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MEU PÉ ESQUERDO (1989) - FILM REVIEW

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Meu pé esquerdo.

Texto: M.V.Pacheco

Revisão: Thais A.F. Melo


Há um dito popular que fala sobre você "começar com o pé esquerdo", que se tornou sinônimo de algo que fez errado. Imagine para Christy Brown,  em que a única coisa realmente boa em seu corpo era o pé esquerdo? Hoje vamos conhecer um pouco desta pessoa que inspirou uma das grandes interpretações do cinema, de Daniel Day Lewis.

Meu pé esquerdo

Baseado na história real do escritor e artista plástico Christy Brown, deficiente físico que enfrentou vários obstáculos até alcançar o reconhecimento da família, do público e da crítica. Christy foi o 10º filho, de 23 filhos, de uma família pobre, da Irlanda. Nasceu com severa paralisia cerebral e o médico disse à sua mãe que ele levaria uma vida vegetativa. No entanto, com muita perseverança e a ajuda constante da mãe, mulher forte e determinada, ele superou todas as expectativas e se tornou pintor, poeta e escritor de grande prestígio e inteligência, apreciado e aplaudido por todos.


"Intensidade" define o filme. Christy Brown é um personagem tão forte (de personalidade e mentalmente falando), que vence o pouco que pode da paralisia, chegando a chutar bola com amigos (detalhe: seu corpo quase completamente paralisado ou atrofiado). Esta "força" passou para o filme. 

Day-Lewis, hoje conhecido por sua imersão nos personagens, faz aqui seu primeiro papel popular. Antes, ele tinha feito apenas "Minha Adorável Lavanderia (1985)" e "A Insustentável Leveza do Ser (1988)", que são ótimos, mas com temas fortes. Mas Lewis se popularizou com o Oscar pelo papel (o primeiro das 3 vitórias em 6 indicações).  E quando o Oscar premia, até o ruim se torna cultuado e com defensores. Imagine Lewis, um dos grandes atores do cinema?


Em "Meu Pé Esquerdo", Day-Lewis permanecia na cadeira de rodas mesmo durante os intervalos das filmagens. O esforço excessivo o fez quebrar duas costelas. Aquela posição curvada, que ele ficava na caixa, era a posição que o ator ficava o tempo todo. Quando havia pausa nas filmagens, eles iam à cantina lanchar e a equipe tinha que ajudá-lo a se alimentar, como se ele fosse seu personagem. Nem quando o agente do ator foi  ao set, ele saiu do personagem e acredite, ele foi embora sem conseguir tratar com Lewis o que queria.

O método de atuação de Daniel Day-Lewis para o papel consistia notoriamente em ele permanecer no personagem mesmo quando as câmeras não estavam filmando, como dito. Enquanto muitos críticos aplaudiram sua dedicação em 'habitar' o personagem de Christy Brown, a equipe de filmagem e os técnicos aparentemente não ficaram impressionados, sentindo que tinham que empurrar o ator fisicamente capaz pelo set e sobre os obstáculos sem a menor necessidade.


Muitas das cenas foram filmadas por meio de um espelho, já que Daniel Day-Lewis só conseguia manipular seu pé direito para realizar as ações vistas no filme. Ele inclusive realizou a cena de abertura, como vemos no filme, em que ele faz uma atividade com o pé e a câmera, sutilmente, percorre seu corpo até o rosto do ator. 

Aliás, Day-Lewis se interessou pelo filme ao ler justamente esta cena de abertura, devido ao desafio que seria usar seu pé esquerdo para colocar um disco em um tocador e depois colocar uma agulha nele para escutar a música.

A Miramax gastou mais de 3 vezes o orçamento de produção do filme em sua campanha publicitária para fazer com que o filme fosse indicado para o Oscar, pois os filmes finalistas são sempre capitalizados. O compositor Elmer Bernstein conheceu o produtor Noel Pearson quando esteve em Dublin no ano de 1968, quando Bernstein fazia "Ladrão e Galante (1969)". 


