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HORROR NOIRE: A REPRESENTAÇÃO NEGRA NO CINEMA DE TERROR - BOOK REVIEW

Sou destes que assistiu à "A Noite dos Mortos-Vivos" 100 vezes e nunca me atentei pelo fato de que um negro é um dos atores principais em pleno anos 60. Não que eu seja desatento, pelo contrário. Sempre pesquei detalhes em filmes que muitas vezes surpreendia aos outros. Isto acontecia porque o preconceito racial nunca foi enraizado em mim. 

Nunca aprendi a ver um negro de forma diferente. Para mim, sempre foi um ator fazendo seu papel. Branco, preto, vermelho, roxo, rosa, são apenas cores diferentes. Não são iguais, mas não são piores ou melhores entre si. São apenas tons diferentes. Eu olhava outras coisas, como nome, filmografia, talento, mas nunca olhei cor. Eu também nunca encarei isto como diferencial, pelo contrário. Mas infelizmente, não são todos que veem desta forma e é preciso pessoas como Robin R. Means Coleman para mapear a trajetória dos negros no cinema e nos mostrar como o desenvolvimento dos personagens que interpretavam era preconceituoso. Mostrar como os negros não figuravam nos papéis principais ou se tinham destaque, eram bandidos, vilões ou escravos.


Vou citar alguns casos que me veem a cabeça (sem ordem): Tropa de Elite 2 - o gigante "Seu Jorge" faz um bandido casca-grossa, que é morto no início. André Ramiro, o Mathias, era um idealista (do bem), mas por isto é morto com um tiro nas costas; Máquina Mortífera - dupla de policiais onde o negro é o velho, cansado e querendo se aposentar, enquanto o branco era viril, dormia com as mulheres e atirava como ninguém; Duro de Matar - Policial branco e herói tem ajuda de um negro (acima do peso, de meia-idade e aparentemente covarde) para lidar com um grupo de 13 terroristas. John McClane (Willis) também é assessorado por um motorista, negro. O único negro entre os vilões era o mais idiota (para um filme de ação, lógico); 48 horas - Policial branco precisa achar um gângster local e o único capaz de ajudá-lo é um bandido negro. Alguns filmes como O Poderoso Chefão, Cassino, Bons Companheiros, Piratas do Caribe, Tubarão, E.T. eu me esforcei para lembrar de algum personagem central negro, mas não me veio nenhum à mente.


São poucos e pequenos exemplos que lembrei para mostrar uma coisa: eles sempre foram marginalizados no cinema. Nunca eram apresentados como em Pantera Negra por exemplo. A história do negro no cinema foi tão inglória quanto a sua própria história na vida. Sempre cito o brilhante argumento do personagem de Matthew McConaughey em Tempo de Matar (dirigido por Joel Schumacher) ao defender o pai (Samuel L. Jackson) de uma garotinha brutalmente estuprada. 

No filme, a garota negra é estuprada por brancos. O Juri, prestes a fazer corpo mole, leva o pai a uma ira irracional e ele decide fazer justiça com as próprias mãos, atirando nos dois estupradores na frente de diversas testemunhas. Ele, negro, vai preso, claro. O julgamento muda de lado, e o estupro fica em segundo plano. Durante as deliberações finais, e sem muito mais o que fazer para defendê-lo, o advogado olha para os jurados e conta a história exatamente como aconteceu, pedindo para eles fecharem os olhos. No final, ele pede para eles imaginarem o pai sendo branco.


Foi um tapa na cara dos jurados e de nós, telespectadores. A história mudou de figura. Ele mudou de assassino negro para defensor da honra de sua filha só por uma simples mudança de cor. Incrível não? 

Assim, infelizmente, é a vida. O preconceito enraizou-se de forma irracional. Recentemente dois casos tristes e curiosos refletiram a mesma realidade: O primeiro, durante uma discussão num estádio de futebol e a outra durante uma prova no programa A Fazenda da Rede Record. Em ambos os casos, o ofendido(a) foi chamado(a) de macaco(a). Mas o detalhe mais significativo é de que ambos os ofensores têm irmãos... negros. 

Até o movimento mais expressivo da cultura afro no cinema é um derivado. Um spin-off. A Blaxploitation. Afinal, você conhece o filme Abby como "O exorcista negro". Blácula é o Drácula negro. E por ai vai... Foi um cinema que buscou fazer sua identidade em cima de um norte cultural branco pré-estabelecido, acrescentando elementos de sua própria cultura.


O preconceito está longe de acabar. Mas estamos mais perto de ver os negros mais bem representados culturalmente. Robin R. Means Coleman nos mostra através da sua obra o caminho percorrido até aqui, além de traçar paralelos com os momentos culturais de cada época, correlacionando com a representação (ou não) do negro no cinema.

A Dra. Robin R. Means Coleman, professora norte-americana nascida e criada na mesma cidade que George Romero e Tom Savini, desenvolveu uma pesquisa profunda com a análise das imagens, influências e impactos sociais dos negros nos filmes de terror desde 1890 até o presente.


Coleman afirma que o terror oferece um espaço representativo único para desafiarmos as imagens mais negativas e racistas vistas nos meios de comunicação. Sua ampla pesquisa cronológica do gênero para o livro Horror Noire: A Representação Negra no Cinema de Terror inclui grandes produções de Hollywood, filmes de arte, blaxploitation e as emergentes produções de horrorcore inspiradas pela cultura hip-hop. Uma obra única que encoraja o leitor a desmontar a imagem comum do gênero, assim como as narrativas que compõem os comentários da cultura popular acerca de raça, e acende um debate feroz e necessário sobre o poder do horror, seu impacto na sociedade, e suas reproduções como reflexo dela.

S. Torriano Berry, cineasta, professor e escritor, diz em sua introdução para Horror Noire: A Representação Negra no Cinema de Terror que um dos aspectos mais danosos do espectro limitado de papéis representados por atores negros nos filmes de terror iniciais é a falta de imagens positivas para proporcionar um sentimento de equilíbrio. “Ver um personagem negro arregalar os olhos e empalidecer ao se deparar com um fantasma não teria sido tão ruim se o seu papel seguinte ou anterior tivesse sido como um médico, advogado ou empresário de sucesso. No entanto, os filmes hollywoodianos relegavam aos negros os personagens subservientes, como mordomos, empregadas e motoristas”, diz. É esta análise que Coleman propõe ao público em sua obra.


Horror Noire: A Representação Negra no Cinema de Terror é um marco e virou documentário produzido e exibido pela Shudder, plataforma de streaming audiovisual de terror ainda não disponível no Brasil. Dirigido por Xavier Burgin, o documentário foi lançado em 2019 e tem produção executiva da Dra. Robin R. Means Coleman, da educadora e escritora Tananarive Due, de Phil Nobile Jr, editor-chefe da revista Fangoria e Kelly Ryan, da Stage 3 Productions, e é produzido e co-escrito por Danielle Burrows e Ashlee Blackwell que, aliás, contribuiu com um texto especial exclusivo para a edição brasileira do livro.

Horror Noire: A Representação Negra no Cinema de Terror integra a Coleção Dissecando, da DarkSide® Books, dedicada a revelar os bastidores e a história de grandes produções audiovisuais e seus imortais criadores, chega para os leitores em capa dura, com textos especiais e galeria de imagens. Uma obra indispensável em nossa exploração e favorecimento do gênero de terror.


Dra. Robin R. Means Coleman é professora adjunta no Departamento de Estudos da Comunicação e no Centro de Estudos Afro-Americanos e Africanos da Universidade de Michigan. Seus trabalhos anteriores incluem African Americans and the Black Situation Comedy: Situating Racial Humor e a edição da coletânea Say It Loud! African Americans, Media and Identity, e, mais recentemente, a coedição do volume Fight The Power! The Spike Lee Reader. 

Características:


Título: Horror Noire: A Representação Negra no Cinema de Terror
Título Original: Horror Noire: Blacks in American Horror Films from the 1890s to Present
Autora: Robin R. Means Coleman
Tradutor: Jim Anotsu
Editora: DarkSide Books
Ano: 2019
Páginas: 464


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