A HORA DA ZONA MORTA (1983) - FILM REVIEW
Zona morta.
Texto: M.V.Pacheco
Revisão: Thais A.F. Melo
Peter Hurkos e o poder de um tombo
Pieter van der Hurk, ou popularmente chamado Peter Hurkos, falecido em 1988, foi um holandês que após se recuperar de um ferimento na cabeça causado por uma queda de uma escada aos 30 anos, desenvolveu percepção extra-sensorial (PES). Ele chegou a trabalhar em casos famosos como da Família Manson e do Estrangulador de Boston.
O Homem com a Mente de Raio-x
O que nos leva ao romance de Stephen King e consequentemente, ao filme em questão. A Hora do Zona Morta foi baseada na vida de Peter. E como se não fosse bizarro o suficiente, a produção foi dirigida por David Cronenberg. de A Mosca, Gêmeos - Mórbida Semelhança, e Scanners, Sua Mente Pode Destruir.
Da história improvável veio uma união improvável (King e Cronenberg), e assim, uma das 10 melhores adaptações de uma obra do mestre do horror. Na trama, conhecemos Johnny Smith (Christopher Walken), um professor de literatura que estava prestes a se casar quando sofre um acidente de carro e fica cinco anos em coma.
Ao recobrar a consciência, descobre que perdeu sua carreira e Sarah Bracknell (Brooke Adams), sua noiva, mas em compensação ganhou poderes paranormais que o permitem prever o futuro ou ver o passado. Assim, ele tem o poder de alterar o curso dos acontecimentos e este é o seu dilema: interferir ou sofrer sozinho, sabendo das tragédias que estão por acontecer.
Escrito em 1979, o romance de Stephen King foi o primeiro livro dele a alcançar o primeiro lugar na lista dos mais vendidos (capa dura), um marco para King, que disse que foi "um dos seus mais bem-sucedidos de todos os tempos". Foram 428 páginas.
Os direitos do romance de King foram adquiridos pela Lorimar, onde a produtora Carol Baum contratou Stanley Donen (de Cantando na chuva, 1952) para dirigir o filme. Após passar algum tempo desenvolvendo o roteiro com o escritor Jeffrey Boam (de Indiana Jones e a Última Cruzada, 1989), Donen deixou o projeto e Dino De Laurentiis (produtor de sucessos como King Kong, 1976 e Conan, 1982) comprou os direitos em meio aos problemas financeiros de Lorimar.
Ele abordou John Badham (de Tocaia, 1987) e Michael Cimino (do multipremiado Franco-atirador, 1978) para dirigir o filme antes de David Cronenberg, com Badham recusando o projeto por achar o enredo "irresponsável". Roteiros de Stephen King e Andrzej Zulawski foram encomendados e rejeitados antes de Jeffrey Boam retornar ao projeto, dois anos após ter parado de trabalhar nele.
Coincidentemente, embora não tenha acabado produzindo este filme, Carol Baum foi produtora executiva de Gêmeos - Mórbida Semelhança (1988), de David Cronenberg, poucos anos depois.
O filme não explica o significado de "Zona Morta" como o livro. Stephen King lançou velhas teorias de que as pessoas usam apenas 10% de seus cérebros e que ainda não desvendamos os segredos dos outros 90%. E quando Johnny estava em coma, seu cérebro teve que criar novos caminhos para contornar a parte paralisada de sua mente. Então foram criados novos caminhos na Zona Morta, aqueles 90% que as pessoas normalmente não usam; e isso o capacitou a desenvolver poderes de PES e segunda visão.
Conhecido por sua estética sangrenta, o diretor canadense não tinha medo de expressar horror por meio de cenas chocantes. Em A Hora da Zona Morta, a cena em que o assassino se mata, é puro Cronenberg. E o interessante é que a história se passa dentro dos limites de uma provável realidade, o que o torna o filme eficiente, de fácil assimilação.
Numa era distante do CGI, e com um diretor "abrindo mão" de possíveis efeitos práticos, as cenas em que Christopher Walken tem as premonições é puro... Christopher Walken. Ele é um precursor do "método" de interpretação de Nicolas Cage, ou seja, topa qualquer papel, tem as mesmas expressões afetadas, e não torna o filme nem melhor, nem pior, dependendo exclusivamente do material ser bom.
Universo paralelo?
O personagem de Martin Sheen diz no filme que teve uma visão de que se tornaria o presidente dos Estados Unidos. Sheen interpretou o Presidente dos Estados Unidos na minissérie Kennedy (1983) e em West Wing - Nos Bastidores do Poder (1999).
Antes do acidente, Johnny (Christopher Walken) instrui sua classe a ler "A Lenda de Sleepy Hollow". Christopher Walken seria mais tarde o personagem título em A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (1999), de Tim Burton.
Coleen Dewhurst, que interpreta a mãe do assassino, interpretou a mãe de Walken em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), de Woody Allen.
Tom Skerritt apareceu anteriormente em Alien (1959) com Harry Dean Stanton, ao qual apareceu em Christine (1983) e À espera de um milagre (1999). Skerritt voltou ao universo de King em Desespero (2006).
Christopher Walken e Martin Sheen atuariam 19 anos depois com Leonardo DiCaprio no filme de 2002 "Prenda-me se for capaz".
O próximo filme de David Cronenberg foi A Mosca (1986), produzido pela produtora de Mel Brooks, a Brooksfilms. O ex-parceiro de comédia de Brooks foi Carl Reiner, cujo filho, Rob Reiner, dirigiu Conta Comigo (1986), baseado em outra história de Stephen King. Conta Comigo é ambientada em Castle Rock, local onde filmes como Cujo (1983), A Metade Negra (1993) e Trocas Macabras (1993) também se desenvolvem.
Multiverso Kinginiano.
A personagem Patty Strachan afirma:" — A culpa é dele, daquele cara ali! Foi ele quem fez isso acontecer! Ele incendiou a casa com a mente dele, como naquele livro Carrie. Seu assassino!", uma referência às habilidades de Johnny Smith, associando à Carrie, a estranha.
O repórter, mau-caráter, Richard Dees que procura John Smith para uma entrevista, com o qual John acaba tendo uma briga, é o mesmo repórter que pilota um avião monomotor e caça o vampiro de Voo noturno.
Quando John Smith está indo ao comício de Greg Stillson, ele meio que adormece ao volante e quase bate em um Plimouth Fury que vem em sentido contrário. E o carro é Christine, o carro assassino.
A cidade de Bangor e a Universidade de Maine é mencionada onde em Louis, de Cemitério Maldito, trabalhava.
Em certa hora, John Smith fala com uma pessoa e cita a cidade de Jerusalem`s Lot. Cidade conhecida de Vampiros de Salem e Chapelwaite.
The end
O livro de King é melhor porque é inevitavelmente mais substancial e detalhado. Mas no que diz respeito às adaptações, “A Hora da Zona Morta” é notavelmente uma referência que resistiu ao tempo.
Interessante observar que, com base nas habilidades do personagem central, ao se colocar como herói e único capaz de deter o plano do vilão, torna A Hora da Zona Morta um autêntico filme de super-herói, inclusive com elementos clássicos como sacrifício e a distanciamento do grande amor. Afinal, como vimos em Corpo fechado (2000 ) de M. Night Shyamalan, heróis não voam por aí, ou emitem raios pelos olhos.
Eles são pessoas comuns, com habilidades extraordinárias como... prever o futuro.