Eles logo se tornaram amigos  e coincidentemente encontraram Christy Brown em um pub de Dublin. Pearson mais tarde contou a ele sobre seus planos de fazer um filme biográfico de Brown, e Bernstein prometeu que, se conseguisse fazê-lo, iria compor a trilha sonora de graça. Mais de vinte anos depois, ele cumpriu essa promessa.

1989 marcou como sendo o primeiro ano em que um filme do diretor Jim Sheridan foi lançado. E o último do ator Ray McAnally, que faz o pai de Chrsty, falecendo sem mesmo ver o filme pronto e da mesma forma que seu personagem morre: infarto fulminante. Ainda tiveram mais 2 obras para o cinema e uma minissérie lançadas com o ator naquele ano. 

Sheridan concentrou o "melhor" de sua carreira em seus 4 primeiros filmes: Meu Pé Esquerdo (1989), Terra da Discórdia (1990), Em Nome do Pai (1993) e O Lutador (1997), sendo que 3 deles são com Lewis. 


Mas voltando para o Oscar. É possível que alguém enxergue mais qualidades em Conduzir Miss Daisy, grande vencedor da noite. Eu preferia "Nascido em 4 de Julho". Estava "escrito" que ele venceria. Stone tinha vencido o Oscar por Platoon e venceu o Oscar de diretor por Nascido em 4 de Julho. Era natural a vitória do filme, mas "entenderam" que a história do esquecível Miss Daisy era mais interessante.  Porém, anos depois, vários membros da Academia disseram que, se tivessem uma segunda chance, eles iriam premiar o Oscar de Melhor Filme para Meu Pé Esquerdo em 1990.

A origem

Christy Brown nasceu com uma paralisia cerebral grave em uma família com vários irmãos, sendo alguns faleceram na infância.  Mesmo com o distúrbio, os pais de Brown não foram influenciados pelos médicos que queriam interná-lo e, posteriormente, decidiram criá-lo em casa com os outros filhos. 


Ao longo dos anos, Brown mostrou interesse e aptidão pelas artes e literatura. Ele também demonstrou uma destreza física impressionante, pois, logo após descobrir vários livros domésticos, Christy aprendera a escrever e desenhar a si mesmo, com o único membro sobre o qual tinha controle inequívoco: o pé esquerdo. Durante a adolescência de Brown, a assistente social Katriona Delahunt ficou sabendo de sua história e começou a visitar a família Brown regularmente, enquanto trazia livros e materiais de pintura para Christy. 

"Meu Pé Esquerdo" foi um relato autobiográfico, feito por muitos anos, adicionando detalhes da sua vida cotidiana. Quando o livro se tornou um best-seller. Neste ponto, entra em cena Beth Moore, correspondente de Brown, com quem desenvolveu um relacionamento e o ajudou a parar de beber. Mais um dos amores platônicos de Brown. Mas, como mostrado no filme, ele buscava desesperadamente ser correspondido.


Ele veio a se casar com Mary Carr, e viveu com ela por anos. E sua morte permaneceu uma incógnita, já que morreu aos 49 anos após engasgar durante um jantar de costeleta de cordeiro. Toda a sua comida teve de ser cortada em pedaços muito pequenos para poder engoli-la. O pedaço estava especialmente grande. 

Na ocasião, vários hematomas foram encontrados no corpo de Brown. O fato é que ele se tornou recluso por ser abusado por uma mulher infiel, alcoólatra, e que tinha relações extraconjugais por dinheiro. E provavelmente jogava na cara de Brown seus "feitos". Além disto, bissexual, tendo casos com mulheres também. 

Ele foi tratado com tanta negligência que até hoje tratam o caso como homicídio culposo. Christy era o exemplo do retrato trágico, fadado a sucumbir em seus próprios anseios. Como ele mesmo diz, parafraseado a Bíblia, "A esperança prolongada torna o coração doente".

Sábio, mas como tal, foi melhor em ensinar do que aprender.


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