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O PASSADO NÃO PERDOA (1960) - FILM REVIEW

 

Imperdoáveis.

Texto: M.V.Pacheco

Revisão: Thais A.F. Melo


Nada melhor que um western com temas relevantes. Os faroestes mais comuns são aqueles com mocinhos e bandidos unidimensionais, que não tem nada de relevante a dizer, mas que divertiam o público. "O Passado Não Perdoa" entra com louvor no primeiro caso. Na história, Rachel Zachary mora com sua mãe e irmãos adotivos num rancho no Texas. Vivem preocupados com os ataques dos índios kiowa, que mataram o pai da família. Além disso, um caçador desequilibrado que aparece e ronda a região, espalha o boato de que Rachel era uma criança índia acolhida pelo falecido Zachary. 

Ao saberem disso, os índios querem que ela volte para a tribo e a recusa da família em entregar Rachel aos índios, os coloca em pé-de-guerra contra eles. Os índios cercam o rancho e a família tem que se defender sozinha, pois os outros brancos são contra a presença de Rachel na comunidade. Cash, um dos irmãos Zachary, que saíra de casa ao saber que Rachel tinha sangue indígena, volta para combater os índios, quando se apercebe que os irmãos estão quase sem munições.


O visionário diretor John Huston queria tratar das relações inter-raciais na época, mas o estúdio vetou qualquer ideia nesse sentido, alegando que o filme não atingiria sucesso comercial como um gênero de ação/aventura. Mesmo assim, o filme é um tapa na cara do preconceito, expondo sua irracionalidade para quem quiser ver e enxergar. O ponto principal é a reação de alguns membros do grupo ao saberem que Rachel é índia. Afinal, o que mudou do sentimento deles para com ela? Apenas saber a origem da personagem muda todo rumo de suas histórias? No filme, que representa nossa sociedade, muda. E tudo. 

Este foi o único faroeste feito por Audrey Hepburn. Mas é um filme que poderia ser adaptado para gêneros diferentes, facilmente. Audrey sofreu um sério acidente no set de filmagens, lançada por um cavalo enquanto gravava a cena. Ela estava grávida e teve que passar seis semanas no hospital até se recuperar. Quando voltou a filmar, ela usava uma cinta para esconder a barriga e seu guarda-roupa teve que ser redesenhado. Infelizmente, ela sofreu um aborto espontâneo alguns meses depois. John Huston culpou a si pelo acidente e disse ter odiado o filme, mas Hepburn nunca se sentiu dessa maneira e não tinha nenhuma mágoa com o diretor. Huston só não desistiu do filme porque precisava de seu salário para restaurar sua mansão irlandesa.


Na produção trabalhou também a lendária Lillian Gish, que faleceu prestes a completar 100 anos em 1993. Antes das filmagens começarem, o diretor John Huston e o ator Burt Lancaster levaram a atriz para o deserto para ensiná-la a atirar. No entanto, os dois foram surpreendidos ao descobrir que ela sabia atirar com maior precisão e mais rápido do que eles. Gish já havia aprendido isso durante a filmagem de outro filme, e ao longo dos anos foi desenvolvendo suas habilidades. 

Huston queria fazer uma declaração sobre o racismo na América. Seria uma resposta ao "Rastros de Ódio" de John Ford. O resultado só poderia ser brigas e mais brigas com os produtores, que devem ter se arrependido de substituir Delbert Mann, que seria o responsável por "tocar" o projeto. Richard Burton seria o papel que caiu para Audie Murphy. Burton ficou muito caro para a produção.


Richard Burton foi originalmente escolhido para o papel de Audie Murphy, mas o recusou devido a suas fortes crenças supersticiosas. Um adivinho previu que ele morreria aos 33 anos, então não realizou nenhum trabalho cinematográfico em 1959. Ele também rejeitou um salário de 350 mil para interpretar Cristo no "Rei dos Reis" de Nicholas Ray, na Espanha, pela mesma razão.

Tony Curtis recusou o papel de Cash Zachary, sentindo que, a essa altura de sua carreira, ele não precisava mais assumir um personagem secundário. Segundo Don Graham, biógrafo de Audie Murphy, o roteiro pedia que Burt Lancaster lhe desse um tapa. Isso enfureceu o herói da guerra a tal ponto que as testemunhas pensaram que Murphy, que carregava sempre uma arma, poderia ter matado Lancaster em diferentes circunstâncias. John Huston acabou intervindo na situação.


Como se não bastasse o grave problema que Audrey teve durante as filmagens, Audie Murphy e um amigo decidiram caçar patos em um lago próximo. O barco virou e Murphy quase se afogou, mas foi salvo por Inge Morath, a fotógrafa que estava tirando fotos nas proximidades.

Este foi o primeiro filme em que John Huston trabalhou com o assistente do diretor Tom Shaw, que posteriormente se tornou um de seus colaboradores mais confiáveis ​​e frequentes, e para quem ele fez uma homenagem generosa em sua autobiografia.

O Passado Não Perdoa não é só um dos grandes westerns dos anos 60, mas tem um dos títulos mais contundentes de todos, afinal, preconceituosos são mesmo imperdoáveis.

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