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A HORA DO LOBISOMEM (1985) - FILM REVIEW


Bala de prata

Texto: M.V.Pacheco

Revisão: Thais A.F. Melo


"A hora do lobisomem" aborda a drástica alteração no cotidiano da outrora pacata cidadezinha de Tarker's Mill, no interior dos EUA, quando na primavera de 1976, uma série de violentos assassinatos passa a acontecer cada vez que a lua cheia surge no céu. Um garoto paralítico chamado Marty Coslaw, começa a desconfiar que o responsável pelos crimes seja um lobisomem, o que acaba se confirmando. Mais tarde, quando Marty, descobre a identidade do monstro, passa a ser perseguido pelo mesmo, e precisará encontrar uma forma de destruí-lo para salvar a própria vida.

Cinco dos filmes mais marcantes de Lobisomens que assisti são dos anos 80: Lobisomem americano em Londres (1981), Grito de terror (1981). Na companhia dos Lobos (1984), Garoto do futuro (1985) e este A hora do Lobisomem (1985). Curiosamente, 4 deles, assisti no SBT, no antigo Cinema em Casa, e revi muitas e muitas vezes na Sessão das Dez. O filme é uma adaptação de uma história de Stephen King pelo próprio escritor, e tem como figuras centrais: Corey Haim (que enfrentaria vampiros alguns anos depois em outro típico filme dos anos 80, Garotos perdidos), Gary Busey (de Máquina Mortífera) e Terry O'Quinn (De Lost).


Corey Haim era um ator bastante competente nestes filmes adolescentes (ele morreu em 2010 aos 38 anos. A causa da morte de Haim foi uma conjunção de pneumonia, problemas cardíacos e respiratórios, e não uma overdose como fora divulgado em primeira instância. A combinação de oito tipos de drogas encontradas em seu corpo não foi suficiente para provocar sua morte.) e neste filme não é diferente. Ele se move numa super cadeira de rodas, chamada "bala de prata"!!!

Aliás, a história é típica do King, com cidadezinhas pequenas, onde os moradores enfrentam algum tipo de acontecimento maligno. O ator Everett McGill faz aqui mais um vilão sem precisar fazer muitas expressões (seu rosto já diz a que veio). 


80’s

O cinema de horror dos anos 80, de maneira geral, tem um ar de inocência que, visto de hoje, pode incomodar os mais jovens acostumados a hiper-realismo visceral. Mas os quarentões não vão se importar com coisas tipo: como um tio dá uma super-cadeira para uma criança paraplégica, achando que isto não poderia causar, por exemplo, um acidente, já que o menino acelera livremente pelas estradas? 

Apesar de o filme ter passado na TV como "Bala de prata", ele seguiu a cartilha da época: foi lançado com o nome "A hora do lobisomem". São muitos filmes assim (A hora do espanto, A hora da verdade, A hora do Pesadelo).


Ele foi filmado de outubro de 1984 até o final daquele ano. Terminaram as filmagens a tempo da equipe ir passar o Natal e o ano novo com a família. No livro de King, o lobisomem rosnava palavras e isto seria usado na produção, mas acabou sendo eliminado já que acharam que não funcionaria na telona. Gary Busey sentiu certa afinidade com o personagem do Tio Red e foi autorizado a improvisar todas as suas falas em certas tomadas em que apareceu. Embora ele tenha lido as falas conforme o roteiro, Stephen King e Daniel Attias gostaram mais das cenas improvisadas e decidiram incluir a maioria delas na versão final do filme.

King pediu que o lobisomem fosse simples e difícil de ver, em contraste com os monstros enormes vistos em outros filmes e livros sobre lobisomens da década de 1980, com o resultado final sendo uma criatura que parecia mais com um  urso do que qualquer outra coisa e não tinha realmente quaisquer características de identificação. Depois de ver o projeto de Carlo Rambaldi, a pedido de King, o produtor Dino de Laurentiis ficou muito infeliz e exigiu mudanças que King e Rambaldi recusaram. 


Eventualmente a pré-produção atrasou e o diretor Don Coscarelli (da série Fantasma) optou por começar a filmar as cenas sem o lobisomem enquanto aguardava definições. Mas quando terminou de fazer as cenas, se deparou com a contínua indefinição sobre como seria o lobisomem, e para a surpresa de muitos, ele pulou fora e foi pensar na continuação de Fantasma  (que foi lançada em 1988).

Quando pressionado a cancelar o filme ou aceitar o monstro de Rambaldi, de Laurentiis cedeu e permitiu que as filmagens continuassem. Um ator de dança moderna foi contratado para realizar as acrobacias dentro do traje, mas de Laurentiis também estava insatisfeito com sua atuação e exigiu  mudanças. Como resultado, Everett McGill, que interpretou o Reverendo Lester Lowe em forma humana, acabou atuando na maioria das cenas no traje de lobisomem e foi creditado com um papel duplo.


A direção foi jogada no colo de Daniel Attias, que dirigiu apenas este filme para os cinemas e migrou permanentemente para a TV. Anos depois, ele passou por uma tragédia pessoal: seu filho, em pleno 2001 (ano do fatídico 11 de Setembro), comentou os chamados "Assassinatos de Isla Vista". Ele aparentemente surtou devido a uso de drogas e jogou o carro  em cima de pessoas numa comunidade estudantil, matando várias. Ele foi preso, condenado a 60 anos de prisão, mas foi solto de forma monitorada em 2012.

Attias fez um bom trabalho (no cinema pelo menos) e realizou uma das marcantes adaptações de uma obra de King nos anos 80. 


Para finalizar, a sequência em que o medalhão de prata e cruz são utilizados para a concepção da bala de prata é um aceno à história real de Gévaudan. Conforme a história, depois que a besta matou a esposa e o filho de um caçador local chamado Jean Chastel, ele fez com que sua cruz, uma herança de família, fosse transformada em uma bala de prata. 

Uma reflexão:

Há muitos e muitos filmes sobre lobisomens no cinema. Mas há algo de curioso sobre a criatura em A hora do lobisomem. Afinal, nos filmes e livros que tratam desse ser, a maioria costuma amaldiçoar personagens que geralmente são violentos por natureza a se transformarem em lobos. 

Vejamos, por exemplo, o rei Licáon da obra Metamorfoses  do poeta Ovídio. Nele, Licáon era rei cruel, violento e impiedoso. Planejando testar a divindade de Zeus, o tirano lhe oferece carne humana e que enfurecido, o amaldiçoa transformando Licáon em lobo. 


Mas o lobisomem de A hora do lobisomem é um reverendo, um homem da igreja. Diferente não? Não que o personagem seja um santo por ser um reverendo, mas o ponto da questão é que o personagem sai das várias representações outrora usadas. 

Ele não se mostra violento enquanto ainda consegue se camuflar na sociedade e tampouco faz parte de grupos marginalizados. O lobisomem Lowe ora junto aos outros fiéis. Curt Siodmak escreveu o clássico O Lobisomem (1941), e há uma citação do mesmo justamente na entrada do remake de 2010, veja a seguir: 

Mesmo aquele de coração puro,
Que à noite faz as suas preces,
Pode se tornar um lobo
Quando o acônito florescer
E a lua de outono brilhar!
O reverendo Lester Lowe se mostra uma prova disso. Sua natureza inicial não era de um homem violento.  Seria essa a prova de que todos temos a besta entre nós? Afinal, todos os homens podem ser enfurecer. Logo, todos podem padecer da maldição do lobo. Stephen King mostrou isso em A hora do lobisomem com seu personagem: a maioria dos monstros se parece exatamente como nós mesmos.



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