes. A Testemunha é seu segundo filme, mas o primeiro que "quase" protagoniza. 

Na época, o Comitê Nacional para a Liberdade Religiosa Amish pediu um boicote ao filme, citando o temor de que essas comunidades fossem "invadidas por turistas" devido a sua popularidade. Eles temiam que "a aglomeração, a caça de suvenires, a fotografia e a invasão de propriedades Amish aumentassem como resultado". Quando o filme foi concluído, o então governador da Pensilvânia, Dick Thornburg, prometeu não promover as comunidades Amish em produções cinematográficas futuras.

A estátua que Samuel examina na estação de trem é um verdadeiro monumento na 30th Street Station da Filadélfia. É um memorial aos homens e mulheres da ferrovia da Pensilvânia que morreram durante a Segunda Guerra Mundial. Seu título oficial é "Anjo da Ressurreição", e é uma representação do Arcanjo Miguel levantando um soldado morto do campo de batalha. Walker Hancock era o escultor; foi inaugurada em agosto de 1952 e, ainda se encontra no lado leste do saguão principal da estação.

O clímax foi inspirado em parte por Matar ou Morrer (1952), em que um homem em desvantagem numérica derrota seus inimigos um por um, usando sua inteligência e engenhosidade. Aliás, quando Samuel está escapando de Mcfee (Glover) no banheiro, no último segundo, ele pega seu chapéu Amish, uma cena que foi inspirada em Harrison Ford no filme Indiana Jones e o Templo da Perdição, lançado no ano anterior.

A Testemunha é um filme essencial. Fez sucesso nas bilheterias na época. Foi reconhecido pela crítica, por listas e sobreviveu muito bem ao tempo. Nada mais normal, já que ele pertence à Era de Ouro inesquecível que foram os anos 80.

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