À ESPERA DE UM MILAGRE (1999) - FILM REVIEW
Texto: M.V.Pacheco
Revisão: Thais A.F. Melo
Katieeee Coraaaaaaaaaa
Com o grito desesperado de Klaus Detterick (vivido por William Sadler) e na sequência, as frases ditas por 'Wild Bill' Wharton (interpretado pelo genial Sam Rockwell) somos apresentados a uma das mais fantásticas e emocionantes histórias que o cinema nos presenteou.
Gosta de sua irmã? Faça barulho e sabe o que acontece.
Com uma galeria de personagens inesquecíveis, o filme é uma obra-prima, lançada em um dos anos mais inesquecíveis do cinema: 1999. E para mim, particularmente, foi um dia memorável, quando assisti ao filme. Não só por assistir a um dos filmes da minha vida, mas pela emoção de vê-lo no último dia do Cine Veneza, que eu tinha uma ligação íntima. Foi um verdadeiro mix de emoções.
A trama se passa em 1935, no corredor da morte de uma prisão sulista. Paul Edgecomb (Tom Hanks) é o chefe de guarda da prisão, que tem John Coffey (Michael Clarke Duncan) como um de seus prisioneiros. Aos poucos, desenvolve-se entre eles uma relação incomum, baseada na descoberta de que o prisioneiro possui um dom milagroso.
Heaven, I'm in heaven And my heart beats so That I can hardly speak And I seem to find the happiness I seek When we're out together dancing Cheek to cheek.
O livro "The Green Mile", que serviu de base para a elaboração do roteiro de À Espera de um Milagre, foi publicado nos Estados Unidos em seis volumes. O filme foi o 3º filme do diretor Frank Darabont e é também a 2ª vez que trabalha com um roteiro baseado num livro de Stephen King. Seu trabalho anterior fora Um Sonho de Liberdade (1994).
Tom Hanks aceitou o papel de Paul Edgecomb como um favor a Frank Darabont, depois que ele foi forçado a recusar o papel de Andy Dufresne em Um Sonho de Liberdade (1994), a fim de interpretar o papel-título em Forrest Gump: O Contador de Histórias (1994).
No filme existem dois guardas penitenciários cujos nomes são Harry e Dean Stanton. Trata-se de uma homenagem ao ator Harry Dean Stanton, que participa do filme interpretando o condenado que é sempre designado por testar a cadeira elétrica.
Como café, só que escrito diferente.
Foi Bruce Willis que sugeriu Michael Clarke Duncan, com quem havia co-estrelado em Armageddon (1998), para viver John Coffey. E foi incrível como sua interpretação foi pura, sensível, quase como uma criança que cresceu demais fisicamente, se destacando das demais, porém com a mentalidade infantil.
Quando o diretor Frank Darabont estava começando a escrever o roteiro, ele descobriu que seu gato havia desenvolvido um tumor. Com o gato morrendo, mas sem dor, ele decidiu não sacrificá-lo. Em vez disso, ele cuidou dele em casa enquanto adaptava "The Green Mile", referindo-se a ele como seu "co-escritor" ou "co-piloto", pois passava muito tempo fazendo-lhe companhia em sua mesa.
Darabont disse: "É toda a experiência do corredor da morte de 'The Green Mile' ... A escrita foi muito isso. Eu tinha uma criatura com a qual realmente me importava em caminhar aquela milha". O gato faleceu dois meses depois, quase ao mesmo tempo, em que o roteiro foi concluído.
Originalmente, Tom Hanks iria interpretar o Paul Edgecomb mais velho, mas os testes de maquiagem não o fizeram parecer confiável o suficiente para ser um homem idoso. Dabbs Greer foi escalado como o velho Paul Edgecomb.
E foi o último filme dele. Greer originalmente recusou o papel porque ele tinha problemas de saúde, mas o diretor Frank Darabont estava determinado a tê-lo, então ele filmou o personagem de Greer até que os problemas de saúde de Greer fossem resolvidos o suficiente para permitir que ele assumisse o papel.
Enquanto muitos dos romances de Stephen King se passam no estado natal do autor, Maine, "The Green Mile" se passa na Louisiana. No entanto, o sobrenome do personagem principal, Edgecomb, é o nome de uma cidade no meio da costa do Maine.
O filme foi segunda produção de Stephen King de David Morse, de um total de três adaptações. A primeira foi a minissérie Fenda No Tempo de 1995, e a terceira, Lembranças de um Verão (2001).
Já Gary Sinise (Burt Hammersmith) interpretou Stuart Redman em outra adaptação de King, A Dança da Morte (1994). Curiosamente, no mesmo ano em que ele e Tom Hanks fizeram a memorável parceria em Forrest Gump.
Quando Paul e Brutus levam John Coffey para fora à noite, John olha para as estrelas e diz: "Olha, chefe, é Cassie, a senhora na cadeira de balanço." Esta é uma referência à constelação de Cassiopeia. Na mitologia grega, a rainha Cassiopeia é retratada frequentemente sentada em uma cadeira ou cadeira de balanço.
A cena de execução malsucedida de Eduard Delacroix foi inspirada na execução real do assassino injustamente acusado Jesse Tafero. Em 4 de maio de 1990, Tafero foi executado por dois assassinatos que não cometeu. Na sua execução, a cadeira elétrica não funcionou bem e a esponja errada para condutividade foi usada (sintética, ao invés da habitual), fazendo com que chamas saíssem de sua cabeça. O processo demorou 7 minutos. Após sua execução, Walter Rhodes confessou os assassinatos.
Outra execução inspirou características de John Coffey, a de George Stinney, um jovem afro-americano, o qual foi a pessoa mais jovem já executada, aos 14 anos. Ele teria confessado um duplo assassinato em troca de uma tigela de sorvete. Sua condenação foi anulada postumamente por falta de provas.
À Espera de um Milagre?
John Coffey nunca esteve em busca de um milagre, como induz o belo, porém infeliz título, se pensarmos na história como um todo. Ele tinha o poder de curar as pessoas e eliminar o mal no ar. Porém, quando tentou fazer o mesmo com as duas crianças mortas por Wild Bill e não conseguiu reverter, simplesmente se sentou com elas no colo, e gritou. Um grito desesperador, de um homem cansado, entregue ao desgaste de situações como aquela, além de ter acesso aos acontecimentos que cercam as pessoas, sejam as doentes ou assassinas.
Não há subtexto implícito, pois tudo é claro: vemos a história de um homem negro inocente condenado à morte por um crime cometido por um homem branco, com o agravante do homem negro ser visivelmente puro e o branco, claramente, um sociopata. O próprio advogado de Coffey o condena por ser negro, comparando-o com um cachorro vira lata, que não tem muita utilidade. Mesmo reafirmando que ele "caiu do céu". Na cena da morte, Coffey mostra sua absurda pureza, dizendo que tem medo do escuro, sendo que minutos antes, ele quem confortava os guardas sobre sua eminente morte.
Coffey carregava o peso de uma vida errática, sem estudo, se apoiado somente na utilidade do seu enorme corpo para trabalhos braçais. E ainda que ele tivesse o dom da cura, ele sentia aquilo como uma maldição, e ser levado a cadeira elétrica era um prêmio. Seria o fim de uma vida que se perdeu no caminho de entender o sentido de viver daquela forma, sendo testemunha ocular do mal que habita as pessoas.
"Olhe e aprenda", diria o personagem de Harry Dean Stanton.
"Olhe e aprenda".