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CHRISTINE: O CARRO ASSASSINO (1983) - FILM REVIEW


Christine.

Texto: M.V.Pacheco

Revisão: Thais A.F. Melo


Christine é o alter-ego que todo nerd que sofria bullying precisa ter. Se não entende esta frase, ou não foi nerd, ou fazia o bullying...

Na história, Arnie Cunningham (Keith Gordon) adora Christine, um carro modelo 1958 Plymouth Fury que não está em seu melhor estado. Decidido a restaurá-la a qualquer custo, Arnie dedica todo seu tempo para ela, o que faz com que se afaste dos amigos e da própria realidade. Leigh (Alexandra Paul), sua namorada, e Dennis (John Stockwell), seu melhor amigo, procuram o antigo dono de Christine e descobrem que o mesmo aconteceu com ele, antes de vender o carro. É quando eles chegam à conclusão que o único meio de resgatar Arnie é destruindo Christine.


Arnie não adora o carro gratuitamente. Ele funciona como segunda personalidade do personagem, tal como vimos em Pi. Christine é seu tigre, que o move, conflitando com aqueles que praticam bullying com ele. A primeira vez que Arnie vê Christine, ele vê na verdade a si mesmo em sua melhor versão. Nem seu amigo ao seu lado enxerga a beleza do carro, mas ele olha e diz: ele pode ser consertado. Arnie não fala do carro. Fala de si mesmo.  E para o carro funcionar precisa de um gatilho. que no filme é mostrado sendo representado pela chave. 

O médico e o monstro

"As atitudes" de Chistine ao longo do filme são, de fato, as que Arnie gostaria de tomar e não tem coragem. Esta versão de “Médico e o monstro” só poderia sair das páginas de Stephen King. Publicado  em 29 de abril de 1983, o romance é dividido em três partes: a primeira e a terceira são escritas em primeira pessoa, do ponto de vista de Dennis Guilder, o melhor (e único) amigo de Arnie. A segunda parte do livro é escrita na onisciente terceira pessoa (enquanto Dennis está no hospital devido a um grave acidente sofrido num jogo de futebol americano, e portanto fora de ação). Ao contrário de quase toda a obra de Stephen King, Christine não se passa no estado americano do Maine. A cidade onde a história acontece é Libertyville, na Pensilvânia. King nasceu em 1947 em Bangor, no Maine e ele ainda mora lá, hoje com a sua esposa, a escritora Tabitha King.


No filme, Arnie é um nerd clichê. Usa óculos, apanha, se veste como os avós, se acha feio. Consequências de uma mãe super protetora, que dedicava seu tempo a controlar sua família na unha. Problemas similares muitos passam diria o mestre Yoda. E um nerd sofrendo bullying, encubando ódio é uma passagem para o lado negro da força, jovem padawan. Um elemento sempre utilizado neste tipo de filme é o comportamento do personagem diante de uma mulher. Enquanto o "médico" morre de vergonha, o "monstro" é viril. No filme, a atitude de Arnie muda completamente.  

A popularidade de Stephen King na época era tamanha que a produção de Christine, o Carro Assassino iniciou antes mesmo da publicação do livro. Existem diferenças pontuais entre a trama do livro em relação ao filme. Por exemplo, no livro de Stephen King diz que Christine tem quatro portas, mas no filme o personagem tem apenas duas. O motivo é que jamais foi produzido um modelo de 1958 do Plymouth Fury com quatro portas. A própria cena de abertura, que mostra o "nascimento" de Christine em Detroit, foi escrita para o filme.


O roteirista Bill Phillips declarou que, tecnicamente, o filme não tinha violência o suficiente para justificar uma classificação R. Entretanto, os produtores temiam que, caso recebesse classificação PG, as pessoas não o assistiriam por achar de antemão que o filme era muito leve. Desta forma foram incluídas no roteiro algumas falas usando a palavra "fuck" e seus derivados, para garantir a classificação mais alta.  

Stephen King e o Rock 'n Roll

King já disse diversas vezes que adora Rock e que escreve constantemente ouvindo Rock 'n Roll. E eles fazem parte de muitas de suas obras nos cinemas. Como esquecer o  "i don't want be buried in a pet sematary" de Ramones em Cemitério maldito? Ou "Who made who?" do AC/DC em Comboio do terror? Em Christine não é diferente. Foi o cantor Bill Phillips quem sugeriu que "Bad to the Bone", de George Thorogood, fosse a música tema do filme. Aliás, ele e o roqueiro George Thorogood gravaram uma participação especial, na qual tentavam destruir Christine. Entretanto, ela foi retirada na versão final, já que ambos não atuaram muito bem...


Kevin Bacon recebeu uma proposta para o filme, mas a recusou para estrelar Footloose - Ritmo Louco, o que, a meu ver, foi um ótimo negócio já que duvido muito que Keith Gordon faria Footloose com a mesma competência.  O filme foi rodado no mesmo bairro que John Carpenter usou no Halloween: A Noite do Terror. Como brincadeira, a irmã gêmea de Alexandra Paul, Caroline Paul, a substituiu durante a cena durante o passeio no trator. De acordo com Paul, ela levou a irmã ao set e com a ajuda dos departamentos de cabelo, maquiagem e guarda-roupa, vestiu-se como a personagem de Paul, Leigh, e foi ao set com John Stockwell para filmar a cena.

Eles filmaram sua irmã Caroline, ajudando a dirigir o trator, e então Paul saiu e, brincando, perguntou a John Carpenter se ele a demitira. Carpenter mais tarde admitiu que achou que havia algo diferente nela, mas não conseguiu identificar o que era. Era como 'Vampiros de Almas'", Carpenter lembrou em uma entrevista.


Para simular o carro se regenerando, bombas hidráulicas foram instaladas no interior de algumas das inúmeras  cenas de recuperação do Plymouth Fury do filme, e essas bombas eram presas a cabos, que por sua vez eram presos à carroceria dos carros e, quando eram comprimidos, eles "sugavam" os painéis para dentro. As imagens do corpo amassado para dentro foram então revertidas, dando a aparência do carro retomando espontaneamente. Uma cena que ilustra bem é a do retrovisor se refazendo, onde pode se perceber, nitidamente, que é uma cena tocada de trás para frente. 

Nas cenas em que Christine está por si, uma tonalidade verde é visível para indicar seu movimento sem guia. Isso também acontece em Comboio do Terror (1986), nas cenas em que uma tonalidade verde é vista no céu noturno, associado as duas obras, de certa forma, como se ambos estivessem sob influência do mesmo evento.


Para finalizar duas curiosidades: King era fã de Harry Dean Stanton. Ele atua neste filme e faz o investigador. Em À espera de um milagre, ele não só trabalha como também dá nome a dois guardas: Harry Terwilliger e Dean Stanton.

E por fim, a origem do nome do carro assassino vem de Christine Romero. Stephen King estava filmando Creepshow em Pittsburgh com George e Christine Romero, quando teve a ideia do romance. Chris era atriz e se casou com George em 1981. Ela já havia atuado em filmes de Romero como Martin, Despertar dos mortos e Cavaleiros de Aço. E neste filme Creepshow, ela faz um papel com nome de Tabitha, que é uma homenagem à esposa de King. 

Eles são casados desde 1971 e como sabemos, Stephen King possui sua metade negra desde então, com seu plymouth pronto para "sair" da garagem e dar asas à criatividade do autor.



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