DESOBEDIÊNCIA (2017) - FILM REVIEW
Desobediência
Texto: M.V.Pacheco
Revisão: Thais A.F. Melo
Duas perdidas numa noite suja
"Desobediência" é um filme, basicamente, sobre duas mulheres perdidas em seus mundos, agindo já desesperançosamente em relação a tomar atitudes para uma mudança de rumo em suas vidas. E é neste momento que se (re)encontram, enxergam e sentem que algo intenso surge em meio ao caos emocional que se encontra suas vidas.
O filme é uma adaptação do livro homônimo de Naomi Alderman e é um debut literário da escritora, que ocorreu em 2006. Com ele vieram premiações. O diretor chileno Sebastián Lelio, de Uma Mulher Fantástica, também faz aqui seu primeiro trabalho em inglês.
Rachel Weisz, que também é uma das produtoras do filme, protagoniza o filme. Ela faz uma fotógrafa que reside há anos em Nova York após problemas familiares graves. Quando perde o pai, que era rabino e não mantinha contato, ela se abala emocionalmente. Por conta deste evento, ela retorna à comunidade onde foi criada.
No retorno, ela revê os amigos Dovid (Alessandro Nivola) e Esti (Rachel McAdams), que estão casados. E ela se surpreende com a mudança da sua amiga, que antes era "bem pra-frente" e agora é uma esposa ortodoxa, enquanto Dovid substituirá Rav, pai de Ronit.
O retorno de Ronit causa certo incômodo na comunidade, pois o motivo de sua partida foi justamente a paixão adolescente entre ela e Esti. Mesmo assim, Dovid a hospeda em sua residência, proporcionando uma tensão (inclusive sexual) crescente neste triângulo que se forma.
Incrível a interpretação de Weisz, principalmente. Sua personagem parece prestes a explodir. As emoções à flor da pele são visíveis e sentidas pelo telespectador. A cena de sexo entre as duas é de uma entrega tamanha, que você pensa estar diante de um casal que se ama desde sempre e sempre quis/desejou/precisou chegar àquele climax, não importando quais consequências teriam. Mais impressionante ainda é que a cena, extremamente sexual, não há sequer nudez, mostrando a habilidade do diretor em contar a história favorecendo o lado emocional.
As questões religiosas não são discutidas, o que se revela um acerto que não desvia do foco do filme. Mesmo que a trama flerte com este universo. Alessandro Nivola dá um show neste que talvez seja sua melhor interpretação.
Mas ainda sim, o filme é de Rachel. Cada frame é cercado de culpa e do peso que a levou até este momento. Chega a ser sufocante. É como se ela precisasse gritar incessantemente num travesseiro, desabafando tudo que a atormenta. Toda sua angústia é traduzida apenas com o olhar. Mesmo que Esti seja a personagem mais complexa, pois suas decisões afetam mais pessoas, tornando assim, sua entrega mais tortuosa.
No fim, o filme é uma triste e reprimida história de amor entre duas pessoas unidas pelo amor e separadas pelos obstáculos sociais e religiosos